Márcia queria se livrar do bordel, mas cada ausência sua era cobrada em olhares inquisitivos e perguntas cortantes de Madalena, como se a casa a puxasse de volta para suas garras; ainda assim, com os dólares acumulados nos meses em que se vendeu para desconhecidos, ela podia enfim respirar e sonhar, e embora o dinheiro fosse suficiente para uma década de vida confortável em Angola—ou até para cruzar o oceano e estudar medicina—havia algo que o dinheiro não comprava.
O peso dos toques que nunca quis, o gosto amargo das noites vazias e a lembrança do único homem cujo olhar não a fazia sentir suja, um amor nunca dito, um desejo de recomeço misturado à dor de tudo o que ficou para trás.
Uma ultima noite, sombria, escura e calma, desfalecendo-se dos eróticos vestidos que circulavam entre os cantos do bordel “Viúvas Negras” garçons passando com suas bandejas, de um lado para outro servindo whisky e vinho, branco e tinto ao mesmo tempo.
A casa estava mais abarrotada, em relação aos outros dias, mesas de apostas foram colocadas nos quatro cantos do bordel, dando uma boa vista para a pista de dança, onde dançavam as meninas que trabalhavam no hospital “Maria Pia”
Márcia pretendia se despedir do bordel, onde se entregou varias vezes, de forma nua, indecisa, inocente ao desejo de querer sobreviver nas ruas da cidade de Luanda, naquela mesma noite, utilizou uma vestimenta diferente da habitual, deixando qualquer um com vontade de se deitar com ela.
A lingerie que Márcia usava naquela noite exalava sensualidade, deslumbrante e provocante, mas ainda assim misteriosa. as joias sóbrias e embaçado, parecendo uma viúva, o batom, vermelho, o perfume, com uma divina fragância, as luzes negras estavam todas em cima dela, que acaba deixando inveja entre outras raparigas do bordel.
Nas mesas de jogos, na copa ou nos banheiros o assunto era o nome dela, “Tenente Marcy” este foi o nome figurino, que ela usava sempre no bordel.
Márcia passeava com sua linda vestimenta em volta do bordel, deu um abraço tentador ao senhor Gaspar, Ministro do Interior, respeitoso e atraente, o único senhor que nunca se deitou com ela na cama do bordel.
A intenção era chamar atenção do rapaz mais jovem que estava ao lado do senhor Gaspar, este que tinha apenas, os seus 21 anos de idade, calmo, respeitoso, atencioso, e observador, mas um cochi-to Nerde!
Helder Mateus carregava o peso de um sobrenome respeitado, moldado pela fé e tradição, mas a sombra do irmão poderoso o arrastava para mundos que não lhe pertenciam.
Entre o brilho fugaz das luzes vermelhas e o cheiro adocicado do pecado, ele caminhava sem sede, sem fome, sem desejo—apenas seguindo os passos de quem lhe impunha um destino que não era seu.
Seu coração pertencia aos versos que escrevia, às tramas da moda que desenhava, à busca incessante por algo além do vazio que as noites lhe entregavam. Mas ali, entre a fumaça e os sorrisos treinados, ele ainda não sabia que um olhar mudaria tudo.
Naquela noite, cansado do trabalho e da rotina, Helder se deixou levar mais uma vez, como quem cede ao inevitável, esperando apenas mais um encontro sem rostos, sem nomes, sem história. Mas então viu Márcia.
Havia algo nela que não pertencia àquele lugar—um mistério costurado na pele, uma tristeza guardada nos olhos, um desafio no jeito que não se deixava possuir completamente. Pela primeira vez, ele sentiu que não era o único que não pertencia ali.
E, sem perceber, algo dentro dele se moveu, como se o destino tivesse acabado de escrever um novo verso, em uma página que ainda não sabia como terminar.
O rapaz estava bem-apresentado, com uma vestimenta simples, camisa de mangas curtas, azul bebé, uma calça social cinza, e um divinal Sebago entre os pés, entre as mãos segurava um daqueles copos caros, de “dona Madalena” desfrutando de um belíssimo coquetel sem álcool.
