Capítulo 21.Eliza Campos.Cada passo de Pedro ecoa pelo estacionamento deserto, um ritmo irregular que parece marcar a tensão do momento. Da entrada do prédio, olhares curiosos nos seguem, era um verdadeiro espetáculo gratuito para quem busca drama numa noite qualquer.No elevador, seus braços me envolvem com uma delicadeza calculada que me irrita ainda mais. Pelo reflexo do espelho, percebo uma senhora nos observando, seus olhos brilhando com aquela sabedoria que só os anos podem dar.— Ah, esses jovens de hoje... — ela murmura, ajeitando a bolsa. — No meu tempo, a gente pelo menos esperava o terceiro encontro para esse tipo de cena.Sinto minhas bochechas queimarem. Pedro, é claro, tem a audácia de rir.Quando todo mundo desce, o silêncio pesa entre nós. A presença dele parece ocupar todo o espaço do elevador, nada como aqueles encontros aparentemente casuais na cafeteria. Seu perfume era uma mistura sofisticada de café torrado e algum sabonete absurdamente caro, que invade meus sen
Capítulo 22.Pedro Monteiro.O silêncio após minha revelação sobre o pai dela pesou como chumbo. Observei Eliza, esperando alguma reação - qualquer coisa - mas ela continuava ali, impassível, seus olhos verdes me atravessando com uma intensidade que me fez engolir em seco.— Olha, eu sei que é muita coisa pra processar — quebrei o silêncio, minha voz saindo mais rouca que o normal. — A gente também ficou sem chão quando descobriu. Mas com o tempo... — passei a mão pelo rosto, buscando jeito de explicar — deu pra entender que seu pai só queria proteger vocês. Mesmo tendo feito tudo errado.Eliza piscou algumas vezes, como se voltasse à realidade. Seus dedos batucavam nervosamente no braço do sofá.— Tá difícil de acreditar — ela murmurou. Respirei fundo. Se aquilo já era pesado, o próximo seria pior.— Tem mais uma coisa que você precisa saber — as palavras saíram pesadas. — O Thomas é casado.Foi como se tivesse dado um tapa nela. Vi toda a cor sumir do seu rosto, a boca entreaberta e
Capítulo 23.Eliza Campos.O modo como Pedro me olhava causava certa sensação estranha demais, quase intimidante, mas... algo dentro de mim se acendia com aquele olhar. O desejo estampado nos olhos dele era impossível de esconder.Ele mexeu no guarda-roupa e voltou com uma camiseta e uma cueca box.— Pra você dormir — falou, tentando parecer casual, mas seus olhos entregavam tudo.— Valeu — peguei rápido e praticamente corri para o banheiro antes que ele falasse mais alguma coisa.Meu coração batia a mil. Não sabia se era pelo jeito que ele me olhou ou porque eu ia vestir a roupa dele. Droga, até as peças tinham aquele cheiro que só ele tinha - meio amadeirado, fresco. Quando vesti, foi como se ele estivesse me abraçando.Me olhei no espelho e ri, nervosa. A camiseta era gigante, batia na metade da coxa, e aquela cueca box... parecia que ele estava mandando uma mensagem meio óbvia. Respirei fundo e voltei para o quarto.Congelei na porta. Pedro estava deitado na cama, mãos atrás da cab
Capítulo 24.Pedro Monteiro.A porta bateu, um estrondo no silêncio quase opressor do apartamento. Observei o táxi de Eliza sumir pela janela, o vazio que ela deixou ecoando mais alto que qualquer ruído.Meu refúgio se transformou em um lugar estranho, desconfortável. Caminhei até o quarto e, no chão, avistei os scarpins pretos dela jogados de qualquer jeito.Peguei os sapatos e ri sozinho. — Cinderela às avessas, não é? Saiu descalça, essa maluca...Enquanto segurava os scarpins, a lembrança da noite anterior, Eliza radiante em seu vestido preto, invadiu meus pensamentos. Perfeita, como sempre.Foi então que o toque do celular me tirou do devaneio. "Mãe" brilhava na tela. Suspirei, sentindo aquele peso familiar no estômago.— Pedro, soube que você e a Heloísa terminaram — disse minha mãe, a voz suave, quase melodramática.Apertei o celular, tentando controlar a paciência.— Foi melhor assim, mãe — respondi.O silêncio que se seguiu foi mais incisivo que qualquer palavra. Ela nunca se
