CLARAO ar dentro da cabana parecia pesado, sufocante. A escuridão ao nosso redor era quebrada apenas pela fraca luz da lanterna que Henrique segurava, sua mão trêmula, mas determinada. Eu podia sentir o pânico crescendo dentro de mim, mas sabia que não havia tempo para ceder ao medo. Eles estavam lá fora, e, a qualquer momento, poderiam tentar entrar.O som de passos do lado de fora ecoava pela noite, cada movimento me fazia enrijecer. Era impossível dizer quantos eram, mas sabíamos que pelo menos dois deles estavam nos seguindo desde o início da perseguição. Agora, estávamos encurralados, presos dentro de uma cabana no meio da floresta, sem saber se conseguiríamos sair vivos.Henrique estava ao meu lado, sua expressão séria, com a arma pronta em mãos. Seus olhos se moviam pela pequena sala da cabana, avaliando cada detalhe, cada possível saída. A madeira das paredes estava velha, desgastada pelo tempo. Qualquer força maior e eles conseguiriam entrar. Eu sabia disso, e ele também.—
CLARAAs sirenes ecoavam pela floresta, preenchendo o ar com uma sensação de alívio, mas também de incerteza. As luzes piscando da viatura iluminavam a escuridão lá fora, e, por um momento, tudo parecia estar em pausa. Henrique ainda me segurava firme, seu peito subindo e descendo com dificuldade enquanto ele tentava recuperar o fôlego. O silêncio dentro da cabana era pesado, cheio de tudo o que não havia sido dito, mas as batidas fortes do meu coração ainda ecoavam em meus ouvidos.— Eles foram embora? — minha voz saiu fraca, quase inaudível, enquanto eu olhava para a porta aberta, onde o homem havia desaparecido.Henrique respirou fundo e assentiu lentamente.— Foram... mas não por muito tempo. — Ele afrouxou o abraço, seus olhos analisando cada canto da cabana, como se esperasse que mais alguém surgisse da escuridão.O que restava da porta estava arrombado, pendendo precariamente das dobradiças, e as marcas da luta ainda estavam por toda parte. O corpo do primeiro homem ainda estav
CLARAAs horas que se seguiram foram um borrão de instruções e procedimentos. Os policiais se moviam rápido, preparando tudo para nossa entrada no programa de proteção. Eles garantiram que estaríamos seguros, nos colocariam em um lugar desconhecido, longe do alcance daqueles que nos perseguiam. Mas, por mais que me dissessem isso repetidamente, eu não conseguia me livrar da sensação de que algo estava errado. O medo ainda estava ali, presente em cada canto da minha mente.Henrique estava ao meu lado o tempo todo, seu olhar sério e atento. Ele falava pouco, mas eu sabia que sua mente estava a mil, tentando encontrar a melhor maneira de lidar com a situação. Ele confiava na polícia, mas, ao mesmo tempo, estava preparado para o pior.— Vai dar tudo certo — ele disse, pela terceira vez, enquanto apertava minha mão suavemente. Seu toque era quente e firme, mas a tensão no ar era quase palpável.Eu queria acreditar nele, queria me agarrar à esperança de que, depois de tudo, poderíamos final
CLARAO silêncio que seguiu a ligação era ensurdecedor. Meu coração batia tão rápido que eu mal conseguia respirar. Henrique se levantou rapidamente, seus movimentos tensos, enquanto sua mente parecia trabalhar a mil. Cada palavra que ele havia dito depois de desligar o telefone ressoava na minha cabeça: "Eles estão mais perto do que pensávamos." O que isso significava exatamente? Como eles haviam conseguido chegar tão perto de novo?— O que está acontecendo? — perguntei, a voz trêmula enquanto tentava entender o que estava prestes a acontecer.Henrique passou a mão pelos cabelos, uma expressão de frustração misturada com preocupação em seu rosto. Ele respirou fundo antes de responder.— A polícia encontrou indícios de que os homens que nos perseguem conseguiram rastrear parte do caminho até aqui. Eles estão se movimentando. Ainda não sabem exatamente onde estamos, mas estão mais perto do que pensávamos. — Sua voz era baixa, quase um murmúrio, mas a urgência nela era clara.Meu estôma
CLARAMeu coração estava prestes a sair do peito. Cada batida era um lembrete ensurdecedor do perigo à espreita. Henrique estava de pé na frente da porta, a arma firme em suas mãos, pronto para o que viesse. Eu sabia que o que estava do outro lado era o fim de tudo o que tínhamos passado até aqui. E, pela primeira vez, senti que a batalha que tentamos evitar havia finalmente nos alcançado.— Clara, fique atrás de mim. Não importa o que aconteça, não saia daqui — Henrique sussurrou, seus olhos fixos na porta, os músculos tensos.Eu queria discutir, queria ficar ao lado dele, mas sabia que ele estava certo. Se algo desse errado, eu precisaria correr, me esconder, qualquer coisa para sobreviver. Então, respirei fundo, me obrigando a permanecer em silêncio, mesmo com o medo me dominando.Mais uma batida, agora mais forte e impaciente.— Abra a porta, Henrique! Não queremos complicar mais as coisas. — A voz do lado de fora era familiar e fria, cheia de uma calma sinistra que me fez tremer.
