Priscila Almeida Dirigia com a adrenalina pulsando em cada célula do meu corpo, mantendo um olho na estrada e outro no retrovisor, onde Ana Fernanda estava desacordada no banco de trás. O carro deslizava suavemente pela estrada, mas a tensão dentro de mim era palpável. O plano tinha sido executado com precisão, e agora tudo o que restava era chegar ao esconderijo antes que alguém percebesse o que havia acontecido. As árvores passavam rapidamente enquanto eu acelerava, o som suave do motor me acalmando de certa forma. Mas então, algo inesperado aconteceu. Ouvi um leve movimento no banco de trás, seguido por uma respiração pesada e baixa. Ana Fernanda estava acordando. “Droga”, murmurei para mim mesma, olhando para trás por um breve segundo. A menina piscava lentamente, os olhos se ajustando ao ambiente ao seu redor. Por um instante, fiquei tensa, me preparando para a reação inevitável. E não demorou. Ana Fernanda se mexeu, inicialmente confusa, mas em segundos a realização de ond
Anthonella Fagundes Lancaster A noite caía silenciosa, e as estrelas brilhavam como se ignorassem a tempestade que se formava dentro de mim. Caminhei pela casa com passos lentos e inseguros, com Anthony adormecido em meus braços. Ele dormia tranquilo, completamente alheio ao caos que invadia nossos corações. Jhonathan estava ao meu lado, sua presença firme como sempre, mas mesmo ele não conseguia esconder a preocupação que lhe estampava o rosto. Eu sabia que por dentro ele estava tão devastado quanto eu, talvez mais. Ao chegar na sala, Maria Fernanda e Gustavo nos esperavam com expressões confusas.— O que está acontecendo? — Gustavo foi o primeiro a quebrar o silêncio, olhando de mim para o pai, a ansiedade evidente em sua voz. — Por que tem tantos seguranças dentro de casa? E por que fomos impedidos de sair?Maria Fernanda, com os braços cruzados, olhava para mim com os olhos ligeiramente arregalados, tentando decifrar o que se passava. Seus olhos, sempre tão doces, agora estavam c
Maria Fernanda insistiu em me guiar até o quarto, mesmo eu relutando em permitir que ela fizesse qualquer esforço. Sua perna ainda não estava totalmente recuperada, e a última coisa que eu queria era ver outro dos meus filhos machucado. Enquanto caminhávamos em silêncio pelos corredores da casa, eu não conseguia afastar da mente o fato de que Ana Fernanda ainda estava lá fora, em algum lugar, e nós estávamos de mãos atadas, impotentes. A culpa era um peso insuportável, e o medo me corroía por dentro. — Filha, não deveria estar andando tanto assim com a perna machucada. — Minha voz saiu mais fraca do que eu pretendia, quase como um sussurro. — Não se preocupe com isso, mamãe — MaFê respondeu com um sorriso suave, mas seus olhos estavam cansados. — O importante agora é cuidar de você. Sabia que, apesar das palavras tranquilizadoras, ela também estava sofrendo, tanto quanto eu. Porém, sua força e resiliência naquele momento eram o que me mantinham de pé. Sem mais argumentos, deixei q
Jhonathan Lancaster Enquanto estava deitado na cama, o silêncio da noite parecia esmagador. O calor de Anthonella ao meu lado era reconfortante, mas não conseguia apagar o peso que estava carregando. O que estava acontecendo com nossa família? Como eu deixei chegar a esse ponto? A memória de MaFê sendo sequestrada anos atrás ainda assombrava meus pensamentos. Agora, era Ana Fernanda. Outra filha minha em perigo, e eu me sentia tão impotente quanto antes. Fechei os olhos e tentei não deixar que as lágrimas caíssem de novo, mas o rosto de Ana Fernanda me atormentava. Eu devia ter feito mais. Protegido melhor. Ser mais atento, mais presente... mas falhei. Como pai, sempre senti que meu maior dever era cuidar dos meus filhos, garantir que estivessem seguros, e aqui estávamos novamente: uma filha sequestrada, e eu, incapaz de fazer qualquer coisa naquele momento. Quando Anthonella disse que eu poderia me soltar, por um momento, pensei em resistir, em manter minha fachada firme e ina
