Capítulo 24.Pedro Monteiro.A porta bateu, um estrondo no silêncio quase opressor do apartamento. Observei o táxi de Eliza sumir pela janela, o vazio que ela deixou ecoando mais alto que qualquer ruído.Meu refúgio se transformou em um lugar estranho, desconfortável. Caminhei até o quarto e, no chão, avistei os scarpins pretos dela jogados de qualquer jeito.Peguei os sapatos e ri sozinho. — Cinderela às avessas, não é? Saiu descalça, essa maluca...Enquanto segurava os scarpins, a lembrança da noite anterior, Eliza radiante em seu vestido preto, invadiu meus pensamentos. Perfeita, como sempre.Foi então que o toque do celular me tirou do devaneio. "Mãe" brilhava na tela. Suspirei, sentindo aquele peso familiar no estômago.— Pedro, soube que você e a Heloísa terminaram — disse minha mãe, a voz suave, quase melodramática.Apertei o celular, tentando controlar a paciência.— Foi melhor assim, mãe — respondi.O silêncio que se seguiu foi mais incisivo que qualquer palavra. Ela nunca se
Capítulo 25.Eliza Campos.Eu batia com os meus dedos na mesa enquanto Pedro analisava o projeto. O barulho das páginas sendo viradas era a única coisa quebrando o silêncio tenso. A luz do fim de tarde entrava preguiçosa pela janela, dançando com as sombras no chão. Era impossível ignorar como aquela luz brincava no rosto dele, totalmente concentrado.Quando ele chegou à última página, parecia que o tempo havia parado.— Nossa, Eliza... — Ele soltou um suspiro e me encarou com uma admiração que fez meu estômago dar piruetas. — Isso é genial.Senti o rosto esquentar no mesmo instante. Tentei disfarçar mexendo nos papéis, mas era pura encenação. Ele se aproximou, encostando na minha mesa, e o perfume dele preencheu o ar entre nós.— É só um rascunho — minimizei, minha voz saindo mais baixa que o normal. — Ainda precisa de vários ajustes.Pedro balançou a cabeça com um meio sorriso, enquanto seus olhos percorriam o projeto novamente. Parecia que cada detalhe fazia sentido especial para el
Capítulo 26.Pedro Monteiro.A conversa tensa com Eliza ecoava na minha cabeça enquanto eu voltava ao escritório. Queria organizar meus pensamentos, mas a confusão parecia ter montado acampamento. Aquelas palavras dela, “você mexe comigo”, ressoavam insistentemente. Será que ela falava sério? E eu tenho alguma chance com aquela mulher que, de repente, se tornou o centro do meu universo?Como se o universo decidisse me testar, um estrondo me tirou dos pensamentos. A porta se abriu com violência, revelando Heloísa e sua fúria habitual. A tensão no ar era palpável. Hora da discussão inevitável sobre o fim do nosso relacionamento.— O que você quer? — perguntei, tentando disfarçar a irritação.— Pedro, vamos pular os joguinhos. Você sabe muito bem por que estou aqui. — Os olhos dela brilhavam com uma intensidade quase ameaçadora.Respirei fundo. Eu sabia que ia ser difícil manter a paciência.— Heloísa, você sabe por que terminamos. — Minha voz saiu firme, mas controlada. — Eu não te amo.
