Collin não sabia quando havia dormido ou desmaiado nos ombros do líder, apenas despertou com um sobressalto horas depois, seu corpo frio e dolorido. A floresta ao seu redor era silenciosa, exceto pelo crepitar de uma fogueira próxima. Um casaco pesado cobria seus ombros, mas a sensação de desconforto permanecia. Tentando manter a calma, ela ergueu a cabeça devagar, observando os homens ao redor. Alguns dormiam, outros permaneciam em vigília perto do fogo. Seus olhos procuraram instintivamente pelo líder, mas ele estava ausente.
Seu coração martelava. Se eu conseguir fugir agora, posso escapar desse pesadelo. — Está com fome? — uma voz masculina quebrou o silêncio. Collin congelou, não ousando responder. — Eu sei que está acordada — insistiu a voz, um tom de diversão mesclado à firmeza. Relutante, ela abriu os olhos, encontrando o homem negro de cabelos grisalhos sentado próximo. Ele segurava um prato com um pedaço de carne assada. — Sou Damon Stons — apresentou-se. — Você deveria comer. — Por favor… — Collin murmurou, sua voz trêmula. — Houve um engano. Eu não deveria estar aqui. Damon arqueou uma sobrancelha, como se já esperasse a reação. — Não cabe a mim decidir, menina. Coma. — Não! — ela esbravejou, a dor em sua voz atraindo olhares dos outros. — Não sou quem ele quer! Minha irmã... Damon suspirou, colocando o prato ao lado dela. — O alfa não gosta de fraqueza, garota. Não o force a ser impiedoso. Ele se levantou, afastando-se para junto dos outros, deixando-a sozinha com seus pensamentos. Collin sabia que essa era sua chance. ----- Quando o acampamento ficou em silêncio, ela esperou. Os poucos homens de guarda estavam longe, e os demais dormiam profundamente. Ela se levantou com cuidado, os pés descalços tocando o chão frio da floresta. Agora ou nunca. Sem olhar para trás, Collin correu. As árvores pareciam se fechar ao seu redor, mas ela seguiu em frente, ignorando as pedras afiadas e os galhos que machucavam sua pele. O medo era mais forte que a dor. Até que tropeçou. O galho perfurou seu pé, e ela caiu com um grito sufocado. — Ah… deuses... — murmurou, lágrimas escorrendo por seu rosto enquanto tentava arrancar o pedaço de madeira. De repente, tudo ficou em silêncio. Os sons da floresta desapareceram. Nem os pássaros noturnos ousavam cantar. Collin sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ela levantou a cabeça devagar e viu uma figura surgir das sombras. O alfa. Seu cabelo estava molhado, e gotas escorriam por seu rosto anguloso. Ele parecia uma força da natureza, cada movimento calculado e letal. — Está tentando se matar, fêmea? — perguntou, a voz grave reverberando na noite. Ela não conseguiu responder. Seu corpo tremia tanto de dor quanto de medo. Ele se aproximou, agachando-se ao lado dela. Seus olhos verdes fitaram o ferimento em seu pé antes de subir para encontrar os dela. — Você não facilita, não é? Antes que ela pudesse protestar, ele a ergueu nos braços como se ela não pesasse nada. O calor de seu corpo envolveu o dela, e Collin lutou contra o impulso de se encolher. Sem dizer uma palavra, ele a carregou por uma trilha que ela não tinha visto antes. Depois de alguns minutos, chegaram a um pequeno lago iluminado pela luz prateada da lua. O alfa colocou-a sobre uma pedra lisa, seus movimentos precisos e firmes. Sem cerimônia, ele começou a limpar o ferimento no pé dela, lavando-o com a água fria do lago. — Da próxima vez que tentar algo tão estúpido, eu não serei tão misericordioso — ele murmurou, o tom de sua voz carregando um aviso gelado. — Houve um erro! — Collin insistiu, sua voz vacilando. — Você pegou a pessoa errada. Eu sou Collin, não Colen! Ele parou por um momento, levantando os olhos para encará-la. — Quando vai parar de repetir essa bobagem? — Quando você acreditar na verdade! Minha irmã me enganou, ela me deixou aqui no seu lugar! O alfa estreitou os olhos, mas não respondeu de imediato. Ele rasgou um pedaço de sua própria roupa e improvisou uma bandagem para o pé dela, seus movimentos surpreendentemente delicados. — Você fala como se tivesse escolha, fêmea. Mas vou esclarecer algo: não importa quem você pensa que é. — O que quer dizer com isso? — ela perguntou, a raiva e o medo misturados em sua voz. Ele se levantou, desabotoando o gibão lentamente. — O que está fazendo? — ela perguntou, recuando instintivamente. Quando o gibão deslizou de seus ombros, ela viu. No peito dele, várias