Por essa eu não esperava
Que droga!!! Eu falei que não queria vir. Mas não, Erika tinha que fazer chantagem, tinha que vir com aquela conversinha de que ando muito fechada em casa. Que preciso superar! Que se a fila do cretino do Samuel andou e a minha precisa andar mais rápido que escada rolante na velocidade máxima. Mas ela esquece que a lascada fui eu! Euzinha! A pessoa que sempre jurou nunca passar pelo que o safado fez comigo. Eu só quis sair de cena. Não estou fechada, apenas quis processar a viadagen que ele fez comigo. Só isso!!! Caramba, não sou mais uma criança, estou à porta dos "intas". Mas quem tem uma Erika em sua vida, irá me entender. Sabe aquela amiga que quando dispara a língua é pior que vitrola antiga. Que engata a primeira e nem se importa com a ladeira que surge. Essa é a Erika! Estava de saco cheio com o desleixo da minha assistente. Você contrata alguém não para ocupar espaço, mas para fazer o que você está disposto a pagar em troca de um trabalho, se não bem feito, mas ao menos razoável. Mas a pobre, não servia para a coisa! Me deixava mais louca do que eu costumo ser. E de perdida já basta euzinha! Cada dia esquecendo compromissos importantes, perdendo datas e não houve outro jeito, desliguei a moça e Erika meio que caiu de paraquedas em minha sala. Ela me foi recomendada pelo RH que havia contratado, quando chegou para a entrevista, eu estava toda perdida em minha agenda e ela vendo meu desespero já saiu organizando tudo para mim, numa facilidade que até então não havia visto. Depois de sua ajuda, não precisava de entrevista nenhuma, isso já faz quase cinco anos. De lá para cá, nossa amizade foi sendo construída, ela é meu avesso. Enquanto sou toda razão, Erika é emoção elevada a quinta potência. Ela é uma excelente profissional, mas quando se trata de viver a vida, não tem muito limite. Quem a vê, não consegue acreditar na grande assistente que tenho a sorte de ter ao meu lado. Mas ela é muito, mais muito intensa! Ela apenas segue, sem se importar com o amanhã, sem se dar ao trabalho de analisar as consequências, ela simplesmente vai! Sempre me fala que nasceu para "viver" e não para ser mais uma. Que a vida passa depressa demais, porque ficar perdendo tempo com coisinhas. Sei que por um lado ela tem razão, mas prefiro seguir do meu jeito, com os dois pés fincados no chão e bem consciente das minhas escolhas. Porque de verdade, nunca fui aventureira e nem muito menos de me arriscar. Erika vive me falando que sou uma alma velha em um corpo de menina. E se isso significa ter o mínimo de juízo, não entrar em enrascadas e não quebrar tanto a cara. Então sou assim! Porque não tenho saco para colecionar fiascos, o que dizer de derrocadas. E assim nossa amizade segue, cada uma do seu jeito e tudo bem! Ela segue do jeitinho dela, me enchendo muitas vezes o saco, para embarcar nas aventuras que ela acha o máximo e que não são bem as aventuras que de fato gosto. Algumas vezes me nego. Outras, vou de boa. Agora estou aqui, nem sei que m*****a festa é essa, Erika achou por bem não me dar tantos detalhes, só me mandou colocar uma roupa preta e nada de calça nem trajes casuais, era para me vestir para arrasar. Ficou falando tanto na minha massa cinzenta, que acabei deixando a coisa seguir. Nossa, eu preciso aprender a dizer não para minha amiga, porque tenho certeza que uma hora eu ainda vou me arrepender. Esse negócio de aceitar suas chantagens, não está certo, sempre acabo cedendo. E aqui estou eu, subindo em um elevador do tempo dos meus tataravós, com os sons que faz parecer que a qualquer momento vai escapar e despencar comigo sem dó e nenhuma piedade. Era só o que não me faltava!!! Melhor eu afastar esse meu medo descabido para lá. "Relaxa Marcela, é só uma festa como tantas outras que você já esteve com a Erika", digo a mim mesma. Respiro fundo, tentando não absorver o elevador e seus malditos barulhos. Esse vestido que escolhi, está me irritando, o infeliz fica subindo a cada passo, sei que é coisa da minha cabeça, mas sinto-me como se minha bunda estivesse à mostra, o que passa a ser algo tão irritante. Mas já é tarde para xurumelas, afinal de contas, aceitei essa maluquice de vir em uma festa que não conheço ninguém, que parece tão obscura. Porque quando desci do carro que me trouxe, parecia que estávamos no lugar errado. Ainda chequei com motorista se estávamos no lugar certo, mas ele me afirmou que estávamos no endereço do convite. A rua parecia um beco abandonado, sem nenhuma movimentação humana lá fora. Olhei para todos os lados e nenhuma alma viva! Desci do carro, mesmo receosa e assim que me virei, eis que surge um homem na frente da construção. Sabe