Mirella aguardou o pai chegar, com os olhos fixos na porta, a esperança pulsando em seu pequeno coração. A cada barulho, seu olhar brilhava de expectativa, mas as horas foram se arrastando e ele não apareceu. O sol começou a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa, mas ela não desceu para jantar. Não procurou a mãe, que provavelmente estava ocupada com as tarefas da casa. Em vez disso, permaneceu ali, sentada no chão frio da sala, segurando firmemente o desenho que tinha feito para o pai: um desenho colorido de um sol radiante e um homem forte e sorridente.
Quando a noite se adensou e o sono finalmente a venceu, Mirella adormeceu com o desenho colado ao peito, como se de alguma forma isso pudesse trazer seu pai de volta. O mundo ao seu redor desapareceu em um mar de sonhos inocentes.
Na manhã seguinte, o canto dos pássaros a despertou. O sol já brilhava lá fora, mas algo parecia diferente. Mirella correu para o quarto dos pais, seus pequenos pés batendo suavemente no chão. Mas ao abrir a porta, encontrou o quarto vazio. "Papai!" ela gritou com toda a força que sua voz infantil podia reunir. Mas nenhuma resposta ecoou de volta.
A angústia começou a se formar em seu coração, uma sensação estranha que ela não conseguia nomear. Caminhou pela casa, procurando por qualquer sinal dele, qualquer vestígio que pudesse acalmar sua inquietação. Mas tudo estava silencioso e vazio.
Foi então que um carro da funerária parou na frente da casa, quebrando aquele silêncio opressivo. Mirella observou da janela enquanto um homem saía do veículo. Sua mãe apareceu em seguida, os olhos cheios de lágrimas que pareciam transbordar como um rio descontrolado. O coração de Mirella começou a acelerar; algo estava muito errado.
Ela viu quando um corpo foi retirado do carro, coberto por um lençol branco dentro de um caixão que parecia flutuar suavemente no ar. Mirella não entendia o que estava acontecendo; sua mente infantil ainda tentava processar aqueles acontecimentos tão estranhos e dolorosos. O lençol branco parecia tão frio e distante…
—Papai?— A palavra escapuliu de seus lábios como um sussurro perdido entre os ecos do desespero ao seu redor. Mas a única resposta foi o lamento da mãe, que se despedia de uma parte do mundo que nunca mais voltaria.
Naquela fração de segundo, Mirella sentiu uma confusão profunda. O amor por seu pai ainda ardia dentro dela como uma chama indomável; mas o entendimento do que significava aquela cena estava além do alcance de sua inocência. Ela queria apenas correr até ele e mostrar seu desenho colorido, contar-lhe sobre suas aventuras imaginárias e pedir um abraço apertado.
Mas tudo o que restava era aquele silêncio ensurdecedor e uma dor que começava a brotar em seu pequeno coração — uma dor que ela ainda não sabia nomear ou entender completamente. E assim, mesmo sem compreender a gravidade do momento, Mirella ficou ali parada, segurando firme seu desenho colorido, esperando que talvez ainda houvesse chance dele voltar para casa.
A casa, que antes era um refúgio de risadas e brincadeiras, rapidamente se transformou em um lugar de lamentos. Amigos e familiares se aglomeraram, compartilhando suas dores em murmúrios silenciosos, enquanto o clima pesado de tristeza envolvia cada canto. Mirella observou tudo com uma inocência que agora parecia tão distante. O ar estava cheio de palavras não ditas e lágrimas que escorriam pelo rosto de quem a cercava.
Quando ela se aproximou do caixão, seu coração disparou. Viu seu pai ali, como se estivesse em um sono profundo, e a imagem dele a fez sentir uma onda de desespero. Sem pensar duas vezes, correu e abraçou o caixão com toda a força que tinha, como se isso pudesse trazê-lo de volta. “Papai! Acorde! Papai, abra os olhos! Você precisa acordar!” Sua voz ecoava pela sala, cheia de uma urgência desesperada que partia o coração dos presentes.
Na hora do enterro, a situação se tornou insuportável. Mirella lutava contra os braços que tentavam segurá-la; ela não entendia por que estavam tentando afastá-la do pai. “Saiam daqui! Vocês estão sufocando o meu pai!” Ela gritava e batia no coveiro, sua pequena figura contorcendo-se em um acesso de pânico. O mundo ao seu redor parecia girar enquanto a realidade se tornava cada vez mais confusa.
Quando a terra começou a ser jogada sobre o caixão, Mirella sentiu que seu coração se despedaçava. O desespero tomou conta dela como uma onda feroz; tudo ao seu redor desapareceu em uma neblina escura e pesada. Com o peso da dor esmagando seu pequeno corpo, ela desmaiou.
