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O seu destino é um Mckenzie
O seu destino é um Mckenzie
Por: Alis Green
Capítulo 01 - A chance de recomeçar

Final do verão, 2010

"Sintonize sua vibração

Não há tempo pra viver em vão

E não pense mais em desistir

Existe um mundo que só quer te ver sorrir"

A música que soava pelos fones de ouvido não combinava nem um pouco com o lugar em que ele estava. No entanto, elas tinham duas coisas em comum:

Recomeço.

O vento que passava balançava as flores de ipê branco, fazendo com que algumas delas desprenderem do galho e caíssem ao chão saudando o retorno de um alfa.

Mais uma vez as aulas iriam começar, mas para aquele rapaz de cabelos escuros aquele retorno era um verdadeiro recomeço de sua vida. Passar pelos portões da universidade e erguer os olhos claros em direção aos prédios lhe causava cócegas na barriga. Mesmo que estivesse ligeiramente desanimado por ter que estudar, ainda conseguia sentir-se ansioso.

Sentindo algo pousar em seus cabelos escuros, o alfa segurou a flor de ipê branco e sorriu ligeiramente. Nunca foi um apreciador de plantas, mal saberia o nome daquela flor que segurava com tamanha delicadeza, no entanto achava ela bonita. Justamente por achar tão bonita, ele continuou segurando-a para guardá-la mais tarde.

Girando o caule da flor entre os dedos, Jake Mckenzie passava pelos portões da faculdade respirando fundo encorajando a si mesmo a continuar com aquela ideia.

A ideia de encontrar o seu próprio final feliz.

Enquanto passava pelo pátio principal do campus, Jake se recordava do seu primeiro ano na universidade. Tinha conseguido terminar o ensino médio na capital e optou por retornar ao interior onde cursaria a faculdade na cidade mais próxima onde ele havia nascido. Porém, os seus planos não haviam saído como esperado, e Jake escolheu trancar o curso por dois anos.

Em sua caminhada não viu nada diferente em sua faculdade, o que de certa forma foi um alívio. O mesmo jardim bem cuidado de sempre, os bancos brancos espalhados, os prédios alinhados separados por cursos, e o vai e vem de estudantes apressados.

Até que sentiu falta daquela atmosfera.

Logo entraria no ritmo dos demais, correndo de um lado para outro pra fazer trabalho, imprimir textos, estudar para provas… Ah, e logo viria o arrependimento de ter voltado a estudar.

Mais uma vez um vento forte passava por si balançando as árvores e carregando as flores para todos os lados. Por um segundo o alfa precisou fechar os olhos com o ar seco que lhe rondava, mas quando abriu novamente percebia um pedaço de tecido preto caído em seu pé.

Curioso, Jake pegou o pedaço de pano e olhou cuidadosamente.

— Uma máscara?

— Com licença, isso é meu.

Jake ergueu os olhos claros para um rapaz alto que cobria o rosto com a própria blusa. Um sujeito que usava boné e capuz, tendo somente os olhos castanhos claros e com olheiras vermelhas visíveis causando a impressão de ser a pessoa mais perigosa do mundo.

Certamente isso não espantou Jake, afinal, muitas pessoas andavam com o semblante bravo e irritado dentro da faculdade. Era um brinde que os professores deixavam para os seus alunos.

Apesar de tamanha estranheza, o que intrigou o alfa era o fato de cobrir o seu rosto com a própria blusa.

Ora essa, ele tava fedendo?

Jake sabia que suava muito quando treinava, e até tomava um inibidor fraco para que o seu cheiro não fosse um problema para os seus colegas. Mas ele tinha tomado banho antes de sair! Não tinha como ele estar fedendo tanto ao ponto de incomodar o rapaz.

Inconscientemente Jake aproximou o nariz do próprio braço, fazendo uma careta.

— Eu tô fedendo?

— A minha máscara… Por favor.

— Ah claro, foi mal.

Jake devolveu a máscara e abriu um sorriso envergonhado ao se dar conta de que havia cheirado o próprio sovaco na frente de outra pessoa, e ainda mais um desconhecido.

— Obrigado — Assim que pegou a máscara, o rapaz deu as costas para o alfa e vestiu o pedaço de pano. Somente depois de ajeitado, ele se virou novamente — E não, você não fede. Tá cheirando a sabonete e kaiak.

Jake arregalou os olhos soltando um riso baixo.

— Sabe até o nome do perfume? Que bom faro você tem.

— Voltei! Desculpa a demora!

