Os Caminhantes
Os Caminhantes
Por: Anne Moura
Prólogo

Estava sendo um dia como qualquer outro. A floresta estava coberta pela neve, os animais não se atreviam a sair de suas tocas, os pássaros de seus ninhos e o rio de seu leito. Todos respeitavam o inverno. Todos menos Camel, que pisava no amontoado de neve com força como pisando em solo sagrado para ofender os deuses de outras pessoas.  

Ele olhava de um lado para o outro, esperando ser atacado por algo que nunca atacaria, segurando seu arco com firmeza.

Seus cabelos escuros desgrenhados estavam duros devido a frieza, seus olhos astutos não paravam de se mover assim como o seu pescoço que continha a cicatriz das garras do lobo que o atacara quando criança.

Diziam que ele era o escolhido.  Ele não acreditava muito naquilo. Mas mesmo com seus protestos no momento em que completara seus 15 anos sua tribo decidiu o jogar para os braços dos caminhantes como se ele fosse um fardo deles. Isso fora a 6 anos. E ele procurava não se lembrar.

Já fazia mais de uma semana que os caminhantes estavam naquela floresta gelada e Camel não sabia o porquê.  Eles nunca contavam, ele não estava completamente dentro do grupo.

Camel soprou o ar frio e a fumaça gelada saiu de sua boca. 

Aquele lugar parecia estar ficando mais congelante com o passar dos anos.  Nem mesmo a sua roupa feita de pele de urso marrom não conseguia aquecê-lo como outrora. Os caminhantes iam para aquela floresta ao menos uma vez ao ano. Para quê?  Camel ainda não sabia. Por isso ele ficava distante deles, para não se intrometer em seus ritos sagrados.

Ele escutou uma voz vinda da floresta atrapalhando seus pensamentos e em seguida a ignorou.

Já estava cansado daquilo, sempre que estava na floresta ouvia a mesma voz repetindo: por aqui, por aqui.

Quando era criança, havia caído na besteira de seguir a voz.

Curiosidade de criança.   Curiosidade essa que quase lhe custou a vida.

Seguiu a voz para dentro de uma caverna e na caverna encontrou o maldito lobo. Nunca entendera o que o lobo estava fazendo longe de outros de sua espécie, só sabia que o lobo estava com muita fome naquele dia.

Aprendera naquele dia a não prestar atenção na voz.  Ela vinha, mas ele o ignorava.

Camel achou que o melhor era voltar para o acampamento formado dos caminhantes e esquecer a voz. Estava caminhando lentamente e despreocupado.

Até que ele ouviu um silvo aterrorizante que mudaria para sempre o rumo da sua vida.

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