Saio do elevador antigo meio que perdida, há um corredor em frente onde luzes opacas mal clareiam o lugar. O homem lá embaixo falou para eu seguir em frente, então, caminho.
Chego perto da porta que se abre sem que eu nem tenha tocado nela. Uma mulher sorridente surge assim que a porta se abre. "Boa noite, posso ver seu convite?" Respondo o cumprimento e lhe entrego meu convite. Ela escaneia o código de barras do mesmo e me passa uma pulseira na tonalidade verde. "Senhorita Paccione, aqui está sua máscara, em momento algum deve tirá-la, pois poderá ser conduzida a sair do evento" Nossa máscara! Sério isso?!? Nem sei o que me espera e agora essa de estar mascarada. É entrada estranha, elevador sinistro, agora máscara. Tudo bem que Erika é bem capaz de coisas inusitadas, mas nunca me meteu em lugares pelos quais eu pudesse estar em perigo. Bom, como já estou aqui, vou ver no que vai dar tudo isso. Mesmo porque, depois de enfrentar aquele elevador, mereço no mínimo um drink antes de ir embora. Porque essa é a opção, caso a festa não seja nada do que eu esteja acostumada. Nem vou pensar duas vezes em me retirar, porque a verdade é que aqui está tudo muito inusitado. Se eu entrar lá e enfim e supomos que a turma esteja muito à vontade, os caras saidinhos demais, aquele negócio de "todo mundo junto e misturado", estou fora! Porque já ouvi cada história sobre festas onde tudo é permitido, onde ninguém é de ninguém e todo mundo é de todo mundo. Sou moderna, mas nem tanto! Sou conduzida até uma ala pequena, que me permite colocar a máscara com total discrição. Olhando no espelho até que gosto, pois trata-se de um modelo veneziano, que sai cobrindo muito do meu rosto, deixando apenas a parte da ponta do meu nariz e boca aparente. O que me deixa até animada, pois poderei me divertir sem me preocupar em ser reconhecida. E assim, saio, sendo conduzida pela mesma mulher que me recebeu, a qual me deseja uma ótima festa. Logo estou entrando num ambiente totalmente fora dos padrões do prédio que vi lá fora. Enquanto a decadência é algo notório lá fora, aqui o luxo é algo acolhedor. O lugar é enorme! Lembra aqueles salões de festas gigantescos dos séculos XVI. Não há luzes frias, apenas aquelas tonalidades aconchegantes. Os convidados estão todos com roupas pretas, mas a diversidade de máscaras é algo incrível! Não se vê modelo repetido. Todos os garçons, barmans, enfim, todos que estão trabalhando estão de roupas brancas e usam máscaras também, mas aquelas que apenas tapam os olhos. Achei interessante esse cuidado, pois é um detalhe que torna ainda mais atraente a noite. Saio caminhando pelo lugar, me ambientando. Há alguns casais dançando em uma bela pista de dança. Outros conversam e eu sigo me familiarizando com tudo. Procurando minha amiga tagarela, mas cadê aquela mulher!!! Nada dela surgir. Vejo que não estou sendo tão ignorada quanto queria, pois muitas cabecinhas masculinas viram enquanto caminho. Acho divertido essa questão da máscara, pois parece dar aos homens um maior atrevimento. É notório o quanto eles perdem a vergonha e escancararam de vez suas vontades. A máscara deixa tudo um pouco mais livre. Ainda bem que não era nada do que eu estava imaginando. A festa parece seguir como todas as outras, ninguém avançando sinal que não lhe é permitido. Isso me deixa mais à vontade. Porque já estava preparada para sair, mas mudei de ideia quando vi todos se divertindo sem peso, sem descaramento. Acabo indo até o bar e peço um dry martini, acho que assim consigo me ambientar melhor. Enquanto espero, viro para observar o lugar e continuo em busca da minha querida amiga. E ainda nada! Eu não quero acreditar que Erika me inventou uma festa dessa, para me deixar passar a noite sozinha. Recebo minha bebida e fico sem saber o que fazer. Pois sabia que isso poderia acontecer. Resolvo continuar andando pelo lugar, ao menos assim, o tempo vai passando. Nada da minha querida amiga. A música está tão boa, que arrisco me jogar na pista. Afinal, já saí de casa, já me arrumei todinha e porque não me diverti. Não tenho nada a perder! E assim, encaro aquela pista me permitindo ser feliz, como há algum tempo não acontecia. Sabe aqueles momentos em que você liga o dane-se e se j**a?!? Liguei o meu e me joguei! Entre uma música e outra, acabo aproveitando dos garçons e já nem sei mais o que estou bebendo. Vejo que literalmente minha guarda está baixa, baixa não, baixíssima! Mas estou atenta para não pagar nenhum mico. Não me meter em enrascadas e nem fazer feio. Minha amiga não