Ele estava lá parado de braços cruzados. E graças ao capuz e ao boné que usava, Jake não podia dizer com precisão para onde olhava.
Mas só o fato de estar ali era o suficiente para incomodar o alfa. Quer dizer, não estava receoso por causa dos rumores que Matheus contou antes, só achava estranho que estivesse lá. Não parecia ter envolvimento algum com o time de vôlei pelo o que havia entendido mais cedo.
De qualquer forma, não daria tanta atenção ao garoto mascarado já que estava ali no ginásio às escondidas.
Queria passar despercebido pelo treinador e o pessoal do time, sendo esse o motivo de ter pedido que Matheus e os demais guardassem segredo do seu retorno . Pelo menos por enquanto. Tudo em prol de surpreendê-los!
Enquanto esperava pelo começo do treino, Jake ficou escondido atrás das arquibancadas observando o pessoal. Havia rostos desconhecidos entre aqueles que usavam as roupas de treino do time universitário, a Rapoxia. E ao invés de se aquecerem para irem à quadra, eles se sentaram nos primeiros bancos da arquibancada, parecendo assistirem um amontoado de pessoas sem uniforme padrão do time se alinhar na quadra.
Entre eles, estava o cara de cabelos loiros familiares.
Era o garoto de antes. O que estava acompanhando o tal do coringa!
Era ele mesmo!
Jake olhou sobre o ombro na direção onde o rapaz mascarado estava.
— Então é por isso que você veio, hm?
— Muito bem rapaziada, sou o treinador Santiago e estarei responsável pelo teste de vocês hoje. Peço que se dividam em dois times e escolham qual lado da quadra irão ficar.
Ah, então era um teste.
Considerando ser início de semestre, o treinador abriria algumas poucas vagas, já que sempre havia algum jogador se formando. Isso o fazia lembrar também da sua vez em que fez o teste para aquele time, quando cursou o seu primeiro ano na faculdade. Tinha ficado ligeiramente assustado com a postura séria do treinador Santiago.
Aquele alfa era gigante e corpulento, fazendo com que a cara amarrada fosse o suficiente para botar medo em qualquer novato. Era como se estivesse escrito na sua testa que sentir medo era o requisito básico para ser considerado um jogador minimamente competente aos seus olhos.
Bem, Santiago não era uma má pessoa. Do que conhecia, era provável que ele se divertisse com o medo dos novatos, ao mesmo tempo que conseguisse usar isso para avaliá-los.
Por isso Jake se esgueirou pela arquibancada até chegar nas últimas fileiras, podendo se sentar e cruzar as pernas assistindo com interesse os alunos se organizarem em duas equipes.
O alfa notou que alguns deles pareciam perdidos e seguiam a liderança de qualquer um que tomasse a frente. Já o outro time se organizou bem rápido nas suas posições. Somente naquela preparação ficara claro a diferença entre os dois times.
Seguindo a cabeleira loira, Jake notava que aquele garoto estava jogando como líbero no time dos desorganizados. E quando o apito soou no ginásio, a concentração dele foi ímpar. Seguia a bola, se posicionou bem no fundo da quadra e conseguiu fazer boas recepções. Mesmo que o ataque do outro time fosse agressivo e rápido algumas vezes, o loiro conseguia dar conta.
Só que havia um problema com o seu time.
O cara que tomou a liderança não conseguia ler bem o jogo do outro time, e suas coordenações eram arriscadas demais. Haviam jogadores em posições que não pareciam corretas.
Um deles era o ponta esquerda, que vez ou outra agia por reflexo prestes a ir para o lado direito da quadra saindo de sua posição. Tudo bem que o pobre coitado logo se dava conta e ficava no lugar, no entanto o seu jogo ficou bagunçado graças aquilo.
Jake assentiu com a cabeça quando notou que o loiro deixou de seguir a sua liderança para fazer o jogo como deveria, garantindo que alguns pontos perdidos fossem recuperados. Como líbero, o seu jogo era limpo e bonito de ver. Não tinha medo de se jogar no chão para receber a bola do adversário, de dar cambalhotas por conta do impacto e até mesmo receber algumas boladas na cara.
