MaxMinha mente girava, como se estivesse presa em um redemoinho de desespero. As palavras dela ecoavam como um grito abafado no fundo da minha alma. O que ela estava dizendo parecia impossível. Cruel demais para ser verdade.Se realmente o aborto não foi espontâneo, o que tinha acontecido? A gravidez já estava tão avançada…— Como assim? — Minha voz saiu trêmula, quase inaudível, enquanto eu dava um passo à frente, tentando encontrar alguma explicação nos olhos dela.Mas os olhos da Priscila só devolveram dor. Uma dor tão crua e avassaladora que me deixou sem ar. O silêncio dela foi como um soco, uma pancada que tirava qualquer resquício de chão sob meus pés.Quando finalmente falou, cada palavra foi uma lâmina afiada rasgando meu peito.Ela caminhou até o sofá e sentou-se, meio tonta, ao lado do cercadinho onde Nina dormia tranquila, alheia à tempestade que nos envolvia. Priscila fechou os olhos por um momento, como se precisasse reunir forças para continuar. E quando os abriu, sua
Priscila Barcella Eu me sentia sufocada, como se todo o ar ao meu redor tivesse sido roubado pela conversa com Max. Cada palavra que ele disse parecia carregar o peso do mundo, esmagando qualquer força que eu ainda tentava sustentar. Minhas pernas mal obedeciam quando me sentei no sofá, e uma tontura inquietante me tomou. Ao vê-lo subir as escadas com as duas bebês nos braços, uma sensação avassaladora de impotência tomou conta de mim. Tudo parecia fora de controle, distante do meu alcance.— Você está pálida — comentou Rafaela, sua voz embargada pela preocupação. Sem esperar por uma resposta, ela foi até a cozinha e voltou com um copo de água.Eu tentei agradecê-la, mas minha voz parecia presa na garganta. Peguei o copo com mãos trêmulas, percebendo só então como meus dedos mal conseguiam segurar o objeto. A água balançava, refletindo o turbilhão de emoções que eu tentava esconder.Rafaela sentou-se ao meu lado, mantendo uma distância respeitosa, mas seus olhos revelavam o quanto qu
Priscila Barcella Depois que a filha da Marta foi embora, subi para o meu quarto, sentindo o peso daquela cena ainda grudado em mim. Assim que entrei, fui direto para o banheiro. Enchi a banheira com água quente e mergulhei, deixando que a tensão do confronto se dissolvesse aos poucos. A água quente relaxava meu corpo, mas minha mente não parava. Marta. A forma como abaixava a cabeça, como aceitava tudo sem se defender, me atormentava. Ela era forte—eu sabia disso—mas aquele fardo emocional parecia estar esmagando-a, pouco a pouco. Não entendia como alguém podia ter a sorte de ter uma mãe como Marta e simplesmente não dar valor. Ela era generosa, amorosa, sempre colocando os outros à frente de si mesma. E, mesmo assim, para a própria filha, nunca parecia suficiente. Suspirei, afundando um pouco mais na água. Marta nunca desistiria dela. Porque mães têm esse coração teimoso, que continua amando, mesmo quando quem está do outro lado não merece. E talvez fosse por isso que Liam amava
Max Fos Fiquei com as minhas filhas até a hora em que o Marcelo chegou da escola. Hoje, ele parecia mais animado do que o normal.— Tio! — Ele gritou assim que entrou, os olhos brilhando, o corpo pulando sutilmente no mesmo lugar, como se a energia precisasse sair de algum jeito.Sorri, já acostumado com essa recepção calorosa.— Oi, amigão. Como foi a escola hoje? — perguntei, mantendo o tom de voz leve, sem pressa, sabendo que ele gostava de responder no seu próprio ritmo.Ele mexeu os dedos no ar, como se estivesse contando algo invisível, antes de falar:— Foi muito divertido! Eu fiz uma amiga. A Ayumi. — Ele pausou, franzindo levemente a testa, organizando os pensamentos antes de continuar. — Ela gosta de EA Sports FC 25! E disse que eu posso jogar na casa dela!O entusiasmo na voz dele era contagiante, mas o que mais me chamou atenção foi o jeito como seus olhos brilhavam. Ele olhava para a estante de jogos, os dedos se mexendo no ar, como se estivesse revivendo a conversa com