Capítulo 27.Eliza CamposPedro e eu estávamos ajustando os últimos detalhes do projeto da comunidade, mas ele claramente não estava ali de corpo e alma. A cada cinco minutos, soltava um suspiro, mexia na gola da camisa ou balançava a perna sem parar. Não aguentei:— Pedro, o que tá pegando? Você parece nervoso.Ele parou de balançar a perna, mas sua expressão continuava carregada.— Contei ao seu pai que terminei com a Heloísa.Minha mente congelou. As palavras ecoaram como um alarme. Antes que eu conseguisse reagir, ele continuou:— E também avisei que a dívida dele com meu pai não é mais problema meu. Já carreguei isso por tempo demais.Ah, ótimo. Mais uma bomba para a coleção.— Você tá falando sério? — Minha voz quase falhou. — E como ele reagiu?Pedro deu uma risada curta, amarga.— Tentou me fazer mudar de ideia, mas, no fundo, acho que ele já esperava por isso.Suspirei, sentindo uma mistura de alívio e pânico.— Tá, mas... e a Heloísa? O Manoel? Eles descobriram o motivo do té
Capítulo 28.Eliza Campos.Saí da empresa com a cabeça a mil. O convite de Pedro não saía da minha mente, e eu ainda me perguntava por que aceitei. Mas agora tinha algo mais importante para resolver: precisava falar com minha mãe. Meu coração batia forte quando toquei a campainha.Minha mãe abriu a porta rapidamente, o sorriso em seu rosto fugiu do seu rosto assim que me viu. Já esperava este tipo de reação.— Ah, é você... — Sua voz saiu gelada. — O que foi dessa vez, Eliza?Respirei fundo. Minhas mãos estavam geladas, mas não ia deixar isso me parar.— Vim conversar, mãe. Descobri algumas coisas e acho que você tem muito o que me explicar.Ela cruzou os braços e deu aquele sorriso irônico que eu tanto odiava.— E o que exatamente você descobriu? Que seu pai era dono da empresa onde você fez entrevista?Minha respiração ficou presa por um instante. Aquilo me pegou de surpresa.— Era dono. Agora é do ex-cunhado dele. E você sabia disso o tempo todo, não é?— Sabia. — Ela falou como se
Capítulo 29.Eliza Campos.Um barulho de algo caindo me acordou. Abri os olhos devagar, ainda sentindo o peso das lágrimas da noite anterior. Lucas estava no meio do quarto, arrumando algumas coisas. A cena era tão cômica que não consegui segurar uma risada.— Puts, te acordei — ele se virou para mim todo sem jeito, derrubando mais coisas no processo. — Foi mal.— Só você mesmo pra fazer esse show logo cedo — falei, ainda rindo. Era bom rir um pouco depois de tudo.Me levantei e fui até o espelho do guarda-roupa dele e, nossa, que susto. Meu cabelo parecia um ninho de passarinho, e meus olhos... bem, dava para saber que eu tinha chorado a noite toda.— Que horas são? — perguntei, tentando parecer normal, mas minha voz saiu toda rouca.Lucas consultou o relógio enquanto tentava, sem sucesso, domar aquela pilha de roupas.— Nove. Você não tinha que trabalhar hoje?Me joguei de volta na cama, sentindo como se pesasse uma tonelada.— Tô de folga — respondi, e antes que pudesse me conter, a
Capítulo 30.Eliza Campos.Lucas me encarava do outro lado da sala, a expressão dividida entre preocupação e desconfiança. O ar entre nós pesava com palavras não ditas.— Me conta direito sobre esse jantar.Ajeitei a bolsa no ombro, contendo um suspiro. — É só um jantar com um colega do trabalho, nada de mais.Ele bateu os dedos na mesa antes de inclinar a cabeça daquele jeito característico, como se tentasse ler nas entrelinhas.— Tá. — Ele inclinou a cabeça daquele jeito característico. — Que horas acaba? Posso te buscar.Não era um pedido, e isso me fez ferver por dentro. Lucas sempre fazia isso, fingia ceder só para logo tentar reassumir o controle da situação. Às vezes conscientemente, às vezes não.— Não precisa, já combinei carona.Lucas recuou, mas seu silêncio dizia mais que palavras. Passamos a tarde como sempre fazíamos, pipoca e filme, mas havia uma tensão no ar que nenhum de nós ousava nomear.[...]Em casa, revolvi o guarda-roupa até encontrar o vestido azul-claro. Prese
Capítulo 31.Eliza Campos.Quando chegamos à casa da mãe do Pedro, fiquei boquiaberta. A mansão era gigante, toda iluminada, igualzinha àquelas que a gente só vê em filme. Fiquei ali, parada, tentando processar que lugar era aquele.— Uau — foi a única coisa que consegui dizer.— Minha mãe sempre foi exagerada — Pedro riu do meu espanto.Um segurança apareceu do nada, apontando uma lanterna na nossa direção. Ele deu uma olhada nada discreta pra mim, do tipo que dá pra perceber na hora. Pedro também notou e não gostou nem um pouco.— Pode deixar que eu mesmo estaciono — ele disse ao segurança, num tom educado, mas que deixava claro que era melhor ele circular.O estacionamento parecia uma exposição de carros caros. Tinha tanto carro que até estranhei.— Nossa, sua mãe chamou a cidade inteira? — perguntei, vendo o movimento.— Pois é... E nem me avisou nada — Pedro respondeu, franzindo a testa.Descemos do carro e caminhamos até a entrada. Eu entrelacei os dedos, meio nervosa. Pedro perc