A declaração de Edgard deixou Kátia preocupada, ele não conhecia a cidade, não tinha reserva em hotel. Nem mesmo uma indicação?
- Certo pra onde te levo então?
- Meu plano original era ter chegado aqui duas horas antes e rodar um pouco pela orla de Balneário Camboriú e encontrar um hotel ou pousada que me agrade para ficar uns dias. Mas sai tarde do hotel em Joinville o que bagunçou meu cronograma.
- Entendi, mas no seu plano original incluía um guia local?
Edgard sorriu, Kátia pela primeira vez via um sorriso tão grande e franco daquele homem.
- Claro que não, mas é uma ótima alteração além de me poupar muito tempo.
- Certo, vamos pra um restaurante ótimo aqui perto, ele não fica na orla mas tem a melhor almoço com frutos do mar da cidade.
- Ok. Você dirige.
Kátia sorri, mantendo o tom brincalhão.
- Sim senhor chefe!
Edgard agora acordado observa atentamente a cidade, não só as casas e prédios, mas a atitude das pessoas, comparando com alguns lugares que ele já visitou, aqui as pessoas parecem mais tranquilas, as crianças correm nas calçadas sem que as mães se preocupem com crimes, apenas com o movimento dos ciclistas e carros na rua.
Um grupo de adolescentes passa rindo e brincando, visivelmente apreciando essa fase única da vida, eles não carregam celulares, mas sacolas com lanches e refrigerantes, em suas costas mochilas, que de tão cheias mal ficavam fechadas e pareciam carregar barracas.
Edgard lembrou de sua adolescência, buscou momentos assim, livres e simples entre amigos e tudo o que ele encontrou foram as férias ao lado de Giovane, tomando banho de rio na fazenda Vitória.
Logo chegaram ao restaurante, Kátia caminhava quase que saltitante em direção de um homem de meia idade que estava no caixa.
- Tio Manel!
- Minha Linda! A quanto tempo você não aparece por aqui, como vão os meninos?
- Todos bem. Mas até agora ninguém arrumou um netinho sequer pro senhor.
- Ah! Vocês! Ficam desperdiçando a juventude correndo atrás de dinheiro, depois ficam que nem eu, dinheiro eu tenho, mas vou deixar pra quem depois que morrer?
- Tio, não seja dramático, o senhor tem sobrinhos de verdade, mas se quiser deixar para gente, colocamos o Murilo pra cuidar do restaurante e ficamos só com o lucro.
Edgard assistia essa conversa a poucos metros de distância sem interferir, até que Kátia o apresentou.
- Tio, esse aqui é o Edgard, ele é engenheiro civil e veio conhecer alguns lugares aqui e em Camboriú pra empresa dele, eu sou a guia dele na cidade. E como não podia deixar de ser, tinha que trazer ele no melhor restaurante de toda Balneário Camboriú.
- Minha Linda, assim você deixa esse velho encabulado. Edgard, aqui servimos frutos do mar, mas o restaurante é de comida caseira, não tem luxo não.
- Sr. Manoel, é exatamente o que eu estou precisando hoje.
- Me chame de Manel, ou como você parece ser amigo da Minha Linda aqui, pode me chamar de Tio Manel também, como os meninos.
Edgard ficou confuso, mas assentiu.
- Bem Edgard, você parece um bom menino também, vou preparar a mesa que a Minha Linda e os meninos usam sempre que vem aqui.
- Tio Manel, você é incrível.
- Minha Linda, você é que é.
Saindo do caixa ele vai até a cozinha e conversa com alguém, logo depois uma mulher sai, secando as mãos em um avental.
- Tia Marta!
- Kátia! Voce voltou! Achei que tinha esquecido o caminho daqui...
- Tia, sabe que isso é impossível. Tia Marta, esse é o Edgard, trouxe ele aqui pra provar da sua comida maravilhosa.
- Exagerada!!!
- Não estou exagerando. O tio disse que ia m****r arrumar a minha mesa e dos meninos pra gente.
- Isso, leva teu amigo pra visitar a horta enquanto o Clovis prepara a mesa.
- Certo Tia.