No entanto, a sua autonomia parecia irritar o suposto capitão, que continuava a gritar com ele.
— Ei, receba direito se não a gente não consegue levantar!
Isso daria uma baita confusão, imaginava Jake.
Olhando de canto para Matheus, Ricardo e Junior, que assistiam ao teste junto do resto do time, Jake ponderou se aquele teste estava sendo como esperavam. Em momentos decisivos, ou então quando o set apresentava uma discrepância no placar, a verdadeira face do jogador surgia.
A face do seu lado competitivo e mau perdedor.
O seu amigo estava sorrindo mesmo que mantivesse os braços cruzados, sinal de que o capitão do time oficial parecia se divertir em ver tamanha confusão.
Por outro lado, o time que estava na frente fazia bom proveito daquela bagunça. O suposto capitão fazia sinais pelas costas, chamava o nome do jogador quando ia levantar para ele, e até fazia uso disso para criar iscas e antecipar o bloqueio. Dessa forma, o bloqueio marcaria o jogador chamado, sendo que a bola estava sendo levantada para outro jogador, que estava livre para fazer o ponto.
Uma enganação forçada e cara de pau. Mas que funcionava pateticamente.
Somente malandragens como aquelas foram o suficiente para fazer com que tivessem a vantagem do jogo.
Aquela pequena partida continuou do mesmo jeito até o apito final. O time do garoto loiro perdeu o jogo, deixando os estudantes receosos sobre o seu desempenho no teste. Era tão nítido naquelas carinhas de cachorrinhos abandonados, que Jake chegava a abafar o riso.
Alguns levaram a sério a partida, sabendo bem quando mostrar o seu potencial e habilidades, além de também contribuírem com os colegas do time improvisado. No entanto, alguns perderam a chance de jogar bem. A frustração e a ansiedade pareciam se acumular somente em um lado da quadra.
Apesar que havia um certo garoto loiro que não parecia tão preocupado assim.
O treinador cochichou algo com Matheus e os demais que faziam parte da comissão técnica. Foram poucos minutos de conversa até que Santiago tomasse a frente entre os jogadores avaliados.
— Não foi uma partida muito interessante. Consegui perceber que a maioria de vocês não tem experiência com o esporte, o que é um tanto quanto problemático.
Jake espreitava os olhos abrindo um fino sorriso ao notar que o treinador estaria pegando leve em suas palavras. Levando em conta a forma como o alfa fora treinado no seu primeiro ano, imaginava que aquela lacuna nas habilidades faria com que aqueles pobres coitados não aguentassem tanto os treinos e as partidas.
Ele próprio teve problemas para se acostumar com a rotina de Santiago.
— O trabalho em equipe de alguns de vocês também se mostrou bem decepcionante. Levando em conta que o nosso time sempre participa de campeonatos, esse tipo de comportamento de vocês poderia arruinar o nosso desempenho. No entanto, mesmo num show de horrores como esse, conseguimos ver a habilidade de cada um de vocês.
Primeiro a bronca e depois o elogio, tirava a esperança daqueles pobres garotos para depois devolvê-la. Jake balançava a cabeça sem se surpreender. Até mesmo ele, que apenas observava de longe, se sentia pressionado com o resultado, quem dirá os avaliados.
— E você pretende ficar escondido aí até quando, garoto?
Jake se arrepiou quando o treinador olhou em sua direção. Certo, a perspicácia dele não era tão baixa a ponto de não notar a sua presença.
Os demais alunos se viraram para os últimos bancos da arquibancada onde Jake estava sentado sozinho. Abrindo o seu costumeiro sorriso carismático, o alfa acenou para o treinador.
Lá se vai o seu plano de passar despercebido até fazer uma entrada triunfal.
— E eu achando que poderia te dar um susto.
