Capítulo 4

Fui até a porta de sua sala e bati devagar, sabia que ele sempre estava atento.

— Entre! — abri uma pequena fresta. Ele estava com a cabeça baixa olhando alguns papeis e demorou alguns instantes para olhar para mim, quando percebeu que eu não entrei.

— Algum problema, Rose? — seus olhos ficaram cerrados.

— Sua mãe está aqui para vê-lo. — ele fechou os olhos e eu quis rir, mas não me atrevi.

— Peça para ela entrar. — Terminei de abrir a porta e ela me olhou desconfiada.

— Para que toda essa cerimonia para eu entrar? Preciso disso agora?

— Eu estou ocupado, dona Arlete, pedi para a Rose, restringir todos.

— Até eu? — ela me olhou e me desculpei movendo a boca sem emitir som.

— Até você. — Ela não precisava saber que era o motivo do desespero de Antônio.

— Rose, nos deixe a sós.

— Claro senhora, deseja beber alguma coisa? — falei antes de sair.

—Não, obrigada — fechei a porta vendo os olhares sendo trocados e a tensão se materializando dentro da sala.

Sai o mais depressa possível de perto da sala, eu sabia que Antônio acabaria comentando sobre o que conversamos e eu não queria estar por perto naquele momento. Subi até o quarto de Otávio para ver se estava tudo bem. Meu quarto ficava junto ao dele, por escolha minha. Era muito mais fácil eu chegar a ele assim.

Quando entrei no quarto ele já estava acordado brincando com os pezinhos.

— Já acordou, meu amor? — falei o pegando no colo e o enchendo de beijos. — A titia vai te dar um banho bem gostoso e depois te levar para passear no jardim de rosas, faz tempo que você não vai até lá.

Fui até o banheiro que existia no quarto dele, posicionei a banheira e chamei Janice para enchê-la para mim. Em poucos minutos eu já brincava com o pequeno, que batia as mãozinhas dando pequenos gritinhos me arrancando risos.

— Está muito calor, você devia estar irritado com isso, não é? — ele sorria para mim o tempo todo com seus lábios e com os olhos negros como os do pai. O que me fez pensar o que tinha acontecido entre nós naquela mesa de jantar a pouco. Como eu me deixei falar tanto? Que poder era aquele que ele possuía e me fazia falar mais do que devia?

— Estou entrando — ouvi Janice dizer — já arrumei o trocador, deixei tudo que precisa. Agradeci e o enrolei na toalha ouvindo seus resmungos de descontentamento.

— Gostou tanto assim que nem quer sair, não é querido? — sequei cada dobrinha, fazendo cosquinhas nele até que risse. — Você está cada vez mais cheio de manias, o que será de mim se continuar assim, hein? — mordi seus pezinhos e ele gargalhou. — O que você quer fazer agora, tomar seu leitinho ou ir passear? — ele me olhava com interesse enquanto eu o trocava — Para que escolher, não é? Vamos fazer os dois, tomar seu leitinho ao ar livre é muito mais gostoso. — Terminei de arrumá-lo e peguei o pente para arrumar seus cabelinhos pretos.

— Acabamos, vamos passear agora — quando me virei dei de cara com Antônio encostado na soleira da porta e de braços cruzados. — Meu Deus que susto — meu coração quase saiu pela boca e apertei Otávio a meu peito, tanto que ele reclamou.

— Me desculpe, eu não quis atrapalhar — ele veio em nossa direção com seu andar matador. Aquele que parecia estar cercando sua presa e travei uma respiração. — Eu gosto de observar você e o Otávio — isso era novo para mim.

—Faz isso sempre? — ele deu de ombros.

— Hoje eu não consegui evitar ficar e ver sua reação. — Ele riu e eu quis matá-lo.

— Eu poderia ter derrubado ele.

— Acredito que não, você é cuidadosa demais.

—Você espera muito de mim, senhor Antônio.

— Esse negócio de senhor, cansa Rose. Sabia?

— E como acha que devo te chamar?

— Antônio, como já te pedi um milhão de vezes.

— Sou sua babá e governanta, tenho que dar o exemplo.

— Então aceitou ser minha governanta? — ele levantou a sobrancelha em expectativa — E afinal, eu que mando aqui e dou liberdade para quem eu quiser. — Impôs sua autoridade.

— Eu...

— Me chame de Antônio, assim como te chamo de Rose.

—Mas você chama todos aqui pelo nome — acabei falando sem querer e me senti envergonhada.

— Mas somente você pelo apelido. Seu nome é Rosely.

— Senhor, eu não posso, sinto muito — ele estava acariciando o filho e me olhou por um breve segundo antes de confirmar — Espero que não tenha sido tão ruim com sua mãe. — Mudei de assunto.

— Não falei nada, se é isso que pensou.

— Eu realmente achei que fosse brigar com ela.

— Eu ainda não tenho provas, e como um bom investigador que sou, eu espero o momento certo para dar o bote —meu sangue gelou assim que ele piscou para mim.

— Mas ela é sua mãe, também deve ter sentido algo de diferente quando fiz aquela cena para ela entrar em sua sala. Me desculpe.

— Não, foi bom, eu não quero que ela fique entrando aqui se está com intensão de me casar.

— Você não vai se casar com mais ninguém? — era uma pergunta que me consumia no final da noite.

— Não, não vou. Margareth foi e será a única em minha vida.

— Sim, é bom deixá-la ciente disso para que não cause mal-entendidos futuros — tentei me afastar, indo em direção a porta.

— Não vai haver, quando ela entender o porquê, ela respeitará minha decisão.

— Tenho minhas dúvidas.

— É, eu também.

Sai do quarto deixando Antônio pensativo, eu sabia bem que a mãe dele só queria sua felicidade e não acreditava que ele poderia fazer isso sozinho. Andei com Otávio até o jardim de rosas e dei sua mamadeira lá. Eu amava aquele lugar, era lindo e silencioso. Brinquei com o bebê o quanto pude. Mas a tarde se passou rápido demais, me fazendo subir com ele e terminar de coordenar tudo para o jantar.

Os pais de Antônio foram os primeiros a chegar, ficando irritados por Otávio não ser apresentado a família de duques. Os duques chegaram poucos minutos depois, com suas duas filhas.

— Rose! — ouvi a condessa me chamar. Como Otávio estava dormindo eu ajudei nos últimos afazeres da cozinha.

— Sim, senhora? — fui até ela.

— Atenda a porta, por favor? — eu não entendi seu pedido, mas fiz mesmo assim. Quando abri dei de cara com duas joias azuis olhando para mim. Fiquei paralisada por um segundo, até me lembrar o que estava fazendo ali.

— Boa noite, senhor! — falei sem saber exatamente quem era ele.

—Boa noite — ele falou me avaliando — Acredito que meus pais já tenham chegado. Sou Arthur Vasconcelos, futuro Duque de Bermom — e atual inimigo de Antônio. 

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