POV KILLIAN DE ALCÂNTARA- Olá, padre! – Ouvi a voz inconfundível da mulher que havia passado a noite alucinada ao meu lado há uma semana atrás, com o rosto coberto por uma... Toalha de mesa?Me deu vontade de rir, mas me contive. Quem em sã consciência põe uma toalha de mesa rendada na cabeça? Será que ela tinha sido agredida e por isto não queria mostrar o rosto?- Você já se confessou antes? – Perguntei, certo de que não.- Não. – Ela confirmou minhas suspeitas.Eu estava cansado. Não tinha noção de quantas pessoas eu tinha ouvido e minha cabeça já começava a latejar. Parecia que a cada sexta-feira vinham mais pessoas. E meu pai nem sempre conseguia me ajudar. E mesmo quando vinha, a minha fila era gigantesca e na dele tinha duas ou três pessoas, o que o deixava com a sensaç
Tudo se misturava na minha cabeça... Danna, suas palavras debaixo do salgueiro chorão, dizendo que sonhava com aquela árvore, os lábios dela, convidativos, Juliana... O boquete que ela havia feito na caminhonete, o acidente... A imagem de Cristo na cruz.Percebi que eu suava excessivamente. E quando consegui enfim voltar a mim Danna estava ali, sem dizer absolutamente nada, só respirando aceleradamente, como se realmente tivesse tentando se recuperar de um orgasmo.- Tem outro pecado? – Perguntei – Porque... Tem muitas pessoas ainda para se confessarem.- Não sou pecadora, padre.- Todos somos pecadores.- Você pecou agora, padre? Você gozou? Você ficou duro?Engoli em seco:- Deus a perdoa por este pecado.- Não quero que Ele me perdoe – ela foi enfática – Eu não acredito no seu Deus.- Então por que est&aacut
- Por que está usando esta toalha? – Perguntei.- Não é uma toalha... É um véu! – Aquela frase me pareceu tão inocente que senti algo forte, que me tocou de uma forma estranha.Nunca na vida tive vontade de sair dali e dar um forte abraço em alguém... Não o que eu queria dar nela, com força, querendo acordá-la e fazê-la perceber que não era uma criança... Que era uma mulher, linda... E que mesmo que tivesse cometido um crime no passado, Deus a perdoava.- Deus, Pai das misericórdias, pela morte e ressurreição do seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo entre nós para o perdão dos pecados; pelo ministério da Igreja, Deus vos dê o perdão e a paz, e eu vos absolvo dos seus pecados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.- Eu ainda me sinto culpa
- Por que contaríamos? – Vanessa me olhou, confusa.- Você se confessou?- Sim... E você não tem muito a ver com meus pecados. Ou seja, quando falei com o padre sobre você, não mencionei que fumava ou que tinha um sobrenome... Tampouco sobre a sua mãe. Eu só disse que tinha vontade de te matar.Começamos a rir. Quando enfim conseguimos parar de achar o jeito como Vanessa falou engraçado, brinquei:- Puxa, você vai pintar muitas paredes.- Paredes? – As duas me olharam.- Quanto se tem muitos pecados não se pinta as paredes da igreja? Se você disse que iria me matar, certamente o padre mandará você pintar e pintar e pintar... – Gargalhei.- Ninguém pinta paredes! – Luane estreitou os olhos – A penitência são algumas orações.- Esta parte das orações eu pu
- Lourenço é noivo! – ela disse.- Noivo?Eu não vi nenhuma aliança no dedo dele. Mas talvez não tivesse observado de forma atenta. Quem seria a noiva do policial? A mulher que o beijou na moto? Teriam eles um relacionamento aberto?- E você sabia quando se envolveu com ele? – Perguntei.- Não. Eu fui numa das reuniões dele na floresta. Era para ser só uma noite de diversão... Mas acabei transando com ele – Luane parecia extremamente arrependida.- Transar... Não é ruim. Não se vocês dois tiverem curtido. – Tentei animá-la.- Eu era virgem. E claro que sabia o que era camisinha. Mas assim como o padre Killian, Lourenço sempre foi o sonho das meninas de Machia, embora fôssemos bem mais jovens que eles.- Quantos anos você tinha?- Eu tinha dezesseis.Engoli em seco:- Voc
POV VANESSANunca me achei a pessoa mais sortuda do mundo, até porque eu dava um duro danado e parecia nunca sair do lugar. Mas quando olhava para minha prima, me sentia uma vencedora. Danna era a prova viva de que dinheiro não trazia felicidade. Eu tinha um misto de sentimentos por ela, todos muitos estranhos e completamente opostos. Numa hora tinha vontade de abraçá-la com força e dizer que a protegeria de tudo. Em outro eu tinha vontade de dar-lhe umas boas bofetadas e mandá-la a puta que pariu.Minha mãe me advertiu que quando ela chegasse, talvez tivéssemos problemas. Eu sabia da existência de Danna e sua família, embora nunca os tivesse visto. E claro que para mim não era nenhuma surpresa que minha mãe e a mãe dela tiveram algo muito sério no passado e não foi resolvido, ou então as duas irmãs se falariam. Quando Celli morreu, minha mãe sofreu muito. E entendi que, independente do que tivesse acontecido, ela amava muito a irmã.Cheguei a perguntar algumas vezes para minha mãe o
- Ouvi dizer que o senhor Wash foi embora e virá outro advogado para a cidade. – Luane comentou, empolgada.Luane era assim, numa hora lamentava o passado e parecia reviver aquela dor pela qual passou. Mas logo em seguida conseguia se recompor e olhar para frente, tentando fisgar um bom partido, se é que haviam bons partidos em Machia. Minha cidade era composta por uma população em sua maioria idosa. E os poucos jovens que tinham, assim que havia oportunidade iam embora, em busca de oportunidades.- Para onde o senhor Wash foi? – perguntei – Eu imaginei que do escritório ele só iria para o cemitério.- Parece que os filhos o levaram para morar num asilo.- Pobre senhor Wash. – Lamentei.- Melhor morar num asilo do que num cemitério. – Danna falou – E o pacto de sangue? – Ela quis saber, tão ansiosa quanto uma menina de 12 anos que acabou de menstruar pela primeira vez e iria colocar absorvente.Suspirei, me dando por vencida. Se tirar uma gota do meu sangue e juntar no dela a faria fe
POV DANNA Acordei cedo na segunda-feira. Nunca imaginei ter que esperar para tomar banho. Embora não tivesse uma fila, quem levantasse primeiro tinha preferência no uso. Eu geralmente era a última. Mas naquele dia fui a segunda, pois acordei antes de Vanessa.O banho era horrível, pois o banheiro era pequeno e a ducha saía pouca água e a temperatura nunca ficava ideal, sempre mais fria ou mais quente do que eu queria. Sem contar o chão que não contava com aquecimento no piso. Ainda assim eu não podia dizer que odiava viver ali, porque não seria verdade. Além de ter encontrado naquela maldita cidade o homem mais bonito do mundo inteiro, meu pintor sexy, ainda tinha Vanessa, que era uma pessoa que me agradava de certa forma. E eu nem conseguia entender direito como conseguia ter sentimentos por ela sendo que me dizia umas coisas que eu não gostava. Isla também não era uma pessoa ruim.Quando saí do banho, a mesa do café estava posta e me impressionei que Vanessa e Isla ainda não estava