Capítulo 1

Semanas antes...

Joana encarou a palavra fim no final da página e sorriu, acabava de terminar a história de fantasia que lhe daria tudo o que sempre sonhou.

Sonhava em se tornar uma grande escritora, queria que o mundo todo lesse as histórias que gritavam em sua mente como se estivessem presas e precisassem ser libertas.

A ruiva era amante das letras, amava escrever, inventar histórias e seu maior desejo era que seu trabalho e talento fossem reconhecidos.

A obra literária foi enviada para uma editora, a maior da cidade vizinha onde ela morava, não demorou muito para receber uma proposta, ela mal se aguentou de tanta felicidade, ela foi a única, porque ninguém em sua casa a apoiava.

Ela, os pais e a irmã mais velha moravam em um sítio, para eles, ser escritora estava longe de ser algo grandioso, ela nunca se importou com a opinião deles.

Joana acreditava em si mesma e no que queria e isso lhe bastava.

Todo o processo do contato com a editora foi algo extraordinário para ela, ela estava nas nuvens, sua tia, que era apenas dois anos mais velha que ela, a ajudou em tudo.

Três semanas depois tudo o que precisava fazer era ir para a cidade, se apresentar na editora e assinar o contrato, Joana estava ansiosa e animada, não dormia e nem comia direito, de tanta ansiedade.

Sem o apoio da família, teve que contar com a ajuda de algumas pessoas da cidadezinha, a dona da única panificadora do lugar lhe dei um emprego temporário para que ela pudesse juntar dinheiro para a viagem.

Pronta, Joana viajou, levou uma malinha pequena, tinha tantos planos, seu sorriso contagiava a todos, ela estava radiante, nada poderia apagar a sua luz.

Era o que pensava.

Quando chegou na recepção da editora, foi barrada, ela brigou e chamou a atenção de todos, até alguém finalmente ir falar com ela.

A mulher alta, magra e muito bem vestida fez com que, pela primeira vez, Joana se sentisse pequena.

A ruiva achou que tudo ia se resolver com ela, mas a mulher a deixou menor do que se sentia, a esculachou como se ela fosse uma pedinte, Joana não sabia ao certo como classifica-la, mas ali, aquela mulher odiosa era provavelmente alguém de muita importância.

— Vocês disseram que iam publicar meu livro.

— Nós vamos querida, mas você não vai participar disso.

A boca da mulher era achatada como a de uma cobra, Joana tentou não surtar e voar nela.

— Como assim?

A mulher sorriu venenosa, como se fazer aquilo lhe desse um imenso prazer.

— É o seguinte burrinha, você enviou seu original, chegou aqui ele não é mais seu.

— Não era o original, eu tenho ele manuscrito.

— Não interessa, agora não é mais seu. Agora seu livro pertence a nós. Não há nada que possa fazer contra isso.

Joana se levantou furiosa.

— Está me dizendo que me roubou? Assim, na cara de pau?

A outra não se sentiu atingida com a acusação e permaneceu plena em sua cadeira.

— Pegue o que resta da sua dignidade e vá embora daqui.

— Eu vou rasgar toda a sua cara na unha sua ridícula. — Joana ameaçou transtornada.

— Segurança!

Joana avançou sobre ela, mas a mulher manteve a cadeira longe dela, não levantou-se nem para se defender.

Um sorriso irônico e debochado permanecia em seus lábios.

— Você vai me pagar por isso. Vai pagar.

Joana foi obrigada a sair quando um homem grande e forte apareceu na sala. Na verdade foi praticamente arrastada para fora do prédio.

Arrasada e sem saber muito bem o que fazer a partir daquele momento, ela sentou-se na calçada, todos os seus sonhos foram quebrados e ela estava presa em um buraco escuro, ela não via mais uma luz, teria que voltar embora, mas só de pensar em encarar sua família após esse golpe, sua barriga doía só de pensar, ela não queria, isso mostraria que sempre estiveram certo.

Ela não voltaria.

