Enquanto dirigia pelas ruas charmosas e ensolaradas de Los Angeles, Christian tentava se concentrar no seu trabalho e não na sua vida fodida.
A perda do filho, o casamento fracassado, Mel não perdendo uma oportunidade de jogar na sua cara que ele é um alcoólatra, seu chefe pegando no seu pé, e por fim, mas não menos importante, um parceiro gay.
Christian deu um suspiro profundo e olhou para o lado com desgosto. Oliver olhava para frente. Ele parecia atento a qualquer irregularidade no trânsito ou nas ruas, e ao mesmo tempo, os olhos azuis brilhantes pareciam distantes e vazios.
Christian provocou.
- Virou policial para ficar cercado de homens de farda?Oliver não respondeu a provocação.
- Tem fantasia com homens fardados e musculosos? - Christian, não satisfeito, foi mais longe. - Gosta de ficar de joelhos e chupar outro cara? Isso é humilhante. Você, assim como todos os outros viados, são uma aberração.
Oliver mordeu o lábio inferior e lutou contra as lágrimas que ameaçavam cair. A forma injusta como perdeu o seu antigo emprego, a mudança para Los Angeles, casa nova, novo chefe, novos e hostis colegas de trabalho, uma nova rotina e um parceiro cruel, estavam sendo um pouco demais para Oliver.
Ele se sentia profundamente triste e angustiado. Deveria ter escutado os conselhos dos seus pais e ter tirado umas férias. Agora era tarde demais. Estava realocado na Polícia de Los Angeles.
Christian sorriu satisfeito. Oliver estava a beira das lágrimas.
- Você não vai chorar, né viadinho?Oliver respirou fundo, ergueu a cabeça e olhou para Christian.
- Não, eu não vou chorar. Eu já passei por muita coisa na vida e sobrevivi. Você não é o primeiro e não será o último a me humilhar. - Oliver voltou a olhar para frente, o olhar vazio. - Depois de um tempo, você não sente mais nada. Tudo melhora quando você deixa de dar importância.Christian ficou em silêncio. O rádio comunicador piscou:
- Três, dois, quatro.- Três, dois, quatro na escuta.
- Violência doméstica em andamento, apartamentos Skid Row.
Christian ligou a sirene, e acelerou em direção a periferia da cidade onde o número de ocorrências é sempre maior.
Na frente do Conjunto Habitacional de prédios decadentes, pichados e com janelas de vidro quebradas, uma multidão se aglomerava. Assim que Christian parou a viatura, uma mulher negra se jogou contra o veículo.
Aos prantos, ela gritou:
- Ele tentou matar o meu bebê! Ele está armado!Christian e Oliver saíram da viatura de arma em punho. Desesperada, a mulher segurou Christian pelo braço.
- Ele ficou bravo porque o bebê estava chorando!Andando em direção a entrada do prédio, Christian deu uma olhada no bebê que estava nos braços de uma senhora negra e desesperada. A criança chorava a pleno pulmões.
Christian perguntou:
- Ele é seu marido?- Meu namorado.
- Qual o número do apartamento?
- Três.
Christian olhou para Oliver.
- Peça reforços, uma ambulância e venha comigo.Oliver obedeceu prontamente. Ele e Christian subiram a escada de dois em dois degraus, e correram lado a lado pelo corredor, até chegarem ao apartamento de número três.
Christian deu uma batida forte na porta.
- Polícia, abre!- Cobertura. - Com um único pontapé, Oliver arrombou a porta.
Os dois policiais civis entraram no apartamento apontando a arma para frente.
Christian e Oliver revistavam os cômodos, e se comunicavam entre si.
- Limpo!- Limpo!O rádio comunicador preso a lapela do uniforme no ombro de Christian vibrou, e um dos policiais da equipe de apoio que já estava no local, disse:
- Suspeito James Roberts, negro, vinte anos, aproximadamente um metro e oitenta, oitenta e cinco quilos e vestindo calça jeans e camiseta regata branca.Christian olhou em volta e torceu o nariz.
- Criando um bebê nessa pocilga.Um barulho vindo do quarto dos fundos chamou a sua atenção. Christian correu para lá a tempo de ver o suspeito pulando a janela. Sem pensar, ele iniciou uma perseguição policial a pé por entre becos e vielas.
Oliver também pulou a janela, uma altura de quase três metros. O que Christian tinha na cabeça ao fazer uma perseguição sem reforços?
Christian se viu dentro de uma construção abandonada. Por um segundo ele perdeu o suspeito de vista e em seguida, sentiu o cano frio de uma arma apontada para a sua nuca.
Christian ergueu os braços.
- Calma, parceiro.- Eu não sou seu parceiro! Coloca a arma no chão agora!
Com movimentos lentos, Christian abaixou até colocar a pistola .40 no chão. Atrás dele e armado, o criminoso estava em vantagem.
