Assim que desci no táxi, na cidade vizinha, senti uma angústia crescente dentro de mim. O coração batia descompassado, as pernas quase não respondiam aos comandos do cérebro.
Eu tive que contatá-lo através do pager e exigir que viesse me encontrar a fim de falarmos sobre Danna. Mas fazia tantos anos que não o via... E vê-lo sempre era motivo de nervosismo.
Marcamos num café conhecido, embora eu soubesse que não devia ser nada parecido com o luxo ao qual ele estava acostumado. Júlio sempre foi rico, mas agora eu já sabia que ele tinha passado daquele patamar, estando bilionário provavelmente.
Antes de entrar no café vi o Rolls-Royce estacionado e de imediato soube que ele já estava ali, já que ninguém na cidade teria um carro daquele.
Respirei fundo e rezei brevemente antes de passar pela porta e procurá-lo entre as pes
Juntei mentalmente cada pedacinho quebrado do meu coração e colei em segundos. Respirei fundo e tentei não ser grosseira:- Sinto muito, Júlio, mas não estou aqui para falar sobre você – fui sincera – Eu tenho que voltar para o trabalho em breve – deixei claro, olhando no relógio – E meu interesse é em curar Danna e fazer com que ela volte a ter amor pela vida... Assim como você diz que voltou a ter.E Deus era prova de que eu não queria nada com ele e nunca me passou pela cabeça que pudesse haver alguma chance para nós depois da morte de Celli. Mas saber que ele amava outra mulher e que não era a minha irmã doeu muito. E se aquilo doeu em mim... Como foi para Danna se adaptar à Nadine?Era óbvio que ela teria dificuldades. Celli era uma pessoa incrível, um ser de luz e deixaria um buraco em qualquer coração depois de sua partida, assim como deixou em mim. Lembrei que Danna tinha 9 para 10 anos quando tudo aconteceu. Em sua cabecinha era normal se sentir culpada, afinal, por causa da
POV DANNA DAVEEstava fazendo exatamente uma semana desde que Isla havia me sacudido e posto meu rosto que parecia de uma vadia desfigurada na frente do espelho. Desde então eu estava tentando ao máximo não ser um peso morto para ela e Vanessa. E sim, como eu queria fazer tudo que podia de errado para que Isla perdesse a paciência e meu pai me buscasse de volta para casa. Mas alguma coisa me fazia voltar atrás, parecendo que devia ficar um pouco mais.O fato de eu ter encontrado o salgueiro chorão, que agora eu já sabia o nome, a árvore com que sonhei durante anos, parecia um sinal de que eu estava predestinada a conhecer aquele lugar. E o pintor estava lá... Exatamente naquele lugar, no lugar dos meus sonhos. Não havia a mínima possibilidade de ser uma simples coincidência. E eu era o tipo de pessoa que não acreditava em porra nenhuma. Mas quem não ficaria impressionada de sonhar com uma maldita árvore tantas vezes e um dia amanhecer debaixo dela, sendo observada por olhos azuis inte
POV KILLIAN DE ALCÂNTARA- Olá, padre! – Ouvi a voz inconfundível da mulher que havia passado a noite alucinada ao meu lado há uma semana atrás, com o rosto coberto por uma... Toalha de mesa?Me deu vontade de rir, mas me contive. Quem em sã consciência põe uma toalha de mesa rendada na cabeça? Será que ela tinha sido agredida e por isto não queria mostrar o rosto?- Você já se confessou antes? – Perguntei, certo de que não.- Não. – Ela confirmou minhas suspeitas.Eu estava cansado. Não tinha noção de quantas pessoas eu tinha ouvido e minha cabeça já começava a latejar. Parecia que a cada sexta-feira vinham mais pessoas. E meu pai nem sempre conseguia me ajudar. E mesmo quando vinha, a minha fila era gigantesca e na dele tinha duas ou três pessoas, o que o deixava com a sensaç
