— Esse menino te ama, Rosely — Bianca disse — Olha como ele fica com você.
— É verdade, as outras babás nunca conseguiram o manter tão bem assim — Fernando, o jardineiro pontuou. — Eu as via andando pelo jardim tentando acalmá-lo e nada. Hoje entendo que não era para ser elas.
— Isso é verdade, nenhuma delas tinha tanto carinho por ele — o olhei novamente e seus olhos continuavam colados em mim.
Todos acharam que ele seria ruivo como a mãe, mas após completar um mês a penugem clara caiu e os cabelos negros tomaram conta de sua cabecinha. Ele era uma cópia do pai.
— Rose! — ouvi a voz grave de Antônio vindo da sala.
— Ele está aqui hoje, preparem a sala de jantar — falei antes de me retirar e seguir em sua direção.
O encontrei parado no meio da sala retirando o blazer e colocando em uma poltrona bege que ficava dentro do cômodo.
—Me chamou, senhor? — Otávio acabara de mamar e eu segurava a mamadeira com uma mão e o deixava em posição vertical para arrotar.
— Estava almoçando? — ele viu que vim da cozinha.
—Sim, mas Otávio me solicitou antes — sorri para o bebê que agora sustentava o corpo e me olhava com interesse.
— Ele sempre solicita sua presença — ele sorriu e chegou mais perto. — Me dê ele aqui — ele esticou os braços e passei o bebê para ele, colocando a fraldinha de boca embaixo do seu pescoço, para caso ele vomitasse. — Ele não para de te procurar — sorri com o comentário vendo o bebê me olhar interessado.
— Esse mocinho sabe como conquistar uma garota — falei sorrindo para ele e brincando com seus pezinhos gordinhos. — O que posso fazer pelo senhor? — olhei para Antônio que agora estava calado.
— Você já almoçou? — ele questionou voltando sua atenção para Otávio que mordia as mãozinhas.
— Duas garfadas não foram o suficiente — sorri o observando.
— Então almoce comigo, tenho alguns detalhes para tratar com você — confirmei com a cabeça.
—Poderia ficar com Otávio por um minuto, para que eu busque meu prato? — ele confirmou e se encaminhou com o bebê para a sala de jantar que nesse momento já deveria estar arrumado para ele.
Cheguei na cozinha e todos já tinham terminado e as meninas já arrumavam a cozinha.
— Guardei sua refeição — Bianca falou.
— Vim buscá-la, o sr. Antônio quer que eu almoce com ele para definir as coisas para hoje à noite. Vou passar o cardápio que montamos e qualquer coisa a gente troca. — Ela confirmou com a cabeça.
— Quer que eu fique com Otávio por enquanto? — Luana se ofereceu e eu confirmei.
Ela me seguiu até a sala de jantar onde pai e filho estavam brincando. As risadas de Otávio enxiam todo o ambiente e tirava risos fáceis de mim. Eu e Luana esperamos na entrada da sala até que Antônio nos percebesse.
— Podem entrar, senhoritas — ele beijou a cabeça do filho sussurrando algumas palavras em seu ouvido.
— Luana irá ficar com ele por alguns minutos, tudo bem? — ele concordou entregando o menino para ela que estendeu os bracinhos em minha direção e fui até ele. — A titia já vai lá ficar com você, meu anjo — dei um beijo em sua testa e observei Luana saindo com ele da sala.
Voltei a olhar para Antônio que estava concentrado em um ponto atrás de mim.
— Vamos nos sentar — disse saindo do seu transe. Ele me ofereceu a cadeira e aceitei. Ele sempre era extremamente cavalheiro comigo, acredito que por ser irmã de sua cunhada.
Ele não falou nada, apenas comeu sua comida mais concentrado que o normal e fiz o mesmo. Não era algo incomum isso acontecer, mas eu não ficava muito à vontade quando só havia nós dois na mesa. Antônio era um grande ponto de interrogação em minha cabeça.
Ao mesmo tempo que eu via coisas que não devia em seu olhar quando eu estava com Otávio, eu o sentia frio como o gelo quando só existia nós dois na sala.
— Meus pais virão jantar essa noite conosco — confirmei com a cabeça — Acha que podemos aumentar mais alguns lugares? — ele me olhou avaliativo.
—Quantos o senhor quiser — falei o encarando.
— Um casal de duques está na cidade e não sei por que meus pais os convidaram para vir até aqui.
— Duques? — engoli em seco — Será que nosso cardápio está à altura deles?
— Tudo que vocês fazem é maravilhoso, eu não quero que mude nada do que planejou, somente que aumente as porções.
— Tudo bem — falei um pouco desconfortável com essa informação.
— Rose?
— Sim — seu olhar sempre me perseguia. Suas írises eram negras como as de Otávio e eu me pegava sonhando com elas durante a noite. Isso não era bom, nada bom mesmo.
— Eu acredito em você, sei que faz sempre o seu melhor e que não vai deixar que pessoas a intimidem com seus títulos.