apareceu ainda e acabei resolvendo de deixar ela para lá. Dancei com alguns rapazes, mas nada de formar par, para passar a noite, alguns até tentaram, mas deixei claro que estou fechada para balanço. Dancei muito e bebi mais ainda, nossa não consigo sentir meus pés no chão. Vejo que já passei da minha cota essa noite, melhor fazer a toalete e ir para casa. Depois, me resolvo com a Erika. Estou caminhando de volta do toalete e de forma inesperada sou agarrada pela cintura. Quando me viro, pareço estar diante de um prédio de mais de trinta andares, devido ao tamanho da pessoa a minha frente. Levo meus olhos para ver de quem se trata e sinto o ar me abandonar, quando meus olhos alcançam aquele olhar. "Uauuuuu", penso, assim que consigo processar aquilo ali diante de mim. Estou diante dos olhos mais estonteantes que já vi! Estou bem fora de mim, devido a toda bebida que misturei. Mal sinto minhas pernas. Será que estou delirando??? Será efeito da bebida??? Porque, Uauuuuu, que par de olhos são esses!!! Não vim com planos de ir ao infinito e além, mas parece que estou quase chegando no além, porque o que vejo diante de mim, só pode ser um ser que se materializou do além, tamanha a perfeição em pessoa!Seus olhos são tão profundos que me remetem a ver a noite em sua imensidão. Minhas pernas falham de forma inesperada e suas mãos me alcançam, me dando segurança para continuar em pé. Ficamos, ali, parados, nos olhando! Ele parece lindo, por baixo daquela máscara que cobre parcialmente sua face. Infelizmente a mesma, não me deixa vislumbrar muito do seu rosto, mas o que consigo ver, me trás um calor que não me lembro de ter sentido antes. Continuamos alheios a tudo e a todos. Perdidos no momento que surge entre nós, sem nos dar conta de que as coisas seguem acontecendo ao nosso redor. Estou um pouco tonta e área, mas seu encanto acaba me fisgar de forma singular. Quando me dou conta do que estou fazendo, tento me soltar de suas mãos, mas ele me trás mais para perto de si. Fico desconcertada, pois estou praticamente grudada nele. Me mexo, tentando romper esse elo inesperado, mas quanto mais me mexo, mas ele me aperta. Fico sem saber o que fazer. Ele segue me olhando, de f
Acho que acabei pegando no sono. Olho em volta tentando encontrar algo familiar, mas nada aqui é pessoal. Estou em um quarto, como cheguei aqui??? Olho em volta e estou sozinha, mas… ”Aiii… que merda!!!", que legal, ainda estou sob efeito do álcool. "Não devia ter exagerado tanto", falo para mim mesma. Nossa, as lembranças da bebedeira me chegam aos montes e deixam claro que fui além do que poderia. Volto a encarar o quarto, tudo muito bem decorado e aconchegante. Minha cabeça está bem entorpecida pela bebedeira. Nesse momento a lembrança do desconhecido também chega e nossa, o que foi aquilo??? E põe nossa nisso!!! Pois, será que vivi mesmo o que vivi??? Será que sonhei??? Será que imaginei tudo isso?!? Estranho!!! Mas minhas partes lá embaixo me deixam claro que não!!! Que não foi sonho, nem tão pouco delírio. O formigamento de que meu parque de diversão foi muito bem aproveitado, deixa nítido que alguém esteve se divertindo lá embaixo. No entanto, estou ao que
Minha mãe era uma pessoa que vivia para o mundo, quando meu pai se casou com ela, sabia que não havia laços suficientes fortes para mantê-la em um lugar apenas. E foi assim, quando eu tinha apenas quatro anos de idade que ela nos deixou. Ela foi embora, dizendo que nos amava o suficiente para não querer forçar a nós sua tristeza e amargura, ela sempre foi um pássaro livre e quando se casou com meu pai, deixou sempre claro essa possibilidade de passar pela porta sem olhar para trás. Meu pai quis arriscar, pois se apaixonou por ela, acreditou que dando a ela um lar e segurança financeira, seria isso o suficiente para ela permanecer com ele. Mas infelizmente a felicidade dele não estava apenas em seu querer, mas dependia da minha mãe também e assim ficamos sozinhos. Quando eu tinha doze anos, chegou a notícia de que minha mãe havia sofrido um AVC e não havia resistido. Vi meu pai ficar triste, pois sabia que lá no fundo ele nutria a esperança dela voltar em algum momento. Mas nem