Kátia conduz Edgard por uma porta lateral de dá acesso a um corredor estreito, o homem imagina que está sendo levado para uma plantação de alfaces, com canteiros baixos quase ao nível do solo, mas quando chega na “horta” ele se surpreende.
Os dois caminham em silencio até uma grande mesa de madeira, com dois bancos compridos e dois tocos de arvore nas extremidades, Kátia deixa sua bolsa sobre a mesa descuidadamente e pega o celular.
- Edgard, já que você não tem onde ficar, vou ceder meu quarto na pousada do Douglas pra você, eu tinha planos de voltar pra casa da Érica mesmo, então vai ficar tudo bem, minhas coisas estão todas na casa dela.
- E onde é a pousada desse seu amigo?
- Na praia, tem um restaurante e um quiosque também, é muito bom, ele preparou um quarto pra mim, isso quer dizer que tem cobertor extra, caixa de som, frigobar reforçado cheio de sanduiches naturais e uma cesta com barrinhas de cereal e sequilhos, além de suco de uva integral no frigobar. Talvez ele tenha deixado até uma cafeteira com capsulas de cappuccino e chocolate quente.
Edgard olha desconfiado.
- Esse seu amigo, parece querer mimar você.
Kátia ri.
- Somos os Exilados no Paraíso, nosso compromisso é mimar uns aos outros sempre! Espera um pouco vou avisar ele.
Ela então abre o aplicativo de mensagens e envia uma foto dela na “horta”.
Miss SC: Morram de inveja!
Rica: Sua víbora.
Clara: Já chegou? Pq não avisou a gente!
Ben: Vai almoçar no Manel? Me espera que já desço aí.
Dr.: Verdade, faz tempo que a gente não se junta pra almoçar ou jantar aí na horta.
Doug: Achei que vinha pra pousada (carinha triste)
Miss SC: Vou depois do almoço, mas estou levando um hospede pra ti, vou ficar na Érica mesmo. Deixa meu quarto pra ele. O nome dele é Edgard e é um cara bem legal, mas veio pra cá as cegas, não reservou hotel e não tem onde ficar.
Jú: ????? Tem certeza Kátia?
Miss SC: Tenho.
Doug: OK, o quarto é teu, vc que manda.
Galã: EU LI DIREITO???
Luke: Parece que sim. Eu também não estou entendendo.
Galã: Agora eu estou curioso pra saber o que a gata trouxe da rua...
Miss SC: CALA A BOCA MURILO!!!!
Rica: KKKKKKKK
Lady Lara: KKKKKK
Jú: Só vendo pra crer....
Miss SC: Bem, Douglas já tá avisado, vou almoçar aqui no Manel depois levo ele pra pousada e me mando pra casa da Érica.
Rica: Já não rola, o Rubens tem audiência daqui a pouco e eu não deixei a chave pra ti, fica na pousada e espera. Murilo, cê pega a Kátia depois do expediente e leva pra casa?
Galã: Ok, tranquilo. Quero ver de perto a novidade.
Miss SC: (carinha zangada)
Dr.: (carinha rindo)
Ela desliga o celular e olha para Edgard que está observando cada detalhe da “horta”.
- Edgard, já tá tudo certo, depois do almoço vamos pra pousada do Douglas.