Um rapaz de cabelos loiros e olhos claros apareceu de repente, todo esbaforido com a pequena corrida que acabara de fazer. O sujeito mascarado apenas negava com a cabeça pegando a bolsa esportiva que o recém chegado carregava e a ajeitou sobre o ombro.

Jake até cogitou a chance de sair de fininho dali, sem ser notado. No entanto, o garoto de cabelos loiros logo se deu conta de sua presença.

— É algum amigo seu?

— Não, ele só pegou a máscara que saiu voando — Apressou-se em dizer o mascarado.

— Ele… Pegou a máscara? — O loiro arregalou os olhos para Jake — I-Isso significa que você viu?

A surpresa pegou o alfa desprevenido, ou teria sido a fisionomia completamente confusa que veio no rosto do loiro logo depois disso. Por algum motivo, Jake sentiu que teria cometido um grande crime na frente de um policial, o que o fez erguer as mãos e negar com a cabeça.

— Não vi nada, só peguei a máscara e devolvi logo depois. Relaxa.

— Não… é que…

O loiro olhou de canto para o mascarado que só encarava Jake. O alfa notou ser alvo do olhar, e por isso lhe dirigiu um sorriso amigável.

Não seria a primeira vez que era alvo de olhares curiosos. E levando em conta de que era um alfa, talvez os seus feromônios estivessem escapando um pouco deixando o outro em estado de alerta. Para não correr qualquer risco de se meter em problemas, o alfa disfarçou arrumando a sua mochila no ombro para dar um passo para trás.

Precisava arranjar uma desculpa para sair dali.

Estava desconfortável pela reação surpreendida deles, sendo que apenas fez a gentileza de pegar algo que outra pessoa deixou cair.

— Vamos logo, tô com fome.

O mascarado apenas cutucou o braço do loiro e em seguida acenou com a cabeça para Jake antes de tomar o seu caminho. Dando as costas primeiro, ele saiu carregando a bolsa do loiro sem nem esperar pelo mesmo. Virando-se para o alfa, o loiro sorriu um tanto quanto envergonhado.

— Foi mal e obrigado!

O seu ano havia começado bem.

Já topou com alguém que poderia causar algum mau entendido. Não uma pessoa qualquer, mas alguém que se destacava por ser tão diferente das outras pessoas daquele prédio. Até parecia que havia uma aura sombria em sua volta. Encarando o rapaz alto que usava máscara no rosto, Jake o seguiu com o olhar ficando completamente curioso.

Não sentiu nenhum cheiro vindo dele, nem mesmo de beta. Será que o seu autocontrole era tão bom ao ponto de confundir os demais híbridos?

— Tem cada gente por aí…

— É assustador só de olhar pra ele. Por que o coringa tá perambulando por aí?— Se assustando com voz vindo de suas costas, Jake suspirou pesado e indignado quando reconheceu o seu amigo bronzeado — Eaí garotão! Finalmente dando as caras.

Jake tirou apenas um fone de ouvido e sorriu cumprimentando o amigo com um toquinho e um abraço de lado. Fazia alguns dias que não se viam, mas por algum motivo ver o seu amigo deixou Jake um tanto quanto ansioso.

— Se eu não aparecesse você iria me arrastar pelas cuecas. Então por livre e espontânea pressão estou aqui.

— É deprimente perder um talento desses, então faça algo que presta e volte pro nosso time de vôlei, a menos que queira ser assombrado por mim.

Jake riu baixo lembrando de quantas mensagens havia recebido de Matheus desde que havia contado que pretendia voltar para faculdade.

Ele sabia que o time precisava "desesperadamente" de algum jogador que ajudasse no campeonato, só não tinha certeza se ainda conseguia jogar, já que ficou dois anos parado. Bem, isso poderia ficar para mais tarde. O alfa tinha a impressão de que se comentasse algo do tipo ao seu amigo, sua cueca definitivamente seria puxada até que ele colocasse os pés na quadra.

Pelo bem de suas roupas, virilha e orgulho, Jake se manteria em silêncio.

— Então, onde tá a galera? Quero ver eles antes de ir procurar a minha sala.

— Deixa que o pai te leva, garotão.

Os arredores do prédio de administração estavam movimentados. Jake olhava em volta parecendo interessado no pessoal que gargalhava e conversava. Não lembrava que a faculdade  parecesse tão animada assim, como se tivesse saído direto de um musical da Disney. Isso só aumentava a sua ansiedade em reencontrar o grupo de amigos que há tanto não via.

