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4 O silêncio da saudade

Mirella aguardou o pai chegar, com os olhos fixos na porta, a esperança pulsando em seu pequeno coração. A cada barulho, seu olhar brilhava de expectativa, mas as horas foram se arrastando e ele não apareceu. O sol começou a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa, mas ela não desceu para jantar. Não procurou a mãe, que provavelmente estava ocupada com as tarefas da casa. Em vez disso, permaneceu ali, sentada no chão frio da sala, segurando firmemente o desenho que tinha feito para o pai: um desenho colorido de um sol radiante e um homem forte e sorridente.

Quando a noite se adensou e o sono finalmente a venceu, Mirella adormeceu com o desenho colado ao peito, como se de alguma forma isso pudesse trazer seu pai de volta. O mundo ao seu redor desapareceu em um mar de sonhos inocentes.

Na manhã seguinte, o canto dos pássaros a despertou. O sol já brilhava lá fora, mas algo parecia diferente. Mirella correu para o quarto dos pais, seus pequenos pés batendo suavemente no chão. Mas ao abrir a porta, encontrou o quarto vazio. "Papai!" ela gritou com toda a força que sua voz infantil podia reunir. Mas nenhuma resposta ecoou de volta.

A angústia começou a se formar em seu coração, uma sensação estranha que ela não conseguia nomear. Caminhou pela casa, procurando por qualquer sinal dele, qualquer vestígio que pudesse acalmar sua inquietação. Mas tudo estava silencioso e vazio.

Foi então que um carro da funerária parou na frente da casa, quebrando aquele silêncio opressivo. Mirella observou da janela enquanto um homem saía do veículo. Sua mãe apareceu em seguida, os olhos cheios de lágrimas que pareciam transbordar como um rio descontrolado. O coração de Mirella começou a acelerar; algo estava muito errado.

Ela viu quando um corpo foi retirado do carro, coberto por um lençol branco dentro de um caixão que parecia flutuar suavemente no ar. Mirella não entendia o que estava acontecendo; sua mente infantil ainda tentava processar aqueles acontecimentos tão estranhos e dolorosos. O lençol branco parecia tão frio e distante…

—Papai?— A palavra escapuliu de seus lábios como um sussurro perdido entre os ecos do desespero ao seu redor. Mas a única resposta foi o lamento da mãe, que se despedia de uma parte do mundo que nunca mais voltaria.

Naquela fração de segundo, Mirella sentiu uma confusão profunda. O amor por seu pai ainda ardia dentro dela como uma chama indomável; mas o entendimento do que significava aquela cena estava além do alcance de sua inocência. Ela queria apenas correr até ele e mostrar seu desenho colorido, contar-lhe sobre suas aventuras imaginárias e pedir um abraço apertado.

Mas tudo o que restava era aquele silêncio ensurdecedor e uma dor que começava a brotar em seu pequeno coração — uma dor que ela ainda não sabia nomear ou entender completamente. E assim, mesmo sem compreender a gravidade do momento, Mirella ficou ali parada, segurando firme seu desenho colorido, esperando que talvez ainda houvesse chance dele voltar para casa.

A casa, que antes era um refúgio de risadas e brincadeiras, rapidamente se transformou em um lugar de lamentos. Amigos e familiares se aglomeraram, compartilhando suas dores em murmúrios silenciosos, enquanto o clima pesado de tristeza envolvia cada canto. Mirella observou tudo com uma inocência que agora parecia tão distante. O ar estava cheio de palavras não ditas e lágrimas que escorriam pelo rosto de quem a cercava.

Quando ela se aproximou do caixão, seu coração disparou. Viu seu pai ali, como se estivesse em um sono profundo, e a imagem dele a fez sentir uma onda de desespero. Sem pensar duas vezes, correu e abraçou o caixão com toda a força que tinha, como se isso pudesse trazê-lo de volta. “Papai! Acorde! Papai, abra os olhos! Você precisa acordar!” Sua voz ecoava pela sala, cheia de uma urgência desesperada que partia o coração dos presentes.

Na hora do enterro, a situação se tornou insuportável. Mirella lutava contra os braços que tentavam segurá-la; ela não entendia por que estavam tentando afastá-la do pai. “Saiam daqui! Vocês estão sufocando o meu pai!” Ela gritava e batia no coveiro, sua pequena figura contorcendo-se em um acesso de pânico. O mundo ao seu redor parecia girar enquanto a realidade se tornava cada vez mais confusa.

Quando a terra começou a ser jogada sobre o caixão, Mirella sentiu que seu coração se despedaçava. O desespero tomou conta dela como uma onda feroz; tudo ao seu redor desapareceu em uma neblina escura e pesada. Com o peso da dor esmagando seu pequeno corpo, ela desmaiou.

Os adultos rapidamente perceberam o que estava acontecendo e retiraram a menina do local, levando-a para o hospital. Enquanto isso, Núbia — sua mãe — estava paralisada pela própria dor. Ela também havia perdido seu amor, e agora via sua filha lutando contra um desespero que ela mesma sentia tão intensamente. A impotência a consumia; como poderia consolar Mirella quando sua própria alma estava em pedaços?

No hospital, Núbia segurou a mão da filha enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ela queria encontrar as palavras certas para explicar o inexplicável, para acalmar aquele coração partido com um amor que agora parecia tão frágil. Mas não havia palavras que pudessem curar aquela ferida ou trazer de volta o homem que ambos amavam.

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