Mary
As coisas no escritório iam bem, o casamento de Nanda estava nos dando um trabalho e tanto ainda mais por conta da localização, já que teríamos que planejar aqui e arrumar tudo lá.
Seguia agora para a casa de Henry, eram quase sete da noite e ele havia me perguntado se poderíamos jantar lá. Parei na portaria saindo do Uber esperando a autorização e logo os portões se abriram e entrei.
Sorri para o senhor de cabelos grisalhos que sorriu de volta me levando até o elevador.
- Tenha uma boa noite senhorita Tullin. - Desejou.
- Obrigada José. - Sorri apertando o botão do elevador. Suspirei segurando em minha bolsa e coloquei o cabelo para trás da orelha olhando para os números do elevador.
Assim que o *plim* soou o elevador se abriu no andar da cobertura e Henry apareceu com as mãos nos bolsos da calça social preta que usava e um sorriso convidativo no rosto.
- Pode entrar quando quiser. - Brincou e sorri saindo do elevador. O primeiro cômodo era a sala, um espaço amplo de conceito aberto, trabalhado em tons terrosos, como encontrado na maioria desses condomínios de luxo.
Havia um grande sofá, uma mesinha luxuosa com acabamentos lindos e um vidro que parecia bem resistente no centro. Uma TV enorme e uma lareira embutida na estante de livros que parecem nunca terem sido lidos.
Seguimos andando para o cômodo seguinte que era uma cozinha americana, também com moveis lindos e refinados. Sentei em um dos banquinhos e Henry me esticou uma taça de vinho.
- Achei que não bebesse. - Comentei enquanto bebia um gole.
- Não bebo, mas você sim. - Afirmou reforçando as dobras das mangas da camisa e pegou uma faca e alguns cogumelos.
- Está cozinhando? - Perguntei me esticando para olhar e Henry sorriu de canto. - Pergunta óbvia, eu sei. - Sorri.
- Sim, mas só para registro, sim, estou cozinhando. - Sorriu me esticando um fio de espaguete. Estiquei-me na bancada e o mesmo gargalhou quando o macarrão quase caiu pelo canto da boca.
- Isso foi muito sensual. - Brinquei bebendo mais um gole do vinho.
- Com certeza foi. - Sorriu.
- Então, como foi o dia? – Perguntei tentando puxar assunto.
- Tranquilo na medida do possível e o seu?
- Bem, eu lido com mulheres loucas com hormônios a flor da pele e ansiedade em alta, então... Foi maravilhoso. – Ironizei e o mesmo gargalhou. – Ana ainda inventou de não ir hoje.
- Isso parece péssimo para você. E aqueles seus clientes o seu ex-noivo...
- Está bem eu acho, não falo com ele tudo o que tenho para resolver ligo diretamente para Nanda.
- Como foi pra você toda essa coisa? – Perguntou colocando o macarrão em um refratário de vidro.
- Horrível como se pode imaginar. Primeiro eu fiquei deprimida e então resolvi juntar minhas coisas e me mudar. Ana já morava aqui com o namorado e primeiro vim com a proposta de espairecer, mas acabei ficando de vez. Foram semanas de choro e questionamentos loucos, sempre pensei que a culpa tivesse sido minha, que talvez eu não fosse boa o suficiente. Depois eu mergulhei no trabalho e decidi esquecer tudo isso... Até agora.
- Meu padrasto sempre diz que a pior maneira de lidar com a dor e a indiferença. Talvez doesse muito menos agora se você tivesse encarado antes. – Murmurou e olhei para ele.
- Mas eu encarei.
- Não, você desistiu. Nunca soube dos estágios? Culpa aceitação, devolução dos objetos pessoais do parceiro e ai superação. Você passou da devolução, para a culpa e depois para o comodismo. Você se acomodou na teoria de que foi a culpada e morreu ai.
- Você inventou a maioria dessas coisas. – Acusei.
- Pode ser, mas eu estou certo e você sabe disso. Faz um esforço enorme para demonstrar tranquilidade e estabilidade em vez de realmente ir atrás disso. Você pode até não o amar mesmo, mas ver até onde ele chegou te machuca e te faz perceber que você deixou sua vida amorosa estacionada no mesmo lugar até hoje.
- Achei que esse era um jantar para nos conhecermos. – Desviei o assunto.
- E é. Esse é mais um traço da minha personalidade. Agressivamente invasivo. – Sorriu terminando de distribuir o queijo e colocou o refratário no forno.
- Vou anotar isso na minha listinha. – Sorri.
