O dia começou já com clima diferente em torno de mistérios e perguntas que apareceram nos momentos errados, sons de pássaros cantando, no cume das arvores que repousavam sobre a varanda do quarto de Helder.
Os vidros fixados entre os vãos da porta corrida, não disfarçavam as luzes que invadiam o quarto pela manhã, e um conjunto de cores brilhando sobre o rosto de Márcia que foi traída ao anoitecer pelo calor deitando o chão os lençóis da cama.
Ao som barulhento do alarme, Márcia desperta do sono, já despida e sem cueca, tomou um susto entre alma e o corpo, quando percebe que o Helder está dormindo ao seu lado, reagindo com duvidas no seu interior e questionando-se, se por ventura haveria rolado algo, entre eles na noite passada.
Márcia apanha o lençol se forra ao mesmo tempo com a mão no rosto, julgando-se.
__ O que será que eu fiz, Meu Deus! – murmurou entre suspiros aflitos.
Admirou uma tantas vezes, seu coração tomou conta da sua mente, quando desesperadamente percebe que o Roger havia ligado umas 10 vezes, e estava em cima da hora, atrasada para o trabalho.
Helder de forma descarada, acordou, olhando para Márcia de forma diferente, como se tivesse rolado algo entre eles na noite passada, sem preocupação, de forma carinhosa chamando atenção de Márcia com o piscar dos olhos.
Isso deixou Márcia ainda, mas desconfiada, -- Será que rolou sexo durante a noite, será que ele sentiu o meu corpo?
Entre palavras questionáveis que viam bem do fundo em um sentimento de dor, martelando sua mente. Márcia não perdeu tempo e perguntou…
-- Helder, onde estão as minhas roupas? – O que aconteceu na noite passada, se bem me lembro a gente só deu dois goles e mais nada. – Me responde caraças o que rolou na noite passada, porque estou assim nua em tua cama?
Márcia estava irritada ao mesmo tempo confusa, a noite passada bebeu tantos goles de Martini que não lembra de nada, memórias em faltas em sua cabeça.
-- O que você acha que rolou entre a gente? Disse Helder com tamanhã ironia tentando confundir as memórias de Márcia.
-- O que aconteceu entre a gente, tal como na noite do bordel era para ter acontecido, tocar em você e você me tocar foi de mais, seu toque é de tirar a roupa e passar as mãos de forma leve ao corpo.
-- Me passa o roupão, vou tomar um banho preciso limpar toda essa sujidade que está em mim, eu estou muito atrasada, e dá um jeito de procurar a minha roupa por favor, Márcia disse aquelas palavras faltando-lhe ar na boca e palavras para completar as frases.
Então Márcia entrou ao banheiro, colocou a água a aquecer, para retirar todo pecado que ela achava que rolou durante a noite, ela já não tinha certeza se o que rolou na noite passada, foi só sexo ou apenas conversaram.
Enquanto água escorria em seu corpo, descendo as costas, ela nua em meio a banheira, se mutilando a cabeça com palavras vazias e sem nexo, a hora passava e seu telefone não parava de tocar…
-- Como fui tão frágil em cair na tentação dele? –sussurrava para si mesma. -- Porque que subi no carro? Que estupidez minha achar que só íamos conversar.
Afogada em arrependimento e confusão, Márcia permaneceu no banho mais do que devia.
Acordando do sono ao relento, saiu do banheiro, pegou em sua roupa, vestiu e desceu as escadas.
Pela sua surpresa, deu de cara com uma mesa repleta de banquete, sobre ela, o Deputado, a esposa os filhos e os irmãos tomando o pequeno almoço.
Sem pressa entre goles e outro, do canto da mesa, saiu aquele sorriso de forma irónica em forma de e uma piada, deixando ela ainda mais confusa.
-- Não tenha pressa em sair de casa. – É bom colocar algo no corpo depois das forças que você desperdiçou anoite toda.
Márcia admirou, e mesmo com toda aquela ironia, não respondeu, pegou a bata do hospital em sua pasta, as chaves do carro e saiu, com o Helder correndo atrás dela.
-- Mandei pegar o seu carro, não liga para eles, eles nem ouviram os seus gritos durante a noite.
-- Sério? Questionou ela, incrédula, passando a mão no rosto, piscando os olhos sem parar como se tivesse acordando de um pesadelo, e dando meia volta subiu ao seu carro.
