3 O golpe do destino

A  alegria e expectativa que envolvia a casa de Núbia e Mirella se desfez em um instante, como uma nuvem escura cobrindo o sol. Enquanto esperavam por Osmar, sentiam-se felizes e cheias de esperança, mas a vida, com suas reviravoltas cruéis, estava prestes a lhes dar um golpe devastador.

Quando a batida abrupta ecoou na porta, Núbia franziu a testa, uma sensação de inquietação brotando em seu peito. Ao abrir a porta e ver os dois policiais, seu coração começou a acelerar. As palavras —sinto muito e —meus pêsames— soaram como um eco distante, incompreensíveis em meio ao turbilhão de emoções que a invadiam.

— O que vocês querem dizer com isso? — perguntou Núbia, sua voz tremendo. A confusão logo se transformou em desespero quando um dos policiais explicou sobre o assalto na fábrica. O mundo ao seu redor parecia girar; ela não conseguia processar o que ouvia.

Os policiais, com suas expressões sérias e tons de voz pesadas, começaram a relatar os eventos trágicos que levaram àquela visita devastadora. Núbia escutava em estado de choque, como se estivesse fora de seu corpo, incapaz de processar a realidade que se desenrolava diante dela.

— Senhora Núbia — começou um dos policiais, tentando ser o mais gentil possível —, houve um tiroteio na frente da fábrica bem na hora em que todos estavam saindo para ir embora. Infelizmente, seu marido foi atingido por uma bala perdida.

As palavras ecoavam na mente de Núbia, mas ela não conseguia conectar cada fragmento da informação. A imagem de Osmar saindo da fábrica, conversando com colegas e rindo, não estava presente; ele simplesmente não estava ali para ela lembrar. Ela se sentia envolta em um manto de neblina, a realidade tão distante quanto uma lembrança esquecida.

— O que você quer dizer com bala perdida? — perguntou ela, a voz trêmula e cheia de desespero. O policial hesitou por um momento, como se tentasse encontrar as palavras certas para explicar a tragédia sem aumentar sua dor.

— Significa que ele não era o alvo — disse o policial. — Era um tiroteio entre dois grupos e, infelizmente, ele foi atingido durante a confusão. Não havia como prever isso.

Núbia sentiu uma onda de náusea. Como podia ser tão cruel? A vida tinha sido tão cheia de promessas e agora tudo parecia desmoronar diante dela. O que era uma simples saída do trabalho se transformou em um evento catastrófico que alteraria seu mundo para sempre.

— Eu preciso vê-lo! — gritou Núbia, sua voz transbordando desespero. — Ele não pode estar… Ele não pode estar morto!

Os policiais trocaram olhares cúmplices, sabendo que precisavam ser firmes e ao mesmo tempo compassivos. Um deles se aproximou mais, colocando a mão suavemente no ombro dela.

— Nós entendemos sua dor. Estamos aqui para ajudar no que for preciso. Mas precisamos que você saiba… ele não está mais conosco.

Ouvindo isso, o chão sob os pés de Núbia parecia se abrir ainda mais. Ela queria gritar, chorar e fazer o mundo parar por um momento para que pudesse entender o absurdo daquela situação. A única coisa que queria era ter seu marido de volta, ouvir sua voz calorosa e sentir seu abraço protetor.

A angústia tomou conta dela enquanto a realidade começava a penetrar lentamente em sua mente: ela estava sozinha agora. E Mirella? Como contaria à filha que seu pai nunca voltaria?

Núbia sentiu como se o mundo ao seu redor estivesse desmoronando. As palavras dos policiais ressoavam em sua mente, mas ela se recusava a acreditar no que estava ouvindo.

— Não, por favor! — implorou, sua voz entrecortada pela dor. — O meu marido não pode estar morto! Diga que é mentira! Que tudo isso não passa de uma pegadinha, uma brincadeira cruel! Osmar está vivo, eu sei que está!

A angústia a consumia, e as lágrimas escorriam pelo seu rosto como um rio descontrolado. A sensação de desespero a envolveu com uma força avassaladora. Ela queria gritar, queria chorar até que a dor fosse embora, mas a realidade era implacável. Cada vez mais, a verdade se tornava um peso insuportável sobre seu coração.