Alguns dias passaram, o dinheiro acabou, teve que sair do lugar que pagou para ficar, até tentou encontrar um emprego, como doméstica, empregada ou qualquer outra coisa assim, mas quando as empregadoras a olhavam acreditavam que não seria bom ter trabalhando em sua casa uma jovem tão bonita e as oportunidades a ela, não vieram.

Sem dinheiro, sem emprego, sem ter onde ficar, sem ter para quem pedir ajuda, ela desistiu, mas não ia voltar para casa.

A primeira noite na rua foi muito difícil, ela sentiu frio, fome e medo.

Ela sequer dormiu.

Sua nova realidade era deprimente  e ela tinha medo do futuro.

Dias se passaram, ela precisou mudar de lugar umas quatro vezes porque, ou era atacada por homens ou por moradores de rua que não queria dividir o espaço com a forasteira.

Em uma tarde Joana sentou-se em uma calçada, sentia fome, seu cabelo coçava de tão sujo e seu ânimo estava no chão, cansada por não dormir direito, com medo do seu futuro.

Pedia a Deus todo o tempo, uma luz, uma ajudinha, podia ser bem pequena, ela só precisava de uma ajuda e o resto faria valer a pena.

Estava presa na própria angústia quando alguém apareceu ao seu lado. Era um senhorzinho barbudo, não se importou com a cara feia que ela direcionou a ele.

— Olha só, não te dá dó?

Joana o olhou achando que não era com ela, mas o velho colocou uma caixinha perto dela. Joana esticou o olhar para ver o que havia ali.

Dentro da caixinha tinha um filhotinho canino, tão pequeno, assustado como ela e tremia muito.

Ela nem pensou muito e esticou os braços para pegá-lo, o puxou para seus braços para mantê-lo aconchegado.

— Ah, meu Deus, pobrezinho dele.

— Eu acho que o abandonaram porque ele tem uma perninha torta.

Joana encarou o homem.

— Que crueldade. Ele é lindo.

— É seu. Pode ficar.

A moça sorriu e o olhou ajeitar no corpo o casaco sujo que vestia.

— Não posso ficar com ele, não posso cuidar, nem uma casa eu tenho para acolhe-lo, como vou  sustenta-lo?

— Tudo na vida se ajeita pequena ruiva, tudo se ajeita.

Joana assentiu e acariciou o filhotinho.

*

Alexandre trocou o peso dos pés ao observar Katiuska e Merida, a vendedora da loja de roupas já havia perguntado três vezes se ele queria um lugar para sentar.

Mas a irmã e a filha disseram que só iam dar uma olhadinha.

Ele e a irmã sempre tiravam o dia de folga para sair com a garotinha de cinco anos, Merida precisava de momentos assim.

Katiuska não era sua irmã de sangue, no entanto isso nunca foi um empecilho para serem unidos, ele tinha uma gêmea, Lorena e a amizade com ela era muito diferente.

Lorena era distante, soberba e ambiciosa.

Merida a chamava de tia má.

Vendo que as duas não sairiam tão cedo, ele mandou a vendedora avisar que esperaria no carro.

Enquanto caminhava até o veículo colocou a mão no bolso da calça.

 Isso sempre acontecia, já deveria estar acostumado. Não se irritava, mas o tédio de ter que  ficar atrás de duas mulheres consumistas e ainda por cima, indecisas, não era um bom programa para um homem tão ansioso quanto ele.

Alexandre parou ao lado do carro, descansou os braços em cima do teto e encarou, sem procurar nada especial, o outro lado da rua.

Ele observou um homem alto, mais ou menos do seu tamanho, ele disfarçava muito e seu comportamento o entregava de forma muito suspeita.

Algumas vezes olhava para o lado, esperando uma oportunidade. Alexandre seguiu o olhar dele, para descobrir o que o homem ansiosamente aguardava.

No campo de visão dele estava uma mendiga, bem, era o que ela parecia, de corpo pequeno, magro, roupas desajeitadas e os cabelos vermelhos como fogo, todo despenteado.