- Tudo bem pode fazer isso quando chegar a sua casa. Vamos para a mesa? – Perguntou indicando a mesa enquanto levava a salada e dois copos. Desci do banquinho pegando minha bolsa e o copo e sentei na cadeira indicada por ele. - Só um minuto. – Pediu voltando para trás do balcão e se abaixou para olhar o forno.
Suspirei olhando em volta para a cozinha bem decorada até que Henry voltou com o macarrão colocando o refratário no centro da mesa.
- Parece ótimo. – Sorri esticando o guardanapo sobre o meu colo.
- É simples, mas saboroso. – Piscou pegando meu prato. Observei com atenção enquanto ele servia um pouco de salada.
&&&
Depois do jantar Henry me apresentou sua casa, fizemos um pequeno tour pela sala ampla a cozinha maravilhosa e pela a sala de leitura que ele tinha no cômodo ao lado. Havia um corredor com algumas portas que ele disse ser banheiro, dispensa e lavanderia. Subimos a escada de mármore refinado e Henry me levou até a primeira porta.
- Esse é o meu escritório, pensei em fazer lá embaixo, mas achei esse espaço perfeito. – Comentou atrás de mim.
- É lindo. – Sorri. Seguimos para a próxima porta e admirei o quarto bem decorado.
- Esse é o de hospedes, e aqueles dois também. – Disse apontando para as duas portas lado a lado atrás de nós. – Aqui é uma sala para lazer, eu não tinha mais ideias do que fazer, mas tem um bar para receber convidados, mais alguns livros e às vezes eu vejo filmes aqui também. – Deu de ombros seguindo para o fim do corredor.
- O que são essas portas? – Perguntei apontando para as duas portas uma de frente para a outra.
- Banheiros, dois quartos de hospedes tem banheiros, mas um não e é sempre bom ter um social no segundo andar. – Sorriu abrindo a última porta. – Esse é o meu lugar preferido no apartamento.
- Não tem nada aqui. – Murmurei entrando no espaço amplo e vazio. Havia apenas o piso como no resto da casa e janelas enormes que cobriam toda uma parede.
- É por isso que eu gosto. – Sorriu me puxando para frente das grandes janelas. – Às vezes eu venho aqui me sento no chão e aprecio essa vista. – Sussurrou em meu ouvido. – Tem dias que estou com a cabeça cheia, e não preciso ver nada, além disso.
- É de tirar o folego. – Sussurrei puxando o ar.
- Sim... É sim.
- E onde fica o seu quarto? – Perguntei me virando para ele. – Não que eu queira ver é que...
- Vem. – Sorriu divertido me puxando pela mão e fechou a porta. Voltamos para as escadas e descemos para o térreo. Henry virou no corredor que não havíamos ido antes e seguiu até o final do mesmo abrindo a única porta. – Esse é o meu quarto. - Olhei para ele antes de dar um passo para dentro do quarto e olhei em volta.
Era grande com uma parede de fundo cinza e moveis em madeira escura. A cama da mesma cor com lençóis escuros. Um piso claro semelhante ao restante da casa e um tapete cinza. Grandes janelas cobertas por uma cortina quase branca e duas portas uma que provavelmente seria do banheiro e outra do closet.
- É bem bonito. – Murmurei olhando em volta. Era tudo bem arrumado e alinhado e isso era bem a cara dele.
- Matou a sua curiosidade? – Sorriu.
- Sim, eu matei sim. – Sorri envergonhada.
- Você está vendo bem mais do que qualquer um já viu. – Comentou caminhando até a varanda do quarto e o segui.
- Como assim? Eu posso ser ingênua às vezes, mas não acredito que nunca tenha partilhado essa cama com outro alguém senhor Salt. - Sorri.
- E nunca partilhei. Nenhuma mulher nunca passou do quarto de hospedes. – Afirmou colocando as mãos nos bolsos enquanto contemplávamos a bela vista de Nova Iorque.
- Por quê? – Perguntei instigada pela minha curiosidade.
- Esse é o meu quarto, o meu canto, nenhuma diversão de uma noite mereceria ir tão fundo assim. Todas sempre acabam de uma maneira ruim e por que se lembrar disso na minha cama se eu posso evitar?
- Talvez se você as trouxesse aqui, isso lhe permitisse abrir seu coração para uma delas. – Murmurei e o mesmo me encarou. Seu rosto parcialmente escondido pela falta de luz já que apenas a luz do quarto nos iluminava e a luz do luar fazia o seu máximo para que seu olhar intenso ainda pudesse me desconcertar.
