— Ah sim — falei olhando novamente para o prato e tentando não pensar novamente no assunto.
— Quero que fique com Otávio essa noite — eu voltei a olhá-lo — Não precisa descer com ele. Não quero que essas pessoas conheçam meu filho. Não ainda — concordei.
—Como quiser, senhor — eu não queria me intrometer mais do que o normal, mas eu sabia que a condessa faria um escândalo quando soubesse. — Só acho que seria bom avisar sua mãe.
— Minha mãe? Por que diz isso? — ele soltou os talheres e me avaliou — Você acha que ela quer que o filho do duque conheça meu filho? — dei de ombros.
— Eu não sei, mas algo me diz que sua mãe está tramando alguma coisa.
— Isso com certeza é bem a cara dela. — Sorri concordando.
— Não me entenda mal, mas esse tempo que passei na casa da minha irmã, eu consegui estudar bem sua mãe.
— Tenho certeza que sim.
— Ela está planejando algo para o senhor, eu a ouvi dizer que você não deve ficar sozinho.
— Você só pode estar brincando? Rose, você acha mesmo que ela pode se intrometer em minha vida amorosa?
— Desculpe Antônio, não devo falar assim da Lady Dion.
— Eu sou seu patrão, me fale o que acha. — E por que me doía dizer isso se era verdade?
— Eu acho que ela já está fazendo algo. Eu acho, ela não gosta de te ver triste, sempre a via conversando com Emma e Álvaro. Ela não acredita que sua vida seja sozinho. — Abaixei minhas mãos na perna e não o encarei.
— Droga! — ele se levantou alterado da mesa. — O duque tem duas filhas em idade para casamento. — O olhei, estudando sua postura tensa.
— O que pretende fazer? — me mexi desconfortável.
— Me livrar deles, é claro — sorri de lado. —Só ainda não sei como.
— Peça ajuda para seus irmãos, quem sabe eles não têm algum tipo de ideia?
— Eu não confio naqueles babacas para algo desse tipo, eu já ferrei e muito com a vida dos dois nesse sentindo. Ou se esquece dos boatos que rodaram a escola? — Assim que vieram para Antunes, Antônio fez com que circulasse o boato de que o irmão mais novo estava à procura de uma esposa, foi o suficiente para levar todas as moças disponíveis a loucura.
— Ah claro, esqueci que você está metido até o último fio de cabelo nessa situação.
— Pois é, eu nunca imaginei que um dia isso se viraria para mim. Nunca pensei que ficaria viúvo — ele voltou a se sentar.
— Sinto muito por isso — seus olhos se encontraram com os meus. — Se tiver algo que eu possa fazer pelo senhor. — Ele confirmou com a cabeça.
— Me ajude a pensar em uma saída. — seus olhos era suplicantes — Rose, eu confio em você, sei que não vai me colocar em nenhuma enrascada, coisa que meus irmãos fariam com gosto somente para se vingar.
— Pelo menos Álvaro está feliz em seu casamento.
— Pelo menos isso, já não podemos dizer o mesmo de André, então é melhor nem chegar perto desse aí. — Concordei.
— Eu pensarei em algo — falei me levantando. Já tinha perdido a fome completamente.
— Sinto muito Rose, não deixei você comer com o meu falatório — ele se levantou também — Eu perdi a fome, pode levá-lo para mim —ele me entregou seu prato e se encaminhou até a saída da sala. — Muito obrigado, Rose.
Voltei para a cozinha com os dois pratos e os entreguei a Bianca.
— Ele não gostou da comida?
— Perdeu o apetite com o assunto do jantar de hoje à noite, até eu fiquei um pouco insegura agora.
— Você só pode estar brincando comigo, não está? — Luana entrava na cozinha sem Otávio.
—Ele dormiu, acabei de colocá-lo no berço.
— Obrigada.
— O que quer fazer? — Bianca se aproximou mais de mim enquanto eu me sentava a mesa da cozinha.
— Não sei, nunca servi uma família de duques.
— DUQUES? — Bianca e Luana se assustaram e eu confirmei encostando minha mão na cabeça e o cotovelo sobre a mesa.
— Vamos ter que pensar em mais alguma coisa.
— Que “comidas chiques” sabe fazer, Bianca? — Luana questionou e eu observei a interação das duas.
—Nenhuma, só sei o que faço todos os dias. — a pobre retorcia as mãos sem parar em desespero.
— E são perfeitos, o senhor Antônio não quer que mudemos nada, mas e se não for...
— É suficiente — Dona Arlete, Lady Dion, entrou na cozinha nos pegando desprevenidas. — Tudo o que fazem é suficiente, meninas, não se intimidem pelo título dos nossos amigos.