Lamentando a falha do próprio plano, Jake permaneceu sentado com o queixo apoiado em sua mão e as pernas cruzadas. Não se moveria dali até que fosse convidado a fazê-lo. Já havia dado o seu passo de voltar ao ginásio e, agora que sua presença fora notada, só precisava de um singelo convite para que pudesse conversar sobre o seu retorno.
Não que Jake fosse um grande estrategista, ou então que as pessoas fossem óbvias demais. Era mais como um cachorro que fugiu de casa quando o portão foi aberto, e que agora voltava envergonhado do que fizera.
Só voltaria se lhe fosse permitido.
Santiago ficou o encarando por meros segundos até que suspirasse lhe dando as costas.
— Humph. Desce daí e venha pra quadra, sabe como as coisas funcionam por aqui.
Abrindo um sorriso animado, o alfa olhara para os seus amigos e fizera um sinal de vitória pelo seu pequeno, e um tanto sem vergonha, plano de retorno. Levantando-se da arquibancada, Jake tirou a blusa de moletom e desceu para a quadra.
Não era aquele cara de mais cedo?O que havia pego a máscara do Nathaniel?O beta o acompanha com surpreso em vê-lo descer a arquibancada e se aquecer com tanta confiança. Virando-se para trás, percebia que Nathaniel continuava encostado na parede com os seus braços cruzados.Será que aqueles dois realmente não se conheciam?Bom, Nathaniel não pratica nenhum esporte, o que torna improvável a sua vinda para o ginásio da faculdade. Mas era muita coincidência que a pessoa que pegou a sua máscara estivesse ali. Ainda mais cumprimentando alguns jogadores do time como se fossem velhos conhecidos. Até o treinador parecia familiarizado com ele!— Tem certeza que quer que eu jogue? Quero dizer, estou meio enferrujado e posso passar vergonha.— Quero ver que desastre vai me mostrar, fedelho.— Pelo menos posso escolher o time que qu
Depois daquele treino teste, Jake não teve paz.Por algum motivo, Matheus havia contado a todos sobre ele ter sido parte do time quando estava no seu primeiro ano de faculdade ao ponto de ter pisado em quadra logo de cara.Para um time universitário de grande porte como aquele, era comum que os calouros ficassem na reserva, o que aumentava a curiosidade a respeito do alfa. A curiosidade foi tomada não somente pelos colegas desconhecidos, como também por alguns garotos que queriam entrar para a Rapoxia.As perguntas em si não eram tão incômodas no geral, respondia com prazer já que muitos estavam interessados em sua rotina de treinos e habilidades.O problema era quando uma pergunta específica era jogada no ar.— Por que você parou de jogar?Quando essa pergunta era feita, Jake se calava tentando ao máximo não transparecer o incômodo. Até os s
Com muito custo, Jake também revirou sua mochila pegando o frasco de comprimidos e tomando uma pílula. Enxugando o suor em sua camisa, ele respirou fundo também se esforçando para manter o controle e evitar que os seus feromônios vazassem.— Eu tomei meu supressor, tá de boa! Mas alguém aqui consegue levar ela pra enfermaria?Os rapazes da sala de aula até tentavam se aproximar da garota, mas Jake não pôde ignorar a malícia que alguns deles mostravam em seus rostos.Era uma mulher ômega fragilizada pelo seu cio repentino.Um filho da puta poderia se aproveitar da situação.— Vocês duas são amigas dela, não são? — Perguntava Jake se aproximando, se esforçando ao máximo para fingir não ser afetado pelos feromônios da ômega.— Ah, sim.— Eu posso carregar
