Capítulo 17Pedro MonteiroA descoberta de que Eliza era filha do Manoel me pegou de surpresa. Eu já sabia dos outros filhos dele fora do casamento, mas isso? Logo ela, por quem eu estava começando a sentir algo especial? Era um sentimento sutil, mas impossível de negar.Enquanto isso, meu relacionamento com Heloísa esfriava cada vez mais. Antes, eu ficava ansioso para ouvir sua risada, para contar as novidades do dia. Agora, nossos jantares eram preenchidos apenas pelo barulho dos talheres.Semanas atrás, tentei reacender algo com Heloísa. Reservei uma mesa no restaurante do nosso primeiro encontro, esperando que ela notasse o gesto. Mas ela passou a noite toda no celular. Brinquei:— Espero que o jantar esteja melhor que essa notificação.Ela só deu um meio sorriso. Aquele silêncio doeu mais que qualquer briga.Até os pequenos momentos haviam perdido a graça. Os beijos de despedida pareciam mais uma obrigação do que carinho. Era como se fôssemos dois estranhos fingindo intimidade.Co
Capítulo 18Pedro MonteiroVer Jonas quase me fez perder o controle. Só de olhar para ele, senti meus punhos se fecharem automaticamente. As palavras de Eliza e Carla sobre ele ecoavam na minha mente. Depois de circular pelo evento e cumprimentar algumas pessoas, decidi me aproximar, mesmo relutante.— E aí, Jonas. Tudo bem? — Perguntei, mantendo a voz firme, embora o desprezo fosse difícil de esconder.— Tudo ótimo. E você? — respondeu ele, no mesmo tom casual, como se fôssemos velhos amigos.— Também. — Contive o “ótimo” que quase escapou.Afonso, que estava por perto, percebeu o clima pesado e tentou aliviar.— Vocês já se conhecem?— Sim, trabalhamos juntos na mesma empresa — respondi sem me alongar.Jonas aproveitou para provocar. Ele olhou para Afonso com aquele sorriso irritante e deu uma risada curta.— Afonso, você é mesmo desligado. Já te falei que trabalho na Monteiro. Minha ex-namorada também.Afonso riu sem jeito, mas logo ficou sério, como se algo importante tivesse vindo
Capítulo 19Eliza CamposMe olhei no espelho enquanto arrumava o cabelo, pensando no convite de Carla e Afonso. Acabei aceitando, principalmente porque sabia que Pedro estaria lá. Senti um pouco de aperto ao pensar em Jonas, mas precisava relaxar um pouco.Decidi me produzir para a festa. Coloquei meu vestido preto favorito, ombro a ombro, longo, com uma fenda na coxa. O corte justo realçava minhas curvas, que por muito tempo tentei esconder, mesmo com todos os elogios que recebia. Na maquiagem, apostei na simplicidade: apenas um batom vermelho que destacava meus lábios e me dava aquela confiança extra.Depois de me arrumar, pedi um carro por aplicativo para evitar dor de cabeça com trânsito. Logo chegou um senhor de cabelos grisalhos, super simpático.— Boa noite, moça linda. — comentou o motorista pelo retrovisor assim que entrei no carro. — Vai conquistar o mundo hoje?Ri, ajeitando o cinto.— Boa noite! Nada disso, só vou pra uma festinha mesmo.— Ah, tá explicado. Tá tão chique qu
Capítulo 20.Pedro Monteiro.A música alta da festa não abafava a tensão entre nós. Heloísa me encarava, processando o que eu acabara de dizer.— Terminar? Como assim terminar? Por quê? — sua voz saiu contida.Passei a mão pelo rosto. Alguns convidados já cochichavam.— Não tá dando mais, Helô. Faz tempo que a gente não se entende.— É por causa da Eliza, né? — os olhos dela brilharam de raiva.A pergunta me atingiu, mas mantive o rosto neutro.— Não, é por nossa causa. É pelo jeito que você mudou — respirei fundo. — Como você trata todo mundo... deveria ficar feliz por ganhar uma irmã.O silêncio que se seguiu foi cortante, pesado como uma tempestade prestes a desabar. Do outro lado, sua expressão endureceu, e eu vi o brilho de algo perigoso em seus olhos.— Ela não é minha irmã. É só uma bastarda que meu pai...— Olha quem fala — as palavras escaparam. — E você? Acha que é diferente?Ela piscou, confusa.— Do que você tá falando?Meu coração disparou. — Seu pai teve um caso com sua
