Manuela Cardoso Estou deitada na cama do hospital, minha mão direita continua aferrada ao celular, minhas lágrimas caiem sem parar. — Tenho que ligar para ele, não tenho escolha — murmuro para mim mesma, não tenho escolha, preciso ligar. Minhas lágrimas banham o meu rosto e minha roupa de hospital. Como será que Collin vai reagir a notícia? E se ele me expulsar de novo, como tinha feito há cinco meses atrás, se ele pensar que quero o dinheiro dele? Eu não posso me humilhar novamente. — Você precisa fazer isso Manu, seja forte — murmuro mais uma vez, para me encorajar. Pressiono a tecla de chamada, o celular toca por alguns segundos, mas não tenho coragem e desligo o celular. — Como está hoje, senhorita Cardoso? — os meus pensamentos são interrompidos pela enfermeira que entra em meu quarto sorrindo. — Bem — sussuro fracamente. — Já tem tudo organizado? — indaga controlando o soro que está conectado a minha veia. Engulo em seco, mas não respondo. — Sabe muito bem q
Sinto o peso do silêncio no carro enquanto deixamos o hospital para trás. O som constante do motor e o farfalhar tímido da chuva na lataria parecem marcar o compasso dos meus pensamentos inquietos. Collin dirige em silêncio, o olhar fixo na estrada à frente, enquanto as luzes da cidade se desfazem em manchas borradas pela janela.Após alguns minutos de tensão quase palpável, ele finalmente rompe o silêncio, a voz embargada por dúvidas e emoções contidas:— Manuela, eu… eu preciso te perguntar uma coisa. (A mão dele treme ligeiramente sobre o volante.) Esses bebês, serão realmente meus?Minhas mãos se apertam no encosto do banco, tentando segurar o turbilhão que se forma dentro de mim. Sinto um frio percorrer minha espinha, e minhas palavras saem trêmulas:— Collin, eu… Eu te juro que eles são seus. Cada batida do meu coração confirma isso.Ele solta um suspiro longo, e por um instante o silêncio volta a dominar o carro. Então, com os olhos fixos na imensidão da estrada, ele insiste:—
A sala de estar da mansão de Collin era ampla, fria e imponente. As paredes decoradas com retratos de ancestrais pareciam nos julgar, como se cada olhar pintado cobrasse a verdade dos nossos passos. Senti o peso do ambiente – e, sobretudo, o peso da história que nos unira de forma tão cruel – enquanto ele permanecia sentado em uma poltrona de couro escuro, os dedos tamborilando nervosamente na mesa de mármore.— Manuela, eu… — Collin começou, a voz hesitante, quase sufocada pelo silêncio que se instalara entre nós.Respirei fundo, tentando reunir forças para falar. Não éramos amantes, não tínhamos um romance; éramos dois estranhos que, por um impulso, passaram a noite juntos e agora teriam dois filhos. E, como se isso não bastasse, ele havia me demitido assim que soube daquilo. Eu não conseguia deixar de reviver a humilhação daquele dia, o frio na espinha, o desprezo estampado em seus olhos enquanto me dispensava sem cerimônia.— Você quer casar comigo? — a pergunta dele pairou no ar,
— E se eu não conseguir ser esse pai que você espera? Se a dúvida sobre a paternidade continuar corroendo minha alma?— Então, aceite que talvez nunca saibamos tudo. Mas não use essa dúvida como desculpa para se afastar. Nós não podemos deixar que o medo impeça que esses filhos tenham uma chance de conhecer quem realmente os gerou – ou, pelo menos, quem os criou com responsabilidade.— Eu… — ele hesitou, os olhos se perdendo em lembranças que eu jamais conheceria. — Você não entende, Manuela. Toda essa situação me destrói por dentro. Fui forçado a agir de maneira impensada, e agora tenho que pagar o preço por algo que, se pudesse voltar atrás, jamais teria permitido.— Você não tem o direito de me culpar por isso, Collin! Eu também sofri, e cada dia que passo é um lembrete do quanto fui deixada de lado. Você me demitiu sem nem uma palavra de explicação, sem sequer tentar entender o que se passava comigo.— Eu agi como achei melhor na hora – ele replicou, mas a voz falhou.— Melhor? Vo
