Maria Fernanda insistiu em me guiar até o quarto, mesmo eu relutando em permitir que ela fizesse qualquer esforço. Sua perna ainda não estava totalmente recuperada, e a última coisa que eu queria era ver outro dos meus filhos machucado. Enquanto caminhávamos em silêncio pelos corredores da casa, eu não conseguia afastar da mente o fato de que Ana Fernanda ainda estava lá fora, em algum lugar, e nós estávamos de mãos atadas, impotentes. A culpa era um peso insuportável, e o medo me corroía por dentro. — Filha, não deveria estar andando tanto assim com a perna machucada. — Minha voz saiu mais fraca do que eu pretendia, quase como um sussurro. — Não se preocupe com isso, mamãe — MaFê respondeu com um sorriso suave, mas seus olhos estavam cansados. — O importante agora é cuidar de você. Sabia que, apesar das palavras tranquilizadoras, ela também estava sofrendo, tanto quanto eu. Porém, sua força e resiliência naquele momento eram o que me mantinham de pé. Sem mais argumentos, deixei q
Jhonathan Lancaster Enquanto estava deitado na cama, o silêncio da noite parecia esmagador. O calor de Anthonella ao meu lado era reconfortante, mas não conseguia apagar o peso que estava carregando. O que estava acontecendo com nossa família? Como eu deixei chegar a esse ponto? A memória de MaFê sendo sequestrada anos atrás ainda assombrava meus pensamentos. Agora, era Ana Fernanda. Outra filha minha em perigo, e eu me sentia tão impotente quanto antes. Fechei os olhos e tentei não deixar que as lágrimas caíssem de novo, mas o rosto de Ana Fernanda me atormentava. Eu devia ter feito mais. Protegido melhor. Ser mais atento, mais presente... mas falhei. Como pai, sempre senti que meu maior dever era cuidar dos meus filhos, garantir que estivessem seguros, e aqui estávamos novamente: uma filha sequestrada, e eu, incapaz de fazer qualquer coisa naquele momento. Quando Anthonella disse que eu poderia me soltar, por um momento, pensei em resistir, em manter minha fachada firme e ina
A luz da manhã invadia meu quarto pelas frestas das cortinas, mas eu não estava pronta para enfrentar o dia. Meus olhos estavam pesados e inchados por causa da noite anterior, e meu corpo parecia mais exausto do que quando eu tinha ido dormir. Não sei quanto tempo fiquei deitada ali, sem coragem de me levantar, quando senti a presença de alguém no quarto. — Puta que pariu! — Gritei, pulando na cama e me assustando com o vulto à minha frente. Meu coração disparou como se tivesse levado um choque. Pedro estava parado ao pé da minha cama, com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso divertido no rosto. — Que susto! — Exclamei, tentando me recompor. — Nunca imaginei que ia te ouvir xingar — ele respondeu, ainda com aquele sorriso nos lábios, claramente achando graça da situação. Revirei os olhos, cruzando os braços em cima do peito. — A culpa é sua, Pedro! — Acusei. — Quem manda entrar no meu quarto feito uma assombração? Ele deu de ombros, fingindo inocência. — Entrei pela porta,
Priscila AlmeidaO silêncio naquele esconderijo era quase insuportável, quebrado apenas pelo som distante de carros e os sussurros ocasionais que vinham do rádio velho sobre a mesa. O local estava precariamente montado, as paredes sujas e descascadas e o cheiro de mofo impregnava o ar. O cativeiro estava longe de ser ideal, mas era o que tínhamos no momento, e pelo menos me mantinha escondida, longe das investigações que certamente estavam acontecendo. Eu observava Ana Fernanda sentada em um colchão velho e gasto, suas pernas encolhidas contra o corpo enquanto ela me olhava com aqueles olhos de medo. Era engraçado, de certo modo. A garota era corajosa, eu tinha que admitir, mas sua coragem só a levaria até certo ponto. No fim das contas, ela ainda era uma criança, e crianças são fáceis de quebrar.— Vai ficar me olhando com essa cara de pidona até quando? — Perguntei, revirando os olhos e me levantando da cadeira de ferro em que estava sentada. — Tá com fome, né?Ana Fernanda não di
