Verônica— Eu estou dizendo, você tinha que ter visto o jeito que o pai dele me olhou. Com certeza estava me culpando mentalmente pelo acidente do filho. — Eu disse, enquanto servia meu almoço.— Se assim fosse, então porque ele não falou nada?— Por educação. É claro. — Respondi convicta.— Eu acho é que você está paranóica, Vê! De acordo com o que me contou quando saímos do hospital, ele ficou surpreso ao te ver, mas porque Cadu já tinha falado sobre você para ele.— Você diz isso porque não viu o jeito como aquele homem me olhava.Quando saímos do hospital, eu contei à minha prima o que havia acontecido, resumidamente. Eu ainda estava constrangida com aquela situação, e com pressa para chegar à aula a tempo.— Verônica, desencana. Isso não tem absolutamente nada a ver com o acidente. Cadu deve ter conversado com o pai de homem para homem. — Ela pegou uma coca-cola na geladeira.“Ah, então essa é a moça bonita de quem você falou, Cadu?”As palavras do Senhor Maurício ainda ecoavam e
CaduUma semana após o acidente, finalmente recebi alta do hospital. O médico me passou uma longa lista de remédios, que me deixavam sonolento a maior parte do tempo. Eu estava entediado, preso no meu quarto, sem poder me movimentar muito, devido às graves fraturas que sofri.Quanto a Verônica, eu não tinha muitas informações. Por mais chata e implicante que ela fosse, sentia falta dela. Tentei descobrir algo com meu irmão, mas ele não disse muito, e era óbvio que eu não ia persistir no assunto. Ela não tinha voltado ao hospital, o que já era esperado, mas sua ausência era notada. Eu me perguntava se ela estava bem, se estava pensando em mim tanto quanto eu pensava nela.Eu estava deitado na cama, olhando para o teto, quando meu pai entrou no quarto.— Como você está se sentindo, filho? — Ele perguntou, sentando-se na beirada da cama.— Estou bem, só um pouco entediado. — Respondi, tentando parecer mais animado do que realmente estava.— Eu imagin
Cadu Acordei de manhã, com os raios de sol invadindo meu quarto e iluminando suavemente o ambiente. Ao abrir os olhos, percebi que a bandeja do café estava posicionada ao lado da cama. O aroma do café fresco e dos pãezinhos recém-assados despertou meu apetite, e me senti grato pela atenção da equipe de funcionários que cuidavam de mim.Após terminar de me alimentar, chegou a hora de fazer minha higiene matinal. Devido à minha perna engessada, precisei da ajuda da enfermeira para tomar banho. Confesso que senti um mix de emoções, incluindo vergonha. A ideia de depender da ajuda de outra pessoa, especialmente em um momento tão íntimo como o banho, mexeu com meu orgulho. Eu me sentia vulnerável e exposto, como se estivesse perdendo parte da minha autonomia. E, mesmo que a enfermeira agisse com muita naturalidade e profissionalismo, eu não conseguia me sentir menos incomodado.Depois do banho me senti revigorado, apesar das circunstâncias. Vesti apenas uma cueca e um roupão, então a enfer
CaduSenti um frio percorrer minha espinha quando Verônica entrou no quarto. Eu imediatamente me dei conta que ela poderia ter ouvido nossa conversa sobre a “gata” que eu estava interessado. Um misto de pânico e constrangimento tomou conta de mim, enquanto eu tentava encontrar uma maneira de me explicar, caso ela tivesse ouvido.— Desculpe a surpresa, Cadu. — Disse ela, olhando de mim para Lorenzo. — Estava aqui perto e decidi te visitar, mas pelo visto, interrompi algo, não é?— Não, não, imagina. — Respondi rapidamente, tentando parecer tranquilo. — Estávamos apenas conversando sobre… futebol. E, ah, deixa eu te apresentar. Verônica, este é o Lorenzo, um dos meus melhores amigos. Lorenzo, esta é a Verônica, uma colega de classe.Verônica estendeu a mão para cumprimentar Lorenzo, mas ele, surpreendentemente, a puxou para um beijo no rosto.— Prazer, Verônica. — Ele disse, mantendo os olhos fixos nela.Notei que Lorenzo parecia um pouco surpreso, mas era óbvio que ele também estava fas
