Tudo se misturava na minha cabeça... Danna, suas palavras debaixo do salgueiro chorão, dizendo que sonhava com aquela árvore, os lábios dela, convidativos, Juliana... O boquete que ela havia feito na caminhonete, o acidente... A imagem de Cristo na cruz.
Percebi que eu suava excessivamente. E quando consegui enfim voltar a mim Danna estava ali, sem dizer absolutamente nada, só respirando aceleradamente, como se realmente tivesse tentando se recuperar de um orgasmo.
- Tem outro pecado? – Perguntei – Porque... Tem muitas pessoas ainda para se confessarem.
- Não sou pecadora, padre.
- Todos somos pecadores.
- Você pecou agora, padre? Você gozou? Você ficou duro?
Engoli em seco:
- Deus a perdoa por este pecado.
- Não quero que Ele me perdoe – ela foi enfática – Eu não acredito no seu Deus.
- Então por que est&aacut
- Por que está usando esta toalha? – Perguntei.- Não é uma toalha... É um véu! – Aquela frase me pareceu tão inocente que senti algo forte, que me tocou de uma forma estranha.Nunca na vida tive vontade de sair dali e dar um forte abraço em alguém... Não o que eu queria dar nela, com força, querendo acordá-la e fazê-la perceber que não era uma criança... Que era uma mulher, linda... E que mesmo que tivesse cometido um crime no passado, Deus a perdoava.- Deus, Pai das misericórdias, pela morte e ressurreição do seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo entre nós para o perdão dos pecados; pelo ministério da Igreja, Deus vos dê o perdão e a paz, e eu vos absolvo dos seus pecados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.- Eu ainda me sinto culpa
- Por que contaríamos? – Vanessa me olhou, confusa.- Você se confessou?- Sim... E você não tem muito a ver com meus pecados. Ou seja, quando falei com o padre sobre você, não mencionei que fumava ou que tinha um sobrenome... Tampouco sobre a sua mãe. Eu só disse que tinha vontade de te matar.Começamos a rir. Quando enfim conseguimos parar de achar o jeito como Vanessa falou engraçado, brinquei:- Puxa, você vai pintar muitas paredes.- Paredes? – As duas me olharam.- Quanto se tem muitos pecados não se pinta as paredes da igreja? Se você disse que iria me matar, certamente o padre mandará você pintar e pintar e pintar... – Gargalhei.- Ninguém pinta paredes! – Luane estreitou os olhos – A penitência são algumas orações.- Esta parte das orações eu pu
- Lourenço é noivo! – ela disse.- Noivo?Eu não vi nenhuma aliança no dedo dele. Mas talvez não tivesse observado de forma atenta. Quem seria a noiva do policial? A mulher que o beijou na moto? Teriam eles um relacionamento aberto?- E você sabia quando se envolveu com ele? – Perguntei.- Não. Eu fui numa das reuniões dele na floresta. Era para ser só uma noite de diversão... Mas acabei transando com ele – Luane parecia extremamente arrependida.- Transar... Não é ruim. Não se vocês dois tiverem curtido. – Tentei animá-la.- Eu era virgem. E claro que sabia o que era camisinha. Mas assim como o padre Killian, Lourenço sempre foi o sonho das meninas de Machia, embora fôssemos bem mais jovens que eles.- Quantos anos você tinha?- Eu tinha dezesseis.Engoli em seco:- Voc
POV VANESSANunca me achei a pessoa mais sortuda do mundo, até porque eu dava um duro danado e parecia nunca sair do lugar. Mas quando olhava para minha prima, me sentia uma vencedora. Danna era a prova viva de que dinheiro não trazia felicidade. Eu tinha um misto de sentimentos por ela, todos muitos estranhos e completamente opostos. Numa hora tinha vontade de abraçá-la com força e dizer que a protegeria de tudo. Em outro eu tinha vontade de dar-lhe umas boas bofetadas e mandá-la a puta que pariu.Minha mãe me advertiu que quando ela chegasse, talvez tivéssemos problemas. Eu sabia da existência de Danna e sua família, embora nunca os tivesse visto. E claro que para mim não era nenhuma surpresa que minha mãe e a mãe dela tiveram algo muito sério no passado e não foi resolvido, ou então as duas irmãs se falariam. Quando Celli morreu, minha mãe sofreu muito. E entendi que, independente do que tivesse acontecido, ela amava muito a irmã.Cheguei a perguntar algumas vezes para minha mãe o