- Certo, parece que meu destino aqui está nas tuas mãos, pelo menos por enquanto.- Não se preocupe, não sou nenhuma psicopata.- Não disse isso, mas que estou perdido nessa cidade e você parece conhecer mais Balneário Camboriú e Camboriú do que Joinville.- Ah... mais ou menos isso, em Joinville, meus amigos e conhecidos são a sua maioria ligados a minha família e por isso tudo o que eu faço cai no ouvido dos meus pais e irmãos. Aqui eu sou apenas eu, e minha família são os Exilados, por isso posso ser eu mesma o tempo todo.Mesmo curioso para saber a respeito dos amigos de Kátia, Edgard muda de assunto:- Fiquei surpreso com esse lugar, chega a ser mais bonito que o próprio restaurante.- É a horta da Tia Marta. Mas a muitos anos foi convertida nesse cantinho secreto.Edgard olha mais uma vez ao redor, nos can
Kátia olha para baixo e começa a sorrir, visivelmente buscando suas lembranças. - O Exilados no Paraíso, é um grupo de aplicativo de mensagens, formado por eu e meus amigos, todos nós adotamos Balneário e Camboriú como nossas cidades, aqui é o nosso paraíso, mas somos auto exilados, já que nenhum de nós nasceu ou tem parentes aqui. Nos conhecemos direta ou indiretamente por causa da faculdade e temos personalidades bem diferentes um do outro, mas nos amamos e mimamos como irmãos, ás vezes saem algumas rusgas, como em qualquer família, mas de modo geral sempre estamos juntos, seja na hora do problema ou da festa. O
Campus da Faculdade, alguns quatro anos antes... - Argh! Eu odeio o Elton! Juro que se pudesse deixava ele na casa dele cuidando da família por dois anos... Esbravejou uma jovem de cabelo preto curto com mechas roxas, calça jeans justa e uma blusinha preta com uma grande rosa brilhante estampada na frente, nos pés apenas um tênis baixo de tecido com cadarços xadrez preto e pink. Ela tinha acabado de esbarrar em alguém. - Ei! Cuidado comigo! Respondeu outra jovem vestida mais discretamente, com seus jeans preto e uma blusa creme com detalhes em renda, seus longos cabelos ondulados estavam presos em um rabo de cavalo, ela usava apenas uma maquiagem leve e um batom rosado, nos pés um sapato preto de salto baixo.&
- Kátia? Acho que chegamos. Disse Edgard trazendo a mulher ao seu lado para o presente. - Sim, mas aqui é o restaurante, pega a entrada a direita e chegamos na pousada. Edgard seguiu as orientações dela e em poucos minutos eles estavam de frente para uma grande casa de tijolos a vista, com portas e janelas de madeira, o telhado era alto e a varanda tomava toda a frente, nas paredes e colunas ganchos para pendurar redes. Não muito longe se via um caminho por entre a areia que levava até a praia, a pousada ficava longe das áreas mais badaladas e tinha um ambiente aconchegante e familiar. 
- Irmãzinha, quem é teu amigo? - Murilo, esse é o Edgard, ele é engenheiro civil, veio de São Paulo pra procurar áreas para investir aqui no estado. - Edgard, esse é o Murilo, ele faz parte dos Exilados e é o bancário que te falei. Murilo olha para Juliana com uma expressão desconfiada. - Irmãzinha, cê falou da gente pra ele? - Sim, não pude evitar, ele almoçou comigo no Tio Manel. Muri
No dia anterior, por volta das dez e meia da noite, num aplicativo de mensagens a agitação tomava conta de todos os envolvidos.Grupo Casa Nova Rica: Gente, não vai dar tempo, a Kátia chega amanhã depois do almoço... A surpresa foi pro espaço. (carinha triste) Dr.: Calma, nem tudo tá perdido, a casa já tá vazia e eu posso mandar duas das faxineiras da Oasis pra lá ainda hoje, elas costumam trabalhar a noite e hoje tá tranquilo, acho até que vou ter prejuízo... Clara: Isso, se a casa estiver limpa logo cedo agiliza bastante. Érica, os móveis antigos da Kátia ainda estã
Passava um pouco das sete e meia da noite quando eles se aproximavam da antiga casa de Mauro e Murilo. - Murilo, porque estamos indo pra casa velha tua e do teu irmão? - Tenho uma coisa aqui no carro que preciso deixar lá, se importa se passarmos lá primeiro Jú? Juliana que mexia no celular responde distraída:- De jeito nenhum, o Douglas que espere. - Ótimo, quando eu casar vou querer uma mulher que se preocupe assim comigo. Juliana olha atravessado para Murilo e murmura: 
Murilo se aproximou dos rapazes com as mãos nos bolsos e suspirou: - Cara! Que dia mais cansativo! Os outros olharam atravessado para ele, que se limitou a rir alto. - Quê? Todos vocês tavam de folga, só o escravo do sistema aqui teve que bater cartão hoje... Rubens, Mauro, Douglas e Hector responderam ao mesmo tempo: - Vai se f***r! - Imbecil! - Va