O rapaz não desviava o olhar de Márcia, fascinado por sua presença delicada e misteriosa, enquanto todos ao redor, entre sorrisos ávidos e olhares predatórios, ansiavam por possuí-la sob a penumbra densa do bordel.
Percebendo o desejo ardente da clientela, Dona Madalena, com sua astúcia de negociante, colocou Márcia sobre a mesa de apostas, transformando-a no prêmio daquela noite — o vencedor teria o direito de passar a madrugada inteira com ela.
Márcia, presa entre o destino imposto e o desejo secreto, ajoelhou-se no palco, seus dedos deslizando suavemente pelo chão frio, enquanto dançava entre os ferros do bordel. Seus olhos semicerrados miravam o alto, murmurando orações ao Deus dos desejos, para que realizasse o seu desejo de se deitar pela primeira vez em toda sua vida com um homem de sua idade, pela ultima vez no bordel.
Seu pedido foi atendido. O jovem que não cessava de observá-la apostou cada moeda que tinha no bolso, exceto o suficiente para o transporte de volta. Ele jogava com inteligência, dominava o sistema, e quando a última aposta foi lançada, a sorte deslizou pelo feltro da mesa e caiu em suas mãos.
O silêncio preencheu o salão antes da explosão de murmúrios. Senhor Humberto, vermelho de raiva, cerrou os punhos e abandonou o local, seguido de perto por sua guarda.
Márcia, sentindo o peso do destino se dissolver nos ombros, desceu da pista de dança e correu na direção do jovem, seu coração disparado. Com um impulso de gratidão e libertação, jogou-se nos braços dele, selando sua felicidade em um beijo apaixonado, envolvendo-o em um abraço forte, quase desesperado.
-- Muito obrigado por teres vencido,” sussurrou contra seu peito, os olhos brilhando de emoção. “Você é a minha salvação, amo você.”
O rapaz sorriu, surpreso, e deslizou os dedos pelos cabelos dela com um carinho hesitante antes de responder, com uma inocência que contrastava com a escuridão do lugar:
-- Eu só queria te conhecer.
Dona Madalena, determinada a lembrar Márcia de sua posição, ordenou às outras meninas que a preparassem para a noite intensa que a aguardava. Mas nem mesmo essa tentativa de subjugar sua alegria conseguiu apagar o brilho sereno em seu rosto.
Enquanto algumas observavam com inveja velada, outras sorriam, felizes por ela. Com mãos habilidosas e olhares cúmplices, vestiram Márcia com um vestido rendado, desenhado para seduzir sem vulgaridade, ajustaram seus cabelos em ondas soltas e borrifaram sobre sua pele um perfume doce e envolvente. Pela primeira vez, ela se preparava para alguém que desejava. Pela primeira vez, seu corpo não era uma mercadoria, mas uma escolha.
O quarto estava impecável, reformado para ser um refúgio de desejo e encanto. As luzes suaves espalhavam sombras delicadas pelas paredes, criando um brilho dourado sobre os móveis de madeira escura. Velas aromáticas queimavam lentamente, misturando o cheiro das rosas espalhadas pelo tapete de veludo ao aroma amadeirado do ambiente. A cama, com lençóis de cetim carmesim, convidava ao toque, ao calor, ao momento que estava por vir.
Helder, recostado contra os travesseiros, esperava em silêncio, sem a impaciência bruta dos homens que costumavam desejá-la, mas com uma admiração sincera em seu olhar.
Quando Márcia entrou, seus passos foram lentos, hesitantes, como se estivesse atravessando a fronteira entre o passado e um futuro incerto. Ele se levantou, tirou o paletó com suavidade e caminhou até ela. Com delicadeza, repousou um beijo leve sobre seus ombros nus e deslizou os dedos por seus cabelos, ajeitando-os com um carinho silencioso, quase reverente.
A noite já se dissolvia em madrugada quando Helder e Márcia deixaram para trás o bordel, envoltos em um silêncio cúmplice, carregado de significados.
