A tempestade da noite anterior havia deixado o solo úmido e o ar carregado com o frescor da chuva. A caverna onde o grupo se abrigara oferecera uma proteção precária contra o frio cortante, mas ninguém dormira profundamente. O ataque das criaturas, a presença invisível que os acompanhava, e a incerteza da jornada pesavam sobre todos.Ao primeiro sinal de luz infiltrando-se na entrada da caverna, Damian foi o primeiro a se levantar, movendo-se silenciosamente para observar o exterior. O céu estava carregado de nuvens, mas a chuva havia cessado. O vento soprava entre as rochas, sussurrando segredos que apenas a montanha conhecia.Amélia despertou pouco depois, seus olhos encontrando imediatamente os de Damian. Ele sorriu de leve, um gesto discreto, mas que a aquecia mais do que qualquer fogo.— Está na hora de planejarmos nossos próximos passos — murmurou ele, estendendo a mão para ajudá-la a se levantar.Ela aceitou o toque, sentindo a fi
O silêncio da floresta era enganoso. Depois do breve momento de descanso na caverna, o grupo retomara a jornada, avançando por um terreno irregular e úmido. A névoa rasteira se arrastava entre as árvores torcidas, como dedos espectrais tentando alcançá-los. O ar carregava um cheiro de terra molhada misturado a algo metálico… algo que fazia os pelos na nuca de Amélia se arrepiarem.Damian caminhava à frente, os olhos âmbar atentos ao menor movimento. Seus sentidos captavam a presença de algo não natural, algo que os observava. Amélia sentia o mesmo. Desde que tinham deixado a clareira, a sensação de serem seguidos não os abandonava.O ancião mais velho, sempre calmo, parou abruptamente e olhou para a escuridão entre as árvores.— Não estamos sozinhos — murmurou.A tensão no grupo aumentou instantaneamente. Ethan, ainda em sua forma humana, segurou firme o punhal em sua cintura.— Está quieto demais — ele sussurrou, trocando
Capítulo 36 – O Nome Oculto O grupo seguiu em frente, cortando a densa floresta com passos cautelosos. O ataque das criaturas ainda pesava sobre suas mentes, e a estranha presença que os havia ajudado pairava no ar como um enigma sem resposta. O caminho tornava-se mais difícil à medida que avançavam, com galhos secos estalando sob seus pés e a vegetação fechada dificultando a passagem. Amélia sentia o cansaço pesar sobre seus ombros, mas sua mente estava inquieta demais para sucumbir à exaustão. A sensação de estar sendo observada não a abandonava, e a lembrança da força invisível que interveio na batalha a deixava alerta. Depois de horas de caminhada, Damian ergueu a mão, sinalizando para que parassem. — Aqui — disse ele, apontando para uma pequena clareira entre as árvores. — Vamos descansar um pouco antes de continuar. O grupo concordou silenciosamente. A
A jornada prosseguia com o peso das revelações recentes ainda pairando sobre o grupo. O nome Zard ecoava na mente de Amélia como um enigma que ainda precisava ser desvendado. O ancião, como sempre, manteve sua expressão tranquila, sem dar mais explicações além do que já havia dito.O cansaço acumulado nos últimos dias começava a se fazer sentir em cada passo, mas algo estava diferente naquela manhã. O sol brilhava com mais intensidade entre as copas das árvores, o vento era mais suave, carregando consigo um aroma de terra úmida e folhas frescas. Depois de tanto tempo envoltos em incertezas e perigos, aquela sensação parecia quase reconfortante.Damian caminhava ao lado de Amélia, atento a cada detalhe ao redor. Seus sentidos sempre alertas captavam qualquer movimento suspeito, mas, naquele momento, tudo parecia… em paz.Foi então que, ao dobrar uma trilha sinuosa entre as rochas, um brilho inusitado chamou a atenção do grupo.— O que é a
