CLARAO silêncio que seguiu a ligação era ensurdecedor. Meu coração batia tão rápido que eu mal conseguia respirar. Henrique se levantou rapidamente, seus movimentos tensos, enquanto sua mente parecia trabalhar a mil. Cada palavra que ele havia dito depois de desligar o telefone ressoava na minha cabeça: "Eles estão mais perto do que pensávamos." O que isso significava exatamente? Como eles haviam conseguido chegar tão perto de novo?— O que está acontecendo? — perguntei, a voz trêmula enquanto tentava entender o que estava prestes a acontecer.Henrique passou a mão pelos cabelos, uma expressão de frustração misturada com preocupação em seu rosto. Ele respirou fundo antes de responder.— A polícia encontrou indícios de que os homens que nos perseguem conseguiram rastrear parte do caminho até aqui. Eles estão se movimentando. Ainda não sabem exatamente onde estamos, mas estão mais perto do que pensávamos. — Sua voz era baixa, quase um murmúrio, mas a urgência nela era clara.Meu estôma
CLARAMeu coração estava prestes a sair do peito. Cada batida era um lembrete ensurdecedor do perigo à espreita. Henrique estava de pé na frente da porta, a arma firme em suas mãos, pronto para o que viesse. Eu sabia que o que estava do outro lado era o fim de tudo o que tínhamos passado até aqui. E, pela primeira vez, senti que a batalha que tentamos evitar havia finalmente nos alcançado.— Clara, fique atrás de mim. Não importa o que aconteça, não saia daqui — Henrique sussurrou, seus olhos fixos na porta, os músculos tensos.Eu queria discutir, queria ficar ao lado dele, mas sabia que ele estava certo. Se algo desse errado, eu precisaria correr, me esconder, qualquer coisa para sobreviver. Então, respirei fundo, me obrigando a permanecer em silêncio, mesmo com o medo me dominando.Mais uma batida, agora mais forte e impaciente.— Abra a porta, Henrique! Não queremos complicar mais as coisas. — A voz do lado de fora era familiar e fria, cheia de uma calma sinistra que me fez tremer.
CLARAO som das sirenes e das vozes dos policiais preenchia o ar, mas para mim, tudo parecia um borrão distante. Estávamos do lado de fora da cabana, sentados no banco de trás da viatura, enquanto os paramédicos faziam o curativo no braço de Henrique. O céu estava começando a clarear, uma linha fina de luz surgindo no horizonte, e pela primeira vez em dias, senti que talvez estivéssemos realmente livres daquele pesadelo.Henrique estava quieto, seu olhar perdido no movimento dos policiais ao redor. O cansaço em seus olhos era óbvio, mas havia algo mais — um peso que ele ainda carregava. Mesmo com o fim do confronto, eu sabia que ele se culpava pelo que havíamos passado, por tudo o que aconteceu.— Você está bem? — perguntei, minha voz ainda fraca, mas cheia de preocupação. Eu não conseguia afastar a imagem de Henrique lutando por nossas vidas, sendo ferido enquanto tentava me proteger.Ele virou a cabeça lentamente, seus olhos encontrando os meus. Um pequeno sorriso surgiu em seu rost
CLARAOs dias que se seguiram ao confronto foram um turbilhão de emoções. Mesmo com o líder do grupo preso e a polícia garantindo que estávamos fora de perigo, era difícil desligar a sensação de alerta constante que eu carregava. A casa estava mais quieta agora, e, em muitos momentos, o silêncio parecia ensurdecedor.Henrique e eu estávamos vivendo em um misto de alívio e incerteza. Por mais que tentássemos voltar à rotina, as cicatrizes daquilo que passamos ainda estavam presentes, mesmo que não falássemos abertamente sobre elas. Henrique estava mais reservado do que o normal, suas noites de sono interrompidas por pesadelos que ele nunca comentava, mas que eu percebia.Eu também não conseguia relaxar completamente. Acordava várias vezes durante a noite, com a sensação de que ainda estava sendo observada. Meus olhos percorriam o quarto no escuro, procurando sombras onde não havia, e meu coração disparava à menor sugestão de perigo.Naquela manhã, o sol entrou pela janela suavemente, i