marcas intrincadas semelhantes a uma tatuagem de correntes, com a letra C em cada ponta. Parecia que aquilo fazia parte de sua carne, irradiando uma energia quase palpável. — Você é minha alma de um, Colen. Nossos destinos estão entrelaçados, goste disso ou não. Ele inclinou-se, segurando o queixo dela com firmeza, forçando-a a olhar em seus olhos. — Não adianta fugir, garota. Eu esperei por você por muito tempo, e não vou desistir agora. Eu preciso de você. Collin sentiu o coração acelerar, um misto de terror e algo que ela não queria admitir. — Agora, vamos. Estamos quase em casa. — Não! Espere! — ela gritou, mas ele a pegou nos braços novamente, carregando-a com facilidade enquanto seguia pela floresta. O acampamento estava logo à frente, e Collin sentiu o desespero crescer. Eu preciso fugir. Preciso encontrar uma saída antes que seja tarde demais.Quando chegaram ao acampamento, o alfa convocou os demais para informar que passariam a noite ali. Precisavam descansar antes de retomar a viagem pela amanhã. Collin estava sentada sob uma árvore, próxima a fogueira, mas ainda afastada dos outros. Ela tentava manter-se invisível, mas logo notou a aproximação do alfa. Ele caminhava com passos decididos, os olhos fixos nela. Quando parou á sua frente, agachou-se sem esforço e lhe estendeu um prato de comida. — Damon disse que você não comeu. — não quero nada. — ela virou o rosto irritada e frustada. O movimento dele foi imediato. A mão grande segurou seu queixo, obrigadando-a encará-lo. — eu não pedi para que você comesse. Eu ordenei. — eu não sou sua escrava para receber ordens! — não, você não é minha escrava. — a voz dele era fria, cortante. Os olhos verdes brilhavam intensos, carregados de algo que a fez engolir em seco. — mas você é minha. E fará o que eu mandar. Collin tentou se mover, ele a manteve presa sob seu olhar. —
Collin, sem fôlego, colocou a mão trêmula sobre o ferimento em sua perna. O alfa se aproximou rapidamente, a pegou nos braços e começou a caminhar de volta em direção ao acampamento. A dor em sua perna era intensa, queimando e ardendo como fogo.— Está ardendo muito... — ela sussurrou, a voz tremida. Ele apenas franziu a testa e apertou o maxilar, seu olhar fixo no horizonte, como se a dor dela fosse um peso insuportável.— Eu vou morrer? — A pergunta saiu com um tom de desespero, mas Collin não sabia exatamente o que temia mais: a dor ou o fato de que o que estava acontecendo com ela era algo desconhecido. Na sua aldeia, os lupinos eram meros rumores, algo distante, e as histórias sobre os vampiros eram evitadas, escondidas em sussurros. Ela sabia o suficiente para entender que, se estivesse sendo atacada por uma dessas criaturas, o tempo dela estava se esgotando. Mas ele não respondeu, e isso a fez sentir um nó apertado no peito. Aquilo não era bom. Nada disso era bom.Após algum te
Collin tremia. Calafrios sacudiam seu corpo enquanto pesadelos e alucinações horríveis tomavam conta de sua mente. Cada parte dela doía, e até respirar parecia um esforço insuportável. De repente, seus olhos se abriram. Tudo ao redor era escuridão, embaçado e opressivo. Tossiu, sentindo o gosto metálico de sangue. — não... Não... Não. — susssurrou para si mesma. Collin não sabia o que era real. Queria apenas voltar para casa, para perto de sua irmã. Apesar de tudo. — apesar da traição —, desejava estar em casa. Uma luz fraca interrompeu a escuridão. Era uma tocha. Seu olhar se ajustou e percebeu estar em uma caverna cercada de ossos. O cheiro pútrido quase a fez vomitar. — ela acordou. — uma voz baixa ecuou ao longe. — tem certeza? — claro que sim! — a outra voz respondeu irritada. Tudo voltou á sua mente num golpe cruel. Ela havia sido sequestrada por vampiros. Sua perna latejou, como se queimasse por dentro. Desesperada, tentou tocar o ferimento, mas a dor era insuportável. —
Collin adormeceu no quarto contra a própria vontade. Sua mente ia e vinha, sempre voltando às palavras de Liam. Cada frase parecia martelar uma verdade inescapável: ela não tinha escolha. Ele a queria ali, e nada poderia mudar isso. Seu sono foi perturbado por pesadelos e memórias de casa, e ela acordou sobressaltada ao ouvir algo cair no chão.Sentando-se na cama, avistou uma jovem no canto do quarto. Alta, magra, com pele negra, olhos verdes e cabelos trançados, ela segurava o que pareciam ser roupas.— Não queria te acordar — disse a garota, aproximando-se com passos leves.Collin ficou em silêncio, observando-a.— Sou Eve. Eve Diar. — A jovem pousou as roupas na cama, lançando um olhar expectante. — Geralmente, as pessoas respondem com seus nomes em seguida.Collin tentou sorrir, mas falhou.— Sou Collin Alastar.Eve arqueou uma sobrancelha.— Collin? Damon disse que era Colen.Collin engoliu em seco.— Eu poderia explicar, mas... você não acreditaria.— Por que não tenta? — O olh
