Ouvir aquele silvo arrepiou todos os pelos do corpo de Camel. E seu corpo e espírito rebelde só agiu de uma forma: ele correu em direção ao silvo.
Quanto mais ele se aproximava, mais o silvo aumentava e com o passar dos segundos ele começou a ouvir som da batalha dos caminhantes. Ouviu o seu superior gritar para que os outros se mantessem firmes e que não tivessem medo.
Mas medo de que?
Logo a pergunta de Camel seria respondida. Pois no momento em que ele alcança em vista o acampamento ele vê os caminhantes em um círculo da morte, um de costas pro outro. Olhando sem parar para vários seres sinistros de pelos brancos grossos, em pé com duas patas, meio corcundas e com garras e dentes enormes e afiados. Eles estavam bastante concentrados em cada movimento dos homens.
Camel não gostou nem um pouco daquilo e resolveu se esconder atrás de uma árvore. Ele respirou fundo, a adrenalina crescendo em seu corpo.
Ele pegou uma das flechas em sua aljava e a alinhou no arco. Prendeu a respiração, girou o corpo a 180° e atirou a primeira flecha perto das costelas de um dos monstros. Este urrou de dor se contorcendo e se jogando no chão com espasmos enquanto os outros olharam ao redor procurando o responsável por aquilo.
A distração fora o suficiente. O suficiente para que os caminhantes atacassem os monstros com suas armas rústicas: arco e flecha, machadinhas e espadas.
Camel correu na direção deles, mas o seu líder fez um gesto para que ele não se aproximasse mais, o que o deixou confuso. Ele parou contrariado. O líder moveu os lábios sem emitir som algum.
Se esconda. Foi o que o movimento de seus lábios significava. Camel fez uma cara séria e seu líder uma mais séria ainda antes de atacar um dos monstros.
Apesar de ser bastante rebelde, o jovem obedeceu as ordens e se afastou dali procurando um lugar para se esconder. Não tinha muita ideia para qual lugar ir, só se afastou o máximo que pode. Ele sabia que os caminhantes conseguiriam acha-lo se quisessem.
Ele só parou quando já estava cansado. Se ajoelhou no chão e deixou os braços caírem ao lado do corpo derrubando o arco na neve. Nem sabia quanto tempo havia passado em sua correria e nem queria saber, aqueles monstros o deixaram atordoado, ele nunca havia visto coisa parecida. Sua respiração estava descontrolada e ele tentava organizar isso.
Foi então que naquele momento, instintivamente, ele olhou para o lado esquerdo, em direção ao rio congelado e viu uma imagem graciosa.
Uma mulher de cabelos dourados e pele alva estava passando a mão nos cabelos ondulados, sentada a margem do rio e olhando para o mesmo. Usava apenas uma toga de linho branco o que deixou Camel intrigado, ela demonstrava não sentir frio algum. Ela olhou para trás como se pudesse ler seus pensamentos e deu um sorriso leve e doce.
– Ah, Olá Camel. Finalmente você resolveu vir me ver.
Camel olhou com desconfiança para ela e ela sorriu outra vez.
– Não seja tão duro com os outros. Sente-se aqui do meu lado. – e bateu a delicada e frágil mão direita no seu lado o convidando com esse gesto.
– Eu por acaso lhe conheço de algum lugar? – Camel apenas deu alguns passos em sua direção.
– Não, mas eu conheço você muito bem. Você sempre lutou por tudo e contra tudo. Sempre foi um garoto muito rebelde.
– Isso não quer dizer que a senhora me conheça. – Camel sentou ao seu lado, sem deixar de prestar atenção em cada movimento dela. Ela era magnetizante, difícil de desviar o olhar.
– Bem, você foi quase morto por um lobo e tem uma cicatriz como prova de sua luta pela sua vida e agora, neste momento, está matando lobos outra vez, os caminhantes, enquanto conversa comigo.
Camel achou que aquela mulher estava maluca. Isso, até sentir o cheiro metálico de sangue e olhar para as próprias mãos e vê-las sujas com um líquido avermelhado. Seu coração acelerou, ele fechou os olhos, suas mãos tremiam. Não conseguia distinguir nada mais.
Quando abriu os olhos novamente não estava mais na margem do rio com a mulher, e sim no acampamento, ajoelhado no chão e com o seu líder quase morto nos braços. Aquilo não podia ser verdade. Ele olhou ao redor: os outros caminhantes continuavam lutando furiosamente com mais bestas que chegavam ao redor da chama da fogueira. O sangue espalhado em seus corpos, Camel não sabia distinguir se era deles ou não.
Na verdade ele estava atordoado demais até para pensar em qualquer outra coisa.
