Capítulo 168

Priscila Barcella

Acordei no meio da madrugada, sentindo um olhar sobre mim. Pisquei algumas vezes, tentando me situar, até encontrar Liam me observando com um sorriso sereno, os olhos brilhando com aquele afeto tranquilo que só ele sabia ter.

— Dorme, amor… ainda é muito cedo — ele murmurou, deslizando os dedos pela minha bochecha com uma delicadeza que quase me fez chorar. Seu polegar traçou um caminho leve até o canto dos meus lábios, como se quisesse guardar meu sorriso mesmo quando eu dormisse.

Fechei os olhos por um instante, me permitindo sentir aquela paz. A mão dele repousou em minha nuca, fazendo um carinho sutil e contínuo, como quem embala um segredo. Era tão bom tê-lo ao meu lado, sentir sua presença como um cobertor macio ao meu redor, como se nada pudesse me atingir. Mas a tranquilidade durou pouco.

A lembrança das palavras de Ricardo me atingiu como uma lâmina fria: "Ela é a cara da irmã."

O ar pareceu pesar nos meus pulmões. Um nó se formou na minha garganta, e a dor familiar voltou com força total. Ricardo me roubou a chance de conhecer minha filha. Mesmo que ela nunca tenha respirado, mesmo que seu coração jamais tenha batido forte fora de mim… ela era minha menininha. E eu queria, ao menos, ter tido a chance de vê-la.

Me encolhi, virando de lado, como se meu corpo pudesse se proteger da lembrança. A respiração ficou entrecortada, um soluço tímido escapou antes que eu pudesse contê-lo.

Liam se ergueu de leve, apoiando o cotovelo no travesseiro, e acariciou minhas costas com suavidade.

— Amor, você está bem? — ele perguntou, a voz carregada de preocupação, mas sem pressa, como se tivesse todo o tempo do mundo pra me esperar voltar a respirar direito.

Respirei fundo, tentando afastar a angústia, e me movi devagar até me aninhar contra o peito dele. Seu abraço veio no mesmo instante, firme, quente, protetor. Ouvir o coração dele batendo debaixo da pele me ajudava a lembrar que eu estava viva. Que eu tinha alguém ali.

— Aquele idiota disse que a Nina é a cara da Mavie… — minha voz saiu baixa, quase um sussurro. Dizer aquilo em voz alta fez tudo parecer ainda mais real, mais cruel.

Liam me apertou contra si como se pudesse costurar as rachaduras do meu peito com os braços. Um dos braços envolvia minha cintura, enquanto a outra mão acariciava meus cabelos com um cuidado que me desmanchava por dentro.

— Ele só queria te magoar, Pri… — disse ele suavemente, depositando um beijo demorado no topo da minha cabeça. — Mas pensa pelo lado positivo: agora você sabe que ela era igualzinha a você. Como a Nina é. Cheia de luz.

Fechei os olhos, deixando que suas palavras se acomodassem dentro de mim. Era difícil, mas algo no jeito que ele falava, na certeza calma que havia em sua voz, conseguia abrir espaço no meio da dor.

Ainda doía. Provavelmente sempre doeria. Mas ali, nos braços de Liam, a dor parecia um pouco mais suportável. Um pouco menos cruel.

— Ainda bem que eu tenho você — falei, deixando os lábios roçarem sua clavícula ao falar.

— E não vai se livrar de mim tão fácil — ele respondeu com um sorriso na voz, beijando meu ombro nu, depois o contorno da minha pele até o pescoço. — Eu tô aqui. Pra tudo. Até quando você só quiser silêncio e colo.

— Não sei como uma pessoa tão boa como você foi se apaixonar por mim. Eu sei que sou bonita e gostosa...

Liam soltou uma risada abafada, aquele riso grave que fazia meu estômago vibrar.

— Modéstia nunca foi teu forte, né? — ele provocou, apertando de leve minha cintura e beliscando meu quadril de leve, me fazendo rir entre as lágrimas.

— É só sinceridade — retruquei, tentando manter o tom sério. — Mas, falando sério... às vezes eu realmente me pergunto. Você podia escolher qualquer mulher do mundo. Por que logo eu?

Ele ficou em silêncio por um instante. Só o som da nossa respiração preenchia o quarto escuro. O silêncio dele não era incômodo — era cheio. Profundo. Ele me fez olhar pra ele de novo, puxando meu rosto com a ponta dos dedos. Seus olhos estavam intensos, e um sorriso pequeno e apaixonado se formava ali.

— Porque você é a mulher mais forte que eu já conheci — ele disse, como se fosse uma declaração sagrada. — Porque mesmo com tudo o que já viveu, você ainda ama. Ama os meninos, ama a Nina… me ama. E isso… isso me quebra e me reconstrói todo dia.

Meus olhos se encheram de lágrimas outra vez. Mas era diferente. Não era só dor. Era um alívio doce, um calor que nascia no peito e se espalhava devagar.

— Você não vê, mas eu vejo. Todo dia. Você lutando. Se reconstruindo. E mesmo quando tá no chão, você é linda. Uma mulher inteira, cheia de falhas, cheia de luz. Eu me apaixonei por tudo isso. E cada dia que passa, eu me apaixono um pouco mais.

Uma lágrima caiu, e ele a enxugou com o polegar, me olhando com tanto amor que minha alma tremeu.

— Você é bobo — falei, com a voz trêmula, escondendo o rosto no pescoço dele.

— Sou mesmo. Bobo por você. — Ele riu baixinho e começou a distribuir beijos suaves no meu rosto: na testa, nas têmporas, na pontinha do nariz. — Mas se você repetir que é só bonita e gostosa, vou te lembrar que também é teimosa, brava, carinhosa, e tem um coração gigante que vive querendo cuidar de todo mundo… até de mim.

— Eu gosto de cuidar de você — confessei, sussurrando. — Com você, é fácil. Você me deixa leve, Liam. Você me deixa respirar.

Ele me envolveu mais ainda, como se quisesse colar nossos corpos de vez, e roçou os lábios devagar nos meus. O beijo veio suave, lento, cheio de promessas silenciosas. Era o tipo de beijo que não precisava de pressa. Só de entrega.

— A gente vai ser feliz, Priscila. Não importa o passado. Eu prometo — ele disse, depois, encostando a testa na minha.

E naquela madrugada silenciosa, entre lembranças que ainda doíam e promessas sussurradas, eu senti — com a mesma certeza que sentia o calor dos braços dele ao meu redor — que talvez eu pudesse mesmo ser feliz. Não apesar da dor, mas com ela. Porque agora, finalmente… eu não estava mais sozinha.

©©©©©©©©©©

Continua...

"Meus amores,

Antes de tudo, quero pedir desculpas pela minha ausência e por não estar conseguindo manter o ritmo de antes. Minha saúde tem exigido mais cuidado e atenção, e eu precisei me permitir desacelerar um pouco.

Mas não se preocupem, eu não vou abandonar vocês! Estou passando por um momento de muitas mudanças, internas e externas… um tempo especial, de transformação e descoberta. Ainda não consigo compartilhar todos os detalhes, mas posso dizer que meu coração nunca esteve tão cheio de amor.

Prometo continuar com vocês, mesmo que de um jeitinho mais leve. A partir de agora, minha meta é postar três vezes na semana, com todo carinho que vocês merecem.

Obrigada por estarem aqui, mesmo nos meus silêncios. Vocês são muito importantes pra mim."

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