Já eram oito e meia quando Edgard chegou ao saguão do hotel e encerrou sua estadia, sem pressa levou as duas malas e sua mochila/escritório para o carro, ele acordou mais tarde do que queria o que atrapalhou e muito os seus planos.
Na noite anterior ele tinha enviado algumas mensagens para o Pai e o Tio através do grupo da família, tudo transcorria bem e ele dormiu assim que deitou na cama, porém, a uma e meia da manhã foi acordado pelo toque do telefone, assustado acreditando que fosse algo urgente ele atendeu e foi metralhado por Dona Isabel Lia Toniolo:
- Alô?
- Filho, como assim você só volta em dez dias? Achei que estaria de volta no máximo no domingo, sabe a Déa me contou que vocês quase não tem conversado, filho isso tá errado, você não pode ignorar tua noiva assim. Na verdade eu acho que já passou da hora de vocês casarem, vocês já estão velhos pra ficar brincando de casinha.
- Mãe, já passa da uma da manhã, eu tenho que viajar logo cedo, vou pegar a estrada, podemos conversar sobre isso outra hora?
- Edgard Nicolas Toniolo, desde quando você pode questionar a hora em que eu te ligo? Acabei de chegar do teatro com o teu pai, aliás ele está tomando um banho agora, mas quer conversar contigo também, de qualquer forma, quero você no domingo em São Paulo. Nem pense em ficar por aí sem destino como um mochileiro qualquer. Você sabe muito bem o por que te quero aqui.
- Sei sim Dona Isabel...
- Mais respeito, não quero saber de ironia, a única pessoa no mundo que pode me chamar de “Mãe” é você, então faça o favor!
- Tudo bem mãe, eu...
- Teu pai saiu do banho, eu vou passar o telefone pra ele.
- Oi pai.
- Filho, acordado ainda? Você não avisou que vai viajar amanhã? Eu imaginei que ia pegar a estrada logo cedo, mudou de ideia e vai a tarde?
- Não pai, quero viajar de manhã mesmo, ainda não fiz reserva num hotel e estou pensando se vou ou não para uma pousada e aproveito a praia um pouco. A mãe me ligou, eu já estava dormindo.
- Bem filho vou te deixar dormir então, só me responde uma pergunta, aquela área é mesmo imprópria?
- não sei ao certo, passei uma localização aproximada para a pessoa com quem estava conversando, mas consegui um contato que tem a informação precisa dentro do Corpo de Bombeiros Voluntários da cidade. Eles conhecem todos os pontos de enchente e alagamento daqui. Mas a pessoa com quem conversei me deu certeza de uma coisa, existem áreas que a construção de um estacionamento no subsolo é impraticável. E o senhor sabe que no Escala o estacionamento é assim.
- Bem, Edgard, um contato como esse que conseguiu é sempre importante. Muito mais confiável que os corretores que entram em contato conosco. Agora filho, vai dormir e boa viagem amanhã, me avisa quando se instalar.
- Ok pai, boa noite pro senhor também, um beijo na mãe.
Edgard só voltou a dormir as três e meia da madrugada.
Kátia saiu do hotel e embarcou no primeiro ônibus com destino a Camboriú que encontrou, as sete da manhã ela já estava na estrada rezando para a viagem não ser muito longa, afinal o homem sentado ao seu lado olha para ela de um jeito que a deixa desconfortável, assim ela acha melhor não dormir. Kátia suspira pensando:
“Eu devia ter pegado o ônibus direto que saía a tarde”
Dez horas da manhã o ônibus em que ela está faz uma parada de quinze minutos, eles já passaram por três ou quatro cidades e ainda não chegaram nem no meio do trajeto direito, Kátia desce e pede um café e um pedaço de bolo de chocolate, depois sai a procura de uma mesa, o passageiro estranho a segue, ao longe ela tem a impressão de reconhecer Edgard, inquieta resolve se aproximar e arriscar.
- Oi, Edgard?
- Kátia?
- Sim, Edgard, posso te pedir um favor, posso sentar na tua mesa outra vez? Tem um cara estranho viajando no mesmo ônibus que eu que não tira os olhos de mim.
- Aquele ali na fila pegando um salgado?
- Sim ele mesmo, tá olhando pra mim outra vez né?
- Senta aqui, ele não vai se aproximar se você estiver comigo.
- Obrigada.
- Não sabia que ia viajar de manhã, achei que ia se despedir da tua família na hora do almoço.
Kátia sorriu.
- Não, se eu pisar em casa eles não me deixam viajar, são meio superprotetores não sei se me entende.
Edgard pensa na ligação que recebeu durante a madrugada e responde sinceramente.
- Sei exatamente o que é isso.