O vento morno da cidade acariciava seus rostos enquanto ele dirigia rumo à Maianga, onde o refúgio era a casa de seu irmão—um lugar que, até então, nunca havia representado tanto para ele.
Ao chegarem, Helder abriu a porta e, antes que Márcia pudesse dar um passo para dentro, a puxou para si, colando seus lábios aos dela num beijo lento, exploratório, repleto de promessas não ditas.
Dentro da casa, o ambiente estava banhado por uma luz suave e discreta. Ele pegou duas taças de vinho, entregou uma a ela e ergueu a própria em um brinde silencioso.
Márcia sorriu, mordendo levemente o lábio, e tomou um gole antes de deslizar os dedos pelo peito nu de Helder.
— Você me prendeu, Márcia. — Sua voz saiu rouca, como um sussurro carregado de desejo e verdade.
— E você me libertou. — Ela respondeu, os olhos brilhando sob a luz tênue.Os copos foram esquecidos sobre a mesa quando Helder a puxou para seu colo, explorando cada centímetro da pele dela com os lábios.
Márcia sentiu o corpo inteiro arrepiar ao toque das mãos dele, desenhando caminhos sobre sua cintura, suas coxas, sua nuca.
— Você é perigosa... — Ele sussurrou, afundando o rosto nos cabelos dela.
— Então me mantenha perto. — Márcia deslizou os dedos pelo rosto dele, como se memorizasse cada traço.A noite seguiu entre beijos lentos e urgentes, toques ávidos e carinhos sem pressa. A química entre eles era intensa, viciante. As horas passaram entre sussurros e gemidos abafados, até que, exaustos, se renderam um ao outro, corpos entrelaçados sob o lençol macio.
Antes de fechar os olhos, Márcia deslizou a mão pelo peito de Helder e murmurou:
— Não me deixe acordar sozinha...
— Nunca. — Ele beijou sua testa, segurando-a ainda mais firme contra si.Márcia ainda estava assustada com tudo aquilo, pela primeira vez em toda sua vida, teve relações sexuais, sem usar contracetivos, sem usar preservativos, sem ouvir xingamento, na cama, pela primeira vez, depois de uma transa, foi acarinhada, acariciada, foi tratada com amor, foi lhe colocada uma rosa em sua orelha antes de acordar, foi beijada, comida de forma educada, leve e transparente.
Depois daquela e mais uma noite, enquanto os dois se tocavam no banheiro, com amor e desejos, brutamente como se o mundo fosse terminar, enquanto a água quente escorria por seus corpos, deslizando como dedos invisíveis sobre a pele arrepiada. Entre beijos profundos e toques urgentes, Helder segurava Márcia com a força de quem temia perdê-la a qualquer momento.
— Andei a vida toda procurando alguém como você... — Ele murmurou, sua respiração quente contra o pescoço dela. — E não consigo aceitar que será assim tão rápido que terei que ficar sem você.
Márcia fechou os olhos por um instante, sentindo o coração pulsar acelerado. Passou as mãos pelo rosto dele, como se tentasse imprimir aquele momento na memória.
— Para mim também, lindo rapaz... — sussurrou, mordendo levemente o lábio. — A vida é curta, e eu te agradeço por me fazer perceber que sou linda, que devo me amar… E que não importa o meu passado, eu serei campeã um dia.
Helder segurou seu rosto com delicadeza, os polegares acariciando suas bochechas molhadas.
— E eu gostaria muito, linda moça, de estar ao seu lado nesse dia. Sei que fui um bobó por trazer você para a casa do meu irmão mais velho... Mas estou disposto a enfrentar todos, assim como fiz na noite passada, só para ficar contigo. Só não me abandone.
Márcia sentiu as lágrimas se misturarem à água morna do chuveiro. Seu peito se apertou, tomado por um misto de felicidade e medo.
— Estou toda borrifada de lágrimas... vais me fazer chorar mais ainda. — Ela sorriu, e em um gesto suave, encostou a testa na dele. — Só me deixa feliz mais essa noite, por favor. Me beija... Para de falar e me faz acreditar que essa noite nunca vai acabar. “Helder roçou os lábios nos dela, selando aquele instante como uma promessa.