Nunca tinha passado por uma situação daquelas, onde precisava urgentemente envolver o corpo de alguém com os seus feromônios para aliviar aquela sensação de possessividade. Assim como também era a primeira vez que encontrava alguém que não tinha cheiro algum, nem mesmo o singelo cheiro de beta.Bem… Imaginava ter sentido o cheiro de ômega quando tocou a sua máscara antes. Contudo o cheiro era tão fraco, que Jake cogitou a hipótese de ter se confundido.A questão era que o seu corpo latejava completamente, ainda sofrendo com os desejos impulsivos do seu lado alfa. Quando tinha vontade de atacar a pessoa da qual estava abraçado, Jake mordia o seu próprio braço tentando se conter.— Não fique se mordendo, por favor.Aquela voz era abafada, mas ainda assim gentil. Jake apertava os olhos tentando se conter de liberar mais do
Precisava arranjar um jeito de agradecer a ele.Mesmo quando era carregado por Matheus para o seu carro e levado para casa, ou então quando ficou acamado pelos próximos dois dias por causa de uma febre e dor muscular, Jake continuou pensando em encontrar o tal do Nath para agradecê-lo.Mesmo que fosse algum tipo de híbrido que não reagiria aos seus feromônios, isso não significa que ele poderia ser abraçado daquela forma. Ele sempre andava com o Guilherme, e pela proximidade talvez fossem mais que amigos…Porra! Será que eles estavam juntos?— Porra, Jake, que mancada.Só de lembrar que ele ficou longos minutos abraçado aquele coringa, Jake sentiu a sua febre aumentar. Esticando os braços para o ar, o alfa encarava as suas mãos ainda se lembrando da sensação de tê-lo ali.O seu corpo não era pequeno, tinha o presse
Jake jamais julgaria alguém pela aparência.Se havia algo que aprendeu nos últimos anos, é que as pessoas podiam ser melhores ou piores do que aparentavam. Por isso preferia ser educado com todos para evitar problemas, apesar de que às vezes não tinha como escapar de discussões e mal entendidos.Mas aquela era a primeira vez que Jake não fazia a menor ideia do que fazer.Os boatos que Matheus tinha contado antes giravam em torno de assassinatos e mandatos de prisão. Certamente aquilo era besteira, no entanto encarar aquela cicatriz causou arrepios em sua espinha como se aquela mentira estapafúrdia fosse uma verdade imutável.— Sei que é desconfortável, mas assim que eu terminar de comer colocarei a máscara de volta.Piscando aturdido, Jake voltou à realidade se recriminando por ter encarado demais o pobre rapaz.— Tá de
Haa… Como ele tinha se metido naquilo?Certamente o seu melhor amigo tinha algum plano por trás daquele sorriso bobo. A desculpa esfarrapada de que era apenas uma forma de se desculpar por ter sumido por dois anos não era tão crível. Pelo menos, Jake não acreditava.— Muito bem, vamos começar esse treino extra.— Conto com você, Jake.Segurando a bola embaixo do braço, o alfa analisava Guilherme de cima a baixo.Faz alguns dias que ele começou a seguir o treinamento de Santiago, provavelmente o seu corpo ainda estava se acostumando com a nova rotina. Apesar dele também ser um reserva, já que era um calouro, as suas habilidades como líbero eram interessantes o suficiente para que entre na quadra antes do esperado.Provavelmente Matheus queira que Jake lapidasse aquele diamante bruto.— No dia do teste, você não parec
A maior felicidade de um universitário eram os feriados.Em especial, o carnaval.Era praticamente uma semana inteira sem ter que ir pra aula. E se fosse esperto, poderia adiantar algumas tarefas para deixar o feriado livre sem nenhuma preocupação.Essas foram as medidas que Jake havia tomado, já que pretendia terminar o seu turno no restaurante e sentar para beber com os seus amigos. Mas para a sua infelicidade, o restaurante teve mais movimento que o esperado, postergando o fim do turno.— Mais cerveja pra mesa 8!— Saindo!— Garçom!— Opa, mestre!Jake serpenteava pelo restaurante desviando das pessoas até alcançar a mesa que o chamou. Retirou o bloco de notas e a caneta, logo anotando os pedidos feitos pelo cliente. E assim, voltou a desviar das pessoas para chegar até o balcão onde passaria o pedido pela pequena janela da cozinha.