— Não é bem assim — falei sem graça.
— Claro que é! — ele soltou os talheres — Olha isso, está maravilhoso, não tem como eles não gostarem.
— Obrigada, senhor — ele torceu o nariz como sempre fazia. Já tinha se cansado de pedir para que eu o chamasse apenas de Antônio, mas eu não achava certo perto dos outros funcionários, eles poderiam entender errado.
— Então continue com o planejado.
— Virão somente o duque e a duquesa?
— Eu gostaria que sim, mas eles ficaram de confirmar se os filhos irão vir também — a carranca que ele fez, me deixou intrigada.
— Não gosta deles? — ele que agora tinha os olhos na comida, voltou a me olhar.
— Eu não tenho boas recordações de um deles. — Se limitou a dizer.
— Entendo — falei encerrando o assunto.
— Ele queria a mão de Margareth, mas eu levei a melhor — sorriu de lado — Mas não foi fácil, eu meio que roubei ela dele e então não somos melhores amigos.
— E o que fazem aqui agora?
— Meu pai tem assuntos a tratar da coroa. Nem sem porque eles têm que marcar uma reunião desse tipo em minha casa. Minha mãe poderia ter arranjado tudo isso na casa deles, seria mais fácil para todos.
— Às vezes querem reaproximar vocês.
— Nós nunca fomos próximos.
— Ah sim — falei olhando novamente para o prato e tentando não pensar novamente no assunto.— Quero que fique com Otávio essa noite — eu voltei a olhá-lo — Não precisa descer com ele. Não quero que essas pessoas conheçam meu filho. Não ainda — concordei.—Como quiser, senhor — eu não queria me intrometer mais do que o normal, mas eu sabia que a condessa faria um escândalo quando soubesse. — Só acho que seria bom avisar sua mãe.— Minha mãe? Por que diz isso? — ele soltou os talheres e me avaliou — Você acha que ela quer que o filho do duque conheça meu filho? — dei de ombros.— Eu não sei, mas algo me diz que sua mãe está tramando alguma coisa.— Isso com certeza é bem a cara dela. — Sorri concordando.— Não me entenda mal, mas esse tempo que passei na casa da minha irmã, eu consegui estudar bem sua mãe.— Tenho certeza que sim.— Ela está planejando algo para o senhor, eu a ouvi dizer que você não deve ficar sozinho.— Você só pode estar brincando? Rose, você acha mesmo que ela pode
Fui até a porta de sua sala e bati devagar, sabia que ele sempre estava atento.— Entre! — abri uma pequena fresta. Ele estava com a cabeça baixa olhando alguns papeis e demorou alguns instantes para olhar para mim, quando percebeu que eu não entrei.— Algum problema, Rose? — seus olhos ficaram cerrados.— Sua mãe está aqui para vê-lo. — ele fechou os olhos e eu quis rir, mas não me atrevi.— Peça para ela entrar. — Terminei de abrir a porta e ela me olhou desconfiada.— Para que toda essa cerimonia para eu entrar? Preciso disso agora?— Eu estou ocupado, dona Arlete, pedi para a Rose, restringir todos.— Até eu? — ela me olhou e me desculpei movendo a boca sem emitir som.— Até você. — Ela não precisava saber que era o motivo do desespero de Antônio.— Rose, nos deixe a sós.— Claro senhora, deseja beber alguma coisa? — falei antes de sair.—Não, obrigada — fechei a porta vendo os olhares sendo trocados e a tensão se materializando dentro da sala.Sai o mais depressa possível de pert
O olhei novamente pasma, eu não acho que tenha visto alguém tão bonito quanto ele por toda a cidade, talvez somente os condes chegassem tão perto assim. Será que ter um título atraia beleza?— Entre, senhor — falei saindo do meu torpor, ele parecia estar acostumado com aquele tipo de reação e sorriu de lado. — Vou levá-lo até a sala onde estão. — Ele apenas maneou a cabeça e me seguiu.— Até que enfim Arthur — O pai do rapaz se levantou indo em direção ao filho. Vi o olhar mortal que Antônio lançou a ele assim que seus pés pisaram a sala.— Rose? — Dona Arlete me chamou e fui em sua direção. — Fique conosco hoje? — olhei assustada para Antônio que levantou a sobrancelha sem entender a mãe. — É sempre bom ter mais companhias femininas a mesa, não é meninas? — as irmãs de Arthur me olharam de cima a baixo e nada comentaram. Eu realmente não estava arrumada para uma ocasião como aquela. Tudo que eu queria era voltar para o quarto e velar o sono de Otávio.— Não acho que seja prudente, se
