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Capítulo 02 - Partida teste do time de vôlei

Ele estava lá parado de braços cruzados. E graças ao capuz e ao boné que usava, Jake não podia dizer com precisão para onde olhava.

Mas só o fato de estar ali era o suficiente para incomodar o alfa. Quer dizer, não estava receoso por causa dos rumores que Matheus contou antes, só achava estranho que estivesse lá. Não parecia ter envolvimento algum com o time de vôlei pelo o que havia entendido mais cedo.

De qualquer forma, não daria tanta atenção ao garoto mascarado já que estava ali no ginásio às escondidas.

Queria passar despercebido pelo treinador e o pessoal do time, sendo esse o motivo de ter pedido que Matheus e os demais guardassem segredo do seu retorno . Pelo menos por enquanto. Tudo em prol de surpreendê-los!

Enquanto esperava pelo começo do treino, Jake ficou escondido atrás das arquibancadas observando o pessoal. Havia rostos desconhecidos entre aqueles que usavam as roupas de treino do time universitário, a Rapoxia. E ao invés de se aquecerem para irem à quadra, eles se sentaram nos primeiros bancos da arquibancada, parecendo assistirem um amontoado de pessoas sem uniforme padrão do time se alinhar na quadra.

Entre eles, estava o cara de cabelos loiros familiares.

Era o garoto de antes. O que estava acompanhando o tal do coringa!

Era ele mesmo!

Jake olhou sobre o ombro na direção onde o rapaz mascarado estava.

— Então é por isso que você veio, hm?

— Muito bem rapaziada, sou o treinador Santiago e estarei responsável pelo teste de vocês hoje. Peço que se dividam em dois times e escolham qual lado da quadra irão ficar.

Ah, então era um teste.

Considerando ser início de semestre, o treinador abriria algumas poucas vagas, já que sempre havia algum jogador se formando. Isso o fazia lembrar também da sua vez em que fez o teste para aquele time, quando cursou o seu primeiro ano na faculdade. Tinha ficado ligeiramente assustado com a postura séria do treinador Santiago.

Aquele alfa era gigante e corpulento, fazendo com que a cara amarrada fosse o suficiente para botar medo em qualquer novato. Era como se estivesse escrito na sua testa que sentir medo era o requisito básico para ser considerado um jogador minimamente competente aos seus olhos.

Bem, Santiago não era uma má pessoa. Do que conhecia, era provável que ele se divertisse com o medo dos novatos, ao mesmo tempo que conseguisse usar isso para avaliá-los.

Por isso Jake se esgueirou pela arquibancada até chegar nas últimas fileiras, podendo se sentar e cruzar as pernas assistindo com interesse os alunos se organizarem em duas equipes.

O alfa notou que alguns deles pareciam perdidos e seguiam a liderança de qualquer um que tomasse a frente. Já o outro time se organizou bem rápido nas suas posições. Somente naquela preparação ficara claro a diferença entre os dois times.

Seguindo a cabeleira loira, Jake notava que aquele garoto estava jogando como líbero no time dos desorganizados. E quando o apito soou no ginásio, a concentração dele foi ímpar. Seguia a bola, se posicionou bem no fundo da quadra e conseguiu fazer boas recepções. Mesmo que o ataque do outro time fosse agressivo e rápido algumas vezes, o loiro conseguia dar conta.

Só que havia um problema com o seu time.

O cara que tomou a liderança não conseguia ler bem o jogo do outro time, e suas coordenações eram arriscadas demais. Haviam jogadores em posições que não pareciam corretas.

Um deles era o ponta esquerda, que vez ou outra agia por reflexo prestes a ir para o lado direito da quadra saindo de sua posição. Tudo bem que o pobre coitado logo se dava conta e ficava no lugar, no entanto o seu jogo ficou bagunçado graças aquilo.

Jake assentiu com a cabeça quando notou que o loiro deixou de seguir a sua liderança para fazer o jogo como deveria, garantindo que alguns pontos perdidos fossem recuperados. Como líbero, o seu jogo era limpo e bonito de ver. Não tinha medo de se jogar no chão para receber a bola do adversário, de dar cambalhotas por conta do impacto e até mesmo receber algumas boladas na cara.

No entanto, a sua autonomia parecia irritar o suposto capitão, que continuava a gritar com ele.

— Ei, receba direito se não a gente não consegue levantar!

Isso daria uma baita confusão, imaginava Jake.