— Lady Dion — eu a cumprimentei e como sempre ela veio e me deu um abraço, até parece que sabia que estávamos falando dela a poucos minutos atrás.
— Como está querida? — a condessa sempre fora amável comigo e com minhas irmãs, mesmo antes de seu filho mais novo se tornar meu cunhado. Ela nunca nos diferenciou por ter uma vida mais simples que a dela.
— Vou muito bem e a senhora? — a encaminhei para fora da cozinha e por não ouvir a voz grossa de Antônio em nenhum lugar, deduzi que ele ainda não sabia que ela estava ali.
— Muito bem, agora que tudo está em seu devido lugar. — Concordei. Tudo melhorava gradativamente bem, somente o vazio em meu ser que não passava.
— Isso é bom!
— Meu neto está dormindo? — Fiz que sim com a cabeça — Ele está tão bem com você, é incrível como ele se adaptou. Até Antônio se acalmou com sua a presença.
— Ele sabe que o filho dele está seguro comigo.
— Ah com certeza sabe, aquele menino é muito teimoso, mas quando entrega a confiança dele para alguém, ah menina aí a pessoa pode ficar tranquila, porque ele fará qualquer coisa que estiver ao alcance dele.
— Eu não tenho dúvidas, senhora.
— E por falar nisso onde ele está?
— Provavelmente no escritório, vou avisá-lo. — falei me afastando, mas a vi me seguir e previ que as coisas ficariam tensas em poucos segundo.
Fui até a porta de sua sala e bati devagar, sabia que ele sempre estava atento.— Entre! — abri uma pequena fresta. Ele estava com a cabeça baixa olhando alguns papeis e demorou alguns instantes para olhar para mim, quando percebeu que eu não entrei.— Algum problema, Rose? — seus olhos ficaram cerrados.— Sua mãe está aqui para vê-lo. — ele fechou os olhos e eu quis rir, mas não me atrevi.— Peça para ela entrar. — Terminei de abrir a porta e ela me olhou desconfiada.— Para que toda essa cerimonia para eu entrar? Preciso disso agora?— Eu estou ocupado, dona Arlete, pedi para a Rose, restringir todos.— Até eu? — ela me olhou e me desculpei movendo a boca sem emitir som.— Até você. — Ela não precisava saber que era o motivo do desespero de Antônio.— Rose, nos deixe a sós.— Claro senhora, deseja beber alguma coisa? — falei antes de sair.—Não, obrigada — fechei a porta vendo os olhares sendo trocados e a tensão se materializando dentro da sala.Sai o mais depressa possível de pert
O olhei novamente pasma, eu não acho que tenha visto alguém tão bonito quanto ele por toda a cidade, talvez somente os condes chegassem tão perto assim. Será que ter um título atraia beleza?— Entre, senhor — falei saindo do meu torpor, ele parecia estar acostumado com aquele tipo de reação e sorriu de lado. — Vou levá-lo até a sala onde estão. — Ele apenas maneou a cabeça e me seguiu.— Até que enfim Arthur — O pai do rapaz se levantou indo em direção ao filho. Vi o olhar mortal que Antônio lançou a ele assim que seus pés pisaram a sala.— Rose? — Dona Arlete me chamou e fui em sua direção. — Fique conosco hoje? — olhei assustada para Antônio que levantou a sobrancelha sem entender a mãe. — É sempre bom ter mais companhias femininas a mesa, não é meninas? — as irmãs de Arthur me olharam de cima a baixo e nada comentaram. Eu realmente não estava arrumada para uma ocasião como aquela. Tudo que eu queria era voltar para o quarto e velar o sono de Otávio.— Não acho que seja prudente, se
A noite passou devagar depois dos comentários do futuro duque, Antônio estava extremamente irritado e nem olhava mais na cara dele ou na minha. Eu realmente não sabia o que tinha feito para receber tal tratamento, mas preferia ficar na minha, eu só queria subir até o quarto e dormir igual Otávio fazia.— Bom acho que já passou da hora de irmos — O duque falou se levantando e convidando a família a segui-lo. Fiquei ao lado de dona Arlete para me despedir deles e Arthur parou a minha frente puxando minha mão e lhe dando um beijo no dorso durante uma leve reverência em minha frente.— A noite foi extremamente especial pela presença da senhorita, espero poder vê-la em breve.Confirmei com a cabeça sem saber exatamente o que responder. Ele me deixava sem reação, sem palavras. Eu que sempre tinha tudo sobre controle, tinha meus movimentos comandados por cada fala mansa que ele dizia. Ele se endireitou e cumprimentou a condessa de uma forma menos empolgada e quando chegou à frente de Antônio
