Fui até a porta de sua sala e bati devagar, sabia que ele sempre estava atento.
— Entre! — abri uma pequena fresta. Ele estava com a cabeça baixa olhando alguns papeis e demorou alguns instantes para olhar para mim, quando percebeu que eu não entrei.
— Algum problema, Rose? — seus olhos ficaram cerrados.
— Sua mãe está aqui para vê-lo. — ele fechou os olhos e eu quis rir, mas não me atrevi.
— Peça para ela entrar. — Terminei de abrir a porta e ela me olhou desconfiada.
— Para que toda essa cerimonia para eu entrar? Preciso disso agora?
— Eu estou ocupado, dona Arlete, pedi para a Rose, restringir todos.
— Até eu? — ela me olhou e me desculpei movendo a boca sem emitir som.
— Até você. — Ela não precisava saber que era o motivo do desespero de Antônio.
— Rose, nos deixe a sós.
— Claro senhora, deseja beber alguma coisa? — falei antes de sair.
—Não, obrigada — fechei a porta vendo os olhares sendo trocados e a tensão se materializando dentro da sala.
Sai o mais depressa possível de perto da sala, eu sabia que Antônio acabaria comentando sobre o que conversamos e eu não queria estar por perto naquele momento. Subi até o quarto de Otávio para ver se estava tudo bem. Meu quarto ficava junto ao dele, por escolha minha. Era muito mais fácil eu chegar a ele assim.
Quando entrei no quarto ele já estava acordado brincando com os pezinhos.
— Já acordou, meu amor? — falei o pegando no colo e o enchendo de beijos. — A titia vai te dar um banho bem gostoso e depois te levar para passear no jardim de rosas, faz tempo que você não vai até lá.
Fui até o banheiro que existia no quarto dele, posicionei a banheira e chamei Janice para enchê-la para mim. Em poucos minutos eu já brincava com o pequeno, que batia as mãozinhas dando pequenos gritinhos me arrancando risos.
— Está muito calor, você devia estar irritado com isso, não é? — ele sorria para mim o tempo todo com seus lábios e com os olhos negros como os do pai. O que me fez pensar o que tinha acontecido entre nós naquela mesa de jantar a pouco. Como eu me deixei falar tanto? Que poder era aquele que ele possuía e me fazia falar mais do que devia?
— Estou entrando — ouvi Janice dizer — já arrumei o trocador, deixei tudo que precisa. Agradeci e o enrolei na toalha ouvindo seus resmungos de descontentamento.
— Gostou tanto assim que nem quer sair, não é querido? — sequei cada dobrinha, fazendo cosquinhas nele até que risse. — Você está cada vez mais cheio de manias, o que será de mim se continuar assim, hein? — mordi seus pezinhos e ele gargalhou. — O que você quer fazer agora, tomar seu leitinho ou ir passear? — ele me olhava com interesse enquanto eu o trocava — Para que escolher, não é? Vamos fazer os dois, tomar seu leitinho ao ar livre é muito mais gostoso. — Terminei de arrumá-lo e peguei o pente para arrumar seus cabelinhos pretos.
— Acabamos, vamos passear agora — quando me virei dei de cara com Antônio encostado na soleira da porta e de braços cruzados. — Meu Deus que susto — meu coração quase saiu pela boca e apertei Otávio a meu peito, tanto que ele reclamou.
— Me desculpe, eu não quis atrapalhar — ele veio em nossa direção com seu andar matador. Aquele que parecia estar cercando sua presa e travei uma respiração. — Eu gosto de observar você e o Otávio — isso era novo para mim.
—Faz isso sempre? — ele deu de ombros.
— Hoje eu não consegui evitar ficar e ver sua reação. — Ele riu e eu quis matá-lo.
— Eu poderia ter derrubado ele.
— Acredito que não, você é cuidadosa demais.
—Você espera muito de mim, senhor Antônio.
— Esse negócio de senhor, cansa Rose. Sabia?
— E como acha que devo te chamar?
— Antônio, como já te pedi um milhão de vezes.
— Sou sua babá e governanta, tenho que dar o exemplo.
— Então aceitou ser minha governanta? — ele levantou a sobrancelha em expectativa — E afinal, eu que mando aqui e dou liberdade para quem eu quiser. — Impôs sua autoridade.
— Eu...
— Me chame de Antônio, assim como te chamo de Rose.
—Mas você chama todos aqui pelo nome — acabei falando sem querer e me senti envergonhada.
— Mas somente você pelo apelido. Seu nome é Rosely.
— Senhor, eu não posso, sinto muito — ele estava acariciando o filho e me olhou por um breve segundo antes de confirmar — Espero que não tenha sido tão ruim com sua mãe. — Mudei de assunto.
— Não falei nada, se é isso que pensou.
— Eu realmente achei que fosse brigar com ela.