Tudo se misturava na minha cabeça... Danna, suas palavras debaixo do salgueiro chorão, dizendo que sonhava com aquela árvore, os lábios dela, convidativos, Juliana... O boquete que ela havia feito na caminhonete, o acidente... A imagem de Cristo na cruz.Percebi que eu suava excessivamente. E quando consegui enfim voltar a mim Danna estava ali, sem dizer absolutamente nada, só respirando aceleradamente, como se realmente tivesse tentando se recuperar de um orgasmo.- Tem outro pecado? – Perguntei – Porque... Tem muitas pessoas ainda para se confessarem.- Não sou pecadora, padre.- Todos somos pecadores.- Você pecou agora, padre? Você gozou? Você ficou duro?Engoli em seco:- Deus a perdoa por este pecado.- Não quero que Ele me perdoe – ela foi enfática – Eu não acredito no seu Deus.- Então por que est&aacut
- Por que está usando esta toalha? – Perguntei.- Não é uma toalha... É um véu! – Aquela frase me pareceu tão inocente que senti algo forte, que me tocou de uma forma estranha.Nunca na vida tive vontade de sair dali e dar um forte abraço em alguém... Não o que eu queria dar nela, com força, querendo acordá-la e fazê-la perceber que não era uma criança... Que era uma mulher, linda... E que mesmo que tivesse cometido um crime no passado, Deus a perdoava.- Deus, Pai das misericórdias, pela morte e ressurreição do seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo entre nós para o perdão dos pecados; pelo ministério da Igreja, Deus vos dê o perdão e a paz, e eu vos absolvo dos seus pecados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.- Eu ainda me sinto culpa
- Por que contaríamos? – Vanessa me olhou, confusa.- Você se confessou?- Sim... E você não tem muito a ver com meus pecados. Ou seja, quando falei com o padre sobre você, não mencionei que fumava ou que tinha um sobrenome... Tampouco sobre a sua mãe. Eu só disse que tinha vontade de te matar.Começamos a rir. Quando enfim conseguimos parar de achar o jeito como Vanessa falou engraçado, brinquei:- Puxa, você vai pintar muitas paredes.- Paredes? – As duas me olharam.- Quanto se tem muitos pecados não se pinta as paredes da igreja? Se você disse que iria me matar, certamente o padre mandará você pintar e pintar e pintar... – Gargalhei.- Ninguém pinta paredes! – Luane estreitou os olhos – A penitência são algumas orações.- Esta parte das orações eu pu
- Lourenço é noivo! – ela disse.- Noivo?Eu não vi nenhuma aliança no dedo dele. Mas talvez não tivesse observado de forma atenta. Quem seria a noiva do policial? A mulher que o beijou na moto? Teriam eles um relacionamento aberto?- E você sabia quando se envolveu com ele? – Perguntei.- Não. Eu fui numa das reuniões dele na floresta. Era para ser só uma noite de diversão... Mas acabei transando com ele – Luane parecia extremamente arrependida.- Transar... Não é ruim. Não se vocês dois tiverem curtido. – Tentei animá-la.- Eu era virgem. E claro que sabia o que era camisinha. Mas assim como o padre Killian, Lourenço sempre foi o sonho das meninas de Machia, embora fôssemos bem mais jovens que eles.- Quantos anos você tinha?- Eu tinha dezesseis.Engoli em seco:- Voc
POV VANESSANunca me achei a pessoa mais sortuda do mundo, até porque eu dava um duro danado e parecia nunca sair do lugar. Mas quando olhava para minha prima, me sentia uma vencedora. Danna era a prova viva de que dinheiro não trazia felicidade. Eu tinha um misto de sentimentos por ela, todos muitos estranhos e completamente opostos. Numa hora tinha vontade de abraçá-la com força e dizer que a protegeria de tudo. Em outro eu tinha vontade de dar-lhe umas boas bofetadas e mandá-la a puta que pariu.Minha mãe me advertiu que quando ela chegasse, talvez tivéssemos problemas. Eu sabia da existência de Danna e sua família, embora nunca os tivesse visto. E claro que para mim não era nenhuma surpresa que minha mãe e a mãe dela tiveram algo muito sério no passado e não foi resolvido, ou então as duas irmãs se falariam. Quando Celli morreu, minha mãe sofreu muito. E entendi que, independente do que tivesse acontecido, ela amava muito a irmã.Cheguei a perguntar algumas vezes para minha mãe o