Acho que acabei pegando no sono.
Olho em volta tentando encontrar algo familiar, mas nada aqui é pessoal. Estou em um quarto, como cheguei aqui??? Olho em volta e estou sozinha, mas… ”Aiii… que merda!!!", que legal, ainda estou sob efeito do álcool. "Não devia ter exagerado tanto", falo para mim mesma. Nossa, as lembranças da bebedeira me chegam aos montes e deixam claro que fui além do que poderia. Volto a encarar o quarto, tudo muito bem decorado e aconchegante. Minha cabeça está bem entorpecida pela bebedeira. Nesse momento a lembrança do desconhecido também chega e nossa, o que foi aquilo??? E põe nossa nisso!!! Pois, será que vivi mesmo o que vivi??? Será que sonhei??? Será que imaginei tudo isso?!? Estranho!!! Mas minhas partes lá embaixo me deixam claro que não!!! Que não foi sonho, nem tão pouco delírio. O formigamento de que meu parque de diversão foi muito bem aproveitado, deixa nítido que alguém esteve se divertindo lá embaixo. No entanto, estou ao que parece sozinha! E acabo lembrando completamente da noite incrível que vivi ao lado de um homem com um olhar tão único e intenso. As lembranças das suas carícias, dos seus beijos, de tudo o que nos proporcionamos chegam com toda força em mim. Mas cadê o Everest?!? Continuo olhando e não há mais ninguém comigo. Parece que estive sozinha o tempo todo. Será que alucinei??? Pode ser efeito da bebida?!? Será que passei mal e me trouxeram para cá??? Mas minha vitalidade lá embaixo, me fala que ela foi muito bem cuidada e não faz muito tempo. Percebo que há uma porta entreaberta no quarto e acho que pode ser um banheiro. Me forço a levantar, pois minhas pernas não querem atender meu chamado. Me obrigo a ir ao banheiro e lá faço uma toalete, pois preciso me recompor. Volto ao quarto para colocar minhas vestes, pois não estou desfrutando de nenhuma roupa, tudo me foi tirado. Coloco meu vestido, o sutiã sem alça que estava usando, mas procuro pelo quarto minha calcinha preta do conjunto e cadê a danada da calcinha. Nada!!! Reviro tudo e nada de encontrar a infeliz! Acabo deixando para lá, afinal, não posso passar horas aqui procurando a danada de uma calcinha perdida, melhor me arrumar e sair. Assim que saio do quarto, percebo que é uma área restrita, que parece não dar acesso aos demais convidados da festa. Fico desconsertada em sair, mas preciso. Sem condições de seguir a noite. Ainda sinto o efeito do álcool e essa leseira não está me ajudando muito. Depois desse Everest me alcançar, melhor bater em retirada. Quando estou saindo, um senhor caminha em minha direção. "Boa noite senhorita, sou Antônio Dupret, estou a sua disposição para levá-la onde quiser" O homem que estava na porta quando cheguei, parece atento ao que está acontecendo e vem até mim. "Pode confiar no Antônio, ele trabalha em nossas festas e isso é uma cortesia da organização" Fico um pouco mais aliviada com aquelas informações, agradeço ao homem da porta e vou com o Antônio até um luxuoso carro. "Senhorita só preciso do seu endereço" "Ah desculpa, estou distraída" E assim falo meu endereço, ele coloca o carro em movimento e tempos depois estou na segurança do meu lar. Tomei um banho, tentando processar a noite. Porque não esperava viver nada do que vivi ali e de repente, aqui estou eu tentando saber quem era o Everest, que me levou daquela maneira. Agora, como vou saber sobre um homem que eu não faço ideia de quem seja. Pois não trocamos uma única palavra. Apenas deixamos com que nossa natureza falasse por nós o tempo todo. Foi algo incrível, único! Nunca vivi nada como isso! Nunca deixei ninguém me levar assim! No entanto, tudo o que desfrutamos fez com que por aqueles momentos, muito do que eu ainda guardava de raiva pelo safado do Samuel, sumisse! Mas como vou saber quem era o fantástico Everest??? Não tenho nem por onde procurar. Mas quer saber, não entendi nada até agora. Ainda sinto a brisa da bebedeira, acho que não escaparei de um boa ressaca. Mas nem ligo, a diversão inesperada da noite valeu cada gole de bebida. Melhor dormir, depois falo com a Erika sobre a festa, porque essa sim me deve explicações, pois me deixou na mão a noite toda. Vai saber se ela na consegue me ajudar a descobrir mais sobre aquele delicioso estranho. Dias depois… "Papai eu sei, que temos um combinado", falo para meu pai ao telefone. "Marcela, sei que te apoiei em todo o processo da criação dessa empresa… mas filha, você precisa dar um passo maior, se você quer ser reconhecida nesse meio vinicultor" "Falando assim, até parece que não quero, papai!!!" Percebo meu pai respirar pesadamente. "Marcela, meu anjo de cabelos vermelhos, desde quando arriscar não é algo bom? Minha pequena, o