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Capítulo 4

Enquanto dirigia pelas ruas charmosas e ensolaradas de Los Angeles, Christian tentava se concentrar no seu trabalho e não na sua vida fodida.

A perda do filho, o casamento fracassado, Mel não perdendo uma oportunidade de jogar na sua cara que ele é um alcoólatra, seu chefe pegando no seu pé, e por fim, mas não menos importante, um parceiro gay.

Christian deu um suspiro profundo e olhou para o lado com desgosto. Oliver olhava para frente. Ele parecia atento a qualquer irregularidade no trânsito ou nas ruas, e ao mesmo tempo, os olhos azuis brilhantes pareciam distantes e vazios.

Christian provocou.

- Virou policial para ficar cercado de homens de farda?

Oliver não respondeu a provocação.

- Tem fantasia com homens fardados e musculosos? - Christian, não satisfeito, foi mais longe. - Gosta de ficar de joelhos e chupar outro cara? Isso é humilhante. Você, assim como todos os outros viados, são uma aberração.

Oliver mordeu o lábio inferior e lutou contra as lágrimas que ameaçavam cair. A forma injusta como perdeu o seu antigo emprego, a mudança para Los Angeles, casa nova, novo chefe, novos e hostis colegas de trabalho, uma nova rotina e um parceiro cruel, estavam sendo um pouco demais para Oliver.

Ele se sentia profundamente triste e angustiado. Deveria ter escutado os conselhos dos seus pais e ter tirado umas férias. Agora era tarde demais. Estava realocado na Polícia de Los Angeles.

Christian sorriu satisfeito. Oliver estava a beira das lágrimas.

- Você não vai chorar, né viadinho?

Oliver respirou fundo, ergueu a cabeça e olhou para Christian.

- Não, eu não vou chorar. Eu já passei por muita coisa na vida e sobrevivi. Você não é o primeiro e não será o último a me humilhar. - Oliver voltou a olhar para frente, o olhar vazio. - Depois de um tempo, você não sente mais nada. Tudo melhora quando você deixa de dar importância.

Christian ficou em silêncio. O rádio comunicador piscou:

- Três, dois, quatro.

- Três, dois, quatro na escuta.

- Violência doméstica em andamento, apartamentos Skid Row.

Christian ligou a sirene, e acelerou em direção a periferia da cidade onde o número de ocorrências é sempre maior.

Na frente do Conjunto Habitacional de prédios decadentes, pichados e com janelas de vidro quebradas, uma multidão se aglomerava. Assim que Christian parou a viatura, uma mulher negra se jogou contra o veículo.

Aos prantos, ela gritou:

- Ele tentou matar o meu bebê! Ele está armado!

Christian e Oliver saíram da viatura de arma em punho. Desesperada, a mulher segurou Christian pelo braço.

- Ele ficou bravo porque o bebê estava chorando!

Andando em direção a entrada do prédio, Christian deu uma olhada no bebê que estava nos braços de uma senhora negra e desesperada. A criança chorava a pleno pulmões.

Christian perguntou:

- Ele é seu marido?

- Meu namorado.

- Qual o número do apartamento?

- Três.

Christian olhou para Oliver.

- Peça reforços, uma ambulância e venha comigo.

Oliver obedeceu prontamente. Ele e Christian subiram a escada de dois em dois degraus, e correram lado a lado pelo corredor, até chegarem ao apartamento de número três.

Christian deu uma batida forte na porta.

- Polícia, abre!

- Cobertura. - Com um único pontapé, Oliver arrombou a porta.

Os dois policiais civis entraram no apartamento apontando a arma para frente.

Christian e Oliver revistavam os cômodos, e se comunicavam entre si.

- Limpo!

- Limpo!

O rádio comunicador preso a lapela do uniforme no ombro de Christian vibrou, e um dos policiais da equipe de apoio que já estava no local, disse:

- Suspeito James Roberts, negro, vinte anos, aproximadamente um metro e oitenta, oitenta e cinco quilos e vestindo calça jeans e camiseta regata branca.

Christian olhou em volta e torceu o nariz.

- Criando um bebê nessa pocilga.

Um barulho vindo do quarto dos fundos chamou a sua atenção. Christian correu para lá a tempo de ver o suspeito pulando a janela. Sem pensar, ele iniciou uma perseguição policial a pé por entre becos e vielas.

Oliver também pulou a janela, uma altura de quase três metros. O que Christian tinha na cabeça ao fazer uma perseguição sem reforços?

Christian se viu dentro de uma construção abandonada. Por um segundo ele perdeu o suspeito de vista e em seguida, sentiu o cano frio de uma arma apontada para a sua nuca.

Christian ergueu os braços.

- Calma, parceiro.

- Eu não sou seu parceiro! Coloca a arma no chão agora!

Com movimentos lentos, Christian abaixou até colocar a pistola .40 no chão. Atrás dele e armado, o criminoso estava em vantagem.

Christian foi jogado contra a parede, seu rosto negro se chocou contra o reboco mal acabado. O suspeito gritou:

- Fica de joelhos!

Christian não se mexeu. O cano da arma foi pressionado contra a sua nuca.

- Eu mandei você ficar de joelhos!

Christian ajoelhou e manteve as mãos para cima. Ele não podia ver o rosto do suspeito, mas podia sentir o nervosismo em sua voz.

- Cuidado com isso, garoto. Pode fazer um estrago e tanto.

- Como se sente agora, policial? Como se sente do outro lado?

Christian não respondeu. Não sabia ao certo como se sentia diante da morte. Talvez aliviado.

Oliver se aproximou em silêncio. Fora do campo de visão do suspeito, ele viu Christian de joelhos, sob a mira de uma pistola semi automática.

- Polícia! Solta essa arma agora!

O suspeito viu uma arma apontada para a sua cabeça. Ele gritou:

- Eu não vou voltar para a prisão!

- Não piore a sua situação. - Oliver assumiu a negociação com calma e firmeza. - Você não quer matar um policial.

- Eu não queria machucar o bebê!

- Eu sei disso. Agora abaixa essa arma.

Vamos lá irmão, faz a coisa certa.

O suspeito ainda hesitou antes de abaixar a arma. Em um ataque de fúria, Christian pegou a .40 que estava no chão e foi para cima do suspeito. Ele engatilhou. Oliver gritou:

- Christian, não!

Por um segundo Christian fechou os olhos. A imagem do filho morto no caixão fez ele estremecer. O reforço chegou e o suspeito nem reagiu ao ser algemado e levado para a viatura.

Atordoado, Christian sentou na parte de trás da ambulância e uma enfermeira limpou o pequeno corte na sua bochecha.

Em pé na sua frente, Oliver estava furioso com ele.

- Qual é o seu problema?

Christian levou uma mão a cabeça.

- Eu acho que perdi o controle.

- Presta atenção, não se faz uma perseguição dessa sem reforços. Há quanto tempo está fazendo isso?

- Eu não sei. - Christian encarou Oliver e desviou o olhar. - Parece que você não é só um rostinho bonito.

Oliver franziu a testa.

- Isso foi um elogio?

- Não. Com certeza não.

- Ok. Eu vou interpretar como um: "Obrigado, parceiro."

Depois de todas as coisas horríveis que tinha dito a Oliver, Christian ficou envergonhado. Porém, a última palavra tinha que ser dele.

- Para um viado você é bem macho.

Oliver devolveu a altura.

- Para um policial você é bem estúpido.

De volta a viatura, Christian e Oliver não trocaram uma palavra até serem chamados para uma ocorrência de vandalismo. Dessa vez, Christian manteve o controle.


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