Manuela Morris As luzes de Maputo brilhavam ao longe enquanto Manuela caminhava pelas ruas quase desertas, os braços pesados com o peso dos dois bebés. O cheiro de maresia e as vozes distantes de alguns notívagos eram tudo o que acompanhava seu passo vacilante. O cansaço era insuportável. Seu corpo tremia não só pelo frio da madrugada, mas pelo choque de tudo o que acontecera nas últimas horas.Ela não sabia exatamente o que a mantinha em pé. Talvez o instinto de mãe, talvez o puro desespero. Só sabia que não podia parar.Quando finalmente chegou à porta da casa de sua avó, sentiu um nó se formar na garganta. Era ali onde crescera, onde aprendera a distinguir o certo do errado, onde sempre encontrara um abraço nos momentos difíceis. Mas será que ainda havia um lugar para ela ali?Manuela respirou fundo e bateu à porta. Uma, duas, três vezes. O som ecoou pela noite silenciosa. Seu coração batia forte contra o peito.Demorou alguns segundos até ouvir um barulho do outro lado. Depois, p
Collin Morris Eu não sei exatamente quando a decisão tomou forma em minha mente – talvez na madrugada solitária depois de tantas noites de angústia, ou talvez no exato instante em que percebi que nada mais poderia consertar o que eu havia deixado desmoronar. O que sei é que, a cada batida do meu coração, a dor da separação de Manuela me corroía e a certeza de que eu precisava fazer algo me consumia. Eu precisava reerguer o que havíamos construído, mesmo que para isso tivesse que pedir perdão aos familiares dela e implorar que ela voltasse para mim.No dia seguinte, após uma noite em claro tentando ordenar os pensamentos, decidi que iria a Maputo. Havia descoberto, por meio de contatos confiáveis, onde Manuela estava sendo acolhida pelos seus parentes. Eu sabia que, se quisesse ter uma chance de reparar nossos laços, teria de enfrentar não apenas a dor, mas também aqueles que a amavam e que, provavelmente, a julgariam por tudo que havia acontecido.Com o coração apertado e a determina
Manuela MorrisEu não sabia exatamente quando, mas algo dentro de mim começou a mudar. Aquela jornada de dor, humilhação e dúvidas – tudo aquilo que se acumulou nas últimas semanas – lentamente cedeu lugar a um sentimento tênue de esperança. Depois de tantos dias longe de Collin, após o turbilhão de acusações e lágrimas, percebi que ainda havia algo em nosso amor que merecia ser resgatado. Talvez eu pudesse, finalmente, perdoá-lo e encontrar forças para recomeçar.Lembro-me da manhã em que, após longas conversas com meus familiares em Maputo, senti que era hora de tomar uma decisão. Eu estava exausta, tanto física quanto emocionalmente. Ainda sentia o peso das acusações que ouvi, as mentiras que foram espalhadas por Lois, e o desamparo de ter sido afastada da única casa que eu conhecia. Mas, ao mesmo tempo, a lembrança dos nossos momentos juntos – dos sorrisos compartilhados, dos abraços que aqueciam a alma, das promessas feitas com tanto fervor – invadiu meu coração.Naquela manhã, a
Collin Morris Desde que voltamos à França, os dias passaram como se estivessem divididos entre a esperança de um recomeço e as sombras persistentes do passado. Manuela e eu havíamos deixado para trás o caos e a dor de Moçambique, carregando conosco as cicatrizes das feridas abertas e a promessa de um novo começo. Contudo, mesmo em meio às tentativas de reconstruir nossa vida, a presença insidiosa de Lois continuava a assombrar nossos dias.Eu me lembro claramente do dia em que decidi que bastava. Estávamos há poucas semanas de reestabelecermos a rotina em nosso novo lar, tentando, com todas as forças, reconstruir a confiança e o afeto que outrora nos unira. Os nossos bebês, Helena e Caio, agora dormiam tranquilamente em seus berços no quarto que cuidadosamente preparamos para eles. Manuela, com seu olhar sereno e levemente triste, ajeitava alguns brinquedos sobre uma pequena mesa, enquanto eu revisava relatórios da empresa em meu escritório. Mas, por mais que tentássemos seguir em fr