Vendo que Kátia estava tomando café com outro homem, o estranho sentou numa mesa ao lado e ficou ouvindo a conversa dos dois. Edgard e Kátia perceberam, mas continuaram a conversar normalmente. - Mas, me diz tá viajando pra onde mesmo? - Camboriú. - Balneário? - Não, Camboriú mesmo, fica ao lado. - Vai pra casa então. - Mais ou menos, vou ficar na pousada de um amigo. Ele já preparou um quarto pra mim. - Bom. - Eu ia direto pra Camboriú, mas não posso recusar a gentileza dele e da esposa, até porque eles estão meio brigados e eu acredito que posso acalmar os ânimos dos dois, por isso vou fazer uma parada em Balneário antes de seguir para Camboriú. Durante alguns minutos eles ficam em silencio enquanto comem, o homem estranho continua prestando atenção aos dois até que se levanta e vem em direção a Kátia que está terminando seu café. - Moça, nosso ônibus já está de saída, é melhor embarcarmos. Edg
A declaração de Edgard deixou Kátia preocupada, ele não conhecia a cidade, não tinha reserva em hotel. Nem mesmo uma indicação?- Certo pra onde te levo então?- Meu plano original era ter chegado aqui duas horas antes e rodar um pouco pela orla de Balneário Camboriú e encontrar um hotel ou pousada que me agrade para ficar uns dias. Mas sai tarde do hotel em Joinville o que bagunçou meu cronograma.- Entendi, mas no seu plano original incluía um guia local?Edgard sorriu, Kátia pela primeira vez via um sorriso tão grande e franco daquele homem.- Claro que não, mas é uma ótima alteração além de me poupar muito tempo.- Certo, vamos pra um restaurante ótimo aqui perto, ele não fica na orla mas tem a melhor almoço com frutos do mar da cidade.- Ok. Você dirige.K&aa
- Certo, parece que meu destino aqui está nas tuas mãos, pelo menos por enquanto.- Não se preocupe, não sou nenhuma psicopata.- Não disse isso, mas que estou perdido nessa cidade e você parece conhecer mais Balneário Camboriú e Camboriú do que Joinville.- Ah... mais ou menos isso, em Joinville, meus amigos e conhecidos são a sua maioria ligados a minha família e por isso tudo o que eu faço cai no ouvido dos meus pais e irmãos. Aqui eu sou apenas eu, e minha família são os Exilados, por isso posso ser eu mesma o tempo todo.Mesmo curioso para saber a respeito dos amigos de Kátia, Edgard muda de assunto:- Fiquei surpreso com esse lugar, chega a ser mais bonito que o próprio restaurante.- É a horta da Tia Marta. Mas a muitos anos foi convertida nesse cantinho secreto.Edgard olha mais uma vez ao redor, nos can
Kátia olha para baixo e começa a sorrir, visivelmente buscando suas lembranças. - O Exilados no Paraíso, é um grupo de aplicativo de mensagens, formado por eu e meus amigos, todos nós adotamos Balneário e Camboriú como nossas cidades, aqui é o nosso paraíso, mas somos auto exilados, já que nenhum de nós nasceu ou tem parentes aqui. Nos conhecemos direta ou indiretamente por causa da faculdade e temos personalidades bem diferentes um do outro, mas nos amamos e mimamos como irmãos, ás vezes saem algumas rusgas, como em qualquer família, mas de modo geral sempre estamos juntos, seja na hora do problema ou da festa. O
Campus da Faculdade, alguns quatro anos antes... - Argh! Eu odeio o Elton! Juro que se pudesse deixava ele na casa dele cuidando da família por dois anos... Esbravejou uma jovem de cabelo preto curto com mechas roxas, calça jeans justa e uma blusinha preta com uma grande rosa brilhante estampada na frente, nos pés apenas um tênis baixo de tecido com cadarços xadrez preto e pink. Ela tinha acabado de esbarrar em alguém. - Ei! Cuidado comigo! Respondeu outra jovem vestida mais discretamente, com seus jeans preto e uma blusa creme com detalhes em renda, seus longos cabelos ondulados estavam presos em um rabo de cavalo, ela usava apenas uma maquiagem leve e um batom rosado, nos pés um sapato preto de salto baixo.&
- Kátia? Acho que chegamos. Disse Edgard trazendo a mulher ao seu lado para o presente. - Sim, mas aqui é o restaurante, pega a entrada a direita e chegamos na pousada. Edgard seguiu as orientações dela e em poucos minutos eles estavam de frente para uma grande casa de tijolos a vista, com portas e janelas de madeira, o telhado era alto e a varanda tomava toda a frente, nas paredes e colunas ganchos para pendurar redes. Não muito longe se via um caminho por entre a areia que levava até a praia, a pousada ficava longe das áreas mais badaladas e tinha um ambiente aconchegante e familiar. 
- Irmãzinha, quem é teu amigo? - Murilo, esse é o Edgard, ele é engenheiro civil, veio de São Paulo pra procurar áreas para investir aqui no estado. - Edgard, esse é o Murilo, ele faz parte dos Exilados e é o bancário que te falei. Murilo olha para Juliana com uma expressão desconfiada. - Irmãzinha, cê falou da gente pra ele? - Sim, não pude evitar, ele almoçou comigo no Tio Manel. Muri
No dia anterior, por volta das dez e meia da noite, num aplicativo de mensagens a agitação tomava conta de todos os envolvidos.Grupo Casa Nova Rica: Gente, não vai dar tempo, a Kátia chega amanhã depois do almoço... A surpresa foi pro espaço. (carinha triste) Dr.: Calma, nem tudo tá perdido, a casa já tá vazia e eu posso mandar duas das faxineiras da Oasis pra lá ainda hoje, elas costumam trabalhar a noite e hoje tá tranquilo, acho até que vou ter prejuízo... Clara: Isso, se a casa estiver limpa logo cedo agiliza bastante. Érica, os móveis antigos da Kátia ainda estã