A manhã fria estava prestes a começar, carregada de energia, enquanto as luzes dos semáforos piscavam incessantemente. O trânsito, caótico como sempre, tornava a travessia ainda mais difícil. Em um piscar de olhos, todos ativaram os para-brisas. A chuva começou a cair com brutalidade, tornando a circulação quase impossível.No pulso de Márcia, o relógio marcava 8h. O clima tornou-se insuportável; a temperatura mudara drasticamente. O que antes era um frio sutil no estômago transformou-se em um calor sufocante. Somente aqueles com o ventilador do carro funcionando corretamente escapariam do desconforto.O transito não facilitava a travessia, Márcia ficava cada vez mais irritada diante aquele cenário que não queria se fechar perante o seu olhar. Passava a mão na cabeça e tornava a voltar no volante. Márcia abriu os olhos e vendo uma oportunidade para sair daquele obstáculo, um automobilista fez uma travessia incorreta deixando Márcia fecha em contramão.A sua irritação fluiu despertando
Chegou mais cedo a sexta-feira santa. O dia começando como sempre, cheio de esperança e harmonia. Uma divina sintonia que combinava com a paz que se movia sobre o quintal de Márcia. O zelador da casa ao lado limpando a piscina por descuido, o senhor tropeçou no jardineiro e acabaram jorrando água no quintal de Márcia.A água jorrava sem parar, se espalhando por todo canto como se fossem gotas de um pequeno sereno causando aqueles ruídos minuciosos, que sem querer despertaram Márcia do sono.Ainda tonta, Márcia abriu os olhos, o quarto estava escuro, mas mesmo assim aquela luzinha vindo de fora atravessava a janela, passando entre as aberturas das cortinas mal fechadas.— Que horas são? Ai, Cadê o relógio e os meus óculos. Perguntou-se a si mesma com uma voz baixa e delicada para não acordar quem já não estava na cama.Olhou a sua volta tentando encontrar um abrigo nos braços de quem passou noite consigo, mas não encontrou nada, apenas sentiu o vazio no colchão, palpando a mão, além do
Márcia acaba de chegar ao Hospital de forma natural, ajustando o vestido de maneira sensual. Ela gostava de atrair olhares no hospital, sentindo-se confiante em cada passo.Chegou ao hospital em passos rápidos, a ligadura havia sido retirada do pé, que facilitava a sua circulação normal envolta do hospital, entrou ao hospital confiante e determinada para vencer. Só não sabia o que lhe aguardava pela frente,Passou pelo departamento de emergência acenando a mão direita para os seus pacientes de Oncologia, com aquele sorriso lindo na ponta dos lábios, ela estava diferente e muito feliz, parecia até que os seus problemas haviam desaparecido.O clima estava tranquilo ao redor do Hospital, sem pressão e sem correria, passando ela entre o corredor de Anestesiologia e pelo corredor que dá acesso a área da dermatologia, arqueando bem o olhar observou estagiários da equipe do Doutor Miguel Lanzote nas macas tirando uma soneca enquanto que os seus estivam a preenchendo prontuários. Doutor Mig
O Doutor Miguel avançava a passos rápidos, e por pouco Márcia o perdia de vista. Ainda sentia nos lábios os beijos roubados de André – no carro, no corredor –, mas se forçou a correr. Parecia que Miguel a castigava pelo mal-entendido na sala.A cada passo que o Doutor Miguel Marcava, endireitava as alas do seu blazer. Márcia também fazia o mesmo, pacientes a volta que iam para uma direção diferente, pararam para observar o comportamento inadequado dos dois médicos.Subiam e desciam pelos corredores do hospital, suando tanto que mal conseguiam falar. O cheiro quente e abafado impregnava a oncologia.Márcia cansada não aguentando mais parou apoiando-se numa das macas deixadas no corredor, as patas ardiam de dor, o pé doía, pôs o inchaço ainda não havia sido curando.— Doutor Miguel, chega de palhaçada. Eu não aguento mais, estou suada, cheirando a mofo. Parece que nem tomei banho pela manhã, vamos terminar logo com isso.Márcia estava desposta a acabar com a guerra que existia entre ela