As palavras dos policiais pareciam ecoar em um vazio profundo dentro dela. "Bala perdida", "tiroteio", "não está mais conosco"… Cada frase era uma facada que penetrava em sua alma.

— Não! Eu não posso aceitar isso! — gritou Núbia, sua voz se quebrando sob o peso da desesperança. — Ele não pode ter ido embora assim!

E então, o colapso emocional se tornou físico. A angústia foi tanta que ela sentiu suas forças escaparem. O mundo ao seu redor começou a girar e, em um instante de escuridão, tudo desapareceu. Núbia desmaiou.

Quando acordou, estava em uma cama de hospital, cercada por rostos preocupados e vozes murmurantes que pareciam distantes. O cheiro do álcool e do antiseptico invadia suas narinas, mas tudo o que ela conseguia pensar era em Osmar. O coração dela batia descompassado enquanto tentava entender o que havia acontecido.

Foi então que percebeu: onde estava Mirella? O pensamento da filha fez seu coração disparar novamente. Ela devia estar esperando por seu pai, acreditando que ele voltaria para casa como sempre fazia.

Os policiais a levaram para o hospital sem perceberem a presença silenciosa de Mirella no quarto ao lado. A menina estava sentada na cama, com os olhos fixos na porta e o desenho na mão, esperando ansiosamente pelo retorno do seu herói.

— Por favor… — murmurou Núbia para si mesma enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto pálido — Que isso tudo seja apenas um sonho…

Ela desejava poder mudar o curso daquela tragédia, fazer com que a vida dela voltasse ao normal. Mas sabia que precisava ser forte por Mirella e por Osmar—onde quer que ele estivesse agora.

Reflexão

A dor da perda de alguém que amamos é uma das experiências mais profundas e transformadoras que podemos enfrentar. Ela chega como um furacão, arrastando tudo pelo caminho e deixando um rastro de desolação em nossos corações. Nos primeiros momentos, a intensidade da dor é avassaladora, como se uma parte de nós tivesse sido arrancada de maneira brutal. O mundo parece perder a cor, e até as coisas mais simples se tornam insuportáveis.

Com o passar dos anos, a ferida parece se tornar mais suportável. As lembranças ainda são nítidas, mas a dor aguda começa a dar lugar a uma saudade profunda. É como se o tempo nos oferecesse uma espécie de anestesia emocional; não que a dor tenha desaparecido, mas aprendemos a conviver com ela. Encontramos maneiras de seguir em frente, mesmo quando nosso coração ainda carrega aquele peso invisível.

É verdade que podemos aprender a sorrir novamente, a rir em momentos de alegria e até mesmo a amar de novo. No entanto, essa dor nunca desaparece completamente. Ela permanece lá, escondida nas profundezas do nosso ser, como uma cicatriz que nunca cicatriza por completo. A cada aniversário, a cada data comemorativa ou até mesmo em momentos aleatórios do dia a dia, somos lembrados da ausência daquela pessoa especial. A saudade aperta o peito e nos faz sentir um vazio que parece impossível de preencher.

A dor da perda é quadrada; ela não se encaixa perfeitamente em nossas vidas e muitas vezes nos faz sentir desconfortáveis. Aprendemos a maquiar essa ferida com sorrisos e histórias sobre os bons tempos passados, mas sabemos que ela está ali, presente em nossos pensamentos e sentimentos. Encontramos forças para continuar caminhando porque entendemos que a vida não para. Nossos entes queridos teriam querido isso para nós – que continuássemos vivendo plenamente, honrando suas memórias.

Assim, aprendemos que viver com essa dor é um ato de amor. Carregá-la conosco é uma forma de manter viva a memória da pessoa amada. Ao mesmo tempo em que seguimos adiante, levamos consigo um pedaço daquele amor eterno, transformando nossa dor em força para enfrentar os desafios da vida. E, mesmo quando sentimos o peso dessa ausência, encontramos beleza nas lembranças e nas lições que eles nos deixaram.

A vida continua e nós também; somos resilientes por natureza. A dor pode estar lá no fundo do coração, mas ela também nos ensina sobre o valor do amor e das conexões humanas. E assim seguimos, sempre lembrando e sempre amando.

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