Christian foi jogado contra a parede, seu rosto negro se chocou contra o reboco mal acabado. O suspeito gritou:
- Fica de joelhos!Christian não se mexeu. O cano da arma foi pressionado contra a sua nuca.
- Eu mandei você ficar de joelhos!Christian ajoelhou e manteve as mãos para cima. Ele não podia ver o rosto do suspeito, mas podia sentir o nervosismo em sua voz.
- Cuidado com isso, garoto. Pode fazer um estrago e tanto.- Como se sente agora, policial? Como se sente do outro lado?
Christian não respondeu. Não sabia ao certo como se sentia diante da morte. Talvez aliviado.
Oliver se aproximou em silêncio. Fora do campo de visão do suspeito, ele viu Christian de joelhos, sob a mira de uma pistola semi automática.
- Polícia! Solta essa arma agora!O suspeito viu uma arma apontada para a sua cabeça. Ele gritou:
- Eu não vou voltar para a prisão!- Não piore a sua situação. - Oliver assumiu a negociação com calma e firmeza. - Você não quer matar um policial.
- Eu não queria machucar o bebê!
- Eu sei disso. Agora abaixa essa arma.
Vamos lá irmão, faz a coisa certa.O suspeito ainda hesitou antes de abaixar a arma. Em um ataque de fúria, Christian pegou a .40 que estava no chão e foi para cima do suspeito. Ele engatilhou. Oliver gritou:
- Christian, não!Por um segundo Christian fechou os olhos. A imagem do filho morto no caixão fez ele estremecer. O reforço chegou e o suspeito nem reagiu ao ser algemado e levado para a viatura.
Atordoado, Christian sentou na parte de trás da ambulância e uma enfermeira limpou o pequeno corte na sua bochecha.
Em pé na sua frente, Oliver estava furioso com ele.
- Qual é o seu problema?Christian levou uma mão a cabeça.
- Eu acho que perdi o controle.- Presta atenção, não se faz uma perseguição dessa sem reforços. Há quanto tempo está fazendo isso?
- Eu não sei. - Christian encarou Oliver e desviou o olhar. - Parece que você não é só um rostinho bonito.
Oliver franziu a testa.
- Isso foi um elogio?- Não. Com certeza não.
- Ok. Eu vou interpretar como um: "Obrigado, parceiro."
Depois de todas as coisas horríveis que tinha dito a Oliver, Christian ficou envergonhado. Porém, a última palavra tinha que ser dele.
- Para um viado você é bem macho.Oliver devolveu a altura.
- Para um policial você é bem estúpido.De volta a viatura, Christian e Oliver não trocaram uma palavra até serem chamados para uma ocorrência de vandalismo. Dessa vez, Christian manteve o controle.
Christian teve que reportar o incidente ocorrido durante a abordagem policial. Jason como sempre, já estava a par do acontecimento. Na sala do chefe, Christian ficou em pé, com as pernas afastadas e as mãos para trás.Jason sentado na cadeira de couro preto, atrás da mesa abarrotada de inquéritos policiais, observava o seu subordinado.Ele disse sério:- Sabe o que eu acho, Christian? Que isso não foi um ato imprudente da sua parte. A verdade, é que você está procurando a morte em cada esquina e isso me preocupa.Christian manteve o olhar fixo na parede branca acima de Jason.- Eu só estava fazendo o meu trabalho.- Você sabe que não se faz uma perseguição a um suspeito armado sem reforços. Você poderia ter sido baleado.Christian engoliu em seco e abaixou a cabeça lentamente. Ele encontrou o olhar duro e ao mesmo tempo apreensivo de Jason.- Eu não podia deixar ele escapar.
Mel chegou em casa, e como sempre, encontrou Christian bebendo. Ele ainda estava de farda e sentado no sofá, assistia televisão. Mel soube que tinha tomado a decisão certa ao passar no mercado. Pela feição sombria, Christian tinha tido um dia de cão.Mel levou as sacolas de compras para a cozinha e as colocou em cima da mesa. Ela guardou os itens de geladeira e ao retornar para a sala, disse secamente:- Eu comprei o seu pão.Christian não desviou o olhar da TV.Depois de uma tarde inteira sob o comando de Oliver, ele não estava para brincadeira.Durante o jantar, o único som que se ouvia na cozinha era o dos talheres e copos. Mel reparou na bochecha de Christian.- Dia ruim?- Todos os meus dias são ruins, Mel.- Os meus também. Tem uma névoa dentro da minha cabeça e uma neblina diante dos meus olhos. Nada faz sentido.Christian ergueu os olhos escuros do prato de maca
Christian chegou no Departamento de Polícia e foi informado que Oliver estava no banho. Os policiais veteranos tinham batizado ele com ovos e farinha de trigo. Christian ficou irritado com tamanha infantilidade.Oliver não era nenhum novato como ele mesmo pensava. No primeiro dia de trabalho o viadinho provou que não treme na base.Ele estava demorando para se embonecar, e eles tinham um mandado de busca e apreensão para cumprirem.Disposto a ter um confronto direto com Oliver, Christian foi em direção ao banheiro coletivo no primeiro andar. De má vontade, ele cumprimentou alguns oficiais no caminho.Christian abriu a porta do banheiro e passou pelos armários numerados, os bancos de madeira e foi em direção aos chuveiros. Cada um é separado apenas por uma parede de um metro e meio de altura.Ele particularmente nunca tomou banho no trabalho. Não importa o quanto esteja sujo e suado, ficar pelad
Após cumprirem um mandado de busca e apreensão na casa de um dos maiores traficantes de drogas de Los Angeles, Christian e Oliver foram chamados para uma ocorrência de assalto a mão armada, com possíveis reféns.Em frente a famosa joalheria Tiffany & Co, localizada na Rodeo Drive, já tinha outras equipes de polícia, e Jason conduzia as negociações com os três assaltantes.Na equipe de suporte, Christian e Oliver ficaram juntos ao cordão de isolamento. Através da porta e janelas de vidro blindado, era possível ver funcionários e clientes da loja deitados no chão e na mira de fuzis. Caos, pânico e gritaria.Jason não estava avançando nas negociações. A prioridade é sempre a vida das vítimas. O assaltante que se apresentou como Big Mike era o chefe da quadrilha formada por mais dois meliantes. Ele exigia a presença da imprensa e um helicóptero para fuga. Duas coisas ridículas. No entanto, a imprensa já estava no local.