CLARAOs dias começaram a passar de forma mais tranquila, embora o peso do que havíamos vivido ainda estivesse presente, como uma sombra que se recusava a desaparecer completamente. Mesmo com a prisão dos homens que nos perseguiam, a sensação de alerta constante ainda me acompanhava, como se, a qualquer momento, algo pudesse dar errado. Mas, aos poucos, eu estava tentando me convencer de que o pior já havia passado.Henrique estava ao meu lado em cada passo desse processo. Ele parecia determinado a seguir em frente, a nos tirar daquele buraco emocional em que havíamos caído. Ele me envolvia com seu apoio, me tranquilizava quando as memórias voltavam de forma mais intensa, e, mais importante, estava ali, sempre presente.Mas havia algo em seus olhos que eu não conseguia ignorar. Mesmo nas suas palavras de incentivo, nos seus gestos de carinho, eu sabia que ele também estava lutando contra seus próprios demônios. As noites de insônia dele eram cada vez mais frequentes, e, às vezes, eu o
CLARAOs dias seguintes passaram de forma mais leve, como se uma nova energia estivesse nos envolvendo. Henrique e eu passamos a falar mais sobre o futuro, sobre os planos que tínhamos deixado de lado por tanto tempo. Ainda havia momentos em que o peso do passado nos alcançava, mas, juntos, estávamos aprendendo a enfrentá-los.Naquela tarde, sentamos no sofá, com nossas pernas entrelaçadas, cercados pelo conforto de nossa casa, conversando sobre as mudanças que queríamos fazer em nossas vidas. A luz suave do fim do dia entrava pela janela, dando ao ambiente uma sensação de calma, quase de renovação.— Sabe o que eu estava pensando? — Henrique começou, com um brilho nos olhos que eu não via há algum tempo. — Acho que está na hora de pensarmos em mudar de vez. Fazer algo diferente, começar em outro lugar.Olhei para ele com curiosidade. O tom de voz dele era sério, mas havia uma suavidade que indicava que ele estava realmente refletindo sobre o que dizia. Henrique era assim — sempre foc
CLARAAs semanas seguintes passaram em um turbilhão de emoções. A decisão de nos mudar trouxe uma sensação de renovação, mas, ao mesmo tempo, havia algo de estranho em deixar para trás a casa que, por tanto tempo, havia sido nosso lar. Mesmo com todas as lembranças dolorosas que ela guardava, não era fácil desapegar.No entanto, o entusiasmo de Henrique era contagiante. Ele estava animado com cada detalhe da nova casa, desde a escolha das cores para as paredes até o que plantaríamos no jardim. Ver o brilho nos olhos dele, a felicidade genuína de estar começando algo novo, me enchia de uma esperança que eu não sentia há muito tempo. Estávamos, aos poucos, nos libertando do passado.— Eu ainda não acredito que encontramos o lugar perfeito, — Henrique disse uma tarde, enquanto organizávamos algumas caixas para a mudança. — Sinto que finalmente estamos deixando tudo para trás.Olhei para ele, sentindo o calor das suas palavras. Sabia que ele estava falando mais do que apenas da casa. Está
CLARAO primeiro dia na nova casa foi uma mistura de alívio e estranheza. Olhar ao redor e ver o lugar vazio, sem marcas do passado, era uma sensação que eu não sabia bem como processar. Por um lado, parecia libertador; por outro, trazia uma ansiedade silenciosa, como se o desconhecido estivesse nos observando de algum canto, esperando que relaxássemos para nos lembrar de tudo o que havíamos passado.Mas eu queria focar no lado bom. Essa era a nossa chance de começar de novo.Henrique estava animado, como sempre. Ele já tinha em mente tudo o que queria fazer: pintar as paredes, plantar árvores no jardim e até construir um pequeno galpão nos fundos para seus projetos pessoais. Ver a empolgação nos olhos dele me fazia sentir que estávamos, de fato, no caminho certo.— Então, o que acha? — Ele perguntou, passando o braço ao redor dos meus ombros enquanto olhávamos pela janela da sala. O jardim amplo e a vista para as colinas ao longe pareciam um sonho. — É o recomeço que a gente precisav