Alexandre paralisou por um momento, eram da mesma cor que os cabelos da mãe de Merida, a diferença era que os de Sandy eram encaracolados e os da jovem, lisos, apesar da falta de um pente.

Por alguns segundos teve noção do que estava acontecendo, aquele homem queria fazer mal a ela.

E independente de ser ruiva ou não, ele tinha que ajudá-la, avisa-la, fazer algo, impedir que algo acontecesse, mas ele estava tão estagnado que não conseguia se mover.

O grito dela com um xingamento em seguida, o tirou do transe, tudo aconteceu em frações de segundos, quando se deu conta estava em cima do homem desferindo socos no rosto dele, como se ele tivesse acabado de tocar em um fio de cabelo de sua filha ou de sua irmã, e ele mataria por isso.

— Dá o fora!

Mandou entre dentes  depois de solta-lo. O homem correu para longe deles.

Alexandre virou-se e encarou a jovem, ela permaneceu ali parada, sem demonstrar medo, com apenas uma expressão de raiva e angústia, um olhar tão tocante que ele sentiu vontade de abraça-la e protege-la, mas se chegasse perto, mesmo com uma intenção tão pura, pioraria tudo, ela tinha acabado de ser agarrada e o abraço de um desconhecido, não seria visto com um bom sinal.

Ele não queria assusta-la.

— Você está bem?

Ele aproximou-se, ela não se afastou, não que confiasse nele, mas ela não tinha medo.

Mesmo suja e desarrumada, ele podia ver que era linda.

— Sim.

O som de sua voz saiu baixa e emocionada, diante dele ela demonstrava ser forte, durona, mas Alexandre podia notar sua fragilidade.

— Você precisa de ajuda? Quer que eu te leve a algum lugar?

Ela o encarou, fez sinal negativo com a cabeça e começou a afastar-se.

Algo dentro dele gritava para que fosse atrás, que a ajudasse , mas não saber o que fazer, já que ela não quis a ajuda oferecida, o deixou parado no meio da calçada enquanto a observava ir, até desaparecer.

*

Aquela noite estava mais fria do que o costume, o senhorzinho dera a Joana um cobertor sujo, mas ela não se incomodou com isso, ela e o filhotinho estavam aquecidos, era o que importavam.

Eles se apresentaram, ele se chamava Farrapim e era muito simpático, ele não falava muito sobre sua vida, apesar de contar histórias fantásticas sobre outras pessoas.

Joana amava ouvi-las e o cãozinho aconchegado em seu colo também, as pequenas orelhinhas ficavam em pé como que prestando atenção em tudo o que falavam.

— Você acredita em anjos?

A pergunta dele a pegou de surpresa e Joana demorou para responder.

— Eu não sei... Depende.

O mendigo sorriu.

— Você terá tempo para pensar sobre isso.

Joana assentiu sem entender muito bem o que ele queria dizer.

Alexandre abriu a porta de casa e a pequena ruivinha entrou correndo, se jogou no sofá e ligou a TV, com um movimento de chute tirou as sapatilhas sem usar as mãos.

A segunda quase acertou a cabeça de Alexandre.

— Ei...

Ele reclamou ao desviar, colocou as sacolas das compras que ela fez com a tia, no sofá.

— Você quer comer algo?

Ele perguntou para a menina que via Masha e o urso distraidamente. Nem respondeu.

Alexandre caminhou até a cozinha, colocou a lasanha no micro-ondas, apertou os botões, enquanto esperava pensou na ruiva, ele queria ter feito algo a mais por ela, mas se sentiu tão travado diante daquela situação.

Quando a lasanha esquentou ele foi até a sala chamar a filha, Merida corria pela escada sem parar.

— Esquentei a lasanha, vem comer um pouco.

— Pai, olha.

Merida subiu no corrimão da escada. Alexandre a olhou.

— Desce já daí, Merida. É perigoso. Não vê o quanto a escada é alta. Já te falei.

— Eu me seguro. Olha...

— Anda Merida, desce daí. Aí não é lugar para brincar.

— Mas é divertido.