Jason parou diante da cela e colocou as mãos no bolso da calça social preta. Ele lançou um olhar de advertência para Christian e Oliver. Um sinal claro que não admitia qualquer desculpa ou justificativa pelos atos impensados dos dois policiais.- Eu não quero saber quem começou a briga ou o porque. - Jason lançou um olhar significativo para Christian. - O que vocês fizeram hoje foi imperdoável. Eu estou muito desapontado. Com você principalmente, Oliver.Oliver abriu a boca para falar, mas foi severamente repreendido com apenas um olhar duro e cortante de Jason.- Como consequência da falta de ética e profissionalismo dos dois, vocês vão ser severamente punidos.Christian conhecia muito bem aquele sorriso diabólico de Jason. Sorriso de quem estava prestes a jogar merda no ventilador. Com a sua carreira por um fio, Christian estava disposto a ouvir o que Jason tinha a dizer.Ele só não imaginava
Christian não demorou um minuto para fazer uma vistoria no minúsculo chalé que ficaria pelos próximos trinta dias.Um quarto, uma cama de casal, um guarda roupa de madeira embutido, banheiro com azulejos e pisos brancos, sala com lareira, um sofá de couro preto e uma cozinha com pia, fogão, geladeira e uma mesa de dois lugares.O interior do chalé é revestido de madeira na cor mogno e as janelas de vidro dão uma ampla visão para as montanhas cobertas de neve. Sem TV, sem sinal de internet, sem sinal de celular, sem o mínimo de conforto, privacidade ou entretenimento.Christian parou na sala e colocou as mãos na cintura. Ele estava muito bravo. Jason planejou tudo nos mínimos detalhes. Não bastava a suspensão de trinta dias sem salário. Não, ele tinha que foder com a vida dele.Mel recebeu a notícia com falsa preocupação, e provavelmente usaria isso contra ele no processo de divórcio.Inconforma
Devido ao frio extremo, Oliver acordou várias vezes durante a noite, e em todas elas precisou ir ao banheiro fazer xixi. Ele usou a lanterna do celular e tentou não fazer barulho. Mas quando usou o banheiro pela terceira vez teve que dar descarga. Ao voltar para o quarto e clarear a cama com a lanterna, Christian estava acordado.Oliver se enfiou debaixo do edredom e apagou a lanterna.- Eu não consigo dormir. Está muito frio.- Que horas são?- Três e quinze.Christian suspirou no escuro. Ele tentou dormir novamente.- Christian?- O que é agora?- Eu posso ficar debaixo do seu edredom?- Não.Oliver realmente estava tremendo de frio. Ele não imploraria, se não estivesse.- Por favor.Christian perdeu a paciência. Ele virou de lado, esticou o braço e acendeu a luz. Oliver olhou para
Após o café da manhã reforçado, Christian e Oliver foram apresentados aos guias turísticos e não tiveram problemas em seguir o protocolo de segurança do Parque Nacional Denali. Como policiais, era só manter os olhos abertos. O número de visitantes locais e turistas era considerável, e Ben não tinha exagerado quanto as crianças. Elas corriam por toda a parte.Christian ficou encarregado de checar o uso correto do colete salva vidas laranja com faixas verdes fluorescentes. O navio de cruzeiro estava ancorado no cais e pronto para partir.Ben se aproximou da rampa de embarque e alertou.- Cuidado redobrado nas barras de proteção. Os turistas se inclinam para tirar fotos das paredes de gelo, dos animais marinhos e não é raro de acontecer de alguém se desequilibrar e cair na água.Christian franziu a testa negra. Estav