Anthonella Fagundes Lancaster O sol da manhã iluminava o chão de mármore da sala, mas a luz parecia incapaz de aquecer meu coração. Uma semana. Era difícil acreditar que já se passaram sete dias desde que a nossa vida virou de cabeça para baixo. Joyce estava sentada ao meu lado no sofá, me oferecendo um sorriso reconfortante enquanto segurava minha mão. Seu apoio constante, mesmo quando ela própria estava lidando com as preocupações do filho, era uma bênção que eu nunca poderia agradecer o suficiente. — Vai ficar tudo bem, Anthonella — ela disse suavemente, dando um leve apertão em minha mão. — As coisas sempre se ajeitam, mesmo que pareçam impossíveis agora. Eu queria acreditar nela. Deus sabe que eu precisava acreditar. Mas o vazio no meu peito e o peso nas minhas costas não me deixavam esquecer que nossa família estava quebrada de um jeito que eu não sabia se poderíamos consertar. Minha mente estava cheia de preocupações, especialmente com Maria Fernanda. Nos últimos dias, ela
Priscila Almeida O som abafado dos meus saltos ecoava pela sala escura enquanto me aproximava lentamente da mesa onde Ana Fernanda estava. Ela estava sentada, visivelmente abatida, os olhos semicerrados de exaustão. O cabelo desgrenhado caía ao redor do rosto, enquanto ela tentava manter uma postura firme, embora o seu corpo, fraco e cansado, a traísse. A tensão na sala era quase palpável, e eu me deliciava com cada segundo daquilo.— O que foi, querida? — perguntei, minha voz carregada de um sarcasmo venenoso, enquanto cruzava os braços e me aproximava da mesa. — Está com fome?Ana Fernanda me lançou um olhar feroz, mas não disse nada. Sua mandíbula estava travada, e eu podia ver como ela tentava manter a dignidade, mesmo diante da tortura que eu estava impondo.— Ah, claro — continuei, fingindo compreensão exagerada. — Imagino que esteja, afinal, faz quanto tempo desde que você comeu algo decente?Ri baixinho ao ver seu desconforto aumentar. A satisfação que aquilo me proporcionav
Maria Fernanda Fagundes Lancaster Eu estava exausta. Após semanas de fisioterapia intensiva, cada sessão parecia mais dolorosa que a anterior. Mas a determinação de me recuperar completamente me impulsionava a continuar, mesmo quando o cansaço ameaçava me derrubar. O cheiro estéril da clínica já era familiar, assim como os sons abafados de conversas e passos apressados. Assim que terminei o último exercício, agradeci ao fisioterapeuta e saí para o ar fresco, que me envolveu como um abraço reconfortante. O sol estava alto, mas não aquecia o frio inquietante que se instalava dentro de mim, minha irmã ainda estava desaparecida e os meus pais faziam de tudo para encontrá-la. Enquanto caminhava em direção ao carro, percebi uma presença estranha, algo que não combinava com a familiaridade do ambiente. Um homem de boné e jaqueta estava próximo à saída. Ele parecia casual, mas os olhos escondidos pelas sombras do boné estavam fixos em mim. Quando nossos olhares se cruzaram por um breve mom
Anthonella Fagundes LancasterFicar em casa era sufocante, como se uma presença física pressionasse meus ombros, afundando meu coração ainda mais em um abismo de desespero. Fazia quase uma semana desde que Ana Fernanda fora sequestrada, e o peso do tempo sem notícias tornava tudo insuportável. As perguntas constantes dos repórteres, a polícia dentro de casa, tudo isso me deixava à beira de um colapso. Olhei para Jhonathan, que estava sentado ao meu lado, mas com os olhos perdidos no infinito, provavelmente tão cansado quanto eu.— Não aguento mais isso — desabafei, minha voz saindo num sussurro rouco. — Esses repórteres, a polícia, detetives... Todos dentro da nossa casa e, ainda assim, quase uma semana sem qualquer notícia da nossa filha! Isso não está certo, Jhonathan. Algo precisa ser feito!Ele me olhou com tristeza, suspirando profundamente antes de responder:— Estamos fazendo o possível, Anthonella. A polícia e os detetives estão trabalhando sem parar, mas...— Mas não parece o