- Deus lhe deu dez anos com ela. Acho que Ele foi bem generoso com você... Mais do que comigo. Afinal, eu não tive o prazer de conhecer minha mãe.
- Não vejo desta forma... Infelizmente quando ela se foi, levou um pedaço de mim.
- Ela quereria que você fosse feliz. Eu tenho certeza disto. Já não está na hora de seguir em frente?
- Seguir em frente para onde, Killian?
Nos olhamos e parei de caminhar. Estávamos bem próximos da igreja, ou que também significava o quintal e pomar de minha casa.
- Encontrará alguém que se preocupe que você saia sem casaco num dia frio... E fará com que os aniversários e festas como Natal sejam significativas. E quando tiver medo, certamente estará ao seu lado.
- Eu já saí sem o casaco, Killian... E tive muito medo naquele dia. E não tinha ninguém ao meu lado.
<Já fazia mais de cinco horas que eu estava de joelhos, orando e implorando a Deus por perdão e força.- Não acha que já ficou tempo suficiente aí, meu filho? – Perguntou pai José, tirando-me do fervor com que eu orava.Levantei a cabeça e abri os olhos, observando-o ao meu lado:- Pai, eu acho que preciso conversar com alguém.Ele sorriu, daquela forma gentil e que fazia com que todos os problemas parecessem pequenos diante de sua tranquilidade:- Isto será como seu pai e amigo ou deseja fazer em forma de confissão?Eu ri:- Por que em forma de confissão se sei que não falaria a ninguém sobre o que lhe conto? É a pessoa em quem mais confio no mundo todo. E o único que conhece todos os meus segredos.Ele sentou-se ao meu lado, no degrau do altar:- O que tanto o aflige, Killian? Faz muitos anos que n&atild
- Os pecados da carne são passageiros. A mantenha longe e não a desejará. Esta é a parte mais fácil.- E qual é a difícil?- A dor de não vê-la... E a saudade que lhe consumirá como se fosse fogo queimando lenha com álcool.- Ela estava tão certa quando disse que não deveríamos mais nos ver... Chegou a marcar dia para irmos ao salgueiro chorão para que não nos encontrássemos. E eu concordei, porque sabia que ela tinha razão... No entanto... Pedi que ela fosse ajudar no orfanato. E depois que fiz aquilo fiquei completamente arrependido, pois sei que tê-la por perto seria horrível para mim... É uma provação horrível cada minuto ao lado de Danna.- O que sente, Killian?- Vontade de tocá-la... De pegá-la no meu colo e abraçá-la com força e dizer que nunc
- Jamais serei capaz de pronunciar as palavras, pai.- Que diferença faz, Killian? Falar é o de menos, quando sente de forma tão intensa. Quanto aos seus votos... – ele suspirou e ficou visivelmente agitado – Às vezes é melhor quebrá-los do que viver uma vida de mentira e arrependimento.A forma como ele falou pareceu que era exatamente como se sentia. Se chamou de hipócrita há alguns minutos atrás. E agora me parecia claro que aconteceu algo no passado com relação a meu pai e alguma mulher.- Você abriu mão dela? – Perguntei, de forma séria.- Juliana e os Sturman são manipuladores desde sempre, Killian. E não significa que eu não goste de Juliana, mas alguma vez ela tentou intervir com a mãe em prol do orfanato? Ela sabe o quanto é importante para você e o quanto luta em favor destas crianças.
- Um carro novo para a delegacia? – Fiquei surpreso e ao menos tempo anojado – Como assim?- Você não esteve na última sessão da Câmara de Vereadores, Killian? E sim, aprovaram a compra do carro. Ou seja, não fiz por conta própria, a fim de beneficiar meu filho, se é isto que está pensando, até porque o carro é para a cidade e não para Lourenço.- O carro atual da polícia de Machia é praticamente novo!- Aliás, como você não apareceu na sessão – enfatizou, me culpando – Também aprovamos uma verba para trocar o piso da igreja.- O piso da igreja? – A olhei, confuso – Eu... Não fiz esta solicitação.- Mas percebi que há algumas imperfeições no piso, sem contar que está ultrapassado. Pensei em algo mais moderno, como um porcelanato p
- Como você mesmo acabou de dizer, não é Deus! Então não precisa perdoá-la. Deixemos isto para o Nosso Senhor que está no céu.- Você não tem direito de dizer o que posso ou não fazer com relação à religião e minhas crenças, Nicolle. Foram oito anos de estudos para fazer os votos de ser um padre.- Se ficar ao lado desta mulher, caso ela decida concorrer, não só você mas também a igreja serão afetados, Killian.- Isto é uma ameaça, Nicolle?- Entenda como quiser, Killian. Desde que fique bem claro na sua cabeça que antes de ser quem é, você era o noivo da minha filha e a amava. Eu confiava em você e por isto a deixei entrar naquela caminhonete na fatídica noite em que eu quase a perdi. Você não matou uma pessoa... Mas a deixou marcada pelo resto da vida.
Juliana foi até o confessionário e assim que entrou, entrei junto de meu pai José, para ouvir a confissão. Se era errado fazer aquilo? Sim, ambos sabíamos que era. Mas ao mesmo tempo culpar uma pessoa inocente por algo que não havia feito era pior ainda. Precisávamos saber da verdade sobre qual das duas mentia: Juliana ou Danna.Juliana ajoelhou-se e fez o sinal da cruz:- “Perdoe-me, padre, pois eu pequei. Faz duas semanas desde a minha última confissão. Estes são meus pecados... – suspirou – Eu talvez esteja odiando uma pessoa.- Odiando? – Pai José perguntou.- Sim. O senhor já conhece Danna Dave. E eu não queria ter sentimentos tão ruins dentro de mim, já que em meu coração só tento manter coisas boas. Mas esta mulher é muito má, padre. Ela me diz coisas horríveis... E tentou me mata
Vanessa ficou em silêncio por alguns minutos, a respiração acelerada, aos poucos começando a ficar mais calma.- Deseja um copo de água, Vanessa? – Pai José perguntou.- Não, padre José... Obrigada.Ela queria falar, mas parecia incerta. Olhei de forma interrogativa para meu pai, querendo saber o motivo pelo qual ele não a questionava.- Sinta-se à vontade, Vanessa! Não se force a dizer o que não quer. E se quiser dizer, estarei aqui para ouvi-la. Siga o caminho do seu coração.Arqueei a sobrancelha, confuso. Por que meu pai estava fazendo aquilo, sabendo o quanto era importante para mim saber sobre Danna?- Eu... – ela suspirou – Sinto que Danna não esteja bem. E creio que está apaixonada pelo padre Killian...Estreitei os olhos, confuso. E o que aquilo tinha a ver com “aquela noite” que ela men
POV DANNA DAVEAssim que bati na porta, Jorge me atendeu. Me olhou surpreso:- Você aqui?Sorri e acenei:- Não vim como... Conhecida e sim como cliente. – deixei claro, com um sorriso.- Minha primeira cliente? – ele sorriu gentilmente – Merece um café. Entre, Danna!Ele se afastou da porta para que eu entrasse. Percebi que Jorge estava montando uma recepção na sala de sua casa.- Pensa em usar este espaço para trabalho? – Perguntei.- Sim. É hora de mudar um pouco a forma como tudo ficava aqui.- Esta cidade não aceita muito bem as mudanças. – Deixei claro.- Mas quiserem um bom advogado, terão que me engolir. – ele sorriu e puxou uma cadeira para mim – Infelizmente meu escritório não está totalmente pronto, então terei que recebê-la deste jeito. Mas como somos... Amigo