Priscila Almeida O som abafado dos meus saltos ecoava pela sala escura enquanto me aproximava lentamente da mesa onde Ana Fernanda estava. Ela estava sentada, visivelmente abatida, os olhos semicerrados de exaustão. O cabelo desgrenhado caía ao redor do rosto, enquanto ela tentava manter uma postura firme, embora o seu corpo, fraco e cansado, a traísse. A tensão na sala era quase palpável, e eu me deliciava com cada segundo daquilo.— O que foi, querida? — perguntei, minha voz carregada de um sarcasmo venenoso, enquanto cruzava os braços e me aproximava da mesa. — Está com fome?Ana Fernanda me lançou um olhar feroz, mas não disse nada. Sua mandíbula estava travada, e eu podia ver como ela tentava manter a dignidade, mesmo diante da tortura que eu estava impondo.— Ah, claro — continuei, fingindo compreensão exagerada. — Imagino que esteja, afinal, faz quanto tempo desde que você comeu algo decente?Ri baixinho ao ver seu desconforto aumentar. A satisfação que aquilo me proporcionav
Maria Fernanda Fagundes Lancaster Eu estava exausta. Após semanas de fisioterapia intensiva, cada sessão parecia mais dolorosa que a anterior. Mas a determinação de me recuperar completamente me impulsionava a continuar, mesmo quando o cansaço ameaçava me derrubar. O cheiro estéril da clínica já era familiar, assim como os sons abafados de conversas e passos apressados. Assim que terminei o último exercício, agradeci ao fisioterapeuta e saí para o ar fresco, que me envolveu como um abraço reconfortante. O sol estava alto, mas não aquecia o frio inquietante que se instalava dentro de mim, minha irmã ainda estava desaparecida e os meus pais faziam de tudo para encontrá-la. Enquanto caminhava em direção ao carro, percebi uma presença estranha, algo que não combinava com a familiaridade do ambiente. Um homem de boné e jaqueta estava próximo à saída. Ele parecia casual, mas os olhos escondidos pelas sombras do boné estavam fixos em mim. Quando nossos olhares se cruzaram por um breve mom
Anthonella Fagundes LancasterFicar em casa era sufocante, como se uma presença física pressionasse meus ombros, afundando meu coração ainda mais em um abismo de desespero. Fazia quase uma semana desde que Ana Fernanda fora sequestrada, e o peso do tempo sem notícias tornava tudo insuportável. As perguntas constantes dos repórteres, a polícia dentro de casa, tudo isso me deixava à beira de um colapso. Olhei para Jhonathan, que estava sentado ao meu lado, mas com os olhos perdidos no infinito, provavelmente tão cansado quanto eu.— Não aguento mais isso — desabafei, minha voz saindo num sussurro rouco. — Esses repórteres, a polícia, detetives... Todos dentro da nossa casa e, ainda assim, quase uma semana sem qualquer notícia da nossa filha! Isso não está certo, Jhonathan. Algo precisa ser feito!Ele me olhou com tristeza, suspirando profundamente antes de responder:— Estamos fazendo o possível, Anthonella. A polícia e os detetives estão trabalhando sem parar, mas...— Mas não parece o
Maria Fernanda Fagundes Lancaster Acordei com a cabeça latejando, e tudo ao meu redor estava enevoado. Pisquei algumas vezes, tentando ajustar minha visão, mas o frio do chão úmido e a escuridão do lugar tornavam tudo mais difícil. Ao tentar mexer os braços, senti a resistência das cordas, apertadas demais em torno dos meus pulsos. Eu estava amarrada. O pânico cresceu no meu peito enquanto tentava me soltar, mas era inútil. Tentei forçar os braços, mexer os pés, qualquer coisa que pudesse me ajudar a escapar, mas as amarras eram fortes, e o mais frustrante era o silêncio ao meu redor. Foi então que ouvi um soluço abafado, fraco, vindo de algum ponto próximo. Meu coração disparou de vez. — Aninha? — Minha voz saiu rouca, quebrada pela ansiedade. — Ana Fernanda, é você? — MaFê? — A voz dela soou baixa, quase irreconhecível de tanto choro. — MaFê, me ajuda! Me virei o mais rápido que pude na direção de sua voz. Meu corpo todo estava dolorido, mas eu precisava ver minha irmã. Quando