Capítulo 21.Eliza Campos.Cada passo de Pedro ecoa pelo estacionamento deserto, um ritmo irregular que parece marcar a tensão do momento. Da entrada do prédio, olhares curiosos nos seguem, era um verdadeiro espetáculo gratuito para quem busca drama numa noite qualquer.No elevador, seus braços me envolvem com uma delicadeza calculada que me irrita ainda mais. Pelo reflexo do espelho, percebo uma senhora nos observando, seus olhos brilhando com aquela sabedoria que só os anos podem dar.— Ah, esses jovens de hoje... — ela murmura, ajeitando a bolsa. — No meu tempo, a gente pelo menos esperava o terceiro encontro para esse tipo de cena.Sinto minhas bochechas queimarem. Pedro, é claro, tem a audácia de rir.Quando todo mundo desce, o silêncio pesa entre nós. A presença dele parece ocupar todo o espaço do elevador, nada como aqueles encontros aparentemente casuais na cafeteria. Seu perfume era uma mistura sofisticada de café torrado e algum sabonete absurdamente caro, que invade meus sen
Capítulo 22.Pedro Monteiro.O silêncio após minha revelação sobre o pai dela pesou como chumbo. Observei Eliza, esperando alguma reação - qualquer coisa - mas ela continuava ali, impassível, seus olhos verdes me atravessando com uma intensidade que me fez engolir em seco.— Olha, eu sei que é muita coisa pra processar — quebrei o silêncio, minha voz saindo mais rouca que o normal. — A gente também ficou sem chão quando descobriu. Mas com o tempo... — passei a mão pelo rosto, buscando jeito de explicar — deu pra entender que seu pai só queria proteger vocês. Mesmo tendo feito tudo errado.Eliza piscou algumas vezes, como se voltasse à realidade. Seus dedos batucavam nervosamente no braço do sofá.— Tá difícil de acreditar — ela murmurou. Respirei fundo. Se aquilo já era pesado, o próximo seria pior.— Tem mais uma coisa que você precisa saber — as palavras saíram pesadas. — O Thomas é casado.Foi como se tivesse dado um tapa nela. Vi toda a cor sumir do seu rosto, a boca entreaberta e
Capítulo 23.Eliza Campos.O modo como Pedro me olhava causava certa sensação estranha demais, quase intimidante, mas... algo dentro de mim se acendia com aquele olhar. O desejo estampado nos olhos dele era impossível de esconder.Ele mexeu no guarda-roupa e voltou com uma camiseta e uma cueca box.— Pra você dormir — falou, tentando parecer casual, mas seus olhos entregavam tudo.— Valeu — peguei rápido e praticamente corri para o banheiro antes que ele falasse mais alguma coisa.Meu coração batia a mil. Não sabia se era pelo jeito que ele me olhou ou porque eu ia vestir a roupa dele. Droga, até as peças tinham aquele cheiro que só ele tinha - meio amadeirado, fresco. Quando vesti, foi como se ele estivesse me abraçando.Me olhei no espelho e ri, nervosa. A camiseta era gigante, batia na metade da coxa, e aquela cueca box... parecia que ele estava mandando uma mensagem meio óbvia. Respirei fundo e voltei para o quarto.Congelei na porta. Pedro estava deitado na cama, mãos atrás da cab
Capítulo 24.Pedro Monteiro.A porta bateu, um estrondo no silêncio quase opressor do apartamento. Observei o táxi de Eliza sumir pela janela, o vazio que ela deixou ecoando mais alto que qualquer ruído.Meu refúgio se transformou em um lugar estranho, desconfortável. Caminhei até o quarto e, no chão, avistei os scarpins pretos dela jogados de qualquer jeito.Peguei os sapatos e ri sozinho. — Cinderela às avessas, não é? Saiu descalça, essa maluca...Enquanto segurava os scarpins, a lembrança da noite anterior, Eliza radiante em seu vestido preto, invadiu meus pensamentos. Perfeita, como sempre.Foi então que o toque do celular me tirou do devaneio. "Mãe" brilhava na tela. Suspirei, sentindo aquele peso familiar no estômago.— Pedro, soube que você e a Heloísa terminaram — disse minha mãe, a voz suave, quase melodramática.Apertei o celular, tentando controlar a paciência.— Foi melhor assim, mãe — respondi.O silêncio que se seguiu foi mais incisivo que qualquer palavra. Ela nunca se