CLARAO som das sirenes e das vozes dos policiais preenchia o ar, mas para mim, tudo parecia um borrão distante. Estávamos do lado de fora da cabana, sentados no banco de trás da viatura, enquanto os paramédicos faziam o curativo no braço de Henrique. O céu estava começando a clarear, uma linha fina de luz surgindo no horizonte, e pela primeira vez em dias, senti que talvez estivéssemos realmente livres daquele pesadelo.Henrique estava quieto, seu olhar perdido no movimento dos policiais ao redor. O cansaço em seus olhos era óbvio, mas havia algo mais — um peso que ele ainda carregava. Mesmo com o fim do confronto, eu sabia que ele se culpava pelo que havíamos passado, por tudo o que aconteceu.— Você está bem? — perguntei, minha voz ainda fraca, mas cheia de preocupação. Eu não conseguia afastar a imagem de Henrique lutando por nossas vidas, sendo ferido enquanto tentava me proteger.Ele virou a cabeça lentamente, seus olhos encontrando os meus. Um pequeno sorriso surgiu em seu rost
CLARAOs dias que se seguiram ao confronto foram um turbilhão de emoções. Mesmo com o líder do grupo preso e a polícia garantindo que estávamos fora de perigo, era difícil desligar a sensação de alerta constante que eu carregava. A casa estava mais quieta agora, e, em muitos momentos, o silêncio parecia ensurdecedor.Henrique e eu estávamos vivendo em um misto de alívio e incerteza. Por mais que tentássemos voltar à rotina, as cicatrizes daquilo que passamos ainda estavam presentes, mesmo que não falássemos abertamente sobre elas. Henrique estava mais reservado do que o normal, suas noites de sono interrompidas por pesadelos que ele nunca comentava, mas que eu percebia.Eu também não conseguia relaxar completamente. Acordava várias vezes durante a noite, com a sensação de que ainda estava sendo observada. Meus olhos percorriam o quarto no escuro, procurando sombras onde não havia, e meu coração disparava à menor sugestão de perigo.Naquela manhã, o sol entrou pela janela suavemente, i
CLARAOs dias começaram a passar de forma mais tranquila, embora o peso do que havíamos vivido ainda estivesse presente, como uma sombra que se recusava a desaparecer completamente. Mesmo com a prisão dos homens que nos perseguiam, a sensação de alerta constante ainda me acompanhava, como se, a qualquer momento, algo pudesse dar errado. Mas, aos poucos, eu estava tentando me convencer de que o pior já havia passado.Henrique estava ao meu lado em cada passo desse processo. Ele parecia determinado a seguir em frente, a nos tirar daquele buraco emocional em que havíamos caído. Ele me envolvia com seu apoio, me tranquilizava quando as memórias voltavam de forma mais intensa, e, mais importante, estava ali, sempre presente.Mas havia algo em seus olhos que eu não conseguia ignorar. Mesmo nas suas palavras de incentivo, nos seus gestos de carinho, eu sabia que ele também estava lutando contra seus próprios demônios. As noites de insônia dele eram cada vez mais frequentes, e, às vezes, eu o