Olhando de canto para Matheus, Ricardo e Junior, que assistiam ao teste junto do resto do time, Jake ponderou se aquele teste estava sendo como esperavam. Em momentos decisivos, ou então quando o set apresentava uma discrepância no placar, a verdadeira face do jogador surgia.

A face do seu lado competitivo e mau perdedor.

O seu amigo estava sorrindo mesmo que mantivesse os braços cruzados, sinal de que o capitão do time oficial parecia se divertir em ver tamanha confusão.

Por outro lado, o time que estava na frente fazia bom proveito daquela bagunça. O suposto capitão fazia sinais pelas costas, chamava o nome do jogador quando ia levantar para ele, e até fazia uso disso para criar iscas e antecipar o bloqueio. Dessa forma, o bloqueio marcaria o jogador chamado, sendo que a bola estava sendo levantada para outro jogador, que estava livre para fazer o ponto.

Uma enganação forçada e cara de pau. Mas que funcionava pateticamente.

Somente malandragens como aquelas foram o suficiente para fazer com que tivessem a vantagem do jogo.

Aquela pequena partida continuou do mesmo jeito até o apito final. O time do garoto loiro perdeu o jogo, deixando os estudantes receosos sobre o seu desempenho no teste. Era tão nítido naquelas carinhas de cachorrinhos abandonados, que Jake chegava a abafar o riso.

Alguns levaram a sério a partida, sabendo bem quando mostrar o seu potencial e habilidades, além de também contribuírem com os colegas do time improvisado. No entanto, alguns perderam a chance de jogar bem. A frustração e a ansiedade pareciam se acumular somente em um lado da quadra.

Apesar que havia um certo garoto loiro que não parecia tão preocupado assim.

O treinador cochichou algo com Matheus e os demais que faziam parte da comissão técnica. Foram poucos minutos de conversa até que Santiago tomasse a frente entre os jogadores avaliados.

— Não foi uma partida muito interessante. Consegui perceber que a maioria de vocês não tem experiência com o esporte, o que é um tanto quanto problemático.

Jake espreitava os olhos abrindo um fino sorriso ao notar que o treinador estaria pegando leve em suas palavras. Levando em conta a forma como o alfa fora treinado no seu primeiro ano, imaginava que aquela lacuna nas habilidades faria com que aqueles pobres coitados não aguentassem tanto os treinos e as partidas.

Ele próprio teve problemas para se acostumar com a rotina de Santiago.

— O trabalho em equipe de alguns de vocês também se mostrou bem decepcionante. Levando em conta que o nosso time sempre participa de campeonatos, esse tipo de comportamento de vocês poderia arruinar o nosso desempenho. No entanto, mesmo num show de horrores como esse, conseguimos ver a habilidade de cada um de vocês.

Primeiro a bronca e depois o elogio, tirava a esperança daqueles pobres garotos para depois devolvê-la. Jake balançava a cabeça sem se surpreender. Até mesmo ele, que apenas observava de longe, se sentia pressionado com o resultado, quem dirá os avaliados.

— E você pretende ficar escondido aí até quando, garoto?

Jake se arrepiou quando o treinador olhou em sua direção. Certo, a perspicácia dele não era tão baixa a ponto de não notar a sua presença.

Os demais alunos se viraram para os últimos bancos da arquibancada onde Jake estava sentado sozinho. Abrindo o seu costumeiro sorriso carismático, o alfa acenou para o treinador.

Lá se vai o seu plano de passar despercebido até fazer uma entrada triunfal.

— E eu achando que poderia te dar um susto.

Lamentando a falha do próprio plano, Jake permaneceu sentado com o queixo apoiado em sua mão e as pernas cruzadas. Não se moveria dali até que fosse convidado a fazê-lo. Já havia dado o seu passo de voltar ao ginásio e, agora que sua presença fora notada, só precisava de um singelo convite para que pudesse conversar sobre o seu retorno.

Não que Jake fosse um grande estrategista, ou então que as pessoas fossem óbvias demais. Era mais como um cachorro que fugiu de casa quando o portão foi aberto, e que agora voltava envergonhado do que fizera.

Só voltaria se lhe fosse permitido.

Santiago ficou o encarando por meros segundos até que suspirasse lhe dando as costas.

— Humph. Desce daí e venha pra quadra, sabe como as coisas funcionam por aqui.

Abrindo um sorriso animado, o alfa olhara para os seus amigos e fizera um sinal de vitória pelo seu pequeno, e um tanto sem vergonha, plano de retorno. Levantando-se da arquibancada, Jake tirou a blusa de moletom e desceu para a quadra.

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