Maria Fernanda Fagundes Lancaster O tempo parecia ter parado naquele lugar frio e escuro. Sem janelas ou relógios, eu não fazia ideia do que acontecia lá fora. Só sabia que a noite havia sido interminável e que a manhã se arrastava lentamente. O silêncio era interrompido apenas pela respiração suave de Ana Fernanda, que dormia de cansaço, e pelos meus próprios pensamentos, sempre me lembrando do perigo iminente.Minha preocupação só aumentava. O tempo estava passando, e eu não tinha ideia de quanto mais conseguiríamos aguentar. Ana estava visivelmente mais fraca, e eu temia que ela não tivesse forças para continuar sem comida.O som pesado de passos ecoou pelo corredor. Era Priscila.A porta rangeu, revelando sua figura odiosa. Seus olhos brilhavam com malícia, como sempre. Em uma das mãos, ela segurava uma bandeja com algo que parecia comestível à distância. O cheiro forte e enjoativo tomou o ambiente, e só de olhar, meu estômago já se revirava.— Hora do banquete, queridas. — Ela s
Maria Fernanda Fagundes LancasterJá se passaram dois dias e mal conseguia sentir minhas pernas de tanto cansaço e tensão, principalmente a perna direita, que havia sido operada recentemente e ainda estava em recuperação. Mas não havia tempo para fraquezas agora. Cada segundo contava. O som do carro de Priscila se afastando ainda ecoava na minha cabeça como um aviso. Se havia uma chance de salvar Ana Fernanda, era agora. Respirei fundo, tentando ignorar o medo que me consumia. Precisava ser forte. Por ela.Levantei devagar, tomando cuidado para não fazer barulho. Devido ao nosso "bom comportamento", a bruxa não havia nos amarrado, o que me dava uma chance de analisar o local. Fui até o banheiro. O ambiente estava escuro, mal iluminado pela luz fraca que entrava pela fresta da janela, mas o suficiente para me dar uma visão clara do que precisava fazer. A janela era pequena, muito pequena para mim, mas talvez... talvez Ana Fernanda conseguisse passar.Aproximei-me mais, analisando o tam
O silêncio do quarto era sufocante. Cada batida do meu coração parecia ecoar nas paredes frias, e o ar denso carregava uma tensão que só piorava à medida que os minutos passavam. Estava sozinha agora, completamente exposta. Sabia que Priscila não demoraria a voltar, e quando o fizesse, as coisas ficariam ainda mais perigosas. Mas isso não importava. O que realmente importava era que Ana Fernanda estava fora daquele inferno. E, por mais que meu corpo estivesse fraco e minha perna latejasse de dor, havia uma sensação de alívio dentro de mim. Eu havia feito o que prometi: protegi minha irmã.De repente, ouvi o som que temia. O ruído do carro de Priscila se aproximando, o motor roncando no silêncio da noite. Fechei os olhos por um instante, respirando fundo. Não podia deixar o medo me dominar. Precisava ser forte, como sempre fui.O som dos passos ecoou pelo corredor. Pesados. Determinados. A porta rangeu ao ser aberta, e lá estava ela. Priscila. Seu rosto iluminado pela pouca luz que ent
Anthonella Fagundes Lancaster Deitada na cama com Joyce ao meu lado, a escuridão do quarto parecia refletir a tempestade que se formava dentro de mim. O peso da incerteza e da impotência me sufocava, e cada segundo que passava sem notícias de Maria Fernanda e Ana Fernanda parecia uma eternidade. Fechei os olhos, mas as imagens da última vez que vi as meninas me perseguiam como sombras. Não podia mais esperar que a polícia resolvesse algo. — Joyce — murmurei, virando-me para a amiga. — Não posso mais esperar. Ela se virou para mim, o olhar preocupado. — O que você está dizendo? O que tem em mente? — Vou atrás delas. Não posso ficar aqui parada enquanto elas estão em perigo. Vou à última localização que temos e vou caçar tudo até encontrá-las. Joyce me encarou, os olhos arregalados. — Anthonella, isso é uma maluquice! Você sabe que é perigoso. E se algo acontecer com você? — Se você não quiser ir, não precisa. Mas eu não posso simplesmente ficar aqui. Ela hesitou, mas a dete