aqueles homens que te fazem lembrar de um tanque de guerra, de tão intimidador que é, esse! Parecia bem precário a frente do lugar para receber uma festa. Fui até ele, se estivesse em algum lugar errado, ao menos contaria com a companhia do homem até meu carro chegar. Entretanto, era o lugar certo, ele me deu as coordenadas para seguir e me desejou uma boa noite de festa. E agora estou eu seguindo, nem sei para onde. É estranho, sair assim, sem ninguém, Erika ficou de me encontrar lá dentro, ela me garantiu que não me deixaria sozinha. Que a noite seria mais que perfeita, pois eu iria aproveitar e muito. Fiquei em dúvida se realmente as coisas iriam acontecer dessa forma. Ando tão irritada, desanimada, que até de mim mesma eu fico de saco cheio. Nunca fui uma pessoa para baixo, mas aquele safado do Samuel não deveria ter feito o que fez, canalha! Ele foi ordinário, da pior forma que poderia ser. Mas isso é passado, ele é passado, o que tivemos é passado. Vou encarar essa noite como meu recomeço, chega de ficar deixando um babaca levar o melhor sobre mim, hora de virar essa m*****a página e seguir. Não vou perder tempo com quem não merece, de uma vez por todas vou me libertar desse fiasco que foi esse canalha em minha vida. E esse dia será hoje! Arrumo meu vestido, ajeito meus airbags no lugar, empino minha bunda, olho meu rosto no espelhinho da minha bolsa carteira, repasso o batom vermelho que me permitir usar e sigam-me os bons!!!Saio do elevador antigo meio que perdida, há um corredor em frente onde luzes opacas mal clareiam o lugar. O homem lá embaixo falou para eu seguir em frente, então, caminho. Chego perto da porta que se abre sem que eu nem tenha tocado nela. Uma mulher sorridente surge assim que a porta se abre. "Boa noite, posso ver seu convite?" Respondo o cumprimento e lhe entrego meu convite. Ela escaneia o código de barras do mesmo e me passa uma pulseira na tonalidade verde. "Senhorita Paccione, aqui está sua máscara, em momento algum deve tirá-la, pois poderá ser conduzida a sair do evento" Nossa máscara! Sério isso?!? Nem sei o que me espera e agora essa de estar mascarada. É entrada estranha, elevador sinistro, agora máscara. Tudo bem que Erika é bem capaz de coisas inusitadas, mas nunca me meteu em lugares pelos quais eu pudesse estar em perigo. Bom, como já estou aqui, vou ver no que vai dar tudo isso. Mesmo porque, depois de enfrentar aquele elevador, mereço no mínimo um dr
Seus olhos são tão profundos que me remetem a ver a noite em sua imensidão. Minhas pernas falham de forma inesperada e suas mãos me alcançam, me dando segurança para continuar em pé. Ficamos, ali, parados, nos olhando! Ele parece lindo, por baixo daquela máscara que cobre parcialmente sua face. Infelizmente a mesma, não me deixa vislumbrar muito do seu rosto, mas o que consigo ver, me trás um calor que não me lembro de ter sentido antes. Continuamos alheios a tudo e a todos. Perdidos no momento que surge entre nós, sem nos dar conta de que as coisas seguem acontecendo ao nosso redor. Estou um pouco tonta e área, mas seu encanto acaba me fisgar de forma singular. Quando me dou conta do que estou fazendo, tento me soltar de suas mãos, mas ele me trás mais para perto de si. Fico desconcertada, pois estou praticamente grudada nele. Me mexo, tentando romper esse elo inesperado, mas quanto mais me mexo, mas ele me aperta. Fico sem saber o que fazer. Ele segue me olhando, de f
Acho que acabei pegando no sono. Olho em volta tentando encontrar algo familiar, mas nada aqui é pessoal. Estou em um quarto, como cheguei aqui??? Olho em volta e estou sozinha, mas… ”Aiii… que merda!!!", que legal, ainda estou sob efeito do álcool. "Não devia ter exagerado tanto", falo para mim mesma. Nossa, as lembranças da bebedeira me chegam aos montes e deixam claro que fui além do que poderia. Volto a encarar o quarto, tudo muito bem decorado e aconchegante. Minha cabeça está bem entorpecida pela bebedeira. Nesse momento a lembrança do desconhecido também chega e nossa, o que foi aquilo??? E põe nossa nisso!!! Pois, será que vivi mesmo o que vivi??? Será que sonhei??? Será que imaginei tudo isso?!? Estranho!!! Mas minhas partes lá embaixo me deixam claro que não!!! Que não foi sonho, nem tão pouco delírio. O formigamento de que meu parque de diversão foi muito bem aproveitado, deixa nítido que alguém esteve se divertindo lá embaixo. No entanto, estou ao que