Imagina a cena. Estou lá toda linda e feliz ao lado do meu pai, que além de ser o homem que é, tem a capacidade de chamar atenção por onde quer que passe, pois diga-se de passagem, meu progenitor é um homem lindo! Alto, forte, atlético, de semblante determinado. Tem um sorriso que alcança o nosso coração rapidinho e claro, que há um belo fã clube atrás dele, mas ele não dá a mínima. O que eu sempre achei engraçado. Eu não tenho sua altura, mas todo mundo diz que somos cópias um do outro, o que me deixa ainda mais orgulhosa. Então, sou a cópia em miniatura dele e isso enche meu coração. Estou lá ao lado do meu pai depois da sua palestra, quando observo um casal todo sorridente vindo em nossa direção. Na hora achei que estava tendo alguma alucinação, ou poderia ser algum irmão muito parecido, porque a verdade é só uma, quando você se depara com uma situação estranha, você sai buscando alguma explicação plausível. Porque é tosco demais você sequer imaginar viver algo tão biza
E se abraçam, com aquele abraço cheio de carinho de grandes e velhos amigos. "Ah, deixa disso Gregory, você também não está nada mal" E os dois caem na risada. "Moni diz que estou mais rabugento" "Monica Abrantes???” "Sim meu amigo, ela me segurou no cabresto e não me largou" E os dois riem ainda mais. "Vejo que as duas hienas já se juntaram", diz uma voz sorridente de uma mulher vinda de dentro da casa. E os dois viram para olhar a linda morena, que sai de lá. Usando um vestido jeans, bota cano médio e cabelos soltos que seguem até sua cintura fina e bem torneada. "Ah Moni, já viu deixarmos passar qualquer coisa?!?", fala meu pai entre o sorriso, enquanto ela caminha até nós. "Claro que não, mas me dê um abraço aqui seu barril velho!!!" E meu pai aconchega aquela linda mulher em seus braços. Fico ali, só observando aquele momento de grandes amigos. "Deixa eu apresentar minha princesa… Moni lembra da minha Marcela?” "Como não vou lembrar, fiquei com ela
Tem mais uma taça para mim no meio dessa alegria toda?" "Claro, meu amor… vou te servir!", se antecipa meu pai. E assim, me junto ao quarteto fantástico. Eles estão relembrando o passado e eu rindo, por conhecer um pouco mais das aventuras do meu pai. Uma história é melhor que a outra, o que nos rende muitas gargalhadas. Meu pai e Gregory aprontaram muito durante o tempo que trabalharam juntos. Sei que meu pai era, digamos, um homem com o senso de humor nas alturas, mas ele é Gregory juntos, eram imbatíveis! Notei algumas vezes, trocas de olhares entre meu pai e a Syrah, aquilo me deixou intrigada, porque não lembro de ouvir meu pai falar dela comigo. Sei lá, mas algo me faz ver que eles podem ter sido lá atrás mais que amigos, pois a forma que se olham. Não são olhares apenas de amigos, mas são olhares que dizem muito em seu silêncio. Aquilo me chama atenção, porque papai sempre me contou sobre muito do que já viveu, do que já passou, até nas aventuras românticas que teve
E passei os próximos dois dias visitando o que ainda não tinha visto, consegui estar no depósito onde alguns toneis centenários descansavam. Pude experimentar algumas bebidas bem envelhecidas, algo único. Pois bebidas assim, não nos é servido em taça, mas em colheres, pois você degusta apenas algumas gotas da bebida. Eu não acredito que estava vivendo tudo isso. Era surreal para mim! O lugar foi construído em meio a um barranco, onde aproveitaram da umidade natural da terra, para manter o clima do galpão único o ano inteiro, usaram de tecnologia da época para alcançar o feito e até hoje os funcionários da fazendo mantêm o cuidado. Fiquei encantada, porque já tinha estudado sobre essas técnicas milenares, mas nunca havia estado tão próxima de uma. Jordel estava me explicando sobre tudo e como chegava a aquela qualidade de vinho. Algo único acontecia naquele lugar e fiquei muito impressionada com tudo. Pois uma coisa é você ler, estudar, outra bem diferente é você visualizar
A noite já está caindo e resolvo pegar a estrada secundária para voltar a fazenda. Mas de repente o motor do triciclo para. "Essa não!!!” Tento religar e nada! Vejo que tenho combustível, ao menos é o que diz o painel. E para minha felicidade, não trouxe meu telefone. Acabei deixando ele na cômoda do quarto. "Sou uma imbecil… saio de casa sem telefone e sozinha! Agora como vou voltar?!?” A estrada parece esquecida, não há vestígio de que muitos carros passem por ali. "A inteligente aqui ainda vai e pega a estrada menos movimentada" O sol já está se pondo e continuo aqui, sozinha. Não sei o que vou fazer. O vento frio começa a aparecer e meu Deus, se anoitecer como vou caminhando até a sede da fazenda. Cansada de esperar, resolvo sair andando, ao menos posso encontrar algum camponês no meio do caminho. E quando estou começando a andar, ouço um barulho de carro. Seja lá quem for, vou aproveitar para pedir uma carona. Vejo os farois vindo e balanço meus braços