RoseOtávio acordou a noite para mamar e desci com ele em meus braços. Meu robe cobria todo o meu corpo e a mamadeira já estava no lugar que Bianca sempre deixava para noites em que o bebê saia da rotina. A entreguei a ele observando seus olhos se fecharem imediatamente após colocar o bico da mamadeira na boca. Ele era tão lindo, sempre admirava como seus traços eram perfeitos. Uma obra de Deus.Assim que terminou coloquei a mamadeira na pia e voltei com ele em posição vertical para que arrotasse. Subi as escadas devagar, mas ao entrar no corredor Antônio já estava na sua porta de braços cruzados.— Algum problema? — falou seco.— Não, estou somente fazendo o meu trabalho. — Entrei no quarto e fechei a porta. Eu sabia que não deveria ter feito aquilo. Ele era meu patrão e pai do bebê, mas a minha raiva era maior do que qualquer coisa. Ele que morresse na própria cólera.Ninei Otávio cantando para ele músicas que minha mãe cantava para mim, embalei seu sono por muito tempo, mesmo quand
AntônioMas que grande merda aconteceu nessa casa ontem? Eu ainda estava me decidindo de onde vinha a imensa raiva que tinha brotado em meu peito. Eu sei que a presença de Arthur Vasconcelos mexeu monstruosamente com meu psicológico, mas eu sempre soube como lidar com isso, até mesmo quando Margareth estava viva eu sabia como controlar o ciúme louco que eu tinha dele, mas ontem eu explodi e descontei na pessoa errada. Ela nem é nada minha e tem razão em achar ruim de eu me intrometer no cortejo de Arthur com ela. Ela é linda, empolgante e uma pessoa doce e ele percebeu isso extremamente rápido. Saí do meu quarto para dar de cara com a pessoa que está tirando meu sono. Pensei em cumprimentá-la, contudo ela se fechou e entrou no quarto, como na noite anterior e isso estava me deixando louco. Eu gostava muito da sua presença, agora não sei como tudo ficaria. Desci as escadas rápido sem prestar atenção em nada. — Bom dia, senhor Campos — Luana me cumprimentou — Já estou terminando de co
RoseForam dois dias em completo silêncio. Eu mal o cumprimentava quando ele vinha ver o filho quando estava nas áreas centrais da casa. Nenhum de nós fazia questão de resolver a situação, afinal ele era meu patrão e era essa a postura que eu queria que tivéssemos a partir de agora. Nada de intimidades por eu ser irmã de sua cunhada, para que ele não cogitasse liberdades que não possuía.Todos os funcionários já tinham percebido que algo havia acontecido, Luana, Bianca e Janice até tentaram arrancar de mim, mas eu disse que tudo estava como deveria estar e se elas não queriam que ele as colocasse no olho da rua, era melhor cada uma fazer o seu serviço e parar de cuidar da vida do futuro conde e com isso as fiz entender que algo que eu tinha feito tinha ameaçado o meu emprego por isso me "coloquei no meu lugar".O problema era que minha cabeça pensava nele o tempo todo, mesmo eu querendo esquecer ou pensar no filho do duque, Antônio tomava conta dos meus pensamentos, com seus sorrisos
AntônioDesci as escadas e peguei a mesa posta apenas uma xícara de café preto, eu sabia que estava atrasado, mas nada no mundo seria mais importante que meu filho. Meus irmãos que esperassem.— Luana? — chamei assim que a vi passar pela porta — Rosely ficará cuidando de Otávio hoje em tempo integral, suba de hora em hora para ver se ela necessita de algo para si ou para ele e qualquer coisa mande me chamar. — Ela confirmou com a cabeça — Obrigado. — Coloquei a xícara na mesa e sai de casa indo em direção ao meu motorista.O trajeto até a empresa demorou mais que o normal, eu não queria estar lá e sim com meu filho, era como se algo estivesse errado e que minha mente me mandasse embora a todo custo.Chegando à fábrica fui em direção a minha sala, onde meus dois nem tão adoráveis irmãos já me esperavam.—Você está atrasado — André falou assim que cruzei a porta.—E não vai explicar o motivo de nos fazer esperar por mais de duas horas por sua ilustre presença?— Preciso? —os dois me olh
RoseAcordei em um silêncio absoluto, tudo estava escuro e não havia nem sinal de Antônio e nem de Otávio em lugar algum. Me sentei na cama tentando lembrar exatamente o que tinha acontecido para eu dormir tanto e me lembrei da noite turbulenta que tivemos.Me levantei correndo e fui até o banheiro, me assustei com a minha aparência, parecia que uma boiada inteira tinha passado por cima de mim. Tomei um banho para ficar mais apresentáv