Márcia conduziu até ao seu emprego, durante o trajeto só pensando nos mistérios da noite anterior…
“Hospital David Bernardino”
Márcia gozava de um leve sono, já com o sorriso no canto do rosto, como quem teve uma boa noite de sossego, de repente sem animo foi acordada pelo barulho desagradável provocado pelo Roger quando se preparava para ir ao trabalho.Roger ajeitou as cortinas do Quarto de um lado para outro permitindo que a luz do sol e o ar fresco entrassem ao quarto, num tom provocador quando o clima ainda estava fresco.Márcia se escondia debaixo dos lençóis de um jeito como se não tivesse pressa para se levantar da cama, mas de forma desesperada levantou-se, espreguiçando os braços e bochechando de forma serena.Levantou-se da cama, puxando a camisola, que deitava um cheiro de suor acumulado, mas não era assim tão ativo como o perfume que circulava entre os cantos do quarto, nocivo e esbelto. Márcia entrou para o banheiro, de frente ao espelho, escovou os dentes, soltou o cabelo no ritmo da canção que tocava.Sem pressa desceu as escadas, lendo as mensagens que foram enviadas durante a noite, enquanto
Depois de uma gandaia congruente, num período de estágio no hospital David Bernardino, Márcia e suas colegas saíram para relaxar."Viúvas Negras"— era esse o nome que se destacava na cabeceira da porta do espaço lúdico onde Márcia e suas amigas costumavam se apresentar. Não eram clientes, mas dançarinas, garotas que assumiam identidades fictícias para esconder suas vidas fora dali.— Tenente Márcia, já reparaste como o ambiente mudou ultimamente? — comentou uma das amigas, cruzando os braços com desdém.Márcia suspirou, observando a movimentação ao redor.— Nem tanto. Continua a mesma coisa… homens casados, mais velhos, procurando algo passageiro. Nunca aparece alguém diferente, alguém que realmente queira ficar com uma de nós.A outra soltou uma risada curta, quase cética. Ela era a mais prática do grupo, sempre reduzindo tudo à realidade nua e crua.— Ah, Márcia… esperavas o quê? — disse, com um toque de ironia. — A maioria chega aqui cheio de dívidas, cansados da vida… No final, só
Márcia queria se livrar do bordel, mas cada ausência sua era cobrada em olhares inquisitivos e perguntas cortantes de Madalena, como se a casa a puxasse de volta para suas garras; ainda assim, com os dólares acumulados nos meses em que se vendeu para desconhecidos, ela podia enfim respirar e sonhar, e embora o dinheiro fosse suficiente para uma década de vida confortável em Angola—ou até para cruzar o oceano e estudar medicina—havia algo que o dinheiro não comprava.O peso dos toques que nunca quis, o gosto amargo das noites vazias e a lembrança do único homem cujo olhar não a fazia sentir suja, um amor nunca dito, um desejo de recomeço misturado à dor de tudo o que ficou para trás.Uma ultima noite, sombria, escura e calma, desfalecendo-se dos eróticos vestidos que circulavam entre os cantos do bordel “Viúvas Negras” garçons passando com suas bandejas, de um lado para outro servindo whisky e vinho, branco e tinto ao mesmo tempo.A casa estava mais abarrotada, em relação aos outros di
Passaram-se dois meses desde o misterioso desaparecimento de Márcia, a jovem que despertara em Helder uma paixão intensa e incontrolável. Ele havia se entregado a ela sem reservas, corpo e alma ardendo em um desejo que não se apagou sequer com o amanhecer.Mas quando o sol nasceu naquela manhã, Márcia já não estava. Nenhum bilhete, nenhuma explicação, apenas o vazio e as promessas sussurradas que agora ecoavam em sua mente como uma melodia inacabada.Desde então, Helder vagava por Luanda, arrastado por um misto de esperança e desespero, procurando por ela em cada esquina, em cada sombra, em cada olhar desconhecido.Mas a cidade grande parecia zombar de sua dor, engolindo qualquer vestígio de Márcia sem deixar rastros. O tempo passou, e o que antes era determinação se transformou em exaustão. Será que tudo não passara de uma ilusão? Uma noite intensa e nada mais?Naquela tarde, obrigado pelas ordens irritantes do irmão mais velho, ele seguiu rumo ao distrito urbano da Samba para entreg
Num belo dia, dentro do carro, a sensação gelada do ar-condicionado contrastava com o calor abrasador que dominava a cidade. O trânsito caótico e o engarrafamento incessante tornavam a viagem exaustiva. Depois de enfrentar o trajeto desgastante, Márcia estacionou numa esquina, em frente ao IMS da Maianga, e seguiu a pé pelos corredores do hospital Jorgina Machel (Maria Pia).Até aquele momento, tudo corria bem. O dia estava tranquilo, sem frustrações na Ala de Geriatria. As conversas das novas estagiárias ecoavam pelos corredores, despertando a curiosidade das enfermeiras e de algumas médicas que ali passavam.Márcia respirou fundo, apreciando a calma rara daquele dia. Sentia-se leve, até que seu telemóvel vibrou, trazendo-a de volta à realidade. Uma mensagem de Roger, seu namorado. "Desculpa pela discussão de madrugada."Roger Lopes… Jovem de personalidade forte, ciumento, mas também delicado. Formado em Administração Pública, trabalhava como contabilista financeiro num dos hotéis da