Collin MorrisO sol já havia se posto em Cabo Verde, e a brisa noturna soprava através da sacada do meu quarto, trazendo consigo o cheiro salgado do oceano. Eu estava sentado na poltrona de couro escuro, um copo de uísque intocado ao meu lado, enquanto esperava a chamada conectar.Do outro lado da tela, a imagem do meu irmão mais novo, Louis, surgiu. Ele estava em seu apartamento em Paris, os cabelos desalinhados e uma expressão cética estampada no rosto. Assim que a conexão estabilizou, ele cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha.— Então, finalmente decidiu me contar o que está acontecendo? — Ele inclinou a cabeça para o lado. — O que diabos você está fazendo em Cabo Verde?Eu inspirei fundo, passando a mão pelo rosto antes de responder.— É complicado.— Claro que é. — Louis soltou um riso seco. — Você some, aparece num país que nunca mencionou antes e agora me liga com essa cara de quem foi atropelado por um caminhão.Eu bufei, sabendo que ele não facilitaria as coisas.— Tem
Manuella Cardoso Eu, ainda sentia o gosto amargo da noite anterior – não só pelo uísque derramado nas dúvidas de Collin, mas também pelo peso de uma responsabilidade que me fora imposta sem piedade. Cabo Verde, com suas brisas salgadas e o constante murmúrio do oceano, sempre me lembrava que, por mais que tentássemos fugir do passado, ele sempre voltava para nos assombrar. E agora, com a chegada dos irmãos de Collin, tudo parecia estar prestes a se transformar em uma tempestade inevitável.Era uma manhã fresca, o sol mal despontava no horizonte tingindo o céu de tons alaranjados e rosados. Eu preparava um café na pequena cozinha do apartamento que, há pouco, fora cenário de tantas discussões e promessas vazias. Ainda com o coração pesado, recebi uma mensagem no celular: Collin havia informado que seus irmãos, incluindo o infame Lois, estariam chegando naquela tarde para tratar de alguns “assuntos pendentes”.— Hoje eles chegam. Prepare-se, Manuela – dizia a mensagem de Collin, com um
Continua do capítulo anteriorAndré, tentando apaziguar a situação, sugeriu:— Talvez seja melhor que todos nós nos afastemos um pouco dessa tensão e repensemos com calma. Manuela, se você precisa de um tempo para pensar, tudo bem. Não vamos forçar a assinatura neste exato momento.O advogado assentiu:— Podemos adiar a assinatura por alguns dias, para que todos possam refletir sobre os termos. Entretanto, é importante que haja uma decisão em breve para não comprometer os interesses legais.Lois, entretanto, não demonstrava paciência:— Não adianta ficar enrolando, Manuela. Quanto mais tempo você perder, mais ficará claro que esse acordo é o melhor caminho para o Collin. E, francamente, não estou nem aí para os seus “direitos”.Eu senti uma onda de raiva misturada com tristeza. Era como se, a cada palavra proferida, um pedaço de mim se desfizesse. Levantei-me lentamente, encarando Lois com uma determinação que eu nem sabia que possuía:— Se você acha que eu sou interesseira, então fiq
Manuela Morris Hoje o sol despertava preguiçoso sobre as águas de Cabo Verde, e eu me encontrava imersa numa mistura de ansiedade e resignação. Era o dia do nosso casamento – o dia em que, de alguma forma, eu deveria selar a união com Collin, transformando toda aquela bagunça de acordos, dúvidas e mágoas em um compromisso formal. Mas, enquanto os preparativos corriam e os convidados chegavam, uma sombra insistente se aninhava em meu peito: a ausência esmagadora da minha família, que, lá em Moçambique, não poderia estar presente para me amparar.Vestida com um elegante vestido branco que contrastava com os tons terrosos do local escolhido para a cerimônia, eu caminhava lentamente pelos corredores do antigo casarão adaptado para a celebração. Cada passo ecoava como uma batida do meu coração, e, a cada olhar que encontrava, sentia a urgência de justificar minhas escolhas. Em meio aos risos contidos dos convidados e ao som distante de um fado que parecia entoar melancolias, eu tentava, s