A luz da manhã invadia meu quarto pelas frestas das cortinas, mas eu não estava pronta para enfrentar o dia. Meus olhos estavam pesados e inchados por causa da noite anterior, e meu corpo parecia mais exausto do que quando eu tinha ido dormir. Não sei quanto tempo fiquei deitada ali, sem coragem de me levantar, quando senti a presença de alguém no quarto. — Puta que pariu! — Gritei, pulando na cama e me assustando com o vulto à minha frente. Meu coração disparou como se tivesse levado um choque. Pedro estava parado ao pé da minha cama, com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso divertido no rosto. — Que susto! — Exclamei, tentando me recompor. — Nunca imaginei que ia te ouvir xingar — ele respondeu, ainda com aquele sorriso nos lábios, claramente achando graça da situação. Revirei os olhos, cruzando os braços em cima do peito. — A culpa é sua, Pedro! — Acusei. — Quem manda entrar no meu quarto feito uma assombração? Ele deu de ombros, fingindo inocência. — Entrei pela porta,
Priscila AlmeidaO silêncio naquele esconderijo era quase insuportável, quebrado apenas pelo som distante de carros e os sussurros ocasionais que vinham do rádio velho sobre a mesa. O local estava precariamente montado, as paredes sujas e descascadas e o cheiro de mofo impregnava o ar. O cativeiro estava longe de ser ideal, mas era o que tínhamos no momento, e pelo menos me mantinha escondida, longe das investigações que certamente estavam acontecendo. Eu observava Ana Fernanda sentada em um colchão velho e gasto, suas pernas encolhidas contra o corpo enquanto ela me olhava com aqueles olhos de medo. Era engraçado, de certo modo. A garota era corajosa, eu tinha que admitir, mas sua coragem só a levaria até certo ponto. No fim das contas, ela ainda era uma criança, e crianças são fáceis de quebrar.— Vai ficar me olhando com essa cara de pidona até quando? — Perguntei, revirando os olhos e me levantando da cadeira de ferro em que estava sentada. — Tá com fome, né?Ana Fernanda não di
Anthonella Fagundes Lancaster O sol da manhã iluminava o chão de mármore da sala, mas a luz parecia incapaz de aquecer meu coração. Uma semana. Era difícil acreditar que já se passaram sete dias desde que a nossa vida virou de cabeça para baixo. Joyce estava sentada ao meu lado no sofá, me oferecendo um sorriso reconfortante enquanto segurava minha mão. Seu apoio constante, mesmo quando ela própria estava lidando com as preocupações do filho, era uma bênção que eu nunca poderia agradecer o suficiente. — Vai ficar tudo bem, Anthonella — ela disse suavemente, dando um leve apertão em minha mão. — As coisas sempre se ajeitam, mesmo que pareçam impossíveis agora. Eu queria acreditar nela. Deus sabe que eu precisava acreditar. Mas o vazio no meu peito e o peso nas minhas costas não me deixavam esquecer que nossa família estava quebrada de um jeito que eu não sabia se poderíamos consertar. Minha mente estava cheia de preocupações, especialmente com Maria Fernanda. Nos últimos dias, ela
Priscila Almeida O som abafado dos meus saltos ecoava pela sala escura enquanto me aproximava lentamente da mesa onde Ana Fernanda estava. Ela estava sentada, visivelmente abatida, os olhos semicerrados de exaustão. O cabelo desgrenhado caía ao redor do rosto, enquanto ela tentava manter uma postura firme, embora o seu corpo, fraco e cansado, a traísse. A tensão na sala era quase palpável, e eu me deliciava com cada segundo daquilo.— O que foi, querida? — perguntei, minha voz carregada de um sarcasmo venenoso, enquanto cruzava os braços e me aproximava da mesa. — Está com fome?Ana Fernanda me lançou um olhar feroz, mas não disse nada. Sua mandíbula estava travada, e eu podia ver como ela tentava manter a dignidade, mesmo diante da tortura que eu estava impondo.— Ah, claro — continuei, fingindo compreensão exagerada. — Imagino que esteja, afinal, faz quanto tempo desde que você comeu algo decente?Ri baixinho ao ver seu desconforto aumentar. A satisfação que aquilo me proporcionav