Os adultos rapidamente perceberam o que estava acontecendo e retiraram a menina do local, levando-a para o hospital. Enquanto isso, Núbia — sua mãe — estava paralisada pela própria dor. Ela também havia perdido seu amor, e agora via sua filha lutando contra um desespero que ela mesma sentia tão intensamente. A impotência a consumia; como poderia consolar Mirella quando sua própria alma estava em pedaços?
No hospital, Núbia segurou a mão da filha enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ela queria encontrar as palavras certas para explicar o inexplicável, para acalmar aquele coração partido com um amor que agora parecia tão frágil. Mas não havia palavras que pudessem curar aquela ferida ou trazer de volta o homem que ambos amavam.
Na Itália, sob o manto sombrio da máfia siciliana, vive Leonardo Denaro, um jovem de apenas 20 anos, mas já marcado por uma frieza que faz ecoar os sussurros do medo. Ele é o filho mais novo de Matteo Denaro, um mafioso temido e respeitado, cuja crueldade é lendária. Leonardo não é apenas um membro da família; ele é o Consigliere, um estrategista astuto que caminha entre sombras e segredos, sempre com um olhar impassível que parece absorver a dor e o desespero ao seu redor.Enquanto se prepara para o casamento de seu irmão mais velho, Vincent, um subchefe da Cosa Nostra, Leonardo sente a pressão das expectativas que vêm com seu papel. O casamento não é apenas uma celebração; é uma aliança calculada para expandir o domínio da família e aumentar seus lucros. A atmosfera está carregada de tensão e expectativa, onde cada sorriso escondido pode ser uma faca pronta para cortar.A frieza de Leonardo se manifesta em cada passo que ele dá. Ele extermina seus alvos com uma precisão quase cirúrg
Ao chegar na cerimônia, Bianca sentia suas mãos frias e o suor escorrendo por sua testa, misturando-se com as lágrimas que ela se esforçava para não deixar cair. Seu corpo tremia, não apenas de medo, mas de uma sensação avassaladora de pavor. O coração parecia querer sair pela boca, pulsando como um tambor em sua prisão de nervos.Cada passo que dava em direção ao altar era um desafio; seus pés pareciam pesados, e o vestido que vestia estava folgado já que foi feito para sua irm — flutuava ao seu redor como uma nuvem estranha e desconfortável. Os sapatos grandes faziam com que ela se sentisse ainda mais desajeitada e vulnerável. Olhando fixamente para o chão, ela mal conseguia e respirar não conseguia encarar as pessoas ao seu redor. Os olhares eram como lanças, perfurando sua pele.Quando finalmente se aproximou do altar, o murmúrio da multidão cessou. O silêncio foi quebrado por Vincent, que ao perceber a noiva errada, cerrou os punhos em indignação.— Que porra é essa? — ele gritou
A casa era realmente grande e luxuosa, com detalhes que refletiam riqueza e ostentação, mas para Bianca, tudo aquilo não passava de um cenário opressivo. Ela se sentia como uma prisioneira em meio ao esplendor, cercada por paredes que não ofereciam proteção, mas sim um constante lembrete de sua condição submissa. Os sonhos que um dia a animaram pareciam ter se dissipado, como fumaça ao vento, e a ideia de um divórcio era tão distante quanto as estrelas.Na máfia, não pode haver divórcio com isso Bianca seria eternamente uma prisioneira em um casamento vivendo sem amor, como um objeto reprodutor, Ela ouviu dizer que as mulheres da família Denaro eram tratadas como objetos sem valor, sem voz ou direitos. Bianca sabia que sua vida estava destruída, e cada segundo que passava era um lembrete doloroso de que seus desejos e anseios eram irrelevantes. Matteo Denaro, o cabeça da família, não demonstrava qualquer afeto nem mesmo pela esposa. Ele era um homem frio e distante, mais interessado
Ao notar a presença de sua nora, Giulia levantou-se com um sorriso radiante e caminhou até Bianca. —Bom dia, querida! Me desculpe, o cheiro da comida estava tão irresistível que nem percebi você aqui!" O brilho nos olhos de Giulia era acolhedor, mas Bianca sentia um nó no estômago.A jovem estava nervosa diante dos sogros, uma sensação angustiante que a acompanhava desde que se tornara parte da família. Giulia percebeu a tensão de Bianca e a envolveu em um abraço caloroso. O corpo da jovem ficou rígido no início, como se estivesse presa em uma bolha de insegurança, mas aos poucos relaxou, permitindo-se sentir o carinho da sogra.Leonardo entrou na cozinha nesse momento, puxou a cadeira e se sentou à mesa com um sorriso tranquilo. —Bom dia a todos!—As risadas e conversas animadas começaram a fluir, mas Bianca permaneceu de pé, hesitante.Matteo, observando a nora em pé, lançou um olhar gentil e perguntou: —Você não vai tomar café com a gente?—A voz dele era suave, mas Bianca apenas bal