A manhã surgiu serena sobre o lago dourado, com os primeiros raios de sol filtrando-se entre as folhas e lançando reflexos brilhantes sobre a água cristalina. O ar era fresco, carregado com o perfume úmido da vegetação, e, por um raro momento, tudo parecia em equilíbrio.Amélia abriu os olhos devagar, sentindo o calor do corpo de Damian ao seu lado. Desde a noite anterior, a conexão entre eles parecia ainda mais intensa, como se o tempo que passaram juntos à beira do lago tivesse selado algo invisível entre suas almas.Damian já estava acordado, observando-a com um olhar carregado de ternura e algo mais profundo, como se estivesse gravando cada detalhe dela em sua mente.— Bom dia — ele murmurou, deslizando os dedos pelo rosto dela.Amélia sorriu, sentindo um calor reconfortante se espalhar por seu peito.— Bom dia.Por um instante, permitiram-se apenas ficar ali, aproveitando a paz rara que aquele momento lhes oferecia. Mas
Antiope era uma vila cercada por colinas ondulantes e bosques de carvalhos tão antigos quanto o próprio tempo. As casas de pedra, cobertas de trepadeiras floridas, pareciam emanar um calor acolhedor, mas sob essa aparente tranquilidade escondia-se um medo enraizado. O nome do Alfa ressoava como um trovão nas conversas sussurradas. Ele governava não apenas a vila, mas também os corações de seus habitantes, que andavam sempre com olhares baixos e passos apressados, como se até mesmo o vento pudesse levar suas palavras para ouvidos errados.No meio dessa realidade opressora, vivia Amélia.Desde muito jovem, a vida lhe ensinara a sobreviver com pouco. Seus pais foram arrancados dela antes mesmo que tivesse idade para compreender a dor da perda. A memória deles era um borrão distante, fragmentos de vozes e risadas que às vezes vinham nos sonhos, apenas para desaparecer ao amanhecer. A vila, que deveria ter sido seu lar, virou um lugar onde não havia espaço para uma órfã. Sem ninguém que a
O silêncio entre eles era espesso como a neblina que pairava sobre a floresta. Amélia caminhava um passo atrás do filho do Alfa, os olhos atentos a cada detalhe do caminho. As árvores pareciam se curvar à presença dele, os pássaros silenciavam ao seu redor, e até o vento hesitava em soprar. Ela deveria ter fugido. Deveria ter resistido. Mas algo nela — talvez o instinto, talvez o cansaço de viver sozinha — a impediu. O cheiro de terra úmida começou a se misturar com algo mais denso, algo que fazia seus pelos se arrepiarem: o cheiro de outros lobos. Eles estavam perto. Muito perto. Seu coração começou a bater mais forte. O que ele queria com ela? Quando os portões da matilha surgiram à frente, sua respiração ficou rasa. Eram enormes, de madeira escura reforçada com ferro, e guardados por dois homens de olhar predador. Eles a observaram com curiosidade, mas não ousaram questionar o filho do Alfa quando ele passou por eles, trazendo-a consigo. Amélia se encolheu ao sentir dezenas de
Amélia tentou lutar contra o sono.Se dormisse, talvez acordasse em uma armadilha. Talvez descobrisse que tudo aquilo — o banho quente, as roupas limpas, a comida abundante — fosse apenas um truque cruel antes de seu verdadeiro destino.Ela já ouvira histórias assim antes. Promessas de conforto, de segurança, apenas para serem substituídas pelo frio da traição. Sua vida lhe ensinara a desconfiar da bondade, a questionar gestos gentis. Sobrevivência não permitia ilusões.Mas o cansaço, esse inimigo silencioso, foi mais forte.Seu corpo cedeu, vencido pelo esgotamento acumulado de tantas noites mal dormidas, de tantos dias fugindo, se escondendo, sempre à beira do colapso. O colchão, macio como um abraço esquecido, envolveu-a, e, antes que pudesse resistir, seus olhos se fecharam.O sono veio como uma onda morna, arrastando-a para um lugar onde, por um instante, não havia medo.Quando o sol começou a se erguer no horizonte, uma fragrância familiar despertou seus sentidos.Era um cheiro