HENRIQUEA raiva queimava dentro de mim de uma forma que eu não conseguia controlar. Alberto havia ameaçado minha filha. Sofia, minha pequena menina, agora estava no centro dessa guerra que eu nunca quis que ela visse. Eu olhava para Clara, seus olhos inchados de lágrimas, o medo estampado em cada traço de seu rosto, e algo dentro de mim se partiu.— Isso foi longe demais, Clara, — disse, a voz baixa, mas carregada de ódio. — Ele passou dos limites. Agora, vou acabar com isso.— O que você vai fazer, Henrique? — Clara me perguntou, sua voz trêmula. — Você não pode simplesmente enfrentá-lo de frente, isso vai colocar todos nós em mais perigo.Eu sabia que ela estava certa, mas, ao mesmo tempo, não conseguia pensar em outra coisa a não ser encontrar Alberto e resolver isso de uma vez por todas. Eu não podia mais me esconder, fingir que isso poderia ser resolvido com palavras. O Cobra queria sangue, queria vingança, e eu não podia mais recuar.— Eu vou lidar com isso da única maneira que
CLARADepois que Henrique desligou o telefone, fiquei imóvel por alguns segundos, encarando o vazio. Ele estava indo atrás de Alberto sozinho. E eu sabia que isso só traria mais destruição para nossa vida. O pânico crescia dentro de mim como uma onda gigante prestes a me engolir. Eu não podia mais esperar, não podia mais ficar parada.Sofia estava na sala, brincando inocentemente com seus brinquedos, alheia a tudo. Eu a observei por um instante, tentando controlar o impulso de chorar. Ela era tudo o que eu tinha. Tudo o que nós tínhamos. E agora, nossa filha estava no meio de algo muito maior e mais perigoso do que qualquer coisa que eu pudesse imaginar.Peguei meu telefone e, sem pensar duas vezes, disquei o número da minha mãe. Eu precisava tirá-la daqui, precisava manter Sofia em segurança.— Alô? Clara? — A voz da minha mãe soou do outro lado da linha, suave e calma, como sempre.— Mãe, preciso que venha até aqui agora, — respondi rapidamente, minha voz apressada e cheia de ansied
HENRIQUEO sorriso de Alberto era cruel e frio, como se ele já soubesse que estava ganhando. A cada palavra dele, eu sentia o nó no meu estômago apertar ainda mais. Voltar para o submundo? Trabalhar para ele? Se eu aceitasse, estaria entregando minha vida para o Cobra, de uma vez por todas. Mas, se recusasse… Clara e Sofia estariam em perigo.Eu respirei fundo, tentando pensar em uma saída, mas a sensação de estar encurralado era sufocante. Eu não podia deixá-lo vencer.— Eu sei o que você está pensando, Henrique, — disse Alberto, como se lesse meus pensamentos. — Está tentando encontrar uma maneira de sair disso, mas a verdade é que não há escapatória. Você voltou para o meu mundo e agora é meu. E sua família… — Ele fez uma pausa, seu sorriso se alargando. — Eles são a garantia de que você vai fazer exatamente o que eu mandar.Minha raiva estava fervendo, mas o medo por Clara e Sofia era maior. Eu sabia que não podia agir impulsivamente, não com Alberto. Cada passo tinha que ser calc
CLARAO som do motor do carro era a única coisa que preenchia o silêncio pesado entre mim e Henrique. Meus dedos ainda tremiam, e meu coração batia rápido, mas tentei focar em uma única coisa: Sofia estava segura. Mesmo depois de toda a loucura, depois de quase ter sido pega no meio daquele caos, eu sabia que minha filha estava longe de tudo isso, com minha mãe. Era o único pensamento que me mantinha sã.Mas, ao mesmo tempo, a adrenalina começava a desaparecer, e o medo cravava garras profundas em mim. Henrique havia se colocado no meio de algo muito maior do que nós dois.— Isso acabou? — minha voz finalmente saiu, baixa e trêmula, enquanto olhava para a estrada à frente.Henrique, ao meu lado, manteve os olhos fixos no caminho, o rosto tenso. Ele sabia que não. Eu também sabia.— Ainda não, — ele respondeu, sem rodeios. — Alberto perdeu o controle hoje, mas ele não vai desistir tão fácil. Não agora.Eu fechei os olhos por um segundo, tentando controlar a onda de pavor que subia pelo