- Não foi à facilidade de se entregar as vontades do coração que te deixaram assim? – Perguntou e desviei o olhar. – Talvez se você não estivesse tão cegamente apaixonada, você pudesse ver que ele não queria aquilo.
- Talvez. – Sussurrei. – Mas agora é tarde demais para pensar nessa possibilidade.
- O amor é um conto de fadas Mary, e ele nem sempre tem um final feliz, às vezes ele tem espinhos e sempre tem alguém para atrapalhá-lo. Ele complica a nossa vida, então o melhor é não senti-lo.
Mary- Ai que ódio! – Exclamei jogando as flores na mesa e Ana ergueu a cabeça me encarando.- Você vai me dizer o que as flores fizeram ou eu vou ter que perguntar para elas? – Perguntou largando a pasta que olhava.- Algumas noites atrás eu tive uma conversa com o Henry. – Comecei e a mesma assentiu se sentando. – Ele me disse que o amor era um conto de fadas, que era doloroso e desnecessário. Disse que eu só acabei nessa situação porque me deixei levar pela ingenuidade do meu coração e se eu não tivesse feito isso eu teria percebido que Theodore não iria estar lá.- Bem, ele está parcialmente certo, talvez se você tivesse sido um pouquinho mais racional no lance do Theodore...- O problema é que eu não disse nada, eu fiquei sem palavras e nos últimos dias eu tenho pensado em várias possíveis respostas para ele. E na hora eu não consegui nem pensar! – Exclamei e Ana sorriu.- Você vive fazendo isso, até em discussões comigo. Achei que já tivesse se acostumado.- É que ele é tão ar
HenrySentei-me na cama apertando o botão que afastava as cortinas do quarto e me aproximei da janela olhando para a manhã já movimentada que começava. Peguei o jornal que já estava em minha cômoda e sorri debochado ao ver a manchete."Bilionário e herdeiro das empresas S.C é visto em clima de romance com suposta namorada. Casal trocou carinhos durante uma partida privada de boliche na noite de ontem e mostrou paixão e sintonia durante todo o momento. Parece que alguém finalmente fisgou um dos bilionários mais cobiçados de Nova Iorque." Suspirei largando o jornal na mesinha e segui para o banheiro ligando a ducha. Deixei que meu corpo relaxa-se em um banho tranquilo enquanto lembranças da noite de ontem ainda rondavam minha mente.Tudo era diferente com Mary, era como se um sorriso fosse muito mais fácil apenas ela estando por perto. Sabia que não podia continuar beijando-a quando me desse na telha, mas era muito mais fácil falar do que fazer. Fechei o chuveiro e puxei a toalha seca
MaryAna passou a tarde escutando com atenção a história que Henry me explicou ontem e agora eu explicava para ela.- Deixa só essa Lizz vim que eu dou um pega nela rapidinho pra ver se desencana dessa coisa ex submissa doida de Christian Grey. Estou falando sério Mary, no livro isso é muito legal, mas se a doida acha que vai ficar te cercando ela está enganada, deixa ela aparecer aqui de novo... - Ameaçou.- Henry disse que iria falar com os pais dela hoje, disse que vai pagar o tratamento dela e assim ela pode ficar fora das ruas. Ela deve ter algum tipo de transtorno que só se agrava com as drogas, isso não é normal.- Se minha mãe estivesse aqui diria que é frescura. - Afirmou se jogando na cadeira e sorri.- Ainda bem que ela não está não é?- Claro... Claro. - Sorriu girando sua cadeira.- Eu preciso que não conte isso a ninguém. - Pedi.- Sou um túmulo minha filha. - Disse pegando sua carteira. - Vamos almoçar?- Henry disse que passaria aqui para me contar como foram as coisas
MaryAgradeci Henry pelo jantar ainda envolvida pelo pequeno momento na mesa e o mesmo me acompanhou até o elevador.- Por que não fica? - Perguntou.- Como?- Está tarde e como ainda não coloquei seguranças no seu prédio, não me sinto seguro em deixá-la ir. Eu tenho quartos de hóspedes, você sabe...- Aonde costuma levar suas garotas de uma noite. - Afirmei.- Podemos fazer uma troca, você dorme no meu quarto e eu no de hóspedes. - Sugeriu e o encarei.- Não é preciso, eu posso-- Faço questão! Assim eu poderei dormir mais tranquilo também. - Disse e suspirei. - Posso te emprestar alguma coisa para dormir. - Ofereceu.- Tudo bem. - Murmurei. - Eu posso ficar essa noite. - Garanti e o mesmo sorriu deixando que o elevador se fechasse.Henry me levou até seu quarto e entrou no closet saindo de lá um pouco depois com uma camisa e uma cueca.- Limpas. Caso não queira continuar com a sua calcinha. - Disse colocando tudo em cima da cama. Ele abriu as portas de correr do armário no canto d