— Não vai acabar nunca... — sussurrou contra a pele húmida de Márcia. — Fomos feitos um para o outro.
Ao acordar, Márcia levantou-se mais cedo, como de costume. Abriu o roupeiro e escolheu uma peça feminina que, por algum motivo, despertou um leve estranhamento em sua mente. "Coisas de mulheres por aqui?" murmurou para si mesma, sentindo-se deslocada. Suspirou, vestiu-se e saiu para correr.
O vento frio da manhã beijava seu rosto, mas nem isso foi capaz de dissipar a inquietação que se instalava em seu peito. Havia algo diferente no ar, uma tensão que ela não conseguia explicar.
No retorno, quando estava prestes a abrir a porta, vozes alteradas ecoaram pelo corredor. Márcia parou, seu coração disparou ao reconhecer o tom ríspido da discussão. Acreditou, de imediato, que fosse Helder e sua namorada brigando.
As palavras cortantes, carregadas de raiva e mágoa, atingiram-na como uma lâmina afiada.
— Me solta, seu cão! Achas que podes tratar as mulheres como bem entendes? — A voz de Daniela tremia de indignação. — Estou grávida, e tu me perguntas quem é o pai? Como fui estúpida ao me envolver contigo!
— Calma, Daniela, estás equivocada — O Edson Irmão de Helder, tentando manter a voz baixa. — Senta, bebe um copo de água e vamos conversar como adultos. Tem muita gente nesta casa a descansar, então vê se fecha essa tua boca. Ou esqueceste que foste tu quem abriu as pernas para qualquer homem que apareceu?
Márcia sentiu o chão desaparecer sob seus pés. O choque foi imediato. Cada palavra soava como uma bofetada em sua dignidade. As memórias da noite anterior vieram à tona, confundindo seus sentimentos.
As lágrimas brotaram sem controle, deslizando pelo rosto quente de vergonha e desilusão. Ela queria acreditar que aquele não era o Helder, mas agora a verdade ardia em sua pele como uma queimadura.
— Sou apenas uma menina de programa… — murmurou para si mesma. — Se ele tem coragem de negar um filho, o que fará comigo?
A dor da humilhação foi mais forte do que qualquer desejo que pudesse ter sentido. Ela não esperou por explicações, não quis mais testemunhar aquela cena que só intensificava seu tormento.
A única coisa que conseguiu fazer foi sumir daquele lugar. Sumir e se afastar por um longo tempo, sem deixar rastros, sem sequer se despedir do homem que, de alguma forma, mudou sua vida.
Mas a mudança não foi em algo belo ou doce. Márcia se tornou uma fera. Uma mulher marcada, agressiva, desdenhada, mas cheia de mistérios. O amor que sentia por Helder misturava-se agora com um ódio ardente, um desejo de vingança que a consumia.
E mesmo com os desejos ainda entre os lábios, saiu correndo, indo embora para sempre…
Passaram-se dois meses desde o misterioso desaparecimento de Márcia, a jovem que despertara em Helder uma paixão intensa e incontrolável. Ele havia se entregado a ela sem reservas, corpo e alma ardendo em um desejo que não se apagou sequer com o amanhecer.Mas quando o sol nasceu naquela manhã, Márcia já não estava. Nenhum bilhete, nenhuma explicação, apenas o vazio e as promessas sussurradas que agora ecoavam em sua mente como uma melodia inacabada.Desde então, Helder vagava por Luanda, arrastado por um misto de esperança e desespero, procurando por ela em cada esquina, em cada sombra, em cada olhar desconhecido.Mas a cidade grande parecia zombar de sua dor, engolindo qualquer vestígio de Márcia sem deixar rastros. O tempo passou, e o que antes era determinação se transformou em exaustão. Será que tudo não passara de uma ilusão? Uma noite intensa e nada mais?Naquela tarde, obrigado pelas ordens irritantes do irmão mais velho, ele seguiu rumo ao distrito urbano da Samba para entreg