HENRIQUEA escuridão da noite pesava sobre meus ombros enquanto dirigia até o local onde Tito havia marcado o encontro com Vicente. Minha mente fervilhava com pensamentos de Clara e Sofia. Cada quilômetro que eu percorria me levava para mais longe do que eu havia prometido ser, para mais perto daquele velho eu que tanto tentava enterrar. Mas eu não tinha escolha.Se havia uma chance de acabar com Alberto, era com Vicente. Mas o problema com homens como ele é que nada vinha de graça. Eu sabia que, ao fazer esse acordo, estaria trocando uma dívida por outra, mas se isso significava manter minha família a salvo, eu pagaria o preço que fosse.O ar no local do encontro era pesado, cheio de um silêncio que só aumentava a tensão. Estacionei o carro e saí, avistando Tito logo à frente, conversando com um homem alto e de cabelos grisalhos. Vicente.Ele se virou ao me ver, o rosto marcado pelo tempo e pela crueldade de seu passado. Seus olhos eram frios, e um sorriso quase desinteressado aparec
HENRIQUEOs dias que seguiram ao acordo com Vicente foram uma sucessão de reuniões secretas, esquemas traçados em becos e corredores mal iluminados. O plano estava em movimento, e Vicente não perdia tempo. Como um jogador experiente, ele sabia exatamente onde atacar para causar o máximo de dano ao Cobra. O objetivo era simples: destruir Alberto antes que ele tivesse chance de contra-atacar.Nós começamos a atingir as bases financeiras de Alberto, desmantelando seus negócios sujos, cortando suas rotas de dinheiro e enfraquecendo sua rede de aliados. Cada movimento era calculado, e Vicente estava no controle de cada passo. Quanto mais avançávamos, mais eu via Alberto perder poder. Mas, ao mesmo tempo, sabia que isso o estava deixando mais perigoso.Sentado em uma sala escura com Vicente e Tito, analisando mapas e relatórios, pude sentir o peso de tudo aquilo. Eu não sabia por quanto tempo mais poderia esconder isso de Clara, o quanto mais poderia fingir que não estávamos em uma guerra.
CLARAAcordei naquela manhã com uma sensação estranha, como se algo estivesse fora do lugar. O ar na casa parecia pesado, opressor. Henrique já havia saído, como fazia quase todos os dias agora, e a casa estava quieta demais. Silenciosa demais.Levantei-me, ainda sentindo o peso do cansaço e da tensão acumulada nas últimas semanas. A constante vigilância, o medo de que algo pudesse acontecer a qualquer momento... era como se eu vivesse em um estado de alerta permanente. Tudo o que eu queria era normalidade, um retorno à vida que tínhamos antes desse pesadelo começar.Eu estava prestes a chamar Sofia para o café da manhã quando ouvi um barulho na porta da frente. Um clique, suave demais para ser um erro.Meu coração disparou. Quem estava ali?Parei no meio da sala, o corpo congelado pelo medo, e, sem pensar duas vezes, corri em direção ao quarto de Sofia. Quando abri a porta, ela ainda estava dormindo tranquilamente, sem a menor ideia do que estava acontecendo.Eu me aproximei dela, pe
CLARAAs batidas do meu coração pareciam ecoar na minha cabeça, cada pulsação mais forte que a anterior. Eu ainda estava no chão do banheiro, segurando Sofia com todas as minhas forças, enquanto Henrique me abraçava. O terror do que quase aconteceu ainda me paralisava.Eu não sabia por quanto tempo ficamos ali, apenas sentindo a respiração dele contra o meu rosto, mas parecia que o tempo havia parado. Meus músculos estavam tensos, como se eu ainda estivesse presa naquele momento de puro pânico.Finalmente, Henrique se afastou um pouco, seus olhos me observando com uma mistura de alívio e preocupação.— Clara, — ele começou, a voz mais suave do que eu esperava. — Eu sinto muito. Isso não deveria ter acontecido.— Eu achei que ele ia… — minha voz falhou. Achei que íamos morrer.Henrique balançou a cabeça com firmeza, segurando meu rosto entre suas mãos.— Eu não vou deixar isso acontecer, — disse ele, com uma determinação inabalável. — Não vou deixar Alberto chegar perto de vocês de nov