Depois do café da manhã, os homens saíram para cuidar dos assuntos da máfia, deixando Bianca e Giulia sozinhas na imensa casa. Giulia, com seu jeito entusiasmado, começou a mostrar cada cômodo, sua voz vibrante ecoando pelas paredes decoradas.—Olha só essa sala de estar! E aqui temos a biblioteca, onde você pode passar horas mergulhada em bons livros,—dizia Giulia, apontando para os detalhes da casa com carinho. No entanto, uma sombra pairava sobre o ambiente.—Querida, peço desculpas por ontem, no casamento. Pela forma que o Vincent te tratou... ele não deveria ter te deixado sozinha daquele jeito,— disse Giulia, olhando nos olhos de Bianca com sinceridade.Bianca assentiu, sentindo um misto de compreensão e tristeza. —Eu entendo, dona Giulia. Eu também não estava confortável com o casamento.—A lembrança do altar ainda era fresca em sua mente. —Ele estava noivo da minha irmã. Ela é bonita, elegante... E foi ali, no altar, que ele descobriu que não era a noiva que ele sonhou sou uma
A tensão na sala se intensificou à medida que Vincent desceu as escadas, o sangue escorrendo de suas mãos, um sinal claro de que algo terrível havia acontecido. Seus olhos estavam vermelhos de raiva, e a atmosfera era pesada com a expectativa do que estava por vir.A pergunta surgiu dos lábios de sua mãe, Giulia, acompanhada por Matteo e Leonardo, que já estavam armados. O olhar assassino de Vincent encontrou o deles, e a sala ficou em silêncio. —O que aconteceu aqui hoje?— A pergunta cortou o ar como uma lâmina afiada.— O de sempre, filho. Por que a pergunta?—disse Giulia, tentando desviar da gravidade da situação.—E minha esposa? O que aconteceu com minha esposa? — A voz de Vincent era um rosnado, carregada de uma fúria crescente. O desconcerto tomou conta do ambiente; os rostos se tornaram raivosos à medida que as perguntas eram feitas a compreensão nem começava a se formar.—Querido,— Giulia interveio, mas a preocupação em seu olhar era evidente. —Eu passei o dia inteiro com el
Bianca sentiu seu coração aquecer com aquele gesto tão gentil de Vincent. Desde os 10 anos, ela não recebia afeto, e a falta disso a tornava insegura. Ela desejava abraçá-lo, abrir seu coração e compartilhar todas as suas dores e preocupações. No entanto, a coragem lhe faltava. Afinal, ela só conhecera Vincent no dia do casamento, apenas um dia atrás. O medo de depositar suas esperanças nele e acabar se decepcionando a paralisava. Já estava machucada demais; não queria continuar se ferindo.Enquanto ele tocava suavemente seu rosto, Bianca sentiu um arrepio. O cheiro dele evocou lembranças de momentos que ela gostaria de esquecer, mas que estavam ali, vivos em sua mente. Vincent segurou seu queixo e, com um olhar intenso, aproximou os lábios dos dela. O coração de Bianca acelerou; como ela queria aquele beijo! Mas uma sombra de dúvida a envolveu. Ela não era a esposa que ele desejava; na verdade, sentia-se como uma substituta. Com isso em mente, desviou o rosto, fazendo com que os lábi
Ao sair do quarto, Vincent foi invadido por lembranças da noite passada, um turbilhão de emoções que o atingiu como uma onda. Ele se lembrou do momento em que a viu entrar na igreja, deslumbrante em um vestido branco perolado, bordado com detalhes que reluziam sob a luz suave. A calda enorme arrastava-se atrás dela, enquanto seus cabelos estavam presos em um coque elegante, com alguns fios soltos que emolduravam seu rosto delicado. Dois cachos caíam graciosamente sobre suas têmporas, e a maquiagem leve realçava sua beleza natural. Os lábios rosados pareciam convidativos para um beijo, e seu coração pulou ao vê-la apesar do vestido está folgado ela estava linda, e tudo que ele queria era ir até ela.Mas a visão de Bianca não era apenas de beleza; havia tristeza em seus olhos, lágrimas acumuladas que falavam de um sofrimento profundo. Essa dor o atingiu em cheio e o deixou frustrado e furioso consigo mesmo. Ele desejava correr até ela, beijar seus lábios e assegurar que tudo ficaria bem