Minha mãe era uma pessoa que vivia para o mundo, quando meu pai se casou com ela, sabia que não havia laços suficientes fortes para mantê-la em um lugar apenas. E foi assim, quando eu tinha apenas quatro anos de idade que ela nos deixou. Ela foi embora, dizendo que nos amava o suficiente para não querer forçar a nós sua tristeza e amargura, ela sempre foi um pássaro livre e quando se casou com meu pai, deixou sempre claro essa possibilidade de passar pela porta sem olhar para trás.
Meu pai quis arriscar, pois se apaixonou por ela, acreditou que dando a ela um lar e segurança financeira, seria isso o suficiente para ela permanecer com ele. Mas infelizmente a felicidade dele não estava apenas em seu querer, mas dependia da minha mãe também e assim ficamos sozinhos. Quando eu tinha doze anos, chegou a notícia de que minha mãe havia sofrido um AVC e não havia resistido. Vi meu pai ficar triste, pois sabia que lá no fundo ele nutria a esperança dela voltar em algum momento. Mas nem sempre a vida consegue seguir o que planejamos e assim seguimos como sempre foi, meu pai e eu. Ele teve alguns namoricos, mas sempre me disse que não queria se relacionar sério com ninguém, pois estava feliz à sua maneira. Quando sai de casa para estudar, ele ficou bem, porque trabalhava ainda como Sommelier e vivia viajando para muitos lugares. Hugo Schaffer é um respeitado Sommelier internacionalmente conhecido e com isso, quando tive a ideia de abrir um ecommerce na rede, que juntasse o que há de melhor dos vinhos para fazer chegar em todos os lugares, meu pai me ajudou muito e mais ainda, meu sobrenome me abriu muitas possibilidades, mesmo eu não o vinculando a minha empresa. Comecei meu trabalho sozinha, foi bem difícil no começo pois só tinha a ideia e mais nada. Mas corri atrás, busquei cursos e mais cursos, busquei formação e enfim, me tornei empreendedora e Sommelier como meu pai. Hoje minha empresa ocupa um prédio de dois andares. Tenho em meu portfólio algumas marcas bem reconhecidas e já lancei algumas outras no mercado. Nossa empresa é especialista em trazer algo bom e de qualidade, buscando sempre lançar produtos de alta qualidade e que alcance todos os bolsos. Assim, estamos sempre em busca de novidades. E agora estou eu a caminho de encontrar o representante de uma das maiores marcas de vinho e não só uma grande marca, mas uma marca que não abre caminhos para muita gente. Achei que seria muito mais difícil minha conversa com o senhor Gregory, pois dada a importância da marca. No entanto, ele passou a maior parte do tempo relembrando histórias com meu pai. Os dois passaram um bom tempo trabalhando juntos, quando meu pai prestava assistência a uma importadora de vinhos. Ali surgiu a grande amizade entre eles e ele me fez prometer que levarei meu pai ao seu vinhedo, pois faz questão de ter a opinião dele sobre sua produção de uvas. Esqueci de mencionar, meu pai também ajudou muitos produtores de vinhos com seus vinhedos, eles sempre buscaram a ajuda do meu pai para poder produzir uma boa uva para se chegar a um vinho ainda melhor. É, meu pai é o cara do vinho! Volto para a empresa satisfeita, Gregory me deixou claro que nossa negociação está bem firmada, que será difícil sua cliente não aceitar a proposta. Isso me deixou bem feliz e meu pai ficou eufórico, pois ele disse que sabia que tudo iria dar certo. Acho que meu pai mexeu mais que seu pauzinhos para me ajudar nessa negociação. Mas quer saber, tanta gente gostaria de ter um pai e uma mãe dando força, ajudando e apoiando, mas muitas vezes não tem. Agora euzinha aqui, que tenho o melhor pai do mundo vou ficar reclamando? Mas não vou mesmo! Se meu pai sabe os caminhos, foi porque desbravou primeiro. Foi lá e fez por merecer adentrar a esses espaços. E se agora, ele me quer adentrando, estou mais do que pronta para caminhar. Chego na empresa e Erika está em sua sala ao telefone. Aceno para ela, que me fala por gestos, que depois vai até minha sala. Meu pessoal de marketing está me aguardando, só tenho tempo de ir ao banheiro e beber um copo de suco que peguei em meu frigobar. Tenho muita coisa para fazer. O dia está cheio como sempre. Volta e meia, me vejo lembrando daquele episódio da festa. Uau, nunca havia tido uma festa daquela! Nossa, lembrar de tudo o que eu e o Everest fizemos. Nossaaaa, chega sinto as borboletas vibrarem em minha barriga com a lembrança. Mesmo com meus dias corridos, entre uma coisa e outra me surpreendo tentando imaginar quem era aquele Everest que veio e nos levou daquela maneira. Por mais bizarro