Collin*Ela estava transformada. Sentia cada célula queimar como brasa viva, como se o próprio fogo ancestral tivesse despertado em sua carne.Madeira se partia, corpos colidiam, sangue escorria pelas paredes cobertas de tapeçarias agora manchadas. Os lupinos de Maden haviam se transformado sem hesitação, suas formas bestiais tomando o ambiente como um enxame assassino. Liam, livre das correntes e transformadoCollin olhou para Colen. A irmã estava parada. Olhos arregalados. A boca entreaberta. O mundo inteiro caía aos pedaços ao redor delas, mas ela... só a encarava.Como se a visse pela primeira vez.Collin não hesitou. Um grito feral rompeu sua garganta, e ela avançou.Colen virou-se e correu. Como uma sombra fugidia, sumiu pelos corredores, depois pelos portões destruídos. A guerra fervia atrás delas — e Collin a seguiu sem olhar para trás. -----Liam*O cheiro de sangue empesteava o ar. Os rugidos enchiam os ouvidos. Os lupinos de Maden o cercaram como pr
Damon*O castelo cheirava a morte. Um fedor espesso de sangue e carniça impregnava cada parede, cada sombra. Corpos de lupinos juncavam os corredores como bonecos partidos, pedaços de membros espalhados como escombros de uma guerra esquecida. Mas Damon não via nada disso.Ele seguia o cheiro dela.O rastro de Eve era fraco... mas presente. Seus passos eram lentos, arrastados. O corpo doía, o coração batia num compasso insano. Quando finalmente chegou à antiga cozinha real, seus olhos quase o traíram.Ela estava ali.Caída no chão frio, o corpo estirado sem vida.— Eve... Eve... — sua voz era um lamento sufocado.Aproximou-se com o fôlego preso. O mundo se estreitou ao redor quando viu o sangue coagulado no chão. E então viu — o braço dela. Arrancado. Não havia sequer vestígio de que fora uma retirada limpa. Fora brutal, como se alguém tivesse a rasgado viva.Damon caiu de joelhos. Encostou o focinho em seu rosto gelado, sentindo a vida escorrer entre os dedos do destino.— Meu amor..
Collin*A alcatéia de Liam começava a deixar os destroços de Alicerce Azul. Os corpos exaustos caminhavam em silêncio, carregando nos ombros o peso da guerra vencida. O ar cheirava a sangue e fumaça, mas também a recomeço. Ainda havia uma última coisa a ser feita — justiça.Valério e Alice foram levados à praça central ao cair da tarde. As cordas estavam prontas. Liam os encarou sem uma palavra. Não havia perdão — não para quem havia vendido sua própria alcatéia. Quando os corpos penderam do alto, balançando com o vento frio, a multidão permaneceu em silêncio. O som da vingança era mudo.Edmund era o único Vênus sobrevivente. Estava ajoelhado na terra encharcada, sem se abalar, como se já estivesse em paz com sua sentença. Não havia medo em seus olhos — apenas resignação.Collin se aproximou devagar, tocando o braço de Liam. Ele virou-se, os olhos ainda endurecidos.— Quando eu fugi… ele foi o único que me ajudou — disse com a voz baixa, mas firme. — Deixe-o viver.Liam a encarou por
Collin e Colen nasceram na mesma tarde fria de inverno. As duas tinham cabelos vermelhos esvoaçantes e rostos belos, mas os olhos as diferenciavam. Colen herdara dois pares de olhos verdes reluzentes, enquanto Collin tinha um verde e outro amarelo, algo que sempre a fizera sentir-se... errada. Apesar disso, Collin amava a irmã, vendo nela uma heroína e protetora, mesmo que a recíproca nem sempre fosse verdadeira.A vida na aldeia montanhosa de Rovina era dura, mas para Collin parecia ainda mais cruel. Seus pais claramente preferiam Colen, enchendo-a de elogios e mimos, enquanto Collin recebia apenas trabalho e indiferença. "Ande mais rápido, Collin!", a mãe gritava, ignorando o fato de que a jovem carregava dois pesados baldes de maçãs enquanto Colen segurava apenas um quase vazio.À noite, Collin só jantava depois de regar a horta, e a comida já estava fria e sem gosto. Quando finalmente se deitava, exausta, o cheiro de suor impregnava seu travesseiro, pois não tinha energia sequer p