Max Fos Saí de casa com o peito ardendo, a raiva pulsando tão forte que parecia um tambor incessante dentro de mim. Minhas mãos tremiam ao girar a chave na ignição, e o carro rugiu como se respondesse à tempestade dentro de mim. O ar parecia denso, pesado, como se o próprio mundo conspirasse para me sufocar.A imagem de Marina — não, ela não merecia mais que eu a chamasse de mãe — invadia minha mente como um fantasma que eu nunca conseguiria exorcizar. Seu sorriso sempre tranquilo, seu olhar afetuoso, seu toque delicado… tudo agora se revelava uma farsa grotesca, um teatro bem ensaiado para esconder a monstruosidade que pulsava por trás de cada palavra mansa.Eu confiava nela.Eu a amava.E ela matou minha filha.Ela destruiu um pedaço de mim antes mesmo de eu saber que existia.A lembrança desse crime me atravessava como uma lâmina quente, queimando até os ossos. O celular tremia na minha mão enquanto eu bloqueava cada cartão ao qual ela tinha acesso. Cada clique era uma sentença, c
Priscila BarcellaDepois do banho e de finalmente conseguir me acalmar um pouco, vesti uma roupa confortável e prendi o cabelo ainda úmido em um coque frouxo. Liam fez o mesmo, e descemos juntos para o almoço.Assim que entramos na cozinha, parei no meio do caminho, estreitando os olhos.As crianças já estavam sentadas à mesa, todas arrumadas, sem vestígios dos uniformes. A comida fumegava nos pratos, e o cheiro do tempero caseiro preenchia o ambiente. Até aí, tudo normal. O estranho era o comportamento deles.Quietos demais. Comendo direitinho demais. Sem brigas, sem implicâncias, sem nenhuma tentativa de fugir dos legumes.Isso só podia significar uma coisa: estavam aprontando alguma.Cruzei os braços e os encarei um por um. Íris desviou o olhar, fingindo estar concentrada no prato. Ítalo tomou um longo gole de suco, como se quisesse desaparecer atrás do copo. Mas Belinha… bem, Belinha era a única que parecia alheia a tudo.— Mamãe! — exclamou animada, saindo da cadeira e correndo a
Rafaela Carvalho O mundo ao meu redor parecia um borrão indistinto, como se eu estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar. O zunido do motor do carro ressoava alto, mas o único som que realmente ecoava dentro de mim era o martelar frenético do meu coração. Minhas mãos ainda tremiam. O peso da minha bebê em meus braços era real, quente, mas nem mesmo o calor do corpinho frágil de Laurinha conseguia me ancorar no presente. O medo enroscava-se na minha garganta como uma corrente invisível, apertando, sufocando. A simples ideia de que Max pudesse estar gravemente ferido me deixava à beira do desespero. Eu não sabia de nada. Não sabia se ele estava consciente. Se estava respirando. Se estava... Fechei os olhos com força, tentando afastar os pensamentos catastróficos. O pânico consumia cada parte de mim, uma chama devoradora que subia pelo meu peito, queimando. — Rafa, olha pra mim. — A voz de Priscila soou firme, mas carregada de um carinho que eu não sabia se mereci
Priscila BarcellaFoi bom demais ver que o Max estava bem. Eu vinha me culpando tanto pelo acidente, sentindo um peso esmagador no peito, mas vê-lo ali, inteiro, apesar de tudo, me trouxe um alívio que nem sabia que precisava.Me acomodei no sofá ao lado de Liam, observando Josefa com Laurinha no colo e Léo brincando com Nina. Os dois eram avós babões de um jeito que aquecia o coração. A cena me fez sorrir, mesmo com tudo ainda embaralhado na minha mente.Suspirei, encostando a cabeça no peito de Liam. O calor do seu abraço foi imediato, forte e seguro, e por um segundo fechei os olhos, tentando absorver aquela sensação.— Ainda bem que ele não teve nada grave… — minha voz saiu baixa, um misto de alívio e culpa. — Mas eu deveria ter contado sobre a Mavie antes. Se eu tivesse dito a verdade, nada disso teria acontecido.Liam deslizou os dedos suavemente pelo meu braço, seu toque gentil contrastando com o peso das minhas palavras.— Você não pode carregar essa culpa, Pri. O que acontece