- Ouvi dizer que o senhor Wash foi embora e virá outro advogado para a cidade. – Luane comentou, empolgada.Luane era assim, numa hora lamentava o passado e parecia reviver aquela dor pela qual passou. Mas logo em seguida conseguia se recompor e olhar para frente, tentando fisgar um bom partido, se é que haviam bons partidos em Machia. Minha cidade era composta por uma população em sua maioria idosa. E os poucos jovens que tinham, assim que havia oportunidade iam embora, em busca de oportunidades.- Para onde o senhor Wash foi? – perguntei – Eu imaginei que do escritório ele só iria para o cemitério.- Parece que os filhos o levaram para morar num asilo.- Pobre senhor Wash. – Lamentei.- Melhor morar num asilo do que num cemitério. – Danna falou – E o pacto de sangue? – Ela quis saber, tão ansiosa quanto uma menina de 12 anos que acabou de menstruar pela primeira vez e iria colocar absorvente.Suspirei, me dando por vencida. Se tirar uma gota do meu sangue e juntar no dela a faria fe
POV DANNA Acordei cedo na segunda-feira. Nunca imaginei ter que esperar para tomar banho. Embora não tivesse uma fila, quem levantasse primeiro tinha preferência no uso. Eu geralmente era a última. Mas naquele dia fui a segunda, pois acordei antes de Vanessa.O banho era horrível, pois o banheiro era pequeno e a ducha saía pouca água e a temperatura nunca ficava ideal, sempre mais fria ou mais quente do que eu queria. Sem contar o chão que não contava com aquecimento no piso. Ainda assim eu não podia dizer que odiava viver ali, porque não seria verdade. Além de ter encontrado naquela maldita cidade o homem mais bonito do mundo inteiro, meu pintor sexy, ainda tinha Vanessa, que era uma pessoa que me agradava de certa forma. E eu nem conseguia entender direito como conseguia ter sentimentos por ela sendo que me dizia umas coisas que eu não gostava. Isla também não era uma pessoa ruim.Quando saí do banho, a mesa do café estava posta e me impressionei que Vanessa e Isla ainda não estava
- Você é casado?Ele gargalhou, ainda de braços cruzados. Observei sua calça jeans justa com a camiseta branca ajeitada para dentro da calça clara. Aquele era o tipo de homem que ficaria bem com qualquer roupa... Mas melhor ainda sem. Eu conseguia me imaginar transando com ele enquanto olhava em seus belos olhos azuis. E sim, aquilo seria uma evolução na minha vida sexual, já que havia também a possibilidade de transar com ele mais de uma vez, diferente do que havia sido com outros homens ao longo da minha vida.- E desde quando padres podem casar? Desta parte você sabe, não é mesmo?Eu ri, incerta se entendi o que ele quis dizer. Mas como não houve maiores justificativas por parte do homem, perguntei, atordoada:- Você também é padre? – Minha voz saiu fraca.- Sim... O “também” não entendi muito bem, já que sou o padre desta paróquia. Meu pai... – ele meneou a cabeça, se corrigindo – Na verdade não é meu pai, mas o chamo assim, pois foi ele quem me criou, é o padre José, que anterio
- Eu não a desejo, Danna. – Ele pareceu ser sincero enquanto os azuis de seus olhos davam a impressão de atravessar os meus.Se aquele homem soubesse o quanto mexia comigo sequer ousaria ficar na minha frente.- E eu o desejo, Killian... Ardentemente. – Fui sincera, embora não imaginei que ele me levaria a sério.Killian suspirou e sorriu:- Vamos, Danna. Há muito trabalho por fazer.Ele foi andando de volta à igreja e eu o segui.- Você ouviu o que eu disse? – Perguntei.- Aqui estão as latas de tintas. Precisamos dar uma mão de tinta para deixar a cor mais viva. Tenho medo que comece a descascar, já que faz um tempo que a igreja não é pintada.- Em primeiro lugar, eu estudava Artes na faculdade e sinceramente achei que você quisesse que eu pintasse outra coisa e não paredes... Em segundo, se a sua igreja ganha tan