Capítulo 23.Eliza Campos.O modo como Pedro me olhava causava certa sensação estranha demais, quase intimidante, mas... algo dentro de mim se acendia com aquele olhar. O desejo estampado nos olhos dele era impossível de esconder.Ele mexeu no guarda-roupa e voltou com uma camiseta e uma cueca box.— Pra você dormir — falou, tentando parecer casual, mas seus olhos entregavam tudo.— Valeu — peguei rápido e praticamente corri para o banheiro antes que ele falasse mais alguma coisa.Meu coração batia a mil. Não sabia se era pelo jeito que ele me olhou ou porque eu ia vestir a roupa dele. Droga, até as peças tinham aquele cheiro que só ele tinha - meio amadeirado, fresco. Quando vesti, foi como se ele estivesse me abraçando.Me olhei no espelho e ri, nervosa. A camiseta era gigante, batia na metade da coxa, e aquela cueca box... parecia que ele estava mandando uma mensagem meio óbvia. Respirei fundo e voltei para o quarto.Congelei na porta. Pedro estava deitado na cama, mãos atrás da cab
Capítulo 24.Pedro Monteiro.A porta bateu, um estrondo no silêncio quase opressor do apartamento. Observei o táxi de Eliza sumir pela janela, o vazio que ela deixou ecoando mais alto que qualquer ruído.Meu refúgio se transformou em um lugar estranho, desconfortável. Caminhei até o quarto e, no chão, avistei os scarpins pretos dela jogados de qualquer jeito.Peguei os sapatos e ri sozinho. — Cinderela às avessas, não é? Saiu descalça, essa maluca...Enquanto segurava os scarpins, a lembrança da noite anterior, Eliza radiante em seu vestido preto, invadiu meus pensamentos. Perfeita, como sempre.Foi então que o toque do celular me tirou do devaneio. "Mãe" brilhava na tela. Suspirei, sentindo aquele peso familiar no estômago.— Pedro, soube que você e a Heloísa terminaram — disse minha mãe, a voz suave, quase melodramática.Apertei o celular, tentando controlar a paciência.— Foi melhor assim, mãe — respondi.O silêncio que se seguiu foi mais incisivo que qualquer palavra. Ela nunca se
Capítulo 25.Eliza Campos.Eu batia com os meus dedos na mesa enquanto Pedro analisava o projeto. O barulho das páginas sendo viradas era a única coisa quebrando o silêncio tenso. A luz do fim de tarde entrava preguiçosa pela janela, dançando com as sombras no chão. Era impossível ignorar como aquela luz brincava no rosto dele, totalmente concentrado.Quando ele chegou à última página, parecia que o tempo havia parado.— Nossa, Eliza... — Ele soltou um suspiro e me encarou com uma admiração que fez meu estômago dar piruetas. — Isso é genial.Senti o rosto esquentar no mesmo instante. Tentei disfarçar mexendo nos papéis, mas era pura encenação. Ele se aproximou, encostando na minha mesa, e o perfume dele preencheu o ar entre nós.— É só um rascunho — minimizei, minha voz saindo mais baixa que o normal. — Ainda precisa de vários ajustes.Pedro balançou a cabeça com um meio sorriso, enquanto seus olhos percorriam o projeto novamente. Parecia que cada detalhe fazia sentido especial para el
Capítulo 26.Pedro Monteiro.A conversa tensa com Eliza ecoava na minha cabeça enquanto eu voltava ao escritório. Queria organizar meus pensamentos, mas a confusão parecia ter montado acampamento. Aquelas palavras dela, “você mexe comigo”, ressoavam insistentemente. Será que ela falava sério? E eu tenho alguma chance com aquela mulher que, de repente, se tornou o centro do meu universo?Como se o universo decidisse me testar, um estrondo me tirou dos pensamentos. A porta se abriu com violência, revelando Heloísa e sua fúria habitual. A tensão no ar era palpável. Hora da discussão inevitável sobre o fim do nosso relacionamento.— O que você quer? — perguntei, tentando disfarçar a irritação.— Pedro, vamos pular os joguinhos. Você sabe muito bem por que estou aqui. — Os olhos dela brilhavam com uma intensidade quase ameaçadora.Respirei fundo. Eu sabia que ia ser difícil manter a paciência.— Heloísa, você sabe por que terminamos. — Minha voz saiu firme, mas controlada. — Eu não te amo.