Minha mãe era uma pessoa que vivia para o mundo, quando meu pai se casou com ela, sabia que não havia laços suficientes fortes para mantê-la em um lugar apenas. E foi assim, quando eu tinha apenas quatro anos de idade que ela nos deixou. Ela foi embora, dizendo que nos amava o suficiente para não querer forçar a nós sua tristeza e amargura, ela sempre foi um pássaro livre e quando se casou com meu pai, deixou sempre claro essa possibilidade de passar pela porta sem olhar para trás. Meu pai quis arriscar, pois se apaixonou por ela, acreditou que dando a ela um lar e segurança financeira, seria isso o suficiente para ela permanecer com ele. Mas infelizmente a felicidade dele não estava apenas em seu querer, mas dependia da minha mãe também e assim ficamos sozinhos. Quando eu tinha doze anos, chegou a notícia de que minha mãe havia sofrido um AVC e não havia resistido. Vi meu pai ficar triste, pois sabia que lá no fundo ele nutria a esperança dela voltar em algum momento. Mas nem
Imagina a cena. Estou lá toda linda e feliz ao lado do meu pai, que além de ser o homem que é, tem a capacidade de chamar atenção por onde quer que passe, pois diga-se de passagem, meu progenitor é um homem lindo! Alto, forte, atlético, de semblante determinado. Tem um sorriso que alcança o nosso coração rapidinho e claro, que há um belo fã clube atrás dele, mas ele não dá a mínima. O que eu sempre achei engraçado. Eu não tenho sua altura, mas todo mundo diz que somos cópias um do outro, o que me deixa ainda mais orgulhosa. Então, sou a cópia em miniatura dele e isso enche meu coração. Estou lá ao lado do meu pai depois da sua palestra, quando observo um casal todo sorridente vindo em nossa direção. Na hora achei que estava tendo alguma alucinação, ou poderia ser algum irmão muito parecido, porque a verdade é só uma, quando você se depara com uma situação estranha, você sai buscando alguma explicação plausível. Porque é tosco demais você sequer imaginar viver algo tão biza
E se abraçam, com aquele abraço cheio de carinho de grandes e velhos amigos. "Ah, deixa disso Gregory, você também não está nada mal" E os dois caem na risada. "Moni diz que estou mais rabugento" "Monica Abrantes???” "Sim meu amigo, ela me segurou no cabresto e não me largou" E os dois riem ainda mais. "Vejo que as duas hienas já se juntaram", diz uma voz sorridente de uma mulher vinda de dentro da casa. E os dois viram para olhar a linda morena, que sai de lá. Usando um vestido jeans, bota cano médio e cabelos soltos que seguem até sua cintura fina e bem torneada. "Ah Moni, já viu deixarmos passar qualquer coisa?!?", fala meu pai entre o sorriso, enquanto ela caminha até nós. "Claro que não, mas me dê um abraço aqui seu barril velho!!!" E meu pai aconchega aquela linda mulher em seus braços. Fico ali, só observando aquele momento de grandes amigos. "Deixa eu apresentar minha princesa… Moni lembra da minha Marcela?” "Como não vou lembrar, fiquei com ela
Tem mais uma taça para mim no meio dessa alegria toda?" "Claro, meu amor… vou te servir!", se antecipa meu pai. E assim, me junto ao quarteto fantástico. Eles estão relembrando o passado e eu rindo, por conhecer um pouco mais das aventuras do meu pai. Uma história é melhor que a outra, o que nos rende muitas gargalhadas. Meu pai e Gregory aprontaram muito durante o tempo que trabalharam juntos. Sei que meu pai era, digamos, um homem com o senso de humor nas alturas, mas ele é Gregory juntos, eram imbatíveis! Notei algumas vezes, trocas de olhares entre meu pai e a Syrah, aquilo me deixou intrigada, porque não lembro de ouvir meu pai falar dela comigo. Sei lá, mas algo me faz ver que eles podem ter sido lá atrás mais que amigos, pois a forma que se olham. Não são olhares apenas de amigos, mas são olhares que dizem muito em seu silêncio. Aquilo me chama atenção, porque papai sempre me contou sobre muito do que já viveu, do que já passou, até nas aventuras românticas que teve
E passei os próximos dois dias visitando o que ainda não tinha visto, consegui estar no depósito onde alguns toneis centenários descansavam. Pude experimentar algumas bebidas bem envelhecidas, algo único. Pois bebidas assim, não nos é servido em taça, mas em colheres, pois você degusta apenas algumas gotas da bebida. Eu não acredito que estava vivendo tudo isso. Era surreal para mim! O lugar foi construído em meio a um barranco, onde aproveitaram da umidade natural da terra, para manter o clima do galpão único o ano inteiro, usaram de tecnologia da época para alcançar o feito e até hoje os funcionários da fazendo mantêm o cuidado. Fiquei encantada, porque já tinha estudado sobre essas técnicas milenares, mas nunca havia estado tão próxima de uma. Jordel estava me explicando sobre tudo e como chegava a aquela qualidade de vinho. Algo único acontecia naquele lugar e fiquei muito impressionada com tudo. Pois uma coisa é você ler, estudar, outra bem diferente é você visualizar