não, você já tem! Agora precisa buscar o seu sim!!!” "Papai, eu queria esperar mais, não acho que esteja a altura de encarar uma marca como essa agora" "Minha querida, vai por seu velho aqui, a hora é agora e o momento é já… e dito isso, entrei em contato com o representante da marca e agendei um horário para você meu amor" Fico estarrecida com o que ouço. "Papai, você não fez isso?!?” "Claro que fiz, aproveitei da amizade que temos em comum, dado ao meio que frequentei durante esses mais de trinta anos como Sommelier e sim, marquei esse encontro. Já mandei tudo para Erika e enfim, agora é com você" Me sinto frustrada, porque de maneira nenhuma queria que as coisas seguissem assim. Meu pai me conhece e sai falando: "Amore, eu sei da sua competência, do seu conhecimento e do quanto você está mais que pronta para encarar essa nova etapa. Essa marca irá trazer tantas outras oportunidades, faça como sempre faz… com carinho e amor, que tudo já deu certo!!!" Meu pai tem essa coisa de ser grande em todo o tempo. Grande no amor, grande na compreensão e maior ainda em me apoiar. Eu cresci vendo ele se tornar o grande conhecedor de vinhos que é, estava com ele em cada nova oportunidade que surgia e sem medo meu pai a encarava. Ele dizia, que depois que mamãe nos deixou, foi a forma que ele encontrou de seguir em frente e ser algo maior e melhor do que já era. Com isso, aprendi muito sobre vinhos, sobre uvas, sobre esse mundo tão especial que essa bebida tão milenar promove.Minha mãe era uma pessoa que vivia para o mundo, quando meu pai se casou com ela, sabia que não havia laços suficientes fortes para mantê-la em um lugar apenas. E foi assim, quando eu tinha apenas quatro anos de idade que ela nos deixou. Ela foi embora, dizendo que nos amava o suficiente para não querer forçar a nós sua tristeza e amargura, ela sempre foi um pássaro livre e quando se casou com meu pai, deixou sempre claro essa possibilidade de passar pela porta sem olhar para trás. Meu pai quis arriscar, pois se apaixonou por ela, acreditou que dando a ela um lar e segurança financeira, seria isso o suficiente para ela permanecer com ele. Mas infelizmente a felicidade dele não estava apenas em seu querer, mas dependia da minha mãe também e assim ficamos sozinhos. Quando eu tinha doze anos, chegou a notícia de que minha mãe havia sofrido um AVC e não havia resistido. Vi meu pai ficar triste, pois sabia que lá no fundo ele nutria a esperança dela voltar em algum momento. Mas nem
Imagina a cena. Estou lá toda linda e feliz ao lado do meu pai, que além de ser o homem que é, tem a capacidade de chamar atenção por onde quer que passe, pois diga-se de passagem, meu progenitor é um homem lindo! Alto, forte, atlético, de semblante determinado. Tem um sorriso que alcança o nosso coração rapidinho e claro, que há um belo fã clube atrás dele, mas ele não dá a mínima. O que eu sempre achei engraçado. Eu não tenho sua altura, mas todo mundo diz que somos cópias um do outro, o que me deixa ainda mais orgulhosa. Então, sou a cópia em miniatura dele e isso enche meu coração. Estou lá ao lado do meu pai depois da sua palestra, quando observo um casal todo sorridente vindo em nossa direção. Na hora achei que estava tendo alguma alucinação, ou poderia ser algum irmão muito parecido, porque a verdade é só uma, quando você se depara com uma situação estranha, você sai buscando alguma explicação plausível. Porque é tosco demais você sequer imaginar viver algo tão biza
E se abraçam, com aquele abraço cheio de carinho de grandes e velhos amigos. "Ah, deixa disso Gregory, você também não está nada mal" E os dois caem na risada. "Moni diz que estou mais rabugento" "Monica Abrantes???” "Sim meu amigo, ela me segurou no cabresto e não me largou" E os dois riem ainda mais. "Vejo que as duas hienas já se juntaram", diz uma voz sorridente de uma mulher vinda de dentro da casa. E os dois viram para olhar a linda morena, que sai de lá. Usando um vestido jeans, bota cano médio e cabelos soltos que seguem até sua cintura fina e bem torneada. "Ah Moni, já viu deixarmos passar qualquer coisa?!?", fala meu pai entre o sorriso, enquanto ela caminha até nós. "Claro que não, mas me dê um abraço aqui seu barril velho!!!" E meu pai aconchega aquela linda mulher em seus braços. Fico ali, só observando aquele momento de grandes amigos. "Deixa eu apresentar minha princesa… Moni lembra da minha Marcela?” "Como não vou lembrar, fiquei com ela
