Meu coração começou a bater acelerado assim que avistei as construções familiares que compunham o início da cidade. Uma sensação de medo me envolveu, e senti meu corpo congelar enquanto a realidade do que estava por vir se instalava em mim.
O pavor tomou conta dos meus pensamentos, e a ideia de rever meu pai, de enfrentar tudo o que ele havia feito, me deixou paralisada. Não sabia como reagir, o que dizer, ou como lidar com a tempestade de emoções que crescia dentro de mim.
Tentei controlar minha respiração, mas o pânico parecia tomar conta de mim, tornando difícil pensar com clareza. Tudo o que eu queria era fugir, desaparecer, evitar aquele reencontro que parecia inevitável.
— Vai ficar tudo bem — Gabriel disse ao perceber meu pânico, com sua voz firme, mas gentil, ele tentava me acalmar.
Engoli em seco, tentando controlar o m
Assim que Anne saiu acompanhando a minha mãe, senti os olhares pesados do meu pai e dos meus irmãos se voltarem para mim. Engoli em seco, sabendo que não conseguiria escapar dos questionamentos que estavam prestes a vir.— Como a encontrou? — Meu pai foi o primeiro a romper o silêncio.— Onde ela estava? — Benício, sempre prático, quis saber logo em seguida.— O que aconteceu com ela? — Conrado se juntou ao coro de perguntas, cruzando os braços enquanto me encarava.Suspirei, percebendo precisar escolher bem as palavras. Não queria entrar em detalhes naquele momento, mas sabia que eles não se contentariam com respostas vagas.— Ela estava na fazenda da tia, isolada — comecei, tentando manter a calma e ser o mais direto possível. — O pai dela a manteve presa lá, sem nenhum contato com o mundo exterior.Os rostos do
Eu mal podia acreditar que estava nos braços de Gabriel depois de todo o pesadelo que vivi nos últimos meses. Era um sonho do qual eu não queria acordar. Sentir o calor do seu corpo, o toque de suas mãos, e a segurança que ele me transmitia, tudo isso parecia surreal, como se fosse uma fantasia criada pela minha mente exausta.Fechei os olhos por um momento, tentando absorver cada sensação, cada segundo daquela paz que eu achava que nunca mais desfrutaria. O tempo que passei isolada, sem saber o que seria do meu futuro, ou se algum dia voltaria a vê-lo, havia sido angustiante e doloroso demais.Ele estava ali, do meu lado, e eu não precisava mais ter medo. A ideia de que tudo isso era real, que eu havia finalmente escapado e encontrado abrigo, era quase impossível de acreditar.— Não quero que isso acabe nunca — murmurei, mais para mim mesma do que para ele, enquanto me aconc
Saí de casa ainda tenso depois de tê-la deixado. A aparição do pai dela pela manhã não ajudou em nada.Era uma droga ter que lidar com Gustavo agindo daquele jeito, e o peso das decisões que precisávamos tomar começava a me sufocar.Ao me aproximar da prefeitura, deparei-me com uma pequena multidão de repórteres e manifestantes, que pareciam fazer mais barulho do que na época das eleições. Alguns jogaram tomates no meu carro, gritando absurdos, e os flashes das câmeras quase me cegaram. Apertei o volante com força, mantendo a calma apenas na superfície, enquanto meu estômago revirava.Entrei no prédio, e a segurança fechou a porta da garagem rapidamente, isolando-me do caos lá fora. Respirei fundo, tentando me recompor, mas a tensão não diminuía. Ao sair do carro, meu assessor estava me esperando, e