— Me obedeça Merida.

Ela riu, e se preparou para descer, mas se desequilibrou, Alexandre não teve tempo de fazer nada, ela caiu.

A mesinha de vidro se partiu em mil pedaços com o peso dela.

Alexandre gritou muito alto.

— MERIDA!

E correu até ela, apavorado e com o coração nas mãos ao ver sua filhinha imóvel, toda machucada em meio aos cacos da maldita mesinha de vidro.

Agora

Alexandre sentiu uma mão tocar seu ombro, olhou para cima e sorriu meio desanimado para Katiuska, sua irmã mais velha.

Ele era gêmeo de Lorena, mas era com Katy, como a chamavam, que ele tinha mais afinidade.

A negra de cabelos cacheados sentou-se ao lado dele nos bancos da capela do hospital.

— E aí, alguma notícia?

— Não. Só o médico dizendo que minha filha vai morrer, que não há tempo.

Uma enxurrada de lágrimas veio junto com as palavras e ela afagou o cabelo dele puxando a cabeça loira para seu ombro.

— Tenha fé irmão, ela vai ficar bem. Merida é forte.

— Eu não consigo... Eu estou em um desespero constante. Não há doador compatível, os que chegaram me deram esperanças, mas os exames apresentaram problemas. Por quê Deus não fez isso comigo? Eu mereço, ela não.

— Para Alê, não fala assim. Vai dar tudo certo. Eu vou pegar um café para você e logo volto para ficar contigo. Tenha fé.

Ele nada disse e ela levantou-se, saiu da capela e caminhou para a lanchonete atrás de um copo de café.

Ao passar pela recepção ouviu uma discussão, ela não gostava de se meter com esse tipo de coisa, sequer prestar atenção, mas dessa vez acabou parando, na verdade alguém estava em sua frente obrigando-a esperar para poder passar.

— Eu já disse, eu posso doar sangue para a menina.

— Por favor mendiga, se não sair, vou chamar os seguranças.

Katiuska enxergou o papel rosa nas mãos da mendiga, os amigos de Alexandre haviam insistido para ajudar e fizeram vários daqueles, ela se aproximou.

— Ei, você pode mesmo doar sangue para minha sobrinha?

A moça a olhou, assentiu.

— É o que estou tentando dizer para essa sonsa.

Apontou em direção a recepcionista.

— Ei... — A recepcionista começou dizendo.

— Cala a boca! — Katiuska pediu e voltou-se para a ruiva. — Se você pode, ela não vai te barrar, mas acho que... — Olhou-a da cabeça aos pés. — Tudo bem, vem comigo.

Katiuska puxou a ruiva pelo braço levando-a para fora. A jovem era baixinha, Katiuska não era muito alta, mas usava salto alto, sua postura elegante fazia com que ela parecesse mais alta que a mais nova.

— Para onde vai me levar?

— Para nos ajudar, você precisa de um banho e comer alguma coisa.

— Mas não querem perder tempo, querem?

Katiuska parou em frente a um lindo carro.

— Não queremos, mas as coisas tem que ser feitas da forma certa. A vida da minha sobrinha depende disso.

— Tudo bem.

— Pode entrar no carro, depois mando desinfetar.

Joana franziu a testa, mas a outra já estava entrando no automóvel sem se incomodar se a ofendeu ou não.

Katiuska levou Joana para um apartamento luxuoso. A ruiva ficou abismada quando entrou.

— Quero que você tome um banho, vou conseguir uma roupa para você.

Foi falando enquanto caminhava pelo apartamento.

— Meu nome é Joana.

Katiuska a olhou da cabeça aos pés e depois voltou fazendo o mesmo caminho com o olhar.

— Anotado, mendiga ruiva, agora vá, o banheiro fica no final do corredor à esquerda.

— Meu nome é Joana.

A ruiva resmungou e foi até o banheiro.

Alguns minutos depois Katiuska estava batendo na porta atrás dela.

— O planeta precisa desta água que você está desperdiçando mendiga ruiva. Saia! Vou deixar as roupas  aqui na porta.

