A floresta era um campo de sombras vivas. Os olhos pálidos das criaturas brilhavam no breu, refletindo a luz difusa da lua. Elas se moviam com uma agilidade antinatural, seus corpos deformados deslizando entre as árvores como espectros de outro mundo. O cheiro de morte e decomposição impregnava o ar, misturando-se ao faro aguçado dos lobos que rosnavam em posição de ataque.Damian avançou primeiro, sua lâmina cintilando ao luar. Ele era um guerreiro treinado para enfrentar o desconhecido, mas até mesmo ele sentia um desconforto profundo diante daquelas coisas. Quando uma das criaturas saltou sobre um dos lobos do grupo, ele reagiu instintivamente, girando o corpo e golpeando a fera. A lâmina cortou o ar e se cravou na carne escura da criatura. Um grunhido gutural ecoou, e a coisa se afastou com um movimento sinuoso, como se a dor não a afetasse completamente.— Eles são rápidos demais! — rosnou Ethan, desviando de um ataque.Os lobos da matilha usavam
A manhã avançava lentamente, e o grupo seguia em silêncio, imerso no peso dos próprios pensamentos. O confronto da noite anterior ainda pairava no ar como uma tempestade prestes a desabar.O vale em que haviam parado para descansar ficava para trás, e agora seguiam por uma trilha estreita que cortava as terras do Norte. O terreno era traiçoeiro—um misto de rochas úmidas e raízes retorcidas que pareciam querer agarrar os pés de quem passava. A vegetação densa os cercava, formando túneis naturais onde a luz do sol mal conseguia penetrar.Amélia caminhava ao lado de Damian, sentindo a presença dele como uma âncora. Desde que as criaturas haviam recuado diante dela, ele não saíra do seu lado. Sua proteção era sutil, mas constante.Ethan, em sua forma lupina, liderava a frente, farejando o ar de tempos em tempos. Outros membros da matilha também seguiam na forma de lobos, os olhos atentos ao menor sinal de perigo.Mas o verdadeiro perigo era invis
O dia avançava lentamente enquanto o grupo continuava sua jornada pelas terras do Norte. O frio se intensificava conforme subiam as trilhas rochosas, e o vento cortante carregava um cheiro de neve distante. Cada passo os afastava mais da segurança da matilha e os aproximava do desconhecido.E daquilo que os seguia.A sensação de serem observados persistia, uma presença silenciosa que nunca se revelava. Mas, assim como o ancião dissera, eles não seriam os primeiros a agir.Não enquanto não fossem atacados.---A Fúria da MontanhaAo final da tarde, o terreno começou a mudar. As árvores altas deram lugar a formações rochosas irregulares, criando desfiladeiros estreitos e perigosos. As fendas no solo se tornavam armadilhas mortais para os menos atentos, e cada pedra solta sob os pés era uma ameaça.Foi Ethan quem primeiro percebeu.— O vento mudou — murmurou, farejando o ar. Seu corpo lupino estava r
A tempestade da noite anterior havia deixado o solo úmido e o ar carregado com o frescor da chuva. A caverna onde o grupo se abrigara oferecera uma proteção precária contra o frio cortante, mas ninguém dormira profundamente. O ataque das criaturas, a presença invisível que os acompanhava, e a incerteza da jornada pesavam sobre todos.Ao primeiro sinal de luz infiltrando-se na entrada da caverna, Damian foi o primeiro a se levantar, movendo-se silenciosamente para observar o exterior. O céu estava carregado de nuvens, mas a chuva havia cessado. O vento soprava entre as rochas, sussurrando segredos que apenas a montanha conhecia.Amélia despertou pouco depois, seus olhos encontrando imediatamente os de Damian. Ele sorriu de leve, um gesto discreto, mas que a aquecia mais do que qualquer fogo.— Está na hora de planejarmos nossos próximos passos — murmurou ele, estendendo a mão para ajudá-la a se levantar.Ela aceitou o toque, sentindo a fi