Collin não sabia quando havia dormido ou desmaiado nos ombros do líder, apenas despertou com um sobressalto horas depois, seu corpo frio e dolorido. A floresta ao seu redor era silenciosa, exceto pelo crepitar de uma fogueira próxima. Um casaco pesado cobria seus ombros, mas a sensação de desconforto permanecia. Tentando manter a calma, ela ergueu a cabeça devagar, observando os homens ao redor. Alguns dormiam, outros permaneciam em vigília perto do fogo. Seus olhos procuraram instintivamente pelo líder, mas ele estava ausente.Seu coração martelava. Se eu conseguir fugir agora, posso escapar desse pesadelo.— Está com fome? — uma voz masculina quebrou o silêncio.Collin congelou, não ousando responder.— Eu sei que está acordada — insistiu a voz, um tom de diversão mesclado à firmeza.Relutante, ela abriu os olhos, encontrando o homem negro de cabelos grisalhos sentado próximo. Ele segurava um prato com um pedaço de carne assada.— Sou Damon Stons — apresentou-se. — Você deveria come
Quando chegaram ao acampamento, o alfa convocou os demais para informar que passariam a noite ali. Precisavam descansar antes de retomar a viagem pela amanhã. Collin estava sentada sob uma árvore, próxima a fogueira, mas ainda afastada dos outros. Ela tentava manter-se invisível, mas logo notou a aproximação do alfa. Ele caminhava com passos decididos, os olhos fixos nela. Quando parou á sua frente, agachou-se sem esforço e lhe estendeu um prato de comida. — Damon disse que você não comeu. — não quero nada. — ela virou o rosto irritada e frustada. O movimento dele foi imediato. A mão grande segurou seu queixo, obrigadando-a encará-lo. — eu não pedi para que você comesse. Eu ordenei. — eu não sou sua escrava para receber ordens! — não, você não é minha escrava. — a voz dele era fria, cortante. Os olhos verdes brilhavam intensos, carregados de algo que a fez engolir em seco. — mas você é minha. E fará o que eu mandar. Collin tentou se mover, ele a manteve presa sob seu olhar. —
Collin, sem fôlego, colocou a mão trêmula sobre o ferimento em sua perna. O alfa se aproximou rapidamente, a pegou nos braços e começou a caminhar de volta em direção ao acampamento. A dor em sua perna era intensa, queimando e ardendo como fogo.— Está ardendo muito... — ela sussurrou, a voz tremida. Ele apenas franziu a testa e apertou o maxilar, seu olhar fixo no horizonte, como se a dor dela fosse um peso insuportável.— Eu vou morrer? — A pergunta saiu com um tom de desespero, mas Collin não sabia exatamente o que temia mais: a dor ou o fato de que o que estava acontecendo com ela era algo desconhecido. Na sua aldeia, os lupinos eram meros rumores, algo distante, e as histórias sobre os vampiros eram evitadas, escondidas em sussurros. Ela sabia o suficiente para entender que, se estivesse sendo atacada por uma dessas criaturas, o tempo dela estava se esgotando. Mas ele não respondeu, e isso a fez sentir um nó apertado no peito. Aquilo não era bom. Nada disso era bom.Após algum te
Collin tremia. Calafrios sacudiam seu corpo enquanto pesadelos e alucinações horríveis tomavam conta de sua mente. Cada parte dela doía, e até respirar parecia um esforço insuportável. De repente, seus olhos se abriram. Tudo ao redor era escuridão, embaçado e opressivo. Tossiu, sentindo o gosto metálico de sangue. — não... Não... Não. — susssurrou para si mesma. Collin não sabia o que era real. Queria apenas voltar para casa, para perto de sua irmã. Apesar de tudo. — apesar da traição —, desejava estar em casa. Uma luz fraca interrompeu a escuridão. Era uma tocha. Seu olhar se ajustou e percebeu estar em uma caverna cercada de ossos. O cheiro pútrido quase a fez vomitar. — ela acordou. — uma voz baixa ecuou ao longe. — tem certeza? — claro que sim! — a outra voz respondeu irritada. Tudo voltou á sua mente num golpe cruel. Ela havia sido sequestrada por vampiros. Sua perna latejou, como se queimasse por dentro. Desesperada, tentou tocar o ferimento, mas a dor era insuportável. —