Joana desligou, se enxugou e pegou as roupas na porta. Vestiu as peças íntimas e observou a calça de moletom e a blusinha roxa, parecia seu tamanho exato, mas não poderiam ser da mulher, ela era mais alta e também não parecia o tipo que se vestia daquela forma.

Depois de pronta Joana saiu, na sala encontrou a negra alta.

— Qual seu nome mesmo?

— Katiuska — Respondeu amarga. — Marli está preparando uma bandeja de comida para você. Precisa estar bem alimentada.

Joana assentiu e pegou um porta retrato que estava em uma mesinha de centro, olhou curiosa, a mulher que estava diante dela sorria na foto ao lado de um belo rapaz loiro e uma garotinha ruiva de cabelos cacheados.

Como os de Merida, do filme da Disney.

— É seu namorado?

— É meu irmão sua idiota.

— Você é adotada?

Katiuska a encarou com a sobrancelha erguida.

— Está me perguntando isso porque sou negra e ele loiro?

— Tem uma ruiva no meio... É uma imagem muito...

A mulher tirou o retrato das mãos dela.

— Chega. Não toque no que é meu.

Uma mulher, não muito velha, com um uniforme de empregada apareceu com uma bandeja cheia.

— Essa é a Marli e essas roupas são da filha dela.

Joana sorriu para ela.

— Obrigada Marli. Eu logo devolvo.

— Ah, não se preocupe com isso. Coma... Você vai adorar.

Joana pegou a bandeja e sentou-se. Katiuska revirou os olhos quando ela atacou as comidas esfomeada.

— Eu vou m****r uma mensagem para meu irmão. Come devagar para não passar mal. Não é disso que precisamos.

— Tudo bem, desculpe.

Katiuska se afastou. Marli sorriu para Joana.

— Você gostou?

— Está tudo maravilhoso. Sério...

Joana respondeu com a boca cheia.

— Obrigada. — Marli sorriu achando graça. — Que bom que gostou.

— Então... — Joana engoliu a comida. — Qual o nome da sua filha?

— Tais... Ela tem quase doze anos.

Joana quase se afogou com o próximo bocado.

— Sério? Eu tenho mais que o dobro da idade dela.

Marli sorriu.

— Não se espante, ela é alta como o pai.

— Eu vou devolver essas roupas, diz a ela.

— Não se preocupe querida.

Joana colocou a bandeja na mesinha.

— Olha, eu vim pelo cartãozinho, com o pedido de doação, que coincidentemente eu tenho o mesmo tipo de sangue. Mas lá não dizia o que houve com a garotinha. É essa ruivinha, não é?

Joana apontou para a foto, Marli sorriu para a imagem de forma fraternal.

— Foi uma tragédia, ela caiu de uma escada em cima de uma mesinha de vidro. É uma benção que ela ainda esteja viva... espero que possa ajuda-la.

— Eu também. Quero muito. Ela é linda e a cor dos cabelos dela é igual aos meus.

Joana sorriu.

— Quer um suquinho? Tem laranja fresquinha.

— Não vou recusar Marli. Quero sim, obrigada.

A mulher sorriu e com um já volto foi para a cozinha.

Alexandre já não aguentava mais, não conseguia ficar parado, não sabia para onde ir, aquela espera estava matando, ele não sabia o que fazer.

— Alê...

Katiuska apareceu no corredor atrás dele. Ele virou-se para ela.

— O quê aconteceu?

— Calma, a garota que encontrei já está fazendo os exames, você só precisa esperar mais alguns minutos.

— Eu estou prestes a surtar Katy. Ninguém fala nada sobre minha filha, eles mal me deixam vê-la. Isso é tão cruel.

— Isso vai acabar logo. Fica calmo.

O celular dele tocou, ele pegou do bolso e passou para a irmã.

— É a mamãe, ela fica me ligando.

— E você não atende?

— Eu estou sem cabeça para isso...

Katiuska pegou o celular dele e atendeu a mãe no lugar de Alexandre.