Tudo ficou escuro quando as mãos de Liam cobriram os olhos de Collin. Ela ofegou, sentindo o peso do corpo dele pressionando o seu contra a parede fria. O calor que emanava de Liam era sufocante, e a proximidade a fazia estremecer de raiva e desconforto. — eu disse que você não podia ver este lugar! Por que tirou a venda? — a voz dele era firme, carregada de autoridade. — me larga! — gritou debatendo-se, mas foi inútil. As mãos dele eram como algemas, segurando-a com uma força implacável. — controle-se, fêmea! — não me chame assim! — esbravejou, a voz cortando o silêncio pesado. — me solta, seu... — Collin mal conseguiu terminar a frase antes de sentir os braços dele ao redor do seu corpo, levantando-a com facilidade. Ele a carregou até um cômodo pequeno e escuro, onde não havia nada além de uma janela estreita no alto da parede. A sensação de vulnerabilidade era sufocante. — me põe no chão! — ela bateu no peito dele com força, mas Liam sequer vacilou. — quando parar de agir c
Collin permaneceu imóvel enquanto Liam a guiava pelo salão. Ao longo do caminho, sentia mãos desconhecidas tocando-a suavemente, como se aquilo fosse algum tipo de gesto ritualístico de aceitação. Era desconfortável, invasivo.— Não precisa se assustar — sussurrou Liam, a voz baixa em seu ouvido. — Você está sendo abençoada por nossa alcateia.Ela estremeceu. As palavras dele só reforçavam o peso daquela realidade. Tudo parecia cada vez mais inescapável, uma teia na qual ela estava presa, sem chance de fuga.Eles pararam, e Collin sentiu as mãos dele ao redor de sua cintura, trazendo-a mais para perto de si.— Colen Alastar, agora é minha alma de um — declarou Liam, sua voz forte preenchendo o espaço. — A partir desta noite, ela é uma de nós. Nesta noite, ela faz parte da alcateia Montanha de Prata. Saúdem a Deusa Lua por sua vida!Os gritos e aplausos que ecoaram pelo salão a fizeram se encolher. Ela mal conseguia respirar. Então, de repente, as mãos de Liam alcançaram o rosto dela,
Collin ficou em silêncio, incapaz de reagir. As palavras de Liam eram absurdas, tão inacreditáveis que ela nem sabia por onde começar. Mas uma coisa estava clara: ele não estava brincando.— Você não pode estar falando sério — disse, finalmente, a voz tensa.— Estou. — Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre os dois. — Quero um filho, e você pode me dar um.Collin soltou uma risada incrédula.— Você nem mesmo sabe se isso é possível! Você me disse que tentou de todas as formas. Como pode ter tanta certeza de que eu sou a resposta?Liam bufou, massageando a têmpora como se estivesse cansado daquela conversa.— Fêmea teimosa... — rosnou. — Você sequer escuta o que está sendo dito!— Já ouvi essa história ridícula sobre profecias e almas do destino, Liam. Mas isso é o que você acredita, não eu.Ele não desviou o olhar. Aqueles olhos sempre pareciam impenetráveis, como se escondessem algo que ele jamais revelaria.— Não vou repetir isso novamente, Colen.Ela se virou, furi
A primeira noite ao lado de Liam foi tudo, menos tranquila. Collin sequer conseguiu pregar os olhos. A cada movimento dele na cama, a cada respiração mais profunda, seu corpo se enrijecia. Passou horas observando-o, esperando qualquer aproximação inesperada. Mas nada aconteceu. Liam apenas dormia, completamente alheio à tensão dela.O sono só veio quando o céu começou a clarear, e mesmo assim, foi leve e fragmentado. Foi despertada pelo rangido da porta se abrindo. Sentou-se de sobressalto, o coração acelerado, e viu Eve entrando no quarto. Ela carregava alguns vestidos nos braços e caminhou até o guarda-roupa de madeira escura, começando a organizá-los.Ao perceber que Collin estava acordada, a jovem se virou com um sorriso amistoso.— Me desculpe pelo barulho. As portas dessa coisa são tão velhas e enferrujadas...Collin piscou algumas vezes, ainda tentando sair do torpor do sono. Seu olhar pousou nos tecidos que a outra dobrava.— Isso são... vestidos?— São suas roupas — respondeu