que seja, Erika acabou indo parar em uma outra festa naquela noite. Ela não soube me explicar como isso foi possível, pois ela não lembrava de ter trocado os convites. E assim, ela não conseguiu me ajudar a descobrir quem era o estranho. Claro que omiti toda a história, porque como vou contar para minha amiga que deixei ser levada daquela maneira por um estranho, me deixando ser explorada de uma maneira absurdamente ousada. Não sou nenhuma santarrona, mas também não sou nenhuma depravada. Não sou uma mulher cheia de experiências, ao contrário, coleciono desastres e mais desastres. O último cara com que me relacionei era um tremendo idiota, ele veio atrás de mim não pelo que eu era, mas pelo meu conhecimento e bagagem em vinhos. Você acredita que o maldito tinha até noiva! Sim, o canalha do Samuel me escondeu isso durante seis meses. Seis malditos meses! Descobri por um acaso, fui em uma feira de vinhos regionais, pois meu pai seria um dos palestrantes naquele dia e o imbecil nem acabou se ligando que eu poderia estar com meu pai. Ele não teve esse cuidado, para seu azar e para minha total sorte. Pois aquele safado iria continuar me enganando, disso não tenho dúvidas! Ah, essa canalhice eu tenho que contar.Imagina a cena. Estou lá toda linda e feliz ao lado do meu pai, que além de ser o homem que é, tem a capacidade de chamar atenção por onde quer que passe, pois diga-se de passagem, meu progenitor é um homem lindo! Alto, forte, atlético, de semblante determinado. Tem um sorriso que alcança o nosso coração rapidinho e claro, que há um belo fã clube atrás dele, mas ele não dá a mínima. O que eu sempre achei engraçado. Eu não tenho sua altura, mas todo mundo diz que somos cópias um do outro, o que me deixa ainda mais orgulhosa. Então, sou a cópia em miniatura dele e isso enche meu coração. Estou lá ao lado do meu pai depois da sua palestra, quando observo um casal todo sorridente vindo em nossa direção. Na hora achei que estava tendo alguma alucinação, ou poderia ser algum irmão muito parecido, porque a verdade é só uma, quando você se depara com uma situação estranha, você sai buscando alguma explicação plausível. Porque é tosco demais você sequer imaginar viver algo tão biza
E se abraçam, com aquele abraço cheio de carinho de grandes e velhos amigos. "Ah, deixa disso Gregory, você também não está nada mal" E os dois caem na risada. "Moni diz que estou mais rabugento" "Monica Abrantes???” "Sim meu amigo, ela me segurou no cabresto e não me largou" E os dois riem ainda mais. "Vejo que as duas hienas já se juntaram", diz uma voz sorridente de uma mulher vinda de dentro da casa. E os dois viram para olhar a linda morena, que sai de lá. Usando um vestido jeans, bota cano médio e cabelos soltos que seguem até sua cintura fina e bem torneada. "Ah Moni, já viu deixarmos passar qualquer coisa?!?", fala meu pai entre o sorriso, enquanto ela caminha até nós. "Claro que não, mas me dê um abraço aqui seu barril velho!!!" E meu pai aconchega aquela linda mulher em seus braços. Fico ali, só observando aquele momento de grandes amigos. "Deixa eu apresentar minha princesa… Moni lembra da minha Marcela?” "Como não vou lembrar, fiquei com ela
Tem mais uma taça para mim no meio dessa alegria toda?" "Claro, meu amor… vou te servir!", se antecipa meu pai. E assim, me junto ao quarteto fantástico. Eles estão relembrando o passado e eu rindo, por conhecer um pouco mais das aventuras do meu pai. Uma história é melhor que a outra, o que nos rende muitas gargalhadas. Meu pai e Gregory aprontaram muito durante o tempo que trabalharam juntos. Sei que meu pai era, digamos, um homem com o senso de humor nas alturas, mas ele é Gregory juntos, eram imbatíveis! Notei algumas vezes, trocas de olhares entre meu pai e a Syrah, aquilo me deixou intrigada, porque não lembro de ouvir meu pai falar dela comigo. Sei lá, mas algo me faz ver que eles podem ter sido lá atrás mais que amigos, pois a forma que se olham. Não são olhares apenas de amigos, mas são olhares que dizem muito em seu silêncio. Aquilo me chama atenção, porque papai sempre me contou sobre muito do que já viveu, do que já passou, até nas aventuras românticas que teve
