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Capítulo 04 - Um pequeno problema

Depois daquele treino teste, Jake não teve paz.

Por algum motivo, Matheus havia contado a todos sobre ele ter sido parte do time quando estava no seu primeiro ano de faculdade ao ponto de ter pisado em quadra logo de cara.

Para um time universitário de grande porte como aquele, era comum que os calouros ficassem na reserva, o que aumentava a curiosidade a respeito do alfa. A curiosidade foi tomada não somente pelos colegas desconhecidos, como também por alguns garotos que queriam entrar para a Rapoxia.

As perguntas em si não eram tão incômodas no geral, respondia com prazer já que muitos estavam interessados em sua rotina de treinos e habilidades.

O problema era quando uma pergunta específica era jogada no ar.

— Por que você parou de jogar?

Quando essa pergunta era feita, Jake se calava tentando ao máximo não transparecer o incômodo. Até os seus amigos davam um jeito de mudar de assunto com alguma piada ou fazendo algum convite para irem comer só para desviarem a atenção. No entanto, a curiosidade continuaria existindo independente de Jake responder ou não.

— Que venha o carnaval!! — Gritava Ricardo junto de outros jogadores quando saíram do vestiário — Uma semana inteira de boa, sem fazer nada!!

— Reza a lenda que se falar isso três vezes na frente do ginásio, o treinador Santiago aparece com um plano de treino pra você fazer em casa — Provocava Matheus ao abraçar o amigo.

— Não brinca com isso! Meu precioso feriado ninguém tira de mim.

— Não seria má ideia aproveitar o feriado para começar uma rotina de treino.

Matheus virou-se para Guilherme e então abriu um enorme sorriso. Um sorriso que causou três tipos diferentes de arrepio em Jake.

— Seria bom, não é? Seria ainda melhor se alguém experiente, mas que foi castigado como reserva do time por ter saído e partido o coração do treinador, pudesse te treinar pessoalmente.

Descaradamente Matheus encarava Jake, que desviou o olhar para o outro amigo fingindo que o assunto não era consigo. Não que tal plano fosse dar certo, já que o alfa de pele bronzeada era insistente só com o olhar.

— Por que eu deveria treinar um líbero? Além disso, eu tenho que trabalhar, o carnaval é a melhor época pra juntar uma grana.

— Ora, deveria fazer uma boa ação para pagar o seu pecado.

— Que pecado?

— O de ter saído sem dizer nada.

Matheus podia ser assustador mesmo quando sorria brincalhão. Jake já conhecia bem aquela história. Mesmo que rejeitasse a ideia, o seu melhor amigo iria insistir até ao ponto de incomodá-lo no banheiro. Não tinha sido assim que o venceu pelo cansaço para que voltasse à faculdade?

— Haa… Pensarei no caso.

Entre risos dos jogadores, o treino daquele dia já havia dado por encerrado. Pelo menos Matheus continuava um mestre em desviar de assunto. Só não esperava que existisse um mestre na insistência.

— Você parece desconfortável quando toca nesse assunto.

Guilherme era curioso também, porém nunca perguntou nada diretamente. Imaginava que seria por eles terem começado a se falar mais depois de ambos iniciarem o treino com o time de vôlei uma semana depois do teste, o que não daria muita abertura para intimidade. Ainda assim os olhos claros do beta brilhavam como se quisesse saber o seu segredo.

— Um pouco, mas não é nada trágico e nem nada do tipo. É mais um desânimo que me pegou forte.

— Acho que entendo — Guilherme suspirou ao terminar de amarrar o cadarço e se apoiar no joelho — Às vezes as pessoas simplesmente não conseguem seguir em frente.

Aquela frase soou bem mais profunda do que Jake esperava. Pelo menos teve a impressão de que Guilherme estaria dando muito crédito para a desculpa do alfa.

No entanto, ao se dar conta de que o beta parecia imerso em algum ponto da arquibancada, Jake seguiu o seu olhar dando-se conta que sentado nas últimas fileiras estava aquele sujeito mascarado.

Desde o dia em que os treinos do time haviam começado, aquele cara estava presente. Quando o treinador estava em quadra, ele escondia a sua presença em algum canto nas laterais da arquibancada. Mas quando os jogadores estavam livres, ele sentava na última fileira e ficava assistindo.

Jake percebeu que aquele mascarado estava lá por causa de Guilherme.

Sempre o acompanhando, o que fazia com que os jogadores comentassem com mais frequência sobre os rumores a seu respeito. Nada fugia muito do que Matheus havia mencionado no outro dia, a ideia estapafúrdia dele ter sido preso e blá blá blá.

Eles podiam falar o quanto quisessem, mas ninguém tinha a coragem de perguntar algo diretamente para o mascarado.

De toda forma, Jake imaginava que Guilherme estaria falando sobre o dito cujo.

Graças a isso, imaginou que a sua nova rotina continuaria daquela maneira.

Não falaria com o tal do coringa, treinaria Guilherme para desenvolver mais táticas em quadra e ajudar Matheus com o time. Acreditava que não teria motivos para conversar com o mascarado, ou de saber a verdade por trás dos rumores. Que os seus mundos jamais seriam iguais ou os mesmos.

Cada um viveria em sua realidade, distante um do outro.

Isso é, se não fosse pelo o que aconteceria no dia seguinte.

Na sala de aula os alunos permaneciam quietos e concentrados em um trabalho quando um cheiro sutil começou a se espalhar no ar. A maioria do pessoal era beta, sendo que havia umas três garotas ômegas na turma, por isso, ao farejar o ar, Jake imediatamente reconheceu os feromônios de uma delas.

Tum tum.

Tum tum.

— Ei! O que pensa que está fazendo liberando feromônios numa sala fechada? — Gritou uma beta, cobrindo o nariz.

O calor começava a subir pelo corpo e o coração apenas acelerava. O único alfa daquela sala de aula parecia ter sido atraído por aquele adocicado aroma.

— E-Eu… Sinto muito, haaa…

— Abram as janelas! — Orientava a professora — Vamos tirar ela daqui e levá-la para a enfermaria!

Aos poucos as vozes foram ficando mais e mais distantes. Tudo o que Jake sentia era o seu corpo suar e reagir aqueles feromônios. Doce como um suave convite para envolvê-lo.

Mesmo cobrindo o seu nariz para não inalar mais, já era tarde demais. Ele mesmo começou a liberar os seus feromônios inconscientemente, fazendo com que a ômega notasse a sua presença e piorasse a situação.

— Ei, se controla, tem um alfa na sala!

— Puta merda, Jake, se controla! Não ouse sair do lugar! — Brigava um colega cobrindo o rosto do amigo com um lenço de pano.

O coração batia rápido e o seu corpo reagia em um suor intenso. Mesmo assim, Jake segurou firmemente na sua mesa olhando na direção da garota, estando completamente atento aos seus movimentos.

Uma vez que uma ômega descobre que tem um alfa perto, ela começa a liberar mais e mais feromônios com a intenção de seduzi-lo. E pela intensidade dos hormônios, era nítido que aquela moça havia entrado no cio no meio da aula.

— Alguém tem água aí? — Gritava a professora. — Eu tenho um supressor e posso medicar ela.

— Eu tenho!

Um instinto alfa sempre busca dominar tudo e todos.

Quando era provocado de tal modo, ele não descansaria até que conseguisse mostrar a sua força e autoridade. Tratava-se de um instinto que dificilmente poderia ser acalmado de uma hora para outra.

Somente se acalmaria quando sanasse cada desejo seu.

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