Capítulo 27.Eliza CamposPedro e eu estávamos ajustando os últimos detalhes do projeto da comunidade, mas ele claramente não estava ali de corpo e alma. A cada cinco minutos, soltava um suspiro, mexia na gola da camisa ou balançava a perna sem parar. Não aguentei:— Pedro, o que tá pegando? Você parece nervoso.Ele parou de balançar a perna, mas sua expressão continuava carregada.— Contei ao seu pai que terminei com a Heloísa.Minha mente congelou. As palavras ecoaram como um alarme. Antes que eu conseguisse reagir, ele continuou:— E também avisei que a dívida dele com meu pai não é mais problema meu. Já carreguei isso por tempo demais.Ah, ótimo. Mais uma bomba para a coleção.— Você tá falando sério? — Minha voz quase falhou. — E como ele reagiu?Pedro deu uma risada curta, amarga.— Tentou me fazer mudar de ideia, mas, no fundo, acho que ele já esperava por isso.Suspirei, sentindo uma mistura de alívio e pânico.— Tá, mas... e a Heloísa? O Manoel? Eles descobriram o motivo do té
Capítulo 28.Eliza Campos.Saí da empresa com a cabeça a mil. O convite de Pedro não saía da minha mente, e eu ainda me perguntava por que aceitei. Mas agora tinha algo mais importante para resolver: precisava falar com minha mãe. Meu coração batia forte quando toquei a campainha.Minha mãe abriu a porta rapidamente, o sorriso em seu rosto fugiu do seu rosto assim que me viu. Já esperava este tipo de reação.— Ah, é você... — Sua voz saiu gelada. — O que foi dessa vez, Eliza?Respirei fundo. Minhas mãos estavam geladas, mas não ia deixar isso me parar.— Vim conversar, mãe. Descobri algumas coisas e acho que você tem muito o que me explicar.Ela cruzou os braços e deu aquele sorriso irônico que eu tanto odiava.— E o que exatamente você descobriu? Que seu pai era dono da empresa onde você fez entrevista?Minha respiração ficou presa por um instante. Aquilo me pegou de surpresa.— Era dono. Agora é do ex-cunhado dele. E você sabia disso o tempo todo, não é?— Sabia. — Ela falou como se
Capítulo 29.Eliza Campos.Um barulho de algo caindo me acordou. Abri os olhos devagar, ainda sentindo o peso das lágrimas da noite anterior. Lucas estava no meio do quarto, arrumando algumas coisas. A cena era tão cômica que não consegui segurar uma risada.— Puts, te acordei — ele se virou para mim todo sem jeito, derrubando mais coisas no processo. — Foi mal.— Só você mesmo pra fazer esse show logo cedo — falei, ainda rindo. Era bom rir um pouco depois de tudo.Me levantei e fui até o espelho do guarda-roupa dele e, nossa, que susto. Meu cabelo parecia um ninho de passarinho, e meus olhos... bem, dava para saber que eu tinha chorado a noite toda.— Que horas são? — perguntei, tentando parecer normal, mas minha voz saiu toda rouca.Lucas consultou o relógio enquanto tentava, sem sucesso, domar aquela pilha de roupas.— Nove. Você não tinha que trabalhar hoje?Me joguei de volta na cama, sentindo como se pesasse uma tonelada.— Tô de folga — respondi, e antes que pudesse me conter, a
Capítulo 30.Eliza Campos.A tensão pairava no ar. Lucas me encarava com aquela mistura familiar de impaciência e preocupação – um interrogatório silencioso que eu conhecia bem.— Eliza, aonde você vai jantar, afinal? — insistiu ele, com aquele tom protetor que me dava vontade de revirar os olhos.O ar entre nós ficou pesado, carregado com a mesma tensão familiar de sempre. Ajeitei a alça da bolsa no ombro, respirei fundo e me forcei a manter a voz calma.— Já falei, Lucas. Vou sair com um amigo do trabalho. Relaxa! — respondi, tentando soar casual, mas a irritação já começava a me dominar.Ele arqueou a sobrancelha, cético como sempre. Era como se tentasse ler meus pensamentos, o que só me deixava mais inquieta.— Tá bem, vou acreditar. Mas me avisa quando chegar e que horas vai embora. Te busco.Suas palavras soaram como um ultimato, e senti meu rosto esquentar. Lucas sempre fazia isso – fingir que cedia, só para logo em seguida tentar retomar o controle. Às vezes, ele fazia isso sem