HenryAbri as cortinas contemplando o céu nublado dessa manhã e olhei para a cama onde Mary estava enrolada ao edredom com um dos braços para fora e as canelas expostas. Seus cabelos loiros estavam por todo o travesseiro e como eu havia prometido a ela eu a satisfiz por toda a noite.Sua pele macia e aveludada era a minha perdição e seus gemidos prazerosos e nada contidos continuavam fodendo a minha mente. Não estávamos falando de uma noite, estávamos falando de mais. Ela era meiga, doce e sorridente, mas na cama era uma devassa dona do controle e muito gostosa.Eu queria aquilo de novo.Mary se remexeu na cama e voltei a fechar as cortinas seguindo para o banheiro. Liguei o chuveiro entrando debaixo da água morna e suspirei apoiando a testa na parede. Meu corpo pela primeira vez se sentia cansado depois de uma noite de prazer, eu nunca me senti assim, mas Mary exigia de mim exatamente aquilo que eu exigia dela. Tudo.Vi suas mãos delicadas subirem pelo meu abdômen e senti seus s
HenryMeu celular tocava insistentemente enquanto eu me negava a abrir os olhos. Eu estava cansado e precisa dormir um pouco mais. Bufei esticando o braço até a mesinha e tateei a mesma até encontrar o celular abrindo um pouco os olhos apenas para deslizar pelo lado certo."Quem é?" - Perguntei sem esconder meu mau humor."Sua mãe desgraça. Onde você passou a noite Henry?""Laura?""Você pediu para que eu te esperasse para jantar e sumiu!" - Exclamou irritada."Eu jantei em outro lugar, desculpa, esqueci-me de avisar que não iria para casa." - Murmurei olhando para Mary que continuava adormecida em meu peito."Vai vim para casa não?""Agora não. Em duas ou três horas eu estou ai.""Não esquece que eu vou embora hoje à noite.""Tudo bem, vou desligar Laura.""Manda um beijo para a loira do jornal. É com ela que você tá, né?""Tchau.""Trás ela hoje, um almoço aqui.""Vou ver.""Tchau Henry."Desliguei o celular colocando ele onde estava anteriormente e suspirei frustrado pelo sono pe
MaryMinhas malas estavam arrumadas no canto da porta enquanto esperava Henry chegar. Estava ansiosa com o fim de semana, nunca havíamos passado dois dias inteiros juntos sem contar com as noites e isso era um avanço no que seja lá que estamos tendo.Ouvi a batida suave na porta e abri a mesma sorrindo para José.- Boa noite senhorita, onde estão as malas? – Perguntou simpático como sempre.- Aqui ao lado da porta José. – Disse pegando minha bagagem de mão e José pegou a outra. Tranquei a porta e joguei a chave dentro da bolsa seguindo para o elevador. – Onde está Henry?- Ele irá encontrá-la no jato senhorita.José seguiu para o aeroporto no Alfa Romeo de Henry. A cidade estava movimentada como sempre está à noite e a minha ansiedade por essa viagem apenas aumentava.Assim que chegamos ao aeroporto José nos encaminhou para a pista privada onde o jato das empresas S.C já aguardava. Henry caminhava pelo lado de fora com as mãos nos bolsos e o celular no ouvido enquanto parecia gr
MaryDormir era o novo item da minha listinha de "coisas que eu não conseguirei fazer essa noite" estava exatamente abaixo de "conseguir uma certeza de um futuro relacionamento com Henry" e acima de "uma longa noite de amor."Era frustrante perceber que mesmo sem nenhuma base eu continuava aqui pelo simples fato de que seria ruim quando acabasse, mas seria pior se acabasse agora. Talvez eu não conseguisse me apaixonar, sentir e esquecer... Ao menos não rapidamente.Alguma parte burra ou ingênua de mim acreditava que a qualquer momento ele diria o que e se sente alguma coisa. Eu queria que ele dissesse.- Mary? - Sua voz grave me despertou dos meus devaneios e desviei o olhar das grandes janelas para ele. - Não consegue dormir?- Não. - Murmurei e o mesmo puxou o ar levantando da cama. Henry estendeu sua mão para mim e peguei a mesma sendo puxada para ele.- Por favor. - Sussurrou. - Não complique o que não precisa ser complicado. - Pediu e o abracei.- Eu sou complicada. - Sorri. Henr