Num belo dia, dentro do carro, a sensação gelada do ar-condicionado contrastava com o calor abrasador que dominava a cidade. O trânsito caótico e o engarrafamento incessante tornavam a viagem exaustiva. Depois de enfrentar o trajeto desgastante, Márcia estacionou numa esquina, em frente ao IMS da Maianga, e seguiu a pé pelos corredores do hospital Jorgina Machel (Maria Pia).Até aquele momento, tudo corria bem. O dia estava tranquilo, sem frustrações na Ala de Geriatria. As conversas das novas estagiárias ecoavam pelos corredores, despertando a curiosidade das enfermeiras e de algumas médicas que ali passavam.Márcia respirou fundo, apreciando a calma rara daquele dia. Sentia-se leve, até que seu telemóvel vibrou, trazendo-a de volta à realidade. Uma mensagem de Roger, seu namorado. "Desculpa pela discussão de madrugada."Roger Lopes… Jovem de personalidade forte, ciumento, mas também delicado. Formado em Administração Pública, trabalhava como contabilista financeiro num dos hotéis da
O dia começou já com clima diferente em torno de mistérios e perguntas que apareceram nos momentos errados, sons de pássaros cantando, no cume das arvores que repousavam sobre a varanda do quarto de Helder.Os vidros fixados entre os vãos da porta corrida, não disfarçavam as luzes que invadiam o quarto pela manhã, e um conjunto de cores brilhando sobre o rosto de Márcia que foi traída ao anoitecer pelo calor deitando o chão os lençóis da cama.Ao som barulhento do alarme, Márcia desperta do sono, já despida e sem cueca, tomou um susto entre alma e o corpo, quando percebe que o Helder está dormindo ao seu lado, reagindo com duvidas no seu interior e questionando-se, se por ventura haveria rolado algo, entre eles na noite passada.Márcia apanha o lençol se forra ao mesmo tempo com a mão no rosto, julgando-se.__ O que será que eu fiz, Meu Deus! – murmurou entre suspiros aflitos.Admirou uma tantas vezes, seu coração tomou conta da sua mente, quando desesperadamente percebe que o Roger h
Márcia gozava de um leve sono, já com o sorriso no canto do rosto, como quem teve uma boa noite de sossego, de repente sem animo foi acordada pelo barulho desagradável provocado pelo Roger quando se preparava para ir ao trabalho.Roger ajeitou as cortinas do Quarto de um lado para outro permitindo que a luz do sol e o ar fresco entrassem ao quarto, num tom provocador quando o clima ainda estava fresco.Márcia se escondia debaixo dos lençóis de um jeito como se não tivesse pressa para se levantar da cama, mas de forma desesperada levantou-se, espreguiçando os braços e bochechando de forma serena.Levantou-se da cama, puxando a camisola, que deitava um cheiro de suor acumulado, mas não era assim tão ativo como o perfume que circulava entre os cantos do quarto, nocivo e esbelto. Márcia entrou para o banheiro, de frente ao espelho, escovou os dentes, soltou o cabelo no ritmo da canção que tocava.Sem pressa desceu as escadas, lendo as mensagens que foram enviadas durante a noite, enquanto
Depois de uma gandaia congruente, num período de estágio no hospital David Bernardino, Márcia e suas colegas saíram para relaxar."Viúvas Negras"— era esse o nome que se destacava na cabeceira da porta do espaço lúdico onde Márcia e suas amigas costumavam se apresentar. Não eram clientes, mas dançarinas, garotas que assumiam identidades fictícias para esconder suas vidas fora dali.— Tenente Márcia, já reparaste como o ambiente mudou ultimamente? — comentou uma das amigas, cruzando os braços com desdém.Márcia suspirou, observando a movimentação ao redor.— Nem tanto. Continua a mesma coisa… homens casados, mais velhos, procurando algo passageiro. Nunca aparece alguém diferente, alguém que realmente queira ficar com uma de nós.A outra soltou uma risada curta, quase cética. Ela era a mais prática do grupo, sempre reduzindo tudo à realidade nua e crua.— Ah, Márcia… esperavas o quê? — disse, com um toque de ironia. — A maioria chega aqui cheio de dívidas, cansados da vida… No final, só