Tem mais uma taça para mim no meio dessa alegria toda?" "Claro, meu amor… vou te servir!", se antecipa meu pai. E assim, me junto ao quarteto fantástico. Eles estão relembrando o passado e eu rindo, por conhecer um pouco mais das aventuras do meu pai. Uma história é melhor que a outra, o que nos rende muitas gargalhadas. Meu pai e Gregory aprontaram muito durante o tempo que trabalharam juntos. Sei que meu pai era, digamos, um homem com o senso de humor nas alturas, mas ele é Gregory juntos, eram imbatíveis! Notei algumas vezes, trocas de olhares entre meu pai e a Syrah, aquilo me deixou intrigada, porque não lembro de ouvir meu pai falar dela comigo. Sei lá, mas algo me faz ver que eles podem ter sido lá atrás mais que amigos, pois a forma que se olham. Não são olhares apenas de amigos, mas são olhares que dizem muito em seu silêncio. Aquilo me chama atenção, porque papai sempre me contou sobre muito do que já viveu, do que já passou, até nas aventuras românticas que teve
E passei os próximos dois dias visitando o que ainda não tinha visto, consegui estar no depósito onde alguns toneis centenários descansavam. Pude experimentar algumas bebidas bem envelhecidas, algo único. Pois bebidas assim, não nos é servido em taça, mas em colheres, pois você degusta apenas algumas gotas da bebida. Eu não acredito que estava vivendo tudo isso. Era surreal para mim! O lugar foi construído em meio a um barranco, onde aproveitaram da umidade natural da terra, para manter o clima do galpão único o ano inteiro, usaram de tecnologia da época para alcançar o feito e até hoje os funcionários da fazendo mantêm o cuidado. Fiquei encantada, porque já tinha estudado sobre essas técnicas milenares, mas nunca havia estado tão próxima de uma. Jordel estava me explicando sobre tudo e como chegava a aquela qualidade de vinho. Algo único acontecia naquele lugar e fiquei muito impressionada com tudo. Pois uma coisa é você ler, estudar, outra bem diferente é você visualizar
A noite já está caindo e resolvo pegar a estrada secundária para voltar a fazenda. Mas de repente o motor do triciclo para. "Essa não!!!” Tento religar e nada! Vejo que tenho combustível, ao menos é o que diz o painel. E para minha felicidade, não trouxe meu telefone. Acabei deixando ele na cômoda do quarto. "Sou uma imbecil… saio de casa sem telefone e sozinha! Agora como vou voltar?!?” A estrada parece esquecida, não há vestígio de que muitos carros passem por ali. "A inteligente aqui ainda vai e pega a estrada menos movimentada" O sol já está se pondo e continuo aqui, sozinha. Não sei o que vou fazer. O vento frio começa a aparecer e meu Deus, se anoitecer como vou caminhando até a sede da fazenda. Cansada de esperar, resolvo sair andando, ao menos posso encontrar algum camponês no meio do caminho. E quando estou começando a andar, ouço um barulho de carro. Seja lá quem for, vou aproveitar para pedir uma carona. Vejo os farois vindo e balanço meus braços
Não sei que bicho mordeu meu pai, mas há muitos anos ele não fala assim comigo. "Monica vou abusar da sua hospitalidade… pede para uma das meninas, me levarem no quarto um leite com aquele pão que você fez no café da manhã, se ainda tiver… vou arrumar minhas malas e me deitar" Moni sorri, deixando claro que irá pedir. Saio andando, mas me viro e falo: "Gregory, pede para um dos meninos irem na estrada secundária… o triciclo parou de repente e só cheguei em casa graças ao seu funcionário… se não fosse por ele, possivelmente teria que andar até aqui" Meu pai fica com aquela cara, o que foi que eu fiz?!? Mas já estou bem azeda para lidar com ele. Além de ter minha boca invadida por aquele neardental, agora vem meu pai com crise de excesso de proteção. Melhor deixar para conversar com meu pai em outro momento Vou para o quarto. Tomo um banho, Moni veio pessoalmente me trazer o café que pedi. "Você não precisava me trazer. Era só me falar que eu buscava" "Que nada lindeza, a
Erika me coloca a par de tudo que preciso para seguir meus dias. Meu Deus quanto trabalho! Já pela manhã saio fazendo algumas ligações, vendo alguns documentos e assim, minha rotina de trabalho me alcança. Algumas vezes me pego pensando no estranho e nossa noite incrível, outras me vejo lembrando daquele Shrek dos tempos modernos e sua boca atrevida. Preciso encontrar um meio de deletar esses dois da minha vida. Hoje estarei me reunindo com o representante dos vinhos Martelli. Estou muito feliz por esse feito. Papai tinha razão em me persuadir a ir além, muitas vezes precisamos deixar nossa zona de conforto e encarar novos desafios. Mesmo eu me sentindo pronta, fui! E aqui chegamos nós! Em vias de fechar um grande negócio. Essa conquista trará muitas possibilidades juntas. Novas portas irão se abrir. "Marcela, o pessoal da empresa já te espera na sala de reuniões", me avisa Erika, pelo telefone da minha mesa. Saio em direção a reunião, feliz por estar dando um g