O silêncio da floresta era enganoso. Depois do breve momento de descanso na caverna, o grupo retomara a jornada, avançando por um terreno irregular e úmido. A névoa rasteira se arrastava entre as árvores torcidas, como dedos espectrais tentando alcançá-los. O ar carregava um cheiro de terra molhada misturado a algo metálico… algo que fazia os pelos na nuca de Amélia se arrepiarem.Damian caminhava à frente, os olhos âmbar atentos ao menor movimento. Seus sentidos captavam a presença de algo não natural, algo que os observava. Amélia sentia o mesmo. Desde que tinham deixado a clareira, a sensação de serem seguidos não os abandonava.O ancião mais velho, sempre calmo, parou abruptamente e olhou para a escuridão entre as árvores.— Não estamos sozinhos — murmurou.A tensão no grupo aumentou instantaneamente. Ethan, ainda em sua forma humana, segurou firme o punhal em sua cintura.— Está quieto demais — ele sussurrou, trocando
Capítulo 36 – O Nome Oculto O grupo seguiu em frente, cortando a densa floresta com passos cautelosos. O ataque das criaturas ainda pesava sobre suas mentes, e a estranha presença que os havia ajudado pairava no ar como um enigma sem resposta. O caminho tornava-se mais difícil à medida que avançavam, com galhos secos estalando sob seus pés e a vegetação fechada dificultando a passagem. Amélia sentia o cansaço pesar sobre seus ombros, mas sua mente estava inquieta demais para sucumbir à exaustão. A sensação de estar sendo observada não a abandonava, e a lembrança da força invisível que interveio na batalha a deixava alerta. Depois de horas de caminhada, Damian ergueu a mão, sinalizando para que parassem. — Aqui — disse ele, apontando para uma pequena clareira entre as árvores. — Vamos descansar um pouco antes de continuar. O grupo concordou silenciosamente. A
Antiope era uma vila cercada por colinas ondulantes e bosques de carvalhos tão antigos quanto o próprio tempo. As casas de pedra, cobertas de trepadeiras floridas, pareciam emanar um calor acolhedor, mas sob essa aparente tranquilidade escondia-se um medo enraizado. O nome do Alfa ressoava como um trovão nas conversas sussurradas. Ele governava não apenas a vila, mas também os corações de seus habitantes, que andavam sempre com olhares baixos e passos apressados, como se até mesmo o vento pudesse levar suas palavras para ouvidos errados.No meio dessa realidade opressora, vivia Amélia.Desde muito jovem, a vida lhe ensinara a sobreviver com pouco. Seus pais foram arrancados dela antes mesmo que tivesse idade para compreender a dor da perda. A memória deles era um borrão distante, fragmentos de vozes e risadas que às vezes vinham nos sonhos, apenas para desaparecer ao amanhecer. A vila, que deveria ter sido seu lar, virou um lugar onde não havia espaço para uma órfã. Sem ninguém que a
O silêncio entre eles era espesso como a neblina que pairava sobre a floresta. Amélia caminhava um passo atrás do filho do Alfa, os olhos atentos a cada detalhe do caminho. As árvores pareciam se curvar à presença dele, os pássaros silenciavam ao seu redor, e até o vento hesitava em soprar. Ela deveria ter fugido. Deveria ter resistido. Mas algo nela — talvez o instinto, talvez o cansaço de viver sozinha — a impediu. O cheiro de terra úmida começou a se misturar com algo mais denso, algo que fazia seus pelos se arrepiarem: o cheiro de outros lobos. Eles estavam perto. Muito perto. Seu coração começou a bater mais forte. O que ele queria com ela? Quando os portões da matilha surgiram à frente, sua respiração ficou rasa. Eram enormes, de madeira escura reforçada com ferro, e guardados por dois homens de olhar predador. Eles a observaram com curiosidade, mas não ousaram questionar o filho do Alfa quando ele passou por eles, trazendo-a consigo. Amélia se encolheu ao sentir dezenas de