Por mais que a família do Gabriel estivesse por perto, a aflição não me abandonava. Cada minuto parecia um teste para os meus nervos, principalmente depois que a mãe dele, Joana, ligou a televisão e o noticiário local mostrou imagens de manifestantes em frente à prefeitura.O estômago se apertou de medo e culpa.— Isso é por minha causa? — perguntei, sentindo um calafrio percorrer meu corpo.— Melhor não vermos televisão hoje — respondeu Joana, desligando a TV com um gesto firme, mas gentil.Ela se virou para mim, e apesar de seu sorriso caloroso, a preocupação nos olhos dela era evidente.— Você está bem, querida? — perguntou, inclinando-se um pouco mais para frente, como se quisesse garantir que eu realmente iria me abrir.Assenti, mas a verdade era que não tinha certeza de nada. Tudo parecia um borrão, como se a qualquer momento o chão pudesse desaparecer sob meus pés.— E o bebê? — ela continuou, olhando para minha barriga com ternura.Acariciei minha barriga, tentando encontrar u
Aquele dia não foi nada fácil, mas eu tinha que estar preparado para situações piores. Quando cheguei em casa, preferi não comentar nada com a Anne, ela já tinha passado por muita coisa e não precisava de mais preocupações.Durante o jantar, Anne me informou que minha mãe havia marcado uma consulta com um obstetra para o dia seguinte. Naquele instante, uma onda de culpa me atravessou. Como eu não pensara nisso antes? Com tudo o que havíamos passado, eu deveria ter priorizado o cuidado dela e do nosso bebê. Contudo, o caos dos últimos dias, com todas as ameaças e a necessidade de proteger Anne, havia ofuscado essa necessidade.Naquela noite, demorei a pegar no sono, preocupado com a consulta e com tudo o que ela poderia revelar. E se algo estivesse errado? E se os meses de estresse e maus-tratos tivessem afetado a saúde dela ou do bebê? Esses pensamentos
— Gabriel! — gritei, tomada pelo desespero ao ouvir o som do corpo dele caindo no chão.A médica se apressou em socorrê-lo, enquanto eu, com a barriga pesada, lutava para me levantar da maca, sentindo-me ainda mais desnorteada pela situação. Trigêmeos! A palavra parecia ecoar na minha mente, como se precisasse ser repetida para fazer sentido.— Ele está bem? — perguntei, ainda incrédula com tudo o que estava acontecendo.— Acho que foi só o susto — a médica respondeu com um sorriso, enquanto Gabriel começava a se levantar, ainda atordoado, massageando as têmporas como se tentasse organizar os pensamentos.— Gabriel… — murmurei, sentindo a voz falhar enquanto tentava processar a notícia.— Três? — ele repetiu, estampando a confusão em seus olhos.— Sim — a mé
Estacionei o carro na entrada de casa, ainda processando tudo o que havíamos acabado de descobrir. Saí rapidamente e dei a volta para ajudar Anne a descer. A maneira como ela segurava minha mão com mais força que o normal me fez perceber que, apesar de sua calma aparente, o impacto da notícia ainda pesava sobre ela.— Vamos com calma — murmurei, enquanto a conduzia pela entrada da casa.Caminhamos juntos até a porta. Assim que entramos, fomos surpreendidos por minha mãe, que estava nos esperando na sala de estar, como se estivesse contado os minutos para o nosso retorno. O olhar dela foi imediatamente para Anne, num misto de curiosidade e preocupação estampado no rosto.— Como foi a consulta? — perguntou, sem esconder a expectativa.— Os bebês estão bem — respondi, tentando manter minha própria voz firme, embora ainda estivesse me acostum
— Você não faz ideia de como estou feliz por saber que terei três netinhos de uma só vez! — Dona Joana exclamou. O sorriso em seu rosto era tão radiante que iluminava toda a sala.Eu ri, sentindo o calor do afeto dela me envolver. Era reconfortante perceber que, apesar de tudo, havia pessoas ao meu redor prontas para nos apoiar e amar incondicionalmente.Bem diferente da minha família…— Pelo menos a senhora teve um de cada vez — brinquei, acariciando minha barriga enorme. Saber que eram trigêmeos explicava o fato de eu me sentir gigante. — Eu vou encarar todos de uma vez só.Dona Joana riu junto comigo, mas seus olhos brilhavam com uma ternura especial, que me transmitia uma onda reconfortante de carinho.Nunca imaginei que pudesse me sentir tão bem em algum lugar.— Ah, querida, se tem uma coisa que aprendi com a maternidade, é que