Manuela Morris Seis meses se passaram desde que tudo parecia ter desmoronado. Hoje, nossa vida, apesar das cicatrizes do passado, resplandece com uma luz serena e reconfortante. Collin e eu, agora longe de todas as pessoas que um dia nos fizeram mal, construímos um refúgio na tranquilidade de uma pequena vila na França. Aqui, entre os campos dourados e o som suave dos riachos, nossos filhos – Helena e Caio – crescem felizes, e nosso lar se enche de risos, conversas sinceras e a esperança de um futuro melhor.Eu me lembro das noites longas e frias, dos momentos em que a dor e a dúvida pareciam esmagar meu coração. Eu me senti tão perdida, tão sozinha, mas o apoio inabalável de Collin, da nossa família e de amigos verdadeiros ajudou a transformar aquele desespero em uma nova oportunidade de recomeço. Agora, cada dia é uma batalha vencida, cada sorriso dos meninos, uma prova de que o amor pode florescer mesmo depois de tanta adversidade.Nossas manhãs começam com a luz suave do sol pene
Collin Morris Dois anos se passaram desde os dias sombrios que quase destruíram tudo o que construímos. Hoje, enquanto o sol se põe num céu pintado de tons quentes sobre a nossa pequena casa na região da Provence, eu, Collin, reflito sobre a longa jornada que nos trouxe até aqui. Sinto que cada cicatriz, cada lágrima derramada e cada palavra de perdão foram, de alguma forma, tijolos na reconstrução do nosso lar.Manuela, minha amada, está grávida novamente. Dessa vez, é como se a esperança tivesse se renovado em nossos corações, um símbolo vivo de que o amor pode florescer, mesmo depois de tanta adversidade. Ver o brilho nos olhos dela, ao anunciar a chegada desse novo bebê, me enche de um sentimento que jamais imaginei ser possível depois de tanto sofrimento.Lembro-me claramente dos momentos de desespero – das dúvidas que quase me consumiram, das mentiras e das intrigas que quase nos separaram. Houve dias em que eu me perguntava se algum dia seria capaz de perdoar e seguir em frent
Manuela CardosoEstou deitada na cama do hospital, minha mão direita continua aferrada ao celular, minhas lágrimas caiem sem parar. — Tenho que ligar para ele, não tenho escolha — murmuro para mim mesma, não tenho escolha, preciso ligar. Minhas lágrimas banham o meu rosto e minha roupa de hospital. Como será que Collin vai reagir a notícia? E se ele me expulsar de novo, como tinha feito há cinco meses atrás, se ele pensar que quero o dinheiro dele? Eu não posso me humilhar novamente. — Você precisa fazer isso Manu, seja forte — murmuro mais uma vez, para me encorajar. Pressiono a tecla de chamada, o celular toca por alguns segundos, mas não tenho coragem e desligo o celular. — Como está hoje, senhorita Cardoso? — os meus pensamentos são interrompidos pela enfermeira que entra em meu quarto sorrindo. — Bem — sussuro fracamente. — Já tem tudo organizado? — indaga controlando o soro que está conectado a minha veia. Engulo em seco, mas não respondo. — Sabe muito bem que o doutor nã
Manuela Cardoso [Cinco meses antes]Faz cinco minutos que cheguei a ilha de São Tiago, no arquipélago do Cabo verde. Vim ao cabo verde a trabalho, serei a assistente sénior de um Bilionário francês que, pretende implementar um hotel a beira mar na ilha. Quando recebi a proposta da Morris enterprise architecture, pensei que estivesse sonhando. Como recém formada no curso de hotelaria e turismo, é muito difícil conseguir um emprego logo de cara, ainda mais sendo um emprego para fora do país. Quando informei a minha família que sairia de Moçambique para o Cabo verde á trabalho, eles pensaram que fosse um golpe ou tráfico humano, mas a vaga é verdadeira, eu pesquisei muito antes de me candidatar e fiz uma entrevista para tal e o salário é muito bom. De frente ao bar a beira mar, observo o chão coberto de areia debaixo das faiscantes tochas que contornam o caminho que conduz até a praia. — Vai entrar ou quer passar esta maravilhosa noite aqui fora? — uma voz masculina com um leve sotaq