Collin*Ela engoliu em seco, o olhar cravado nos olhos escuros e frios daquele monstro. Cada palavra precisava ser medida, cada gesto podia custar a vida de Eve.— Me dê sua palavra que vai deixá-la ficar comigo e trazer o que ela precisa.Maden gargalhou com gosto, como se aquela súplica fosse uma piada de mau gosto.— Minha palavra? Ah, filha... — aproximou-se das grades com calma. — Você deveria saber melhor do que ninguém que a minha palavra... não vale merda nenhuma. — inclinou a cabeça, sorrindo como uma fera que saboreia a fraqueza da presa. — Acha mesmo que vou cair nesse papinho emocional? Estamos tão atrasados pra esse tipo de jogo.Ela se manteve firme, mesmo com o sangue latejando nas veias.— Eu não estou jogando... só quero garantias.— Eu também, querida. — respondeu, como se estivessem trocando confidências em um jantar de família.Collin olhou para Eve. Ela ainda estava caída no chão, os olhos entreabertos, respirando com dificuldade. O sangue seco em sua pele parecia
Liam*Os passos ecoavam frios pelos corredores do castelo, como se cada centímetro daquelas paredes absorvesse a dor e a maldade daquele lugar. Os lupinos de Maden os arrastavam sem nenhuma delicadeza. Liam sentia a pulsação acelerada de Collin, mesmo sem tocar nela. O cheiro dela estava carregado de adrenalina e pavor, mas ela caminhava com o queixo erguido. Sempre corajosa.Estavam prestes a serem separados nas celas quando Liam rosnou com ferocidade:— Ficaremos na mesma cela.Os lupinos riram debochadamente, mas não por muito tempo.— Acha que tem autoridade aqui, bastardo?— Se quiser, posso mostrar o que acontece quando me contradizem. — Os olhos de Liam brilhavam, um aviso silencioso, selvagem. Seus dentes quase romperam a pele dos próprios lábios.Os lupinos hesitaram por um segundo, se entreolhando. O clima ficou mais denso, até que, bufando, cederam. Liam então passou o braço com firmeza pela cintura de Collin e a conduziu para dentro da cela. Assim que a porta se fechou atr
Collin*Ela andava de um lado para o outro, com os cabelos desgrenhados, os pés descalços ecoando no chão gelado daquela cela fétida. As unhas estavam roídas até a carne viva. Seu peito arfava num ritmo acelerado, como se a qualquer momento o ar fosse desaparecer.A mente gritava perguntas. O que estavam fazendo com Liam? Ele ainda estava vivo? Maden o mataria diante de todos?— Collin... — a voz fraca e rouca de Eve rompeu o silêncio sufocante.Ela correu até as grades, tentando vê-la no fundo da cela ao lado, mas a penumbra era quase total.— Eve! Como você está? Me diz que tá viva, por favor...— Dolorida... e com febre. — tossiu, com um chiado que cortava o coração de Collin.Ela se agarrou às barras, o ferro frio machucando seus dedos, impotente. Estava longe demais. A amiga precisava de ajuda, e ela não podia fazer nada.— Eu... eu achei que tinha ouvido a voz do Liam... — mais uma tosse violenta, mais fraca do que a anterior.— Ele está aqui — sussurrou, a voz embargada. — Ele
Collin*O aperto no pescoço era sufocante. O ar escapava como areia entre os dedos. As unhas cravadas nas mãos de Colen não surtiam efeito, ela estava fria, impiedosa... possessa.Todos à mesa observavam. Como se fosse apenas mais um espetáculo grotesco entre tantos.Liam se levantou de súbito, os olhos selvagens, os caninos expostos.— Solta ela, sua vadia!— Cuidado com o que diz... com a mãe do seu filho. — Colen respondeu, a voz tão cortante quanto lâminas de gelo.— Você sabe tão bem quanto eu que isso é mentira, sua filha da puta! — rugiu Liam.Colen sorriu. Um sorriso lento, malicioso. Como se se alimentasse da dor deles.Maden, até então em silêncio, ergueu-se como um imperador cruel diante da execução.— Ponha ela no chão, Colen.A irmã hesitou, saboreando o momento por mais um segundo, antes de soltá-la. Collin caiu de joelhos, arfando, tossindo, tentando recuperar o fôlego.— Fique aí, queridinha. — Colen debochou.Maden bateu palmas, o som seco ecoando nas paredes com o me