E passei os próximos dois dias visitando o que ainda não tinha visto, consegui estar no depósito onde alguns toneis centenários descansavam. Pude experimentar algumas bebidas bem envelhecidas, algo único. Pois bebidas assim, não nos é servido em taça, mas em colheres, pois você degusta apenas algumas gotas da bebida. Eu não acredito que estava vivendo tudo isso. Era surreal para mim! O lugar foi construído em meio a um barranco, onde aproveitaram da umidade natural da terra, para manter o clima do galpão único o ano inteiro, usaram de tecnologia da época para alcançar o feito e até hoje os funcionários da fazendo mantêm o cuidado. Fiquei encantada, porque já tinha estudado sobre essas técnicas milenares, mas nunca havia estado tão próxima de uma. Jordel estava me explicando sobre tudo e como chegava a aquela qualidade de vinho. Algo único acontecia naquele lugar e fiquei muito impressionada com tudo. Pois uma coisa é você ler, estudar, outra bem diferente é você visualizar
A noite já está caindo e resolvo pegar a estrada secundária para voltar a fazenda. Mas de repente o motor do triciclo para. "Essa não!!!” Tento religar e nada! Vejo que tenho combustível, ao menos é o que diz o painel. E para minha felicidade, não trouxe meu telefone. Acabei deixando ele na cômoda do quarto. "Sou uma imbecil… saio de casa sem telefone e sozinha! Agora como vou voltar?!?” A estrada parece esquecida, não há vestígio de que muitos carros passem por ali. "A inteligente aqui ainda vai e pega a estrada menos movimentada" O sol já está se pondo e continuo aqui, sozinha. Não sei o que vou fazer. O vento frio começa a aparecer e meu Deus, se anoitecer como vou caminhando até a sede da fazenda. Cansada de esperar, resolvo sair andando, ao menos posso encontrar algum camponês no meio do caminho. E quando estou começando a andar, ouço um barulho de carro. Seja lá quem for, vou aproveitar para pedir uma carona. Vejo os farois vindo e balanço meus braços
Não sei que bicho mordeu meu pai, mas há muitos anos ele não fala assim comigo. "Monica vou abusar da sua hospitalidade… pede para uma das meninas, me levarem no quarto um leite com aquele pão que você fez no café da manhã, se ainda tiver… vou arrumar minhas malas e me deitar" Moni sorri, deixando claro que irá pedir. Saio andando, mas me viro e falo: "Gregory, pede para um dos meninos irem na estrada secundária… o triciclo parou de repente e só cheguei em casa graças ao seu funcionário… se não fosse por ele, possivelmente teria que andar até aqui" Meu pai fica com aquela cara, o que foi que eu fiz?!? Mas já estou bem azeda para lidar com ele. Além de ter minha boca invadida por aquele neardental, agora vem meu pai com crise de excesso de proteção. Melhor deixar para conversar com meu pai em outro momento Vou para o quarto. Tomo um banho, Moni veio pessoalmente me trazer o café que pedi. "Você não precisava me trazer. Era só me falar que eu buscava" "Que nada lindeza, a
Erika me coloca a par de tudo que preciso para seguir meus dias. Meu Deus quanto trabalho! Já pela manhã saio fazendo algumas ligações, vendo alguns documentos e assim, minha rotina de trabalho me alcança. Algumas vezes me pego pensando no estranho e nossa noite incrível, outras me vejo lembrando daquele Shrek dos tempos modernos e sua boca atrevida. Preciso encontrar um meio de deletar esses dois da minha vida. Hoje estarei me reunindo com o representante dos vinhos Martelli. Estou muito feliz por esse feito. Papai tinha razão em me persuadir a ir além, muitas vezes precisamos deixar nossa zona de conforto e encarar novos desafios. Mesmo eu me sentindo pronta, fui! E aqui chegamos nós! Em vias de fechar um grande negócio. Essa conquista trará muitas possibilidades juntas. Novas portas irão se abrir. "Marcela, o pessoal da empresa já te espera na sala de reuniões", me avisa Erika, pelo telefone da minha mesa. Saio em direção a reunião, feliz por estar dando um g
Os Martelli já estão na sétima geração de fabricação de vinhos. O que começou meio que regionalizado, hoje é nome de requinte e bom gosto, quando se depara com uma garrafa à mesa. Os vinhos Martelli já estiveram em mesas que jamais marca alguma chegará! E isso torna ainda mais valioso essa parceria. Os vinhos Martelli já chegaram à realeza, pois há séculos são o único vinho consumido pela monarquia de um grande país europeu. Alguns chefes de estado fazem questão de ter em suas recepções, os vinhos e espumantes Martelli, o que eleva ainda mais o patamar da marca. E mais, são eles os responsáveis pelas garrafas de espumante usadas na Fórmula 1, algo que o bisavô do Ícaro conseguiu e que se mantém até hoje, foi incorporado a mais três categorias que a marca passou a patrocinar. Além de serem os queridinhos de muitos Sheiks árabes, entre outros figurões da sociedade mundial. Essa marca, por si só, já abre muitas portas, devido a sua grande importância no mercado. É uma chance q