Verônica Abri os olhos e olhei para o relógio, já eram sete da manhã. Me levantei para fazer minha rotina matinal e preparar meu café. Cheguei na cozinha e me deparei com minha prima sentada em uma cadeira, com o celular em uma mão e uma xícara de café na outra. Seu rosto estava iluminado por um sorriso que eu não via há muito tempo.— Posso saber qual é o nome do motivo de toda essa alegria? — Eu disse, anunciando minha presença.— Hmm? — Ela olhou para cima, o sorriso vacilando um pouco. — Ah, é só um amigo.Ela bebeu um pouco do café, tentando disfarçar o entusiasmo de suas feições, como se não tivesse sido pega no flagra.— Um amigo, é? — Eu perguntei, pegando a minha xícara de café e me sentando do outro lado da mesa. — E por acaso o nome desse amigo é Vinícius?Ela não negou. Em vez disso, deu de ombros e voltou a olhar para o celular. O sorriso voltou para seu rosto.— Quem sabe? Talvez seja ele.Sorri para ela, feliz por ver minha prima tão contente. Eu tinha certeza que era
CaduAlgumas semanas se passaram e o doutor Jorge veio me visitar e trazer o resultado dos exames que eu havia feito no consultório há alguns dias.— Bom dia, Cadu. Como você está se sentindo? — Ele perguntou, assim que entrou em meu quarto. — Louco para sair dessa cama logo, doutor. — Respondi com sinceridade.O doutor Jorge riu, meneando a cabeça, e abriu uma pasta com vários papéis e exames de imagem.— De acordo com os últimos exames, a quebradura da sua perna foi mais simples do que aparentava inicialmente. Isso foi uma grande sorte, considerando as fraturas que você sofreu nas costelas.Eu suspirei aliviado. Qualquer notícia que não envolvesse mais dor ou tempo deitado, já era uma vitória para mim.— Isso significa que você já pode começar a dar alguns passos com o apoio de muletas. Seus pais já providenciaram. Sophia vai trazê-las para você. — O médico continuou, olhando-me com um sorriso encorajador.Senti uma onda de animação percorrer meu corpo. Finalmente, um pouco de libe
CaduVerônica me olhou abruptamente, como se eu tivesse acabado de dizer o maior absurdo de todos os tempos.— O quê? De onde você tirou essa ideia, Cadu? — Ela perguntou, parecendo espantada.— Deduzi pela forma estranha como ambos estão agindo. Parece que tem algum segredo entre vocês.Ela riu, mas havia um toque de nervosismo em sua risada.— Cadu, não tem nada acontecendo entre nós. Vinícius e eu somos apenas amigos, você sabe disso.O problema é que eu não estava convencido. A conexão que eu vi entre eles parecia mais do que amizade. Havia algo mais ali, algo que eles estavam escondendo de mim. Eu me senti frustrado, como se estivessem subestimando minha capacidade de perceber as coisas, só porque eu estava há semanas trancado em meu quarto.— Verônica, tudo bem que não nos conhecemos há anos, mas eu sei identificar quando você está nervosa. Você tem a mania de colocar o cabelo atrás da orelha sempre que algo te deixa desconfortável, como fez ainda há pouco. E eu também conheço m
VerônicaEu estava sentada na sacada do apartamento, observando a noite que se estendia diante de mim. As luzes da cidade brilhavam como estrelas urbanas criando um cenário mágico e hipnotizante. Mas, apesar da beleza ao meu redor, minha mente estava perdida em pensamentos e lembranças.A brisa suave acariciava meu rosto, trazendo à tona as memórias do beijo que Cadu havia me dado. Meu coração disparou, e uma mistura de emoções avassaladoras tomou conta de mim. Aquele beijo tinha sido tão inesperado quanto intenso, tinha sido um turbilhão de sensações que me deixou desorientada. Era como se tivesse acendido uma chama dentro de mim, uma chama que eu não sabia se deveria alimentar ou tentar extinguir. As lembranças eram tão vívidas, tão palpáveis, que por um momento eu quase podia sentir o gosto dele em meus lábios novamente, mesmo que já tivessem se passado duas semanas.Fechei os olhos, revivendo aquele instante em minha mente. O toque dos lábios de Cadu nos meus, a sensação de calor e