Collin*Ela estava transformada. Sentia cada célula queimar como brasa viva, como se o próprio fogo ancestral tivesse despertado em sua carne.Madeira se partia, corpos colidiam, sangue escorria pelas paredes cobertas de tapeçarias agora manchadas. Os lupinos de Maden haviam se transformado sem hesitação, suas formas bestiais tomando o ambiente como um enxame assassino. Liam, livre das correntes e transformadoCollin olhou para Colen. A irmã estava parada. Olhos arregalados. A boca entreaberta. O mundo inteiro caía aos pedaços ao redor delas, mas ela... só a encarava.Como se a visse pela primeira vez.Collin não hesitou. Um grito feral rompeu sua garganta, e ela avançou.Colen virou-se e correu. Como uma sombra fugidia, sumiu pelos corredores, depois pelos portões destruídos. A guerra fervia atrás delas — e Collin a seguiu sem olhar para trás. -----Liam*O cheiro de sangue empesteava o ar. Os rugidos enchiam os ouvidos. Os lupinos de Maden o cercaram como pr
Damon*O castelo cheirava a morte. Um fedor espesso de sangue e carniça impregnava cada parede, cada sombra. Corpos de lupinos juncavam os corredores como bonecos partidos, pedaços de membros espalhados como escombros de uma guerra esquecida. Mas Damon não via nada disso.Ele seguia o cheiro dela.O rastro de Eve era fraco... mas presente. Seus passos eram lentos, arrastados. O corpo doía, o coração batia num compasso insano. Quando finalmente chegou à antiga cozinha real, seus olhos quase o traíram.Ela estava ali.Caída no chão frio, o corpo estirado sem vida.— Eve... Eve... — sua voz era um lamento sufocado.Aproximou-se com o fôlego preso. O mundo se estreitou ao redor quando viu o sangue coagulado no chão. E então viu — o braço dela. Arrancado. Não havia sequer vestígio de que fora uma retirada limpa. Fora brutal, como se alguém tivesse a rasgado viva.Damon caiu de joelhos. Encostou o focinho em seu rosto gelado, sentindo a vida escorrer entre os dedos do destino.— Meu amor..
Collin*A alcatéia de Liam começava a deixar os destroços de Alicerce Azul. Os corpos exaustos caminhavam em silêncio, carregando nos ombros o peso da guerra vencida. O ar cheirava a sangue e fumaça, mas também a recomeço. Ainda havia uma última coisa a ser feita — justiça.Valério e Alice foram levados à praça central ao cair da tarde. As cordas estavam prontas. Liam os encarou sem uma palavra. Não havia perdão — não para quem havia vendido sua própria alcatéia. Quando os corpos penderam do alto, balançando com o vento frio, a multidão permaneceu em silêncio. O som da vingança era mudo.Edmund era o único Vênus sobrevivente. Estava ajoelhado na terra encharcada, sem se abalar, como se já estivesse em paz com sua sentença. Não havia medo em seus olhos — apenas resignação.Collin se aproximou devagar, tocando o braço de Liam. Ele virou-se, os olhos ainda endurecidos.— Quando eu fugi… ele foi o único que me ajudou — disse com a voz baixa, mas firme. — Deixe-o viver.Liam a encarou por
Collin e Colen nasceram na mesma tarde fria de inverno. As duas tinham cabelos vermelhos esvoaçantes e rostos belos, mas os olhos as diferenciavam. Colen herdara dois pares de olhos verdes reluzentes, enquanto Collin tinha um verde e outro amarelo, algo que sempre a fizera sentir-se... errada. Apesar disso, Collin amava a irmã, vendo nela uma heroína e protetora, mesmo que a recíproca nem sempre fosse verdadeira.A vida na aldeia montanhosa de Rovina era dura, mas para Collin parecia ainda mais cruel. Seus pais claramente preferiam Colen, enchendo-a de elogios e mimos, enquanto Collin recebia apenas trabalho e indiferença. "Ande mais rápido, Collin!", a mãe gritava, ignorando o fato de que a jovem carregava dois pesados baldes de maçãs enquanto Colen segurava apenas um quase vazio.À noite, Collin só jantava depois de regar a horta, e a comida já estava fria e sem gosto. Quando finalmente se deitava, exausta, o cheiro de suor impregnava seu travesseiro, pois não tinha energia sequer p