Capítulo 2 - Carolina

             Eu estava suando quando paramos em frente a um prédio de apartamentos de classe média atrás do carro de Antônio que logo veio e entrou no banco de trás do meu carro guiado pela minha amiga.

- Estão lá dentro a pouco mais de 1 hora, passaram em um restaurante e compraram comida para viagem, depois entraram nesse prédio – disse sem rodeios e me olhou com seriedade, continuando sem se abalar – falei com o porteiro e por um bom dinheiro, que a senhora irá me reembolsar, ele falou o número do apartamento e o nome da proprietária, quer saber?

- Não – digo eu, sentindo o olhar mortal da minha amiga que nessa altura já havia sacado tudo – meu compromisso é com ele e não com ela, se ela é uma vadia ou se foi enganada por ele é um problema que não me cabe resolver.

- Posso sair do silêncio imposto? – fala a peste que amo ao meu lado.

- Pode peste – eu a chamo assim desde sempre e ela deixou de reclamar a algum tempo.

- Ficou louca? Quer que eu dê na cara dela enquanto você b**e na cara de palerma daquele salafrário?

- Não Nat, não quero isso. Não vou descer a esse nível – olhando para o Antônio eu pergunto – E de que me adianta saber o número do apartamento?

- Com muito jeito e todo um charme extra, que novamente sairá do seu bolso, convenci um dos moradores a te colocar para dentro, ele só está esperando o meu sinal – fala com o peito até inchado e eu o olho como se ele tivesse crescido chifres e não eu que os tinha pesando na minha cabeça naquele momento.

- Mas você não vai sozinha de jeito nenhum, minha amiga! – fala a Nat já se preparando para deixar o carro.

- Então vocês entram e eu fico vigiando caso eles saiam sem que vocês vejam. Dou um jeito de fazer com que vocês saibam e os alcancem – fala Antônio, demonstrando já estar bem habituado com tal situação.

            Saímos do carro e nos dirigimos até uma senhora de no máximo 50 anos com uma criança aparentando uns 5 anos que diz:

- Vou ajudar vocês porque fui traída e sei o tamanho desse problema, e não tive ninguém para me ajudar – dá um sorriso de lado e completa – e preciso da grana.

- Já recebeu? – Pergunta a peste.

- Sim, já nos acertamos. – Fazemos um silêncio constrangedor e ela completa – Podemos ir?

            Para pôr um tempo imaginando como vou reagir, se realmente quero ver ou pensar sobre o assunto e observo o prédio. Será que o apartamento é dele e eu não tenho conhecimento desse imóvel? Afinal, meus gastos aumentaram consideravelmente nos últimos 14 meses, uma vez que ele se queixou de queda na venda de bebidas, mas será que realmente isso ocorreu? Começo a pensar que caí no conto do vigário.

- Acordaaaaaaaaa! – grita Nat no meu ouvido, passando a mão na frente dos meus olhos e me olhando com compaixão.

- Para Nat! Podemos sim senhora, vamos!

            Atravessamos a rua conversando sobre o dia da senhora simpática e como o preço das mensalidades das escolas estão exorbitantes. Quando chegamos no portão ela acena para o porteiro e este abre o portão nos dando boa tarde e olhando com curiosidade para mim e Nat. Porém, não lhe damos um segundo olhar ao responder seu cumprimento para não levantar suspeitas e seguimos para o elevador.

            Dentro a senhora nos indica qual andar apertar e nos deseja sorte, desce no 2° e continuamos até o 7° onde descemos e nos deparamos com um ambiente muito bem cuidado e melhor que esperávamos.

            Andamos até o fim do corredor e a última porta é a que procuramos, os números que ali estão escritos, parecem dançar na minha frente. Olho com medo para minha amiga que me olha com determinação e coloca o dedo nos lábios me pedindo silêncio, como se a bola que está na minha garganta me permitisse falar alguma coisa.

            A peste louca não diz nada e pega na maçaneta da porta a girando no maior descaramento, me surpreendendo ao conseguir sem problemas com que a porta se abra. Olho para ela com olhos arregalados e neste momento não sei se eu quero entrar e ver alguma coisa.

            Ela não se faz de rogada e já vai na frente me puxando sem fazer um mísero ruído, se ela quisesse poderia facilmente trabalhar como agente secreta, penso eu.

            Quando adentramos o apartamento me surpreendo mais uma vez com a decoração e os móveis, tudo muito melhor do que o que tenho em casa. Mas, meu queixo vai ao chão quando me deparo com um painel de metal onde estão fotos do meu marido com uma mulher loira falsa muito bonita junto com outros casais, sozinhos em bares e restaurantes, na praia e em diversos outros lugares. Quando foi que esse homem conseguiu fazer tudo isso? Tem fotos dos meus filhos neste painel e de um outro menino que não conheço, porém parece ter a idade do Luiz Miguel.

            Olho para a Nat de olhos arregalados e ela não me parece nem um pouco surpreendida, me confirmando que ela sabia de algo já a um bom tempo. Mas, não posso culpar ela por não me dizer, de maneira sutil sempre tentou abrir meus olhos. Estou em um estupor tão intenso que além dos olhos arregalados não esboço nenhuma reação, não digo nada e não saio do lugar.

            Porém, um barulho de uma risada feminina me chama a atenção e eu olho em direção ao corredor, onde avisto uma porta aberta e então ouço a risada do meu marido, daquele que me prometeu fidelidade diante de Deus. E agora?

            Nat me empurra em direção ao corredor e eu vou vagarosamente de encontro ao que eu agora tenho absoluta certeza. Chego à porta do quarto e antes que eu note alguma coisa na decoração eu avisto o meu marido vestido com uma fantasia de policial empalando a mulher das fotos com ela de 4 e urrando como uma cadela no cio. Fico parada sem reação por uns 2 minutos inteiros apenas observando um homem que me negou fantasias muito mais simples, apenas para realizar as de uma qualquer. E o pior é que em sua mão esquerda, que empunha um cacetete está a aliança que eu coloquei ali a exatos 10 anos completados a uma semana, que não comemoramos porque ele estava muito cansado e disse precisar de paz e descanso.

Observando a sena me b**e uma frieza, para a qual eu não estava preparada, não quero gritar, não tenho a intenção mesmo de b**er e fazer nenhum escândalo, pois nesse momento eu percebo que tudo que acreditei foi mentira e que meu futuro não contempla mais a imagem desse homem que definitivamente eu não conheço mais, se algum dia conheci qualquer pedaço dele.

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