7 marcas invisíveis

A casa era realmente grande e luxuosa, com detalhes que refletiam riqueza e ostentação, mas para Bianca, tudo aquilo não passava de um cenário opressivo. Ela se sentia como uma prisioneira em meio ao esplendor, cercada por paredes que não ofereciam proteção, mas sim um constante lembrete de sua condição submissa. Os sonhos que um dia a animaram pareciam ter se dissipado, como fumaça ao vento, e a ideia de um divórcio era tão distante quanto as estrelas.

Na máfia, não pode haver divórcio  com isso Bianca seria eternamente uma prisioneira em um casamento vivendo sem amor, como um objeto reprodutor, Ela ouviu dizer que as mulheres da família Denaro eram tratadas como objetos sem valor, sem voz ou direitos. Bianca sabia que sua vida estava destruída, e cada segundo que passava era um lembrete doloroso de que seus desejos e anseios eram irrelevantes. Matteo Denaro, o cabeça da família, não demonstrava qualquer afeto nem mesmo pela esposa. Ele era um homem frio e distante, mais interessado nos negócios do crime do que nas necessidades emocionais de Giulia sua esposa.

 Durante as festas luxuosas que frequentavam, Giulia muitas vezes se via sentada sozinha em uma mesa, enquanto Matteo a ignorava completamente. Ele estava mais preocupado em negociar alianças e fortalecer sua posição na máfia do que em cuidar da mulher ao seu lado. Aquela solidão em meio à multidão era uma das piores torturas que alguém poderia imaginar.

O desprezo de Matteo por Giulia chegou a tal ponto que ele não hesitou em repreendê-la publicamente em uma dessas festas. A cena foi humilhante e chocante; todos os presentes assistiram enquanto ele a ridicularizava diante dos convidados. Essa foi uma das razões pelas quais Beatrice decidiu fugir no dia do casamento. Beatrice sempre sonhou em ser tratada como uma rainha, tendo o mundo ao seus pés mas ao perceber que aquela família não poderia oferecer esse status  que desejava, ela tomou a decisão mais audaciosa de suas vidas. Fugir com outro homem mais velho porém rico.

Bianca chorou até de madrugada, o peso das lágrimas escorrendo por seu rosto e se misturando ao travesseiro. O cansaço a venceu, e ela adormeceu na cama macia de Vincent, envolta em um moletom surrado que parecia carregar o peso de suas angústias. Encolhida em um canto da cama, seu coração se apertava a cada pensamento que a assaltava. O lugar onde sua cabeça repousava estava manchado de lágrimas, um testemunho silencioso de sua dor e confusão.

Ela sentia um medo paralisante, uma sombra que a acompanhava constantemente, como um manto escuro que a envolvia e a sufocava. O temor de que seu marido pudesse aparecer a qualquer momento e forçá-la a cumprir com os deveres de mulher era uma realidade aterradora. O único papel que lhe fora ensinado era o de gerar filhos, como se sua identidade se resumisse a isso. Bianca sempre ouvira de sua mãe que a mulher deveria se submeter ao marido, aceitar sua posição como serva e guardiã do lar. Mas, em seu íntimo, ela sabia que não era assim que queria viver.

Nunca havia namorado antes; era inocente e pura, seus sonhos entrelaçados com a expectativa de um amor verdadeiro. Ela sempre sonhou em entregar sua virgindade ao seu futuro marido como um presente de casamento, uma demonstração de amor e confiança. No entanto, o destino lhe pregou uma peça cruel ao forçá-la a casar-se com o noivo da irmã, um homem que mostrou desprezo por ela, mas também a humilhou em público. Como poderia entregar algo tão precioso assim para alguém que não a valorizava?

Com esses pensamentos o sono a venceu, levando-a para longe daquela realidade opressora.

Quando acordou, os primeiros raios de sol filtravam-se pela janela, aquecendo seu corpo com um edredom aconchegante. Ao abrir os olhos, sentiu uma onda de surpresa ao perceber que Vincent ainda não havia retornado. Um alívio inesperado tomou conta dela; agradeceu mentalmente por ele não ter aparecido. O desprezo dele era tão grande assim? A ausência dele fazia ecoar perguntas em sua mente, como um vazio que nunca parecia se preencher.

Ela levantou da cama com um misto de confusão e determinação, mas a mente ainda estava turvada pelas perguntas que a assombravam. Quem havia coberto seu corpo durante aquela madrugada fria? A lembrança da solidão e do medo a acompanhava enquanto se dirigia ao banheiro. Ao entrar, foi recebida por uma visão de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes luxuosos. Porém, ao invés de se sentir tentada, uma tristeza a invadiu. Sabia que tudo aquilo havia sido preparado para Beatrice, sua irmã, e não para ela.

Com um toque delicado, Bianca abriu o closet e seus olhos se perderam em um mar de roupas elegantes, sapatos reluzentes e joias deslumbrantes. Era um mundo que parecia tão distante dela, um mundo que não lhe pertencia. O luxo era palpável, mas ela não ousou tocar em nada – cada peça ali era um lembrete da vida que tudo era para sua irmã.

Um suspiro pesado escapou de seus lábios enquanto ela revirava sua pequena mala. Com cuidado, tirou um vestido floral simples e leve, algo que refletia sua verdadeira essência. Quando vestiu a peça, sentiu uma leveza momentânea – como se aquele vestido fosse uma forma de afirmar quem ela realmente era por dentro.

Bianca desceu as escadas, seu coração acelerado enquanto admirava a beleza da casa, mas também se sentindo um pouco perdida em meio à opulência. As paredes eram adornadas com quadros e os móveis, de madeira escura e polida, tinham um ar de sofisticação que a deixava um tanto intimidada. Ao se perder em seus pensamentos, foi interrompida por uma empregada que, com um sorriso gentil, perguntou se ela estava procurando a cozinha.

—Bom dia! A senhora quer que eu mostre a casa?— perguntou a mulher com uma cordialidade que fez Bianca sentir-se um pouco mais à vontade.

—Não, obrigada. Só o caminho para a cozinha, por favor,—respondeu Bianca, tentando manter a simplicidade na conversa. A mulher, compreensiva, apontou o caminho e observou enquanto Bianca seguia na direção correta.

Ao chegar à cozinha, Bianca sentiu uma onda de familiaridade. A geladeira estava repleta de ingredientes frescos e coloridos. Sem hesitar, ela abriu as portas e começou a preparar um rico café da manhã. Era algo que sempre fizera na casa de seus pais; cozinhar era algo que gostava muito .

Enquanto mexia em panelas e frigideiras, o cheiro do café fresco e dos pães quentes começou a se espalhar pela casa, invadindo cada canto com aromas acolhedores. Ela se sentia viva naquele ambiente – uma sensação que não experimentava há tempos. A cozinha era seu refúgio, um espaço onde podia ser ela mesma sem medo de julgamentos.

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