— Eu ainda não tenho provas, e como um bom investigador que sou, eu espero o momento certo para dar o bote —meu sangue gelou assim que ele piscou para mim.
— Mas ela é sua mãe, também deve ter sentido algo de diferente quando fiz aquela cena para ela entrar em sua sala. Me desculpe.
— Não, foi bom, eu não quero que ela fique entrando aqui se está com intensão de me casar.
— Você não vai se casar com mais ninguém? — era uma pergunta que me consumia no final da noite.
— Não, não vou. Margareth foi e será a única em minha vida.
— Sim, é bom deixá-la ciente disso para que não cause mal-entendidos futuros — tentei me afastar, indo em direção a porta.
— Não vai haver, quando ela entender o porquê, ela respeitará minha decisão.
— Tenho minhas dúvidas.
— É, eu também.
Sai do quarto deixando Antônio pensativo, eu sabia bem que a mãe dele só queria sua felicidade e não acreditava que ele poderia fazer isso sozinho. Andei com Otávio até o jardim de rosas e dei sua mamadeira lá. Eu amava aquele lugar, era lindo e silencioso. Brinquei com o bebê o quanto pude. Mas a tarde se passou rápido demais, me fazendo subir com ele e terminar de coordenar tudo para o jantar.
Os pais de Antônio foram os primeiros a chegar, ficando irritados por Otávio não ser apresentado a família de duques. Os duques chegaram poucos minutos depois, com suas duas filhas.
— Rose! — ouvi a condessa me chamar. Como Otávio estava dormindo eu ajudei nos últimos afazeres da cozinha.
— Sim, senhora? — fui até ela.
— Atenda a porta, por favor? — eu não entendi seu pedido, mas fiz mesmo assim. Quando abri dei de cara com duas joias azuis olhando para mim. Fiquei paralisada por um segundo, até me lembrar o que estava fazendo ali.
— Boa noite, senhor! — falei sem saber exatamente quem era ele.
—Boa noite — ele falou me avaliando — Acredito que meus pais já tenham chegado. Sou Arthur Vasconcelos, futuro Duque de Bermom — e atual inimigo de Antônio.
O olhei novamente pasma, eu não acho que tenha visto alguém tão bonito quanto ele por toda a cidade, talvez somente os condes chegassem tão perto assim. Será que ter um título atraia beleza?— Entre, senhor — falei saindo do meu torpor, ele parecia estar acostumado com aquele tipo de reação e sorriu de lado. — Vou levá-lo até a sala onde estão. — Ele apenas maneou a cabeça e me seguiu.— Até que enfim Arthur — O pai do rapaz se levantou indo em direção ao filho. Vi o olhar mortal que Antônio lançou a ele assim que seus pés pisaram a sala.— Rose? — Dona Arlete me chamou e fui em sua direção. — Fique conosco hoje? — olhei assustada para Antônio que levantou a sobrancelha sem entender a mãe. — É sempre bom ter mais companhias femininas a mesa, não é meninas? — as irmãs de Arthur me olharam de cima a baixo e nada comentaram. Eu realmente não estava arrumada para uma ocasião como aquela. Tudo que eu queria era voltar para o quarto e velar o sono de Otávio.— Não acho que seja prudente, se
A noite passou devagar depois dos comentários do futuro duque, Antônio estava extremamente irritado e nem olhava mais na cara dele ou na minha. Eu realmente não sabia o que tinha feito para receber tal tratamento, mas preferia ficar na minha, eu só queria subir até o quarto e dormir igual Otávio fazia.— Bom acho que já passou da hora de irmos — O duque falou se levantando e convidando a família a segui-lo. Fiquei ao lado de dona Arlete para me despedir deles e Arthur parou a minha frente puxando minha mão e lhe dando um beijo no dorso durante uma leve reverência em minha frente.— A noite foi extremamente especial pela presença da senhorita, espero poder vê-la em breve.Confirmei com a cabeça sem saber exatamente o que responder. Ele me deixava sem reação, sem palavras. Eu que sempre tinha tudo sobre controle, tinha meus movimentos comandados por cada fala mansa que ele dizia. Ele se endireitou e cumprimentou a condessa de uma forma menos empolgada e quando chegou à frente de Antônio
RoseOtávio acordou a noite para mamar e desci com ele em meus braços. Meu robe cobria todo o meu corpo e a mamadeira já estava no lugar que Bianca sempre deixava para noites em que o bebê saia da rotina. A entreguei a ele observando seus olhos se fecharem imediatamente após colocar o bico da mamadeira na boca. Ele era tão lindo, sempre admirava como seus traços eram perfeitos. Uma obra de Deus.Assim que terminou coloquei a mamadeira na pia e voltei com ele em posição vertical para que arrotasse. Subi as escadas devagar, mas ao entrar no corredor Antônio já estava na sua porta de braços cruzados.— Algum problema? — falou seco.— Não, estou somente fazendo o meu trabalho. — Entrei no quarto e fechei a porta. Eu sabia que não deveria ter feito aquilo. Ele era meu patrão e pai do bebê, mas a minha raiva era maior do que qualquer coisa. Ele que morresse na própria cólera.Ninei Otávio cantando para ele músicas que minha mãe cantava para mim, embalei seu sono por muito tempo, mesmo quand