Entrando no prédio, Matheus levou Jake para a cafeteria que havia no térreo. Foi lá que um pequeno grupo de híbridos estavam conversando animados enquanto tomavam café e comiam lanches. Assim que pusera os olhos claros sobre eles, o alfa os reconheceu de imediato.

— Olha só quem voltou!

O grupo virou-se e rapidamente olhares cheios de surpresas eram direcionados a Jake. Não somente olhares, mas gritinhos eufóricos seguidos de abraços apertados o fez ser soterrado pelos amigos.

— Não acredito que você voltou!

— Já estava me esquecendo do seu rosto, vê se pode isso!

— Sentiram tanto a minha falta? Calma, preciso respirar — Ria Jake ao retribuir o abraço meio desajeitado.

Apesar de ser alguém que gostava de abraçar os outros e demonstrar carinho, Jake não imaginava que os seus amigos reagiriam daquela forma ao seu retorno. Realmente era tão querido assim? Até se sentiu um pouco culpado por ter perdido contato com eles durante dois anos.

— Cara, senta aí, bora colocar o papo em dia.

Jake jogou a mochila no chão e se sentou entre os amigos, conseguindo se enturmar rapidamente.

— Vocês continuam gostando de fofocar, não é?

— Mas é claro. Inclusive se quiser contribuir com alguma coisa, estamos carentes de fofocas de verão — Ria uma beta com a camisa do corinthians.

— Nem tenho novidade pra contar, Nandinha. Só estou voltando e é isso haha.

Fernanda, a corinthiana, logo fez uma careta assim que bebeu um gole de café.

— Deixa de ser mentiroso. Você trancou o curso do nada e nem se despediu da gente. Até deixou o time na mão.

— Não que a gente guarde rancor disso —  Brincava Matheus ao se sentar do lado de Jake —  Aliás, desde quando você conhece o coringa?

— Coringa? —  Jake riu olhando para os amigos tentando encontrar alguém que também não entendesse, mas nenhum deles parecia um cúmplice ideal —  Quem?

— O coringa, ué. Aquele da máscara.

—  Ah, ele? Não conheço, não.

—  Ué, mas você tava conversando com ele antes de eu chegar. Eu vi tudinho.

Definitivamente os seus amigos eram fofoqueiros, o pequeno grupo já se inclinava na direção do alfa, esperando ansiosamente por alguma explicação.

— Nunca vi. Só acabei pegando algo que ele deixou cair e então devolvi. Só isso. Mas o que tá rolando?

Eles se entreolharam, alguns disfarçaram bebendo café enquanto outros comiam. Mas Jake não desistiu, ficou encarando diretamente o alfa de cabelos escuros até que ele cedesse. E, de fato, não demorou muito para Matheus desembuchar.

— São uns rumores que dizem sobre ele. Falaram que estava preso durante o ensino médio e agora está cumprindo pena em condicional.

Arregalando os olhos, o alfa soltou uma gargalhada incrédula.

—  Tá brincando! O moleque foi bem gente boa, não me pareceu um delinquente.

—  É o que dizem! Nunca cheguei a conversar com ele —  Tratou de explicar o alfa, logo olhando para os demais amigos —  Alguém aí ficou na sala dele?

— Graças a deus que eu não fiquei — Tratou de falar Ricardo, tendo Junior concordando ao seu lado.

— Eu sou de outro curso, então to a salvo.

Rapidamente Jake percebia que os seus amigos não tinham boas impressões sobre aquele rapaz.

Só que era definitivamente estranho que tivessem esses rumores, já que ele pareceu educado demais. Talvez fosse pela suave voz que ouvira antes, e pela educação dele em pedir "com licença", "por favor" e "obrigado".  Bem, já viu alguns pivetes querendo bancar o macho alfa achando que a falta de educação fosse sinônimo de uma personalidade forte.

De qualquer forma, só aquelas poucas trocas de palavras foram o suficiente para Jake imaginar que os rumores poderiam ser falsos.

Nenhum delinquente seria educado.

— Então ele é do nosso curso? — Questionava Jake ainda pensativo.

— Deve estar no terceiro ano, já que eu estou no quarto… — Ponderou Matheus dando tapinhas no ombro do amigo — De qualquer forma, nem esquente a cabeça com isso, já que dificilmente você vai trombar com esse cara de novo.

Mais tarde, Jake desejou que o seu amigo tivesse batido na madeira ao invés de seus ombros, pois assim que pisou na quadra de vôlei a primeira coisa que ele viu foi um sujeito de vestes escuras, boné e capuz do moletom e máscara, de braços cruzados exatamente ao lado da arquibancada.

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