Márcia estava conduzindo um Hyundai Ioniq 9, a uma velocidade de 90km/h. Em direção a estrada de catete, sentido viana a cidade de luanda. Ela estava tão apressada que não ligava para sinalização rodoviária, o som do motor gritante juntamente com o barulho da música que se expandia dentro do carro, reforçava a sua irritação e frustração no momento. Ela só queria chegar no seu destino.O tubo de escape deixava um vulto de fumo pela cidade, que abominavam a cidade. No ritmo do cheiro dos esgotos, o odor, o fedor e o estresse tudo jogando a mesma roleta pelo ar, poluindo o meio ambiente. A buzina audível que alertava outros condutores a se afastarem.A viagem era longa, mas ela não tirava o pé do pedal, cada vez mais pisava fundo, até que um certo ponto, um transito inesperado aparece, levando ela a perder o freio e até mesmo bater num poste.O impacto foi brutal, ela perdeu os sentidos. Quando abriu os olhos, tudo girava. O gosto de sangue na boca, os dedos trêmulos agarrados ao volante
Amanhã começou fria, sem muita novidade por cima da mesa. Márcia estava na cozinha tomando o pequeno almoço, na companhia de seu namorado. Helder Nsimba, segurava entre os dedos uma xicara de chá camomila, estava comendo bolachas com mel. Helder olhava direitamente para seus olhos enquanto segurava sua mão esquerda.— Amanhã está fria, mas o seu corpo está quente, será que seus lábios também? Perguntou Helder, fazendo cocega com o dedo indicador no meio da palma de sua mão!Márcia sorriu, inclinando a cabeça para testa de Helder. Aproveitando provoca-lo com a língua passando em seus lábios de forma doce e com seus dentes mordendo os lábios.— Olha a manhã pode terminar lá na piscina, com nossos corpos apertados. Está frio, já que seu corpo está quente podemos nos aquecer.Helder manteve o olhar firme, um sorriso discreto brincando nos lábios. Chegou um pouco mais perto, mas sem pressa, para criar aquela tensão boa. Deslizou o dedo por seu rosto, ajeitando uma mecha atrás da orelha. Se
De repente, a sala parecia um cenário abandonado—sombria, silenciosa, com as luzes fracas. Nenhuma voz humana se ouvia, apenas o sussurro distante da televisão, onde um filme de romance popular se desenrolava. As luzes claras da tela refletiam no espelho da cozinha, espalhando uma luminosidade pálida e fria pelo ambiente.Almofadas espalhadas pelo chão, o tapete coberto de migalhas de pão, o sofá deslocado como se uma criança travessa tivesse brincado ali. Na bancada da cozinha, os comandos da PlayStation jaziam esquecidos ao lado de um copo de suco vazio. O micro-ondas ainda zumbia, tostando algo, enquanto o cheiro de queimado pairava na sala.Do quintal, o ranger da porta rompeu o silêncio. Risadas femininas dançavam pelo ar, leves e vibrantes. Márcia e Edna surgiam, vozes misturadas em segredos e risos cúmplices.— Qual foi a reação deles depois de entregares as fotografias e os vídeos? — perguntou Edna, o sorriso carregado de zombaria.Márcia inclinou a cabeça, divertida. — O que
A aldeia parecia silenciosa, dentro de casa, as sombras se moviam a luz das velas, por outro lado estavam as crianças em volta de um mais velho ouvindo histórias, tal como os moradores do bairro se reuniram em volta da casa do soba.O ar quente vibrava ao som dos grilos. As luzes fracas tremulavam como pequenas chamas. Pelas janelas das casas de barro e pau a pique, velas iluminavam a escuridão.Márcia e Helder caminhavam lado a lado, as mãos sobrecarregadas com trouxas de oferendas: panos, cabrito, bengala, charuto e quimonos. Tudo para o soba, a quem Márcia considerava um grande pai.A porta estava aberta, dispensando batidas. O soba, sentado no centro do quintal, observava. Ao redor, familiares e vizinhos trocavam cochichos, sempre atentos às novidades.Ao ver o soba se levantar, o coração de Márcia disparou. Sentiu medo e alegria misturados. Largou as oferendas no chão e correu para abraçá-lo. Ajoelhou-se e bateu três palmas: à direita, à esquerda e ao centro, em sinal de reverên