– Camel... – ele ouviu a voz de seu líder abaixo de sua cabeça e voltou a olha-lo.
– Sim, senhor.
O seu líder o olhou com repulsa.
– A culpa disso tudo é sua. Você não devia estar aqui. Devia ter sido entregue a deusa no momento em que nascera. É um amaldiçoado desde o momento em que fora concebido no ventre de sua mãe.
Sangue começou a jorrar em cascatas da boca do líder como se fosse infinito, mesmo assim ele continuou jogando seus impropérios. Camel cobriu os ouvidos com as mãos. E fechou os olhos, ver aquela cena lhe embrulhava o estômago. Seu coração estava para explodir.
Depois de um tempo teve coragem de abrir os olhos outra vez.
Ele estava de novo na margem do rio, ao lado da mulher de cabelos dourados. Ela encarava o rio profundamente, no entanto ele sabia que ela estava atenta aos movimentos dele.
A cabeça dele começou a doer, tudo girou ao seu redor e ele teve que deitar de costas na neve. Um enjoo enorme veio. Aquilo não podia ser uma farsa, aquilo tudo fora muito real para ser uma mera farsa.
– Isto ainda não aconteceu. – a mulher falou sonolenta. – Mas vai acontecer se você não se afastar dos caminhantes o mais rápido possível. Eles têm seu propósito aqui na terra, e você está apenas os atrasando e os levando para a destruição...
– Quem é você?
– Alguém que você não deveria dar muita importância se quiser deixar sua sanidade mental intacta. – ela se levantou. – mesmo assim seria bom que você ouvisse os meus conselhos.
Ela sumiu de sua vista. E ele enfim colocou o rosto entre as mãos.
***
Camel só teve forças pra voltar ao acampamento uma hora depois. Estava pálido e fraco, era como se toda a sua energia vital tivesse sido sugada.
O seu líder, Sefiron o olhou com preocupação, os outros caminhantes não deram muita importância à sua chegada pois estavam mais preocupados com seus ferimentos e mortos.
Sefiron era um homem de dois metros de altura, com símbolos tatuados no corpo como forma de proteção, era forte e tinha cabelos grisalhos, sua idade era na margem dos 60 anos, mas aparentava ter bem menos.
Ele olhou o rosto de Camel várias vezes procurando saber o que ele tinha até ter que pergunta diretamente:
– Aconteceu alguma coisa com você?
Camel fingiu estar desinteressado pelo assunto como um garoto audacioso, no entanto seu peito estava inflamado de medo do que havia visto. Até mesmo olhar para Sefiron era uma tortura. O fazia lembrar de suas palavras e do derramamento de sangue...
– E por que eu não estaria bem? Eu não lutei em nada hoje, apenas vocês, alguns de nós morreram.
– Mas morreram com honra. – Sefiron falou com a calma de um pai sábio.
– E para que? – Camel engoliu a saliva antes de prosseguir. Sua garganta queria entalar e ele queria impedir. – Eu já estou cansado de tudo isso, a partir de agora estou fora dos caminhantes.
– Não é tão simples assim sair dos caminhantes Camel. Somos uma família. Somos os protetores da verdade...
– E eu sou o escolhido, esqueceu? Os sábios de minha tribo disseram. – Camel não percebera, mas já estava aos gritos, com os sobreviventes o observando quietos. – Sendo o escolhido, eu tenho o direito de seguir o meu próprio caminho.
Sefiron parecia estar chocado. Pelo menos por alguns segundos. Até que ele se recompôs e sentenciou com a sua voz macia, mas ao mesmo tempo cortante:
– Então que seja feita a vontade da deusa. Você está liberado a seguir o seu caminho, não está mais preso aos caminhantes e nunca mais estará.
Camel abriu a boca e a fechou sem falar coisa alguma. Pegou suas coisas no acampamento e sem se despedir, se afastou dos outros.