A noite passou devagar depois dos comentários do futuro duque, Antônio estava extremamente irritado e nem olhava mais na cara dele ou na minha. Eu realmente não sabia o que tinha feito para receber tal tratamento, mas preferia ficar na minha, eu só queria subir até o quarto e dormir igual Otávio fazia.— Bom acho que já passou da hora de irmos — O duque falou se levantando e convidando a família a segui-lo. Fiquei ao lado de dona Arlete para me despedir deles e Arthur parou a minha frente puxando minha mão e lhe dando um beijo no dorso durante uma leve reverência em minha frente.— A noite foi extremamente especial pela presença da senhorita, espero poder vê-la em breve.Confirmei com a cabeça sem saber exatamente o que responder. Ele me deixava sem reação, sem palavras. Eu que sempre tinha tudo sobre controle, tinha meus movimentos comandados por cada fala mansa que ele dizia. Ele se endireitou e cumprimentou a condessa de uma forma menos empolgada e quando chegou à frente de Antônio
RoseOtávio acordou a noite para mamar e desci com ele em meus braços. Meu robe cobria todo o meu corpo e a mamadeira já estava no lugar que Bianca sempre deixava para noites em que o bebê saia da rotina. A entreguei a ele observando seus olhos se fecharem imediatamente após colocar o bico da mamadeira na boca. Ele era tão lindo, sempre admirava como seus traços eram perfeitos. Uma obra de Deus.Assim que terminou coloquei a mamadeira na pia e voltei com ele em posição vertical para que arrotasse. Subi as escadas devagar, mas ao entrar no corredor Antônio já estava na sua porta de braços cruzados.— Algum problema? — falou seco.— Não, estou somente fazendo o meu trabalho. — Entrei no quarto e fechei a porta. Eu sabia que não deveria ter feito aquilo. Ele era meu patrão e pai do bebê, mas a minha raiva era maior do que qualquer coisa. Ele que morresse na própria cólera.Ninei Otávio cantando para ele músicas que minha mãe cantava para mim, embalei seu sono por muito tempo, mesmo quand
AntônioMas que grande merda aconteceu nessa casa ontem? Eu ainda estava me decidindo de onde vinha a imensa raiva que tinha brotado em meu peito. Eu sei que a presença de Arthur Vasconcelos mexeu monstruosamente com meu psicológico, mas eu sempre soube como lidar com isso, até mesmo quando Margareth estava viva eu sabia como controlar o ciúme louco que eu tinha dele, mas ontem eu explodi e descontei na pessoa errada. Ela nem é nada minha e tem razão em achar ruim de eu me intrometer no cortejo de Arthur com ela. Ela é linda, empolgante e uma pessoa doce e ele percebeu isso extremamente rápido. Saí do meu quarto para dar de cara com a pessoa que está tirando meu sono. Pensei em cumprimentá-la, contudo ela se fechou e entrou no quarto, como na noite anterior e isso estava me deixando louco. Eu gostava muito da sua presença, agora não sei como tudo ficaria. Desci as escadas rápido sem prestar atenção em nada. — Bom dia, senhor Campos — Luana me cumprimentou — Já estou terminando de co
RoseForam dois dias em completo silêncio. Eu mal o cumprimentava quando ele vinha ver o filho quando estava nas áreas centrais da casa. Nenhum de nós fazia questão de resolver a situação, afinal ele era meu patrão e era essa a postura que eu queria que tivéssemos a partir de agora. Nada de intimidades por eu ser irmã de sua cunhada, para que ele não cogitasse liberdades que não possuía.Todos os funcionários já tinham percebido que algo havia acontecido, Luana, Bianca e Janice até tentaram arrancar de mim, mas eu disse que tudo estava como deveria estar e se elas não queriam que ele as colocasse no olho da rua, era melhor cada uma fazer o seu serviço e parar de cuidar da vida do futuro conde e com isso as fiz entender que algo que eu tinha feito tinha ameaçado o meu emprego por isso me "coloquei no meu lugar".O problema era que minha cabeça pensava nele o tempo todo, mesmo eu querendo esquecer ou pensar no filho do duque, Antônio tomava conta dos meus pensamentos, com seus sorrisos
AntônioDesci as escadas e peguei a mesa posta apenas uma xícara de café preto, eu sabia que estava atrasado, mas nada no mundo seria mais importante que meu filho. Meus irmãos que esperassem.— Luana? — chamei assim que a vi passar pela porta — Rosely ficará cuidando de Otávio hoje em tempo integral, suba de hora em hora para ver se ela necessita de algo para si ou para ele e qualquer coisa mande me chamar. — Ela confirmou com a cabeça — Obrigado. — Coloquei a xícara na mesa e sai de casa indo em direção ao meu motorista.O trajeto até a empresa demorou mais que o normal, eu não queria estar lá e sim com meu filho, era como se algo estivesse errado e que minha mente me mandasse embora a todo custo.Chegando à fábrica fui em direção a minha sala, onde meus dois nem tão adoráveis irmãos já me esperavam.—Você está atrasado — André falou assim que cruzei a porta.—E não vai explicar o motivo de nos fazer esperar por mais de duas horas por sua ilustre presença?— Preciso? —os dois me olh