Capítulo 25.Eliza Campos.Eu batia com os meus dedos na mesa enquanto Pedro analisava o projeto. O barulho das páginas sendo viradas era a única coisa quebrando o silêncio tenso. A luz do fim de tarde entrava preguiçosa pela janela, dançando com as sombras no chão. Era impossível ignorar como aquela luz brincava no rosto dele, totalmente concentrado.Quando ele chegou à última página, parecia que o tempo havia parado.— Nossa, Eliza... — Ele soltou um suspiro e me encarou com uma admiração que fez meu estômago dar piruetas. — Isso é genial.Senti o rosto esquentar no mesmo instante. Tentei disfarçar mexendo nos papéis, mas era pura encenação. Ele se aproximou, encostando na minha mesa, e o perfume dele preencheu o ar entre nós.— É só um rascunho — minimizei, minha voz saindo mais baixa que o normal. — Ainda precisa de vários ajustes.Pedro balançou a cabeça com um meio sorriso, enquanto seus olhos percorriam o projeto novamente. Parecia que cada detalhe fazia sentido especial para el
Capítulo 26.Pedro Monteiro.A conversa tensa com Eliza ecoava na minha cabeça enquanto eu voltava ao escritório. Queria organizar meus pensamentos, mas a confusão parecia ter montado acampamento. Aquelas palavras dela, “você mexe comigo”, ressoavam insistentemente. Será que ela falava sério? E eu tenho alguma chance com aquela mulher que, de repente, se tornou o centro do meu universo?Como se o universo decidisse me testar, um estrondo me tirou dos pensamentos. A porta se abriu com violência, revelando Heloísa e sua fúria habitual. A tensão no ar era palpável. Hora da discussão inevitável sobre o fim do nosso relacionamento.— O que você quer? — perguntei, tentando disfarçar a irritação.— Pedro, vamos pular os joguinhos. Você sabe muito bem por que estou aqui. — Os olhos dela brilhavam com uma intensidade quase ameaçadora.Respirei fundo. Eu sabia que ia ser difícil manter a paciência.— Heloísa, você sabe por que terminamos. — Minha voz saiu firme, mas controlada. — Eu não te amo.
Capítulo 27.Eliza CamposPedro e eu estávamos ajustando os últimos detalhes do projeto da comunidade, mas ele claramente não estava ali de corpo e alma. A cada cinco minutos, soltava um suspiro, mexia na gola da camisa ou balançava a perna sem parar. Não aguentei:— Pedro, o que tá pegando? Você parece nervoso.Ele parou de balançar a perna, mas sua expressão continuava carregada.— Contei ao seu pai que terminei com a Heloísa.Minha mente congelou. As palavras ecoaram como um alarme. Antes que eu conseguisse reagir, ele continuou:— E também avisei que a dívida dele com meu pai não é mais problema meu. Já carreguei isso por tempo demais.Ah, ótimo. Mais uma bomba para a coleção.— Você tá falando sério? — Minha voz quase falhou. — E como ele reagiu?Pedro deu uma risada curta, amarga.— Tentou me fazer mudar de ideia, mas, no fundo, acho que ele já esperava por isso.Suspirei, sentindo uma mistura de alívio e pânico.— Tá, mas... e a Heloísa? O Manoel? Eles descobriram o motivo do té
Capítulo 28.Eliza Campos.Saí da empresa com a cabeça a mil. O convite de Pedro não saía da minha mente, e eu ainda me perguntava por que aceitei. Mas agora tinha algo mais importante para resolver: precisava falar com minha mãe. Meu coração batia forte quando toquei a campainha.Minha mãe abriu a porta rapidamente, o sorriso em seu rosto fugiu do seu rosto assim que me viu. Já esperava este tipo de reação.— Ah, é você... — Sua voz saiu gelada. — O que foi dessa vez, Eliza?Respirei fundo. Minhas mãos estavam geladas, mas não ia deixar isso me parar.— Vim conversar, mãe. Descobri algumas coisas e acho que você tem muito o que me explicar.Ela cruzou os braços e deu aquele sorriso irônico que eu tanto odiava.— E o que exatamente você descobriu? Que seu pai era dono da empresa onde você fez entrevista?Minha respiração ficou presa por um instante. Aquilo me pegou de surpresa.— Era dono. Agora é do ex-cunhado dele. E você sabia disso o tempo todo, não é?— Sabia. — Ela falou como se