4 anos depois...Os sábios da antiga tribo de Cam estavam certos quando diziam: o tempo muda o homem, ou para o bem ou para o mal. Felizmente para ele fora relativamente para o bem.Quatro anos se passaram desde que ele saíra dos caminhantes devido a previsão que lhe fora revelado e o medo que acabara lhe causando como efeito colateral.Vez ou outra ele recebia notícias dos caminhantes através de uma magia antiga que ele estava aperfeiçoando usando os animais e aves com os seus olhos. Gostaria de entrar realmente em contato com eles, contar o quanto evoluíra, mas estava proibido.Cam não trabalhava mais como procurador da deusa, agora ele era um simples
Yulla fungou dentro da carruagem como a uma criança desolada. Não queria aceitar o seu destino cruel, ainda tinha tanto para fazer no mundo.Ela limpou os olhos com as costas das mãos, e ergueu a cabeça que pendia pesadamente. Aquele fardo era muito grande para uma jovem de 20 anos, seus pais mostraram indiferença quando chegou a hora de ela partir, suas irmãs pequenas agarraram a barra de seu vestido para tentar impedi-la de ir embora dando gritos e esperneados, porém tudo em vão. O rei já havia decretado e o que ele decretava era uma ordem que nem a própria filha escaparia.Será para um bem maior. Ele falara um dia antes da despedida todo terno e amoroso. No dia seguinte aqueles gestos sumiram e a face rude do homem que ela admirara a
Fora uma noite de clima agradável e Yulla conseguira ter uma considerativa boa noite de sono, apesar da fraqueza por ter perdido muito sangue e as pequenas pontadas de dor que sentia do ferimento.Mesmo com toda aquela complicação ela sentia algo diferente em seu ser. Talvez fosse um leve gosto de liberdade, ela não sabia dizer ao certo. Claro que ela lamentava a morte de seus guardas, do médico e das suas acompanhantes, mas ela sorriu ao perceber que ninguém mais estava com a obrigação de leva-la até o destino designado pelo seu pai. Era muito aliviante para ela.Ela olhou ao redor, uma leve névoa cobria a estrada e a luz do amanhecer já surgia. Ela respirou fundo fechando os olhos, ah, a vida era tão preciosa para ela, gostaria que todos
Fora um dia inteiro de caminhada até Cam e Yulla chegarem a uma pequena aldeia.Ela nunca havia estado em uma aldeia e o que ela vira a fascinou.Eram várias pessoas comuns, andando de um lado para o outro fazendo o que já era de sua rotina: alimentar os animais, limpar coisas, preparar a própria comida, plantar,colher. Ela se sentia confortável em estar ali, admirando a cena.Todos que a viam a olhavam com preocupação,até ela se tocar que isso se deviaao fato do seu vestido estar manchado de sangue. Ela tentou cobrir aquilo com a mão para que ninguém se assustasse. Cam percebeu a preocupação dela.– Ele
Os transfigurentur corriam arfando entre as árvores. Seus corações estavam para explodir, mas era isso ou serem torturados por ela, gostariam de ter a ideia de liberdade, mas sabiam que isso nunca iria acontecer enquanto estivessem vivos. Então eles corriam.Não tinham outras opções cabíveis,eram tratados como animais. Matavam sem querer. Depois de um tempo eles não conseguiam sequer pensar.Seus focinhos farejaram o que estavam procurando,então eles começaram a emitir o silvo que aterrorizara o coração dos caminhantes. Eles não iam parar até encontrar quem eles queriam.Yulla.
Dessa vez não foi a voz.Cam já estava com uma razoável distância da aldeia quando ouviu o silvo,ele parou e olhou para trás como se já estivesse espreitando o que viria no futuro. As árvores sombrias dava ao lugar um ar mais macabro.Seu corpo travou e ele não sabia o que fazer: voltar e ajudar (pois ele já sabia muito bem do que se tratava) ou seguir sua jornada (o que sua alma e coração nunca o perdoaria).Ele fechou os olhos e pela primeira vez depois de quatro anos, ele pediu ajuda à deusa em silêncio.E ela o ouviu.Cam estava distraído com s
A princesa corria sem parar entre os galhos ressecados machucado seu rosto e braços,estava chorando novamente e aquilo fazia com que sua vista ficasse turvada e a atrapalhasse ainda mais.Sentiu que algo a seguia das sombras,olhou para trás e o que mais a assustava estava lá: os monstros brancos. Três deles para ser exato. Ela acelerou o quanto pode, mesmo com suas pernas latejando de tanta dor. E os pés machucados por causa de seu calçado que não era próprio para isso.Ela queria tanto que Cam estivesse ali...Yulla não percebeu a raiz de uma das árvores a sua frente e prendeu seu pé nele tombando para frente e batendo o rosto no chão. Seu tornozelo doía.&nbs
O coração de Cam acelerou. Ele não acreditava que eles estavam na sua frente. Antes eram 23 caminhantes – contando com Camel – e agora eram apenas 10. E tudo podia se dizer, que era culpa dele.O silêncio se instalou por longos segundos até Sefiron dar a palavra outra vez.– Já faz quatro anos...– É,e foi muito bom ver vocês,mas nós precisamos ir.Yulla não falou nada, Cam a levantou e a colocou nos braços,quando deu alguns passos na direção oposta sentiu um mental pontudo e gelado na sua nuca.Ele n&