Max Eu já estava chateado pelo que aconteceu no evento e cheguei à empresa decidido a falar com o Salles sobre o Felipe. Não era a primeira vez que ele passava dos limites, mas dessa vez, ele mexeu com a pessoa errada. Eu não iria deixar isso passar.Assim que entrei, fui informado de que Salles estava em reunião. Aproveitei para circular pela empresa, tentando manter a calma enquanto esperava. Quando voltei, encontrei minha filha nos braços da Joyce. Só a visão dela conseguiu aliviar um pouco da tensão que eu sentia.— Oi, amor do papai. — Sorri pegando-a no colo, sentindo aquele cheirinho de bebê que sempre me trazia paz. Beijei suas mãozinhas, e ela, travessa, tentou colocar os dedinhos na minha boca. Eu ri e a enchi de beijos, arrancando risadinhas dela. — Joyce, a Priscila está em reunião? — Perguntei, tentando disfarçar a inquietação que ainda queimava no meu peito.— Está sim, mas acho que isso não vai dar bom, Max. — A expressão de Joyce ficou séria, e ela tirou o celular do
Priscila Barcella Os passos ecoavam pelos corredores enquanto eu descia para o andar inferior. O nó na garganta parecia impossível de engolir, e meu peito doía de forma quase sufocante. Mas eu não ia ceder. Não aqui. Não agora. A minha decisão já estava tomada e mesmo gostando e sendo grata ao senhor Fos eu não podia abrir mão de mim e dos meus sonhos. Cheguei ao setor de marketing, onde Liam estava com a equipe. Ele estava de pé, atento a algo na tela do computador, e Nina, em meu colo, já começava a balançar as perninhas como se soubesse que estava perto do pai. — Senhora Barcella, algum problema? — Erick, com seu tom habitual de falsa cordialidade, perguntou, arrancando sorrisos cúmplices de alguns colegas. Ignorei, me concentrando em Liam. Eu não preciso nem ser simpática, afinal logo mais eu nem vou trabalhar mais aqui. E a única pessoa que me importo neste momento é abraçar o Liam. Assim que me viu, ele abandonou o que estava fazendo. Seus olhos, sempre atentos, focar
Max Fos Os documentos que pedi ao RH finalmente chegaram. Enquanto os analisava, algo mexeu profundamente comigo. Priscila. O tanto que ela trabalhou nesta empresa ao longo dos anos era impressionante. As horas extras, os projetos, as noites viradas... Tudo isso só reafirmava algo que eu já sabia: ela não era apenas mais uma funcionária. Ela era a espinha dorsal de tudo que construímos aqui. E então me veio uma certeza que há dias vinha rondando minha mente: não podemos abrir a filial no Canadá. Não sem ela. Decidi chamar meu pai para uma reunião urgente. Precisávamos conversar. Enquanto o esperava, continuei analisando os papéis. Algo chamou minha atenção: em 14 anos, Priscila só apresentou sete atestados médicos. Sete, em toda uma vida dedicada a esta empresa. Isso já era impressionante. Mas havia um atestado em particular que me deixou intrigado. Trinta dias afastada. A data... era daquela época. Eu estava fora, mas nós estávamos juntos. E ela nunca mencionou nada disso. Por qu
Priscila BarcellaFui até o parque próximo à empresa, ansiando por um pouco de paz em meio à correria do dia. Assim que cheguei, tirei os saltos, sentindo o alívio imediato ao colocar os pés na grama fria e macia.Com Nina nos braços, caminhei até um espaço coberto e me acomodei ali. Cuidadosamente, a coloquei no chão. Bastou um segundo de liberdade para que ela puxasse um punhado de grama e tentasse levar à boca.— Filha! — chamei, rindo enquanto tirava a grama de seus dedinhos rápidos.Mas ela, sem se abalar, já estava puxando outro punhado, com a mesma determinação de sempre.— Você é teimosa como a mamãe, é? — perguntei, sorrindo com uma mistura de exasperação e ternura.Ver Nina descobrir o mundo, mesmo nos pequenos detalhes como a grama, fazia meu coração se encher de alegria. Por alguns instantes, todo o peso da vida parecia sumir.Ficamos ali por quase duas horas. Nina estava encantada com o movimento ao seu redor, observando as crianças que corriam e gargalhavam. Quando vi um