AntônioMas que grande merda aconteceu nessa casa ontem? Eu ainda estava me decidindo de onde vinha a imensa raiva que tinha brotado em meu peito. Eu sei que a presença de Arthur Vasconcelos mexeu monstruosamente com meu psicológico, mas eu sempre soube como lidar com isso, até mesmo quando Margareth estava viva eu sabia como controlar o ciúme louco que eu tinha dele, mas ontem eu explodi e descontei na pessoa errada. Ela nem é nada minha e tem razão em achar ruim de eu me intrometer no cortejo de Arthur com ela. Ela é linda, empolgante e uma pessoa doce e ele percebeu isso extremamente rápido. Saí do meu quarto para dar de cara com a pessoa que está tirando meu sono. Pensei em cumprimentá-la, contudo ela se fechou e entrou no quarto, como na noite anterior e isso estava me deixando louco. Eu gostava muito da sua presença, agora não sei como tudo ficaria. Desci as escadas rápido sem prestar atenção em nada. — Bom dia, senhor Campos — Luana me cumprimentou — Já estou terminando de co
RoseForam dois dias em completo silêncio. Eu mal o cumprimentava quando ele vinha ver o filho quando estava nas áreas centrais da casa. Nenhum de nós fazia questão de resolver a situação, afinal ele era meu patrão e era essa a postura que eu queria que tivéssemos a partir de agora. Nada de intimidades por eu ser irmã de sua cunhada, para que ele não cogitasse liberdades que não possuía.Todos os funcionários já tinham percebido que algo havia acontecido, Luana, Bianca e Janice até tentaram arrancar de mim, mas eu disse que tudo estava como deveria estar e se elas não queriam que ele as colocasse no olho da rua, era melhor cada uma fazer o seu serviço e parar de cuidar da vida do futuro conde e com isso as fiz entender que algo que eu tinha feito tinha ameaçado o meu emprego por isso me "coloquei no meu lugar".O problema era que minha cabeça pensava nele o tempo todo, mesmo eu querendo esquecer ou pensar no filho do duque, Antônio tomava conta dos meus pensamentos, com seus sorrisos
AntônioDesci as escadas e peguei a mesa posta apenas uma xícara de café preto, eu sabia que estava atrasado, mas nada no mundo seria mais importante que meu filho. Meus irmãos que esperassem.— Luana? — chamei assim que a vi passar pela porta — Rosely ficará cuidando de Otávio hoje em tempo integral, suba de hora em hora para ver se ela necessita de algo para si ou para ele e qualquer coisa mande me chamar. — Ela confirmou com a cabeça — Obrigado. — Coloquei a xícara na mesa e sai de casa indo em direção ao meu motorista.O trajeto até a empresa demorou mais que o normal, eu não queria estar lá e sim com meu filho, era como se algo estivesse errado e que minha mente me mandasse embora a todo custo.Chegando à fábrica fui em direção a minha sala, onde meus dois nem tão adoráveis irmãos já me esperavam.—Você está atrasado — André falou assim que cruzei a porta.—E não vai explicar o motivo de nos fazer esperar por mais de duas horas por sua ilustre presença?— Preciso? —os dois me olh
RoseAcordei em um silêncio absoluto, tudo estava escuro e não havia nem sinal de Antônio e nem de Otávio em lugar algum. Me sentei na cama tentando lembrar exatamente o que tinha acontecido para eu dormir tanto e me lembrei da noite turbulenta que tivemos.Me levantei correndo e fui até o banheiro, me assustei com a minha aparência, parecia que uma boiada inteira tinha passado por cima de mim. Tomei um banho para ficar mais apresentáv
AntônioQualquer coisa que ela disser eu vou aceitar. Qualquer coisa.Sempre que eu achava que estávamos melhorando em nossa relação, algo acontecia, agora era essa maldita mania de querer interferir em qualquer coisas que falam para ela. Eu sei que não tenho nada com isso e mesmo assim quero que ela entenda o meu ponto de vista. Ela é uma mulher incrível, mas não é para aquele idiota. Para nenhum idiota. Rosely sempre mereceria mais de qualquer pessoa, até mesmo de mim. Eu sabia que ela precisava de uma pessoa que visse toda a força que ela tinha, que aceitasse a mulher esperta e interessante.Até agora eu não tinha conhecido nenhum homem que cumprisse todos os requisitos para ocupar um lugar em sua vida, além do que eu ainda me sentia responsável por ela desde que tinha ajudado a resgatá-la dos sequestradores.—