— Oi mãe, sou eu, o Alê não está bem. Não houve nada, calma... Só está nervoso. Mas apareceu aqui uma garota que é uma esperança, ela está sendo examinada. É uma mendiga.

Alexandre se afastou da irmã, se encostou na parede perto do quarto onde Merida estava e ficou ali, desejando poder fazer alguma coisa para ajudá-la.

— Aguenta firme minha menina, vai ficar tudo bem.

Ele sussurrou para a porta de forma melancólica.

Algum tempo havia passado, Alexandre não sabia quanto, mas para ele, muito.

O médico havia avisado que o sangue da moça era compatível com o de Merida e iam preparar a transfusão o mais rápido possível.

Katiuska foi para escritório deixar algumas coisas arrumadas e prometeu voltar logo e ele ficou zanzando pela sala de espera.

— Alexandre.

Ele se levantou ao ouvir a voz do médico.

— E aí?

— Correu tudo bem. Ambas estão ótimas.

Ele suspirou aliviado.

— A minha filha está bem mesmo?

— Ela está fora de perigo, está descansando agora. Já está sendo levada para o quarto.

Alexandre finalmente conseguiu sorriu, abraçou o médico.

— Cara, obrigado. Eu nem acredito. Meu Deus.

Se afastou.

— Não agradeça a mim e também, se não fosse a moça...

— A moça... A moça.... Quem eu posso ver primeiro?

— Bem, sua filha está dormindo, se quiser ver a jovem, te acompanho até o quarto.

Alexandre assentiu, ele precisava ver a pessoa que acabara de salvar a vida da filha e agradecer pessoalmente. Devia sua vida a ela.

Joana  comeu a comida que lhe foi servida desejando poder experimentar a comida de Marli novamente.

Sentia-se melhor, um pouco deprimida, mas melhor.

A porta se abriu e alguém entrou.

A ruiva observou o homem.

— Você?

Ele perguntou ao reconhece-la. Vendo-o de perto, ela lembrou-se dele.

— Você é o cara que salvou minha vida.

— E você a garota que salvou a minha filha.

Ela sorriu.

— E como ela está?

— O médico disse que ela está fora de perigo, ela vai melhorar.

Ele suspirou, Joana podia notar os olhos cansados dele.

— Isso é ótimo. Fico muito feliz por isso. De verdade mesmo...

Ele sorriu e se aproximou da cama.

— Mas e você? Como está?

— Bem...

Alexandre se aproximou dela com curiosidade.

— Você... Quem é você?

Ela o olhou, os olhos verdes dele a encaravam, Joana sentiu um aperto no peito que não saberia explicar.

— Meu nome é Joana.

— Eu sou o Alexandre. Onde você mora?

Joana sorriu de canto.

— Embaixo da ponte. Literalmente.

Ele cruzou os braços e a observou.

— Você tem família?

— Tenho, mas não quero falar com eles. Não moram aqui.

— Por quê não quer falar com eles?

Ela se negou a responder e desviou o olhar, Alexandre entendeu.

— Então, eu posso te ajudar em alguma coisa?

— Tipo?

Ele deu de ombros e colocou as mãos no bolso da jaqueta jeans.

— Você não tem onde morar, quero compensa-la por salvar a minha filha.

— Vai me dar uma casa?

Joana debochou, ele cruzou os braços.

— Bom, eu posso...

— Não. Não quero nada de graça. Posso estar no fundo do poço agora, mas vou me reerguer.

Ele sorriu de canto com o jeito dela.

— Tudo bem. — Ele pensou um pouco. — Posso te oferecer uma ajuda diferente, então... Uma ajuda que você não possa recusar.  E não faz essa cara de bravinha.

Joana o encarou curiosa e franziu a testa ao ser chamada de bravinha.

— Você quer um emprego?

— Um emprego? — Ela sorriu surpresa. — No que?

Alexandre sorriu de canto.

— Preciso de uma babá para Merida e acredito que vocês vão se dar muito bem. O que me diz? Topa?

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