MaxMinha mente girava, como se estivesse presa em um redemoinho de desespero. As palavras dela ecoavam como um grito abafado no fundo da minha alma. O que ela estava dizendo parecia impossível. Cruel demais para ser verdade.Se realmente o aborto não foi espontâneo, o que tinha acontecido? A gravidez já estava tão avançada…— Como assim? — Minha voz saiu trêmula, quase inaudível, enquanto eu dava um passo à frente, tentando encontrar alguma explicação nos olhos dela.Mas os olhos da Priscila só devolveram dor. Uma dor tão crua e avassaladora que me deixou sem ar. O silêncio dela foi como um soco, uma pancada que tirava qualquer resquício de chão sob meus pés.Quando finalmente falou, cada palavra foi uma lâmina afiada rasgando meu peito.Ela caminhou até o sofá e sentou-se, meio tonta, ao lado do cercadinho onde Nina dormia tranquila, alheia à tempestade que nos envolvia. Priscila fechou os olhos por um momento, como se precisasse reunir forças para continuar. E quando os abriu, sua
Priscila Barcella Eu me sentia sufocada, como se todo o ar ao meu redor tivesse sido roubado pela conversa com Max. Cada palavra que ele disse parecia carregar o peso do mundo, esmagando qualquer força que eu ainda tentava sustentar. Minhas pernas mal obedeciam quando me sentei no sofá, e uma tontura inquietante me tomou. Ao vê-lo subir as escadas com as duas bebês nos braços, uma sensação avassaladora de impotência tomou conta de mim. Tudo parecia fora de controle, distante do meu alcance.— Você está pálida — comentou Rafaela, sua voz embargada pela preocupação. Sem esperar por uma resposta, ela foi até a cozinha e voltou com um copo de água.Eu tentei agradecê-la, mas minha voz parecia presa na garganta. Peguei o copo com mãos trêmulas, percebendo só então como meus dedos mal conseguiam segurar o objeto. A água balançava, refletindo o turbilhão de emoções que eu tentava esconder.Rafaela sentou-se ao meu lado, mantendo uma distância respeitosa, mas seus olhos revelavam o quanto qu
Priscila BarcellaDepois que a filha da Marta foi embora, subi para o meu quarto, sentindo o peso daquela cena ainda grudado em mim. Assim que entrei, fui direto para o banheiro. Enchi a banheira com água quente e mergulhei, deixando que a tensão do confronto se dissolvesse aos poucos.A água quente relaxava meu corpo, mas minha mente não parava. Marta. A forma como abaixava a cabeça, como aceitava tudo sem se defender, me atormentava. Ela era forte—eu sabia disso—mas aquele fardo emocional parecia estar esmagando-a, pouco a pouco.Não entendia como alguém podia ter a sorte de ter uma mãe como Marta e simplesmente não dar valor. Ela era generosa, amorosa, sempre colocando os outros à frente de si mesma. E, mesmo assim, para a própria filha, nunca parecia suficiente.Suspirei, afundando um pouco mais na água. Marta nunca desistiria dela. Porque mães têm esse coração teimoso, que continua amando, mesmo quando quem está do outro lado não merece.E talvez fosse por isso que Liam amava do
Max Fos Fiquei com as minhas filhas até a hora em que o Marcelo chegou da escola. Hoje, ele parecia mais animado do que o normal.— Tio! — Ele gritou assim que entrou, os olhos brilhando, o corpo pulando sutilmente no mesmo lugar, como se a energia precisasse sair de algum jeito.Sorri, já acostumado com essa recepção calorosa.— Oi, amigão. Como foi a escola hoje? — perguntei, mantendo o tom de voz leve, sem pressa, sabendo que ele gostava de responder no seu próprio ritmo.Ele mexeu os dedos no ar, como se estivesse contando algo invisível, antes de falar:— Foi muito divertido! Eu fiz uma amiga. A Ayumi. — Ele pausou, franzindo levemente a testa, organizando os pensamentos antes de continuar. — Ela gosta de EA Sports FC 25! E disse que eu posso jogar na casa dela!O entusiasmo na voz dele era contagiante, mas o que mais me chamou atenção foi o jeito como seus olhos brilhavam. Ele olhava para a